terça-feira, 13 de setembro de 2011

O mundo pós 11 de setembro: a ironia justificada de um ato desumano



Por Larissa Mehl

11 de setembro de 2001. Lembro deste dia até hoje. Tinha 8 anos e foi o dia que eu aprendi o que era um atentado. Lembro exatamente o que me foi dito. Terroristas árabes seqüestraram aviões e bateram com os mesmos em prédios, matando as pessoas que estavam dentro de ambos. O ato em si foi aterrorizante para mim. Não sabia que a verdade poderia ter distintas facetas e que poderia ser manipuladas por atores por trás da cortina, acreditava que a mídia era apenas um meio sem tendências, neutro. Mas por incrível que pareça o que me impressionou mais nas semanas seguintes não foram os árabes, eles não habitavam meus pesadelos. Ao invés disso, sonhava com os americanos, que logo após este horroroso incidente, começaram a odiar com toda alma os mulçumanos em geral. Assustei-me mais ainda, quando um mês depois, o presidente Bush invadiu o Afeganistão e um ano e meio depois o Iraque. Na minha cabeça de criança eu pensava que eles estavam indo lá para vingar cada pessoa que morreu no atentado . Mas na realidade, foi muito mais que isso. Segundo os dados, o ataque de 11 de setembro, matou mais ou menos 3 mil pessoas durante uma manhã. A guerra no Afeganistão já dura 8 anos e só nos primeiros 5  matou mais de 7 mil civis. A do Iraque também dura até hoje e já matou mais de 60 mil civis.  Estava enganada, vingança não era o objetivo de Bush. Qual seria então?


A verdade é que após este fato, no governo interno dos Estados Unidos, os direitos constitucionais dos americanos foram diminuídos, a tortura virou uma alternativa justificada para tirar informações, a liberdade de expressão das mídias foi retraída  para o “bem” da população, tudo isto foi possível graças ao sentimento de medo de possíveis terroristas que ameaçava as pessoas.

Agora, se foram terroristas da Al Quaeda originários da Arábia Saudita que realizaram este atentado, porque o Afeganistão foi invadido? A resposta de Bush e seus assessores foram que “Bin Laden”  estaria escondido lá. Então, ele que me responda, o que os civis tem haver com isso? Porque muitos tiveram que ser mortos? E porque pediu para o Paquistão cortar a ajuda de alimentos que dava para o Afeganistão, deixando sem comida milhares de pessoas? E como fica a Arábia Saudita?

 Quão irônico é isso! Após o 11 de setembro, os Estados Unidos levantaram uma bandeira contra o terrorismo sendo que eles mesmos matariam, ao querer salvar o mundo de possíveis violências. A guerra do Iraque parte do mesmo pressuposto. Tropas foram enviadas para lá, simplesmente pois havia a ameaça de armas nucleares de destruição. Mas nunca nenhum soldado ou pesquisador encontrou alguma prova da existência dessas armas em  território iraquiano.
Deixo exposto aqui que mesmo com a mídia criando uma propaganda de massiva contra os árabes, nem todos os americanos compactuaram com a atitude do governo. Um mês após o ataque, quando as bombas começaram a cair no Afeganistão, muitos que inclusive haviam perdidos parentes no atentado, estavam lá para dizer: “Guerra, não em nosso nome”.

Por favor, não me levem a mal. Reconheço o horror do ato em Nova York. É difícil apagar da mente as imagens chocantes das pessoas caindo dos prédios. Toda a humanidade sofreu com este ato. Mas e o outro lado? E os civis de países como Nicarágua, Iraque, Paquistão, Afeganistão entre tantos outros que foram atacados, como fica a situação deles? E os outros 11 de setembro? Há o 11 de setembro de 1973, onde o Chile sofreu um atentado, coordenado pela CIA, que inclusive matou seu presidente Allende. E o de 1990, onde a guatemalteca Myrna Mack foi assassinada por militares americanos. São todas  questões a serem levadas em consideração. Todas provocadas a mando do governo norte-americano.
Até hoje muitos detalhes da logística de todo atentado no geral não foram esclarecidas e são grandes incógnitas que não serão desvendadas .

Mas não vou entrar aqui na questão de quem realmente produziu este ataque, ou suas razões. Nem entrar no mérito de Bush ter empresas petrolíferas e o Iraque ter a terceira maior reserva de petróleo no mundo. Penso que todos os estudantes de Relações Internacionais, ou melhor, todos seres humanos, deveriam questionar a brutalidade dos atentados terroristas e das guerras.

Neste ano finalmente, pude  terminar com minhas convicções infantis e ingênuas sobre este evento. No mês de julho eu tive a oportunidade de ver com meus próprios olhos o Ground Zero em Nova York, região onde o World Trace Center ficava. Tive um choque ao presenciar a cena. No mesmo lugar do antigo centro comercial, sinônimo de globalização e capitalismo, estão construindo um novo conjunto de prédios tão alto quanto as antigas torres gêmeas e pior ainda, com o mesmo nome.  Leitor, se pergunte: Que impressão isto daria para você se o atentado estivesse sido em um prédio da sua cidade e depois de destruído fosse construíssem o mesmo tipo de edificação no mesmo lugar e com o mesmo nome? Ainda não compreendo direito, mas causou em mim uma sensação de apreensão. É como se houvesse uma banalização do ato, para extirpar a fraqueza do governo, por ter deixado aquilo ocorrer. Para honrar as vitimas será criado um memorial ao lado do WTC. O que será que estará escrito lá? Quem produziu o ataque? Quais foram as ações do governo pós 11 de setembro? Com certeza, NÃO!

A verdade é que a mídia expôs o atentado de 2001 como uma grande crueldade, afronta aos direitos humanos, fato real. Mas você pode imaginar o tamanho da diferença que poderíamos fazer  no âmbito dos direitos humanos se todos os eventos terroristas fossem condenados com a mesma intensidade pela mídia como este ?

O estrago agora está feito. A verdade é que após aquele tão conhecido ataque, ao redor do mundo “civilizado”, o preconceito em relação aos mulçumanos, árabes ou não, aumentou  consideravelmente. As pessoas começaram a fazer uma associação deles com terroristas e radicais.  Sentimento que os está impossibilitando inclusive de criar uma mesquita perto do lugar onde as torres gêmeas ficavam. Este ataque foi muito mais grave do que parece, pois além de matar muitas pessoas, serviu para gerar ainda maiores  divisões racistas e religiosas na sociedade , serviu para a criação de novas guerras sem motivos sinceros, e o mais horripilante a destruição de países e milhares de pessoas.. Não é à toa, que este estereotipo  está sendo justificável o suficiente, para que soldados estadunidenses tenham a coragem de torturar diversos iraquianos na prisão de Abu Ghraib, e que cada vez que um deles morre, alguém diz: “Blame Al Quaeda”. Este cenário me parece um pouco com o Nazismo, logo de cara.

O que salvou meu passeio à Nova York, e me impediu de ser uma pessoa totalmente cética em relação ao futuro da humanidade , foi um grupo de estudantes, que mesmo 10 anos depois, estavam lá, na frente do “World Trade Center Progress”, protestando e questionando em alto e bom tom, a veracidade de todo este espetáculo formado. Sim, o governo poderoso pode construir um novo centro, para voltar a mostrar a hegemonia de seu império, e também pode fazer um memorial para amenizar a dor dos parentes das vitimas. Mas eles nunca poderão trazê-los de volta, nunca vão apagar das memórias do mundo aquele dia, e o mais importante nunca terão a possibilidade de neutralizar a crítica  dos indivíduos ao redor do mundo, que podem suscitá-las no momento que quiserem para condenar o governo dos Estados Unidos por suas atividades cruéis e imperialistas em relação ao mundo.  

Foto tirada no dia 3 de Julho de 2011, estes manifestantes estavam na rua ao lado da onde  o antigo World Trade Center ficava. Eles estavam praticamente de frente à construção. Este homem de blusa cinza afirmava em alto e bom tom: “Americans, you are all blinded”.  Após isso, ele repetia alternadamente questionamentos sobre o 11 de setembro, indagando as pessoas a pensar sobre o ocorrido. Enquanto ele falava, o moço ao lado dele, entregava jornais e folhetos da Associação de Imprensa Livre dos Estados Unidos.
Esta foto também tirada no dia 3 de julho de 2011, mostra a obra do complexo do Novo World Trade Center. Atrás é possível ver o prédio sendo construído. Quando estava lá, haviam milhares de operários trabalhando, e muitas pessoas em volta, pela localização central da obra. O novo prédio, que vai ser tão grande quanto as antigas torres gêmeas foi projetado de uma maneira para ser uma memória das antigas torres  ao mesmo tempo que é uma inovação arquitetônica, pela parte de cima, que tem um design diferente.

Bibliografia: 
Livros:
1-D'ALBUQUERQUE, Renê Bourbon. 11 de Setembro 2001- Como se engana a humanidade (O Poder da mídia).Editora Céu e Terra.
2-CHOMSKY, Noam,1928- 11 de Setembro/Noam Chomsky;tradução Luiz Antonio Aguiar.- 3ª ed.-Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002
3-GOODMAN, Amy,1957- Corrupção à americana: desnudando as mentiras, a imprensa, os empresários e os políticos que produzem e lucram com a guerra/Amy Goodman & David Goodman; tradução Tatiana Salem Levy.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 308 p.

Documentário:
4-MOORE, Michael (2004). The Official Fahrenheit 9/11 Reader. New York: Simon & Schuster.

Fotos:
5-TERRA. Soldados dizem que tortura era diversão no Iraque. Disponível em:
 < http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI309085-EI865,00-Soldado+diz+que+torturas+eram+diversao+no+Iraque.html >
6-FORUM GOSPEL BRASIL. 11 de Setembro-Fotos Inéditas. Disponível em:
< http://gospelbrasil.topicboard.net/t639-11-de-setembro-fotos-ineditas>
7-Acervo Pessoal

*Larissa Mehl é estudante do quarto período de relações internacionais no Unicuritiba.

6 comentários:

  1. Alguns dizem que os EUA mereciam um atentado, não pelos civis mortos, mas para que eles abrissem os olhos para a sua 'também' vulnerabilidade. Eu questiono e me oponho à esses atos agressivos independente de sua finalidade. Mas, confesso que logo após ao ataque, apesar de estar em choque, achei que este sentimento de vulnerabilidade iria fazer bem ao ego dos governantes norte-americanos. E tanta coisa aconteceu...Hoje, 10 anos depois, não vejo sentido algum nesta atrocidade, como também acredito que estes tantos outros 11 de setembros ocorridos ao redor do mundo deveriam ser lembrados e considerados tão cruéis quanto foi o americano. Será que mesmo que outro país fosse o mais rico e o mais poderoso do mundo alguma intenção mudaria? Tenho minhas dúvidas. Acredito que no final das contas é o homem pelo homem.
    Gostei muito do seu artigo. Parabéns!

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  2. Também acredito que no final das contas seja o homem pelo homem. Seria mais o poder pelo poder, mas a verdade é que no final das contas quem paga não são os poderosos governantes ou corporações ou os articuladores de políticas, mas sim os civis inocentes, que pouco sabem sobre o que acontece nos seus países, quando digo isso, afirmo que neste caso são tanto os americanos, como os afegãos, até nós.. Muito Obrigada pelo comentário!!

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  3. é curioso e um tanto amedrontador o quanto esse discurso irônico afetou nossa estrutura social. me lembro bastante das mudanças que aconteceram nos aeroportos (o que me foi mais visível na época), de ter que tirar os sapatos, abrir as malas, responder perguntar (das mais bizarras possíveis), e também da implantação do medo, cuidado com homens barbudos, de turbante, enfim, os tais terroristas, os caras "do mau" que surgiram depois do 11 de setembro. gostei muito do artigo! faz a gente pensar o outro lado da história e ler as entrelinhas do discurso de um dos personagens mais polemicos da atualidade, bush, um presidente REELEITO.

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  4. Pois é, este fato mesmo, do Bush ter sido reeleito me deixa atordoada! Pois em seu primeiro mandato, ele foi escoltado no meio de vaias para a Casa Branca. Mas toda esta vulnerabilidade dos americanos pós-atentado fez sua reeleição ocorrer. Sem contar que o próprio EUA se sentiu no direito de fazer após o ocorrido, como vc mesma falou, aeroportos, o tratamento com nós, medo geral..... Muito Obrigada pelo comentário :)

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  5. Olá
    A sua crítica sobre o simbolismo da reconstrução de outras torres, com o mesmo nome, no lugar das que foram destruídas me deixou intrigado. Inclusive esta semana foi inaugurado memorial dos mortos no atentado.
    Também, para mim, é de difícil compreensão esta postura dos estado-unidenses.
    Mas me diga, o que seria melhor?
    Você não acha previsível esta postura deles, levando em conta o que sabemos sobre seus costumes e tradições?
    Em tempo, gostei muito do teu relato pessoal, subjetivo, uma narrativa muito envolvente!

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  6. Olá,

    Pois é, inclusive o meu colega Othon veio conversar isto comigo. Ele mesmo teve uma visão diferente da minha,e disse que ele via a construção de um novo prédio com o nome como uma homenagem, uma mostra do governo americano para a própria sociedade deles, que aquele era um lugar muito importante, ainda mas após a morte de milhares de inocentes. Realmente, não sei o que seria melhor. Talvez pela cultura deles, eles estejam aceitando bem o novo prédio. O memorial é bonito, se eu fosse parente de uma das vitimas, ia me sentir lisonjeada. Mas nunca, nunquinha mesmo eu entraria naquele prédio. Mas eles devem ter uma visão diferente pois eu mesma não achei muitas criticas por parte dos estadunidenses sobre o ato, então talvez não seja algo tão grave, mas apenas na minha percepção. Obrigada pelo comentario, de verdade!!

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