domingo, 18 de setembro de 2011

Terroristas, os vilões do século



Por Marina Lombardi

Imagine um terrorista.

A não ser que você não tenha vivido o 11 de setembro, provavelmente o que te veio a cabeça foi a imagem de um homem, se não o próprio, muito semelhante a Osama Bin Laden.

Agora, e se essa pergunta fosse feita 10 anos atrás?


O termo terrorismo e terrorista nunca foi tão usado como tem sido após essa data que marca o nosso século. E, até então, o terrorista não tinha essas feições que imaginamos hoje. Os soviéticos, vilões do passado derrotados na Guerra Fria, deram lugar a um novo inimigo.

O ataque às torres gêmeas e a figura de Bin Laden como o novo vilão, tornou viável as ações imperialistas americanas justificadas como “a Guerra contra o Terror”, também já definida por George W. Bush como “a Cruzada contra o Eixo do Mal”.

Chocamos-nos até hoje, 10 anos depois, com as atrocidades do 11 de setembro e com a morte de 3 mil pessoas (estatística aparentemente oscilante), em sua maioria, civis inocentes. Mas a incessante busca pelos culpados torna a nossa visão um tanto quanto ofuscada, um momento propício para o surgimento de um novo vilão, o terrorista, aquele figurado pela Al-Qaeda e, posteriormente, pelo mundo islâmico. Estes novos inimigos que surgiram foram a base para a guerra contra o terrorismo, na qual os EUA passaram a investir. A política externa americana volta, então a se tornar cada vez mais isolacionista e unilateral. Ironicamente, ela procura se estabelecer no sistema internacional com aceitação e suporte de outras potências do mundo ocidental, afinal, explica, suas intervenções são pautadas nas necessidades globais.

O que torna a personalização do terrorista pelos EUA tão curioso é o fato da própria ONU não possuir, ao menos, definição sobre o termo terrorismo. Stewart Patrick, da CFR, afirma que o terrorista de um pode ser o combatente da liberdade de outro. Desde a instituição das Nações Unidas fala-se em combate ao terrorismo, mesmo que este seja livre de interpretação para cada Estado. Seria essa a lacuna ideal para uma justificativa conveniente aos americanos na caça pelos terroristas no Afeganistão, Iraque e Paquistão?
Em 1986 a Corte Mundial condenou os EUA pelo “uso ilegal da força” (também conhecido como terrorismo internacional), a única condenação da história. Os americanos, na seqüência do ocorrido, vetaram uma resolução da ONU sobre adesão a normas internacionais.

O uso do poder-violência, conceituado por Walter Benjamin, é legitimável a partir da idéia de guerra justa. Assim, observa-se no discurso pós 11 de setembro uma guerra permeada pela moral e busca-se convencer o mundo de que a vítima precisa vingar seu agressor como forma de fazer justiça. Seguindo essa perspectiva, Washington continua a apoiar ditaduras em nações consideradas amigas, enquanto acredita ser capaz de impor a democracia a inimigos subjugados (BARBER). O terrorismo, modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror, parece ser unilateral para os EUA, ou seja, enquanto são vítimas de ações terroristas, as mesmas ações violentas vindas de sua parte visam simplesmente a justiça e a manutenção da democracia.

Operação causa justa na Nicarágua, Bombas inteligentes no Iraque, intervenção humanitária em Kosovo. Deixamos as justificativas convenientes aos americanos influenciarem a imagem que temos sobre conflitos tais como o 11 de setembro. O ‘triunfalismo’ dos EUA tem sido utilizado como um instrumento que ameaça dissipar a nossa percepção das relações internacionais. Não deveríamos, então, discutir sobre o que é o terrorismo que nos comprometem enquanto cidadãos cosmopolitas em vez de buscar vilões a quem culpar?

Referências:
BARBER, B. R. Império do Medo: guerra, terrorismo e democracia. São Pauo: Record, 2005.
CHOMSKY, N. trad. AGUIAR, L. 11 de setembro. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertband Brasil, 2002.
D’ALBUQUERQUE, R. B. 11 de setembro de 2001: como se engana a humanidade (o poder da mídia). Ed. Céu e Terra: São José do Rio Preto, 2001.
DINIZ, E. Compreendendo o Fenômeno do Terrorismo. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/7259139/Diniz-do-o-Fenomeno-Do-Terrorismo.> Acesso reaizado em 13 de setembro de 2011.
ONU ainda tenta definir terrorismo. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2011/09/12/onu-ainda-tenta-definir-terrorismo>. Acesso realizado em 13 de setembro de 2011.
NYE JR., J. O Paradoxo do poder americano. Ed. UNESP: São Paulo, 2002.

Marina Lombardi é estudante do quarto período do curso de Relações Internacionais no Unicuritiba.

2 comentários:

  1. Fica difícil entender de que lado esta a veracidade dos fatos,pois o próprio USA foi defensor e ajudou estrategicamente e porque não dizer financeiramente a própria Al-Qaeda dos Talebans no Afeganistão na guerra contra os soviéticos na década de 80,em plena guerra fria. Acredito que os EUA,estão sempre do lado dos seus interesses próprios e mais prósperos,seja apoiando um facção terrorista contra seus supostos inimigos ou protegendo um regime autoritário,como faz na Arábia Saudita,analisando assim vemos que seus interesses próprios são superiores a qualquer ação que seja desastrosa ou não para a humanidade,o que importa é que seja de bom agrado para eles,e que os benefície em tudo. Então o que percebemos é a falta de uma política externa voltada para o bem-estar social dos estados em um todo,e sim o que observamos são políticas unilaterais e individuais voltadas para o conforto dos mesmos, deixando de fora as ações benéficas para o bem geral da humanidade. É óbvio que por trás disto existe um interesse econômico,político e estratégico muito grande,é uma troca onde sempre alguém sai perdendo,numa desigualdade tremenda entre os estados que estão envolvidos nestas questões. Por outro lado a comunidade europeia apoiou maciçamente os insurgentes líbios contra as forças de Kadaffi,puro interesse no petroléo Líbio,pois suas reservas estão cada vez mais escassas,um detalhe aqui fica explícito,pois entre estes inúmeros insurgentes do CNT da Líbia tem centenas deles terroristas infiltrados,a maioria da Al-Qaeda,Jihad Islâmica e demais outras facções terroristas do Norte da África. Veja só,pensando bem não é em todas as épocas que os terroristas são inimigos das potências ocidentais,tem épocas que são aliados e tem outras épocas que são inimigos,bastam um querer coagir o outro,é uma questão para se pensar melhor e ter uma resposta mais de acordo com o que melhor lhe convém. obs: a camiseta do "terrorista" é um sarro,coitado do cara nem isto a mídia perdoa...rsrsrsrsrs!!!!

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  2. Adorei o foco no terrorista e a imagem.
    Achei muito interessante o trecho:
    afirma que o terrorista de um pode ser o combatente da liberdade de outro
    Realmente é isso que acontece no Oriente Médio,
    eu tenho um amigo paquistanes e eles simplesmente odeiam os EUA!!!! Com razão né;
    Mas pelo teu texto ; a lista de "intervenções" que os EUA fez no Kosovo, Nicaragua e etc. já podemos perceber que esta sempre foi a politica deles, e que o 11 de setembro, que poderia alertar-los para parar, simplesmente os fez aumentar estas intervenções sujas (sabemos bem porque né...) e continuar a sua política imperialista.Isto tudo tambem leva a propaganda de midia usada pelos EUA que completa outra parte do teu texto "justificativas convenientes aos americanos influenciarem a imagem que temos sobre conflitos tais como o 11 de setembro. " Ta aí a jogada estratégica deles ;) PARABENS!!!

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