terça-feira, 25 de outubro de 2011

Formação social na América Latina e identidades


Nesta semana de debate sobre a integração na América Latina, gostaria de abordar o tema da formação social e a nossa identidade.

Por Luiz Otávio Ribas


Os povos guarani, caygangue, mapuche, quechua, inca, maia, azteca, entre muitos outros, foram os primeiros habitantes deste continente. A experiência colonial marca profundamente a história da América, por suas características de encobrimento e etnocídio. Os povos africanos que foram trazidos para serem escravizados também sofreram com o processo colonial.
Refletir sobre a América Latina (e o Caribe) é uma dificuldade quando estamos diante de tantas diferenças culturais. Antes que José Martí pudesse referir-se a "nuestra América", os povos que aqui vivem já tinham suas próprias denominações. O encontro entre mundos - como os espanhóis e os mapuche, e os portugueses e os guarani, significou um encobrimento. A cultura anterior é encoberta, negada, destruída, por uma outra, a qual a desconsidera - é o colonialismo.
No nosso caso brasileiro, a própria denominação pelos portugueses "Ilha de Vera Cruz", já significou um encobrimento, que insere-se no conceito de etnocídio. Uma vez que um povo é dizimado, corporalmente, fisicamente - pelo enfrentamento armado, doenças ou outras consequências do contato - existe ainda, o "culturicídio" - quando as etnias são desconsideradas para dar origem ao mito fundador da mestiçagem.
Todos os povos desta terra foram desconsiderados para nascer o mestiço - o brasileiro. Neste processo, a língua oficial escolhida foi o português, não o tupi.
O etnocídio existe enquanto experiência histórico antropológica, ainda, no caso dos povos africanos. Diferentemente daqueles que já aqui habitavam antes da chegada dos europeus, os africanos foram trazidos por aqueles para aqui trabalharem como escravos. O encobrimento da cultura negra iniciou desta maneira e seguiu mesmo após a suposta abolição da escravatura.
Hoje, os povos que aqui já estavam - primeiros viventes - e os povos que foram trazidos como escravos - primeiros trabalhadores - enfrentaram inúmeras dificuldades para conviver com os povos que para aqui vieram - primeiros migrantes. Estes diferenciam-se dos anteriores em razão de sua predisposição para aqui viver após uma longa viagem.
É necessário diferenciar, ainda, o migrante português das grandes navegações, do português da política de povoamento. Enquanto que o primeiro estava tomado por sentimentos de conquista, "descobrimento", heroísmo; o segundo por sentimentos de esperança por uma terra em que sua sobrevivência fosse possível.
Este pensamento de conquista vai determinar a histórica da América, conforme Enrique Dussel. O encobrimento do outro será o momento histórico mais importante para nós americanos, e deixará marcar profundas em nossa filosofia.
Por fim, resta manifestar o sentimento de grande respeito e admiração pelos primeiros habitantes de nossa terra - viventes, trabalhadores e migrantes - na utopia de que um dia nossa convivência seja livre.

Referências:

DUSSEL, Enrique Domingo. 1492: o encobrimento do outro. Petrópolis: Vozes, 1993.
FIABANI, Adelmir. Mato, palhoça e pilão: o quilombo, da escravidão as comunidades remanescentes (1532-2004). São Paulo: Expressão Popular, 2005.
FREITAS, Décio. O escravismo brasileiro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982
KAYSER, Hartmut-Emanuel. Os direitos dos povos indígenas do Brasil: desenvolvimento histórico e estágio atual. Porto Alegre:Sérgio Antonio Fabris, 2010.
MARÉS, Carlos Frederico. O renascer dos povos indígenas para o direito. Curitiba: Juruá, 2009.
MARTÍ, José. Nuestra América. México: UNAM, 2004.


Luiz Otávio Ribas é professor de Direitos Humanos no Curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

Um comentário:

  1. Embora fáceis de ser distinguido um dos outros, os sul americanos são uma raça carente e de difícil unificação cultural, observamos com uma imensa clareza que os povos sul americanos são praticamente anti-social, pelo simples fato do fator cultural, há uma distinção muito grande de culturas indo, afro, européia.
    Também isto é muito comum nos países do leste europeu onde a cultura vem resistindo às barreiras impostas pelos estados de maior ascensão e destaque do velho continente europeu, como os franceses e alemães. É claro que a identidade cultural sempre vai ser um fator coadjuvante e que se torna maior e mais forte do que qualquer outra fonte de natureza sociológica, até mesmo os blocos econômicos em certas ocasiões mencionam os interesses de alguns grupos, que de certa forma não abdicam daquilo que tem maior destaque e credibilidade em suas sociedades, e quando isto é posto de lado ocasiona as diferenças e também protestos por parte daquele meio sociável, que sente-se prejudicado por tais medidas aplicadas e que ao mesmo tempo ferem suas culturas e seus interesses para com seu povo. Por outro lado temos observado que o continente europeu vem se esforçando para uma unificação dos seus povos, em vários os âmbitos, visando assim formar uma frente competidora junto ao bloco da EU, que vem tendo avanço significativamente com o passar dos anos. A América Latina está indo buscar nos meios dos seus estados esta possibilidade da UNASUL ser implantada aqui e ter avanços significativos. Mesmo com tantas diferenças econômicas e sociais é um grande projeto para o futuro, e é apenas questão de tempo e entendimento entre as partes dos estados envolvidos, para que se tenha sucesso.

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