quarta-feira, 1 de outubro de 2014

The United States Heading for a Crash*



Por Immanuel Wallerstein

President Barack Obama has told the United States, and in particular its Congress, that it must do something very major in the Middle East to stop disaster. The analysis of the presumed problem is extremely murky, but the patriotic drums are being turned to high pitch and almost everyone is for the moment going along. A cooler head might say that they are all flailing around in desperation about a situation that the United States has the major responsibility for creating. They don’t know what to do, so they act in panic.

The explanation is simple. The United States is in serious decline. Everything is going wrong. And in the panic, they are like a driver of a powerful automobile who has lost control of it, and doesn’t know how to slow it down. So instead it is speeding it up and heading towards a major crash. The car is turning in all directions and skidding. It is self-destructive for the driver but the crash can bring disaster to the rest of the world as well.

A lot of attention is focused on what Obama has and hasn’t done. Even his closest defenders seem to doubt him. An Australian commentator, writing in the Financial Times, summed it up in one sentence: “In 2014 the world has grown suddenly weary of Barack Obama.” I wonder if Obama has not grown weary of Obama. But it’s a mistake to pin the blame just on him. Virtually no one among U.S. leaders has been making alternative proposals that are more sensible. Quite the contrary. There are the warmongers who want him to bomb everybody and right away. There are the politicians who really think it will make a lot of difference who will win the next elections in the United States.

A rare voice of sanity came in an interview in the New York Times with Daniel Benjamin, who had been the U.S. State Department’s top antiterrorism advisor during Obama’s first term. He called the so-called ISIS threat a “farce” with “members of the cabinet and top military officers all over the place describing the threat in lurid terms that are not justified.” He says that what they have been saying is without any “corroborated evidence” and just demonstrates how easy it is for officials and the media to “spin the public into a panic.” But who is listening to Mr. Benjamin?

At the moment, and with the help of gruesome photos showing the beheading of two American journalists by the caliphate, the polls show enormous support in the United States for military action. But how long will this last? The support is there as long as it seems there are concrete results. Even Chairman of the Joint Chiefs of Staff Martin Dempsey in advocating military action says it will take at least three years. Multiply three by five and one might come nearer to how long this will go on. And the U.S. public is sure to become quickly disenchanted.

For the moment, what Obama is proposing is some bombing in  Syria, no U.S. troops “on the ground” but increased special troops (up to about 2000 now) as trainers in Iraq (and probably elsewhere). When Obama was running for president in 2008, he made many promises, as is normal for a politician. But his signature promise was to get out of Iraq, and of Afghanistan. He is not going to keep it. Indeed, he is getting the United States into more countries.

Obama’s coalition is going to offer “training” to those they define as “good guys.” And it seems this training is to take place in Saudi Arabia. Good for Saudi Arabia. They can vet all the trainees, and judge which they can trust and which they can’t. This may make it possible for the Saudi regime (at least as confused as the U.S. regime) to appear to be doing something, and help them survive a little longer.

There are ways of tamping down this catastrophic scenario. They involve however a decision to shift from warfare to political deals between all sorts of groups who don’t like each other and don’t trust each other. Such political deals are not unknown, but they are very difficult to arrange, and fragile when first made, until they solidify. One major element in such deals coming to fruition in the Middle East is less involvement of the United States, not more. Nobody trusts the United States, even when they momentarily call for U.S. assistance in doing this or that. The New York Times notes that, at the meeting Obama convened to pursue his new coalition, support from the Middle East countries present was “tepid” and “reluctant” because there is “increased mistrust of the United States on all sides.” So even if they go along in some limited fashion, nobody is going to show gratitude for any U.S. assistance. The bottom line is that the people of the Middle East want to run their own show, not fulfill a U.S. vision of what’s said to be good for them.

Artigo originalmente publicado no sítio virtual: http://www.iwallerstein.com
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Uma Lei de Migrações para o Brasil


Por André de Carvalho Ramos, Deisy Ventura, Pedro Dallari e Rossana Reis*

Uma economia emergente, com grande visibilidade no plano internacional, naturalmente tende a se tornar receptora de imigração. A combinação entre globalização e desigualdade faz da mobilidade humana uma característica incontornável do mundo contemporâneo. Fechar o mercado é uma ilusão defendida apenas por ingênuos.
Da elite mundial hipermóvel e cosmopolita aos trabalhadores que cruzam o deserto para entrar nos Estados Unidos, o movimento é, mais do que nunca, a regra, e não a exceção. E é por tudo isso que o Brasil se tornou, desde o início da década de 1990, a opção de destino de muitos migrantes latino-americanos, europeus, asiáticos e africanos.
O grande desafio do Brasil é, portanto, definir que tipo de relação terá com as migrações internacionais. Quais são os interesses nacionais, e que tipo de legislação seria adequada para a promoção desses interesses?
A legislação vigente é de todo inadequada para lidar com esse desafio. Nosso Estatuto do Estrangeiro data de 1980 e é inspirado na Doutrina de Segurança Nacional. A principal preocupação do regime militar era facilitar a expulsão de estrangeiros considerados “subversivos”. Logo, a lei em vigor é incompatível com a nossa Constituição, com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, e ainda menos com os interesses do país.
Tal anacronismo levou o Ministério da Justiça a criar no ano passado uma comissão de especialistas para propor uma Lei de Migrações e promoção dos direitos dos migrantes no Brasil. Ao longo de um ano foram ouvidos órgãos do Estado, entidades sociais e estudiosos, o que resultou no Anteprojeto de Lei de Migrações, fortemente calcado na promoção dos direitos humanos. Ele cria uma Autoridade Nacional Migratória para coordenar a ação do Estado brasileiro nesse setor e, especialmente, para facilitar a regularização migratória, assim como promover a inclusão daqueles que estão aqui estabelecidos.
Propostas restritivas que abordam as migrações sob o prisma da segurança ou da seletividade econômica não contribuem para a diminuição dos fluxos, apenas para o incremento da vulnerabilidade dos migrantes. Políticas migratórias restritivas favorecem as redes de tráfico de pessoas e os intermediários na exploração de mão de obra, o que prejudica o mercado de trabalho e a sociedade em seu conjunto.
Por conseguinte, a Lei de Migrações deve ser pensada para o mundo real, isto é, um mundo em que, alheias a quaisquer obstáculos, as pessoas migram. São fundamentais a igualdade de direitos entre nacionais e estrangeiros e o esclarecimento dos migrantes em relação aos seus direitos.
Manejar as migrações não é uma tarefa fácil: os bens públicos são finitos e as diferenças culturais muitas vezes são difíceis de administrar. Embora a demografia brasileira seja marcada por ciclos migratórios, ainda subsistem mitos e estigmas sobre os estrangeiros. Discriminar o migrante de hoje é desonrar nossos antepassados migrantes. Ambos comungam o sonho de trabalho e vida digna. É também ignorar que buscamos um melhor tratamento dos brasileiros que se encontram no exterior. A qualidade de vida dos nacionais também depende do respeito aos direitos dos imigrantes que os cercam.
Felizmente, a construção de uma política migratória baseada nos direitos humanos coincide com o interesse nacional em construir uma sociedade mais justa, enriquecida pela diversidade humana.

*Artigo originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo, em 14/09/2014. 
Link: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/09/1515395-andre-de-carvalho-ramos-deisy-ventura-pedro-dallari-e-rossana-reis--uma-lei-de-migracoes-para-o-brasil.shtml  
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A evolução da Questão Escocesa: Repensar a autodeterminação e a representatividade no Estado-Nação contemporâneo



Participantes do movimento pela independência participam de uma manifestação em frente à BBC Scotland. A empresa pública de comunicação foi acusada de parcialidade na discussão, apresentando apenas as más consequências da separação

Por Gustavo Glodes Blum*

Na próxima quinta-feira, eleitores de toda a Escócia votarão naquilo que já se desenha como um grande marco na estrutura e na constituição do (até agora) Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Mesmo que o voto não seja obrigatório no Reino Unido, diversas análises preveem uma participação massiva da população daquele que pode ser o mais novo país independente no mundo. O jornal britânico The Guardian faz um acompanhamento muito interessante a respeito do assunto,1 e as atenções do mundo todo estão voltadas para o norte da Ilha durante essa semana. A grande questão é que o referendo de independência da Escócia tem menos a ver com definição de territorialidades e fronteiras que com legitimidade de governo e autodeterminação, levantando questões fundamentais do atual sistema internacional e sobre a política internacional pós-moderna.

A discussão a respeito da situação política da Escócia é muito representativa, também devido à sua “temporalidade”. Desde que o rei Jaime VI da Escócia se tornou, também, Jaime I da Inglaterra em 1603, iniciou-se um processo que, durante os séculos XVII e XX, levou à unificação estrutural e constituição do próprio Estado britânico: ao assumir a coroa dos dois países, Jaime VI e I unificou a linha sucessória política em uma mesma pessoa, recordando-nos do caráter mais absolutista dos Stuart em sua regência (dentro do possível no contexto britânico). Porém, ainda que reunidos sob um mesmo rei, os dois países continuaram convivendo com estruturas políticas separadas, parlamentos próprios e sistemas jurídico-legais distintos.

Apenas em 1702, um século após, os dois países seriam reunidos naquele que seria, então, o Reino Unido da Grã-Bretanha, através de uma lei sob a regência da rainha Ana da Grã-Bretanha. Este novo Reino reuniria, sob o comando do parlamento de Westminster, em Londres, os dois países sob uma mesma estrutura estatal. E 1800, haveria uma nova união de estados quando o Reino da Irlanda, até então uma entidade política separada, foi anexado ao Reino da Grã-Bretanha.  Por fim, em 1922, com a Independência do Éire, a quem chamamos de Irlanda, foram configuradas as atuais fronteiras políticas do Reino Unido. Mesmo assim, este não foi o fim das movimentações políticas internas ao Reino Unido.

Os movimentos separatistas, tanto da Irlanda do Norte (Ulster), como da Escócia foram muito fortes ao longo de todo o século XX. As outras duas nações que compõem o Estado britânico, Gales e Inglaterra, já desde há muito estavam “harmonizados”, e o movimento nacionalista galês se baseou, sobretudo, na recuperação de uma identidade regional, mais que em emancipação política ou secessão, como defendiam escoceses e norte-irlandeses. No Ulster e na Escócia, os conflitos com Londres foram muito mais violentos, simbólica e fisicamente, e diziam respeito à capacidade de autodeterminação destas nações dentro do Reino Unido, no caso da Escócia, ou a unificação com o Éire, no caso da Irlanda do Norte.

Assim, a constituição histórica do Estado britânico se apresenta como uma ação que não passou pelo crivo da sua população, ainda que tivesse forte apoio. Planejado e executado na época do imperialismo e adaptado no Entre Guerras, o Reino Unido é uma criação unitária, que ocorreu apesar das vozes contrárias, uma vez que a leitura sobre o que era um Estado na época era diferente. É isso que irá basear o questionamento da autoridade de Londres com relação à Escócia e ao Ulster já no século XIX, mas com mais força após a Segunda Guerra Mundial.

Ao longo do século XX, o movimento de independência viu-se, por um lado, apoiado em razão do florescimento cultural da década de 1960, que causou uma revitalização dos movimentos musicais e artísticos na Escócia a partir daquele período. Por outro lado, com a descoberta de reservas de petróleo no Mar do Norte a partir de 1970, Londres determinou um controle político cada vez maior na região.

Um grande conflito entre os escoceses e o governo britânico que também ocorreu nessa época foi o processo de desindustrialização ocorrido na gestão da Conservadora Margaret Thatcher, quando as minas de carvão do norte da Inglaterra e da Escócia, assim como as diversas unidades industriais que atuavam nas grandes e médias cidades escocesas desde o século XIX começaram a singrar outros mares dentro da perspectiva da desterritorialização da economia capitalista a partir da Terceira Revolução Industrial.

Os trabalhadores escoceses, grandes apoiadores do partido trabalhista devido às características econômicas da região, se viram duramente atingido pelo neoliberalismo de Thatcher e seu sucessor, John Major. E, mesmo com a chegada dos “Garotos de Glasgow” no poder na década de 1990, criticaram duramente os governos dos também escoceses Tony Blair e Gordon Brown que, na sua política do Novo Trabalhismo, e inspirados na Terceira Via de Anthony Giddens, deram forte apoio à terciarização da economia britânica, fortalecendo o apoio ao setor de serviços e às finanças, concentradas na City de Londres.

É nessa lógica político-partidária que se pode compreender, atualmente, a força do Scottish National Party (SNP), o Partido Nacional Escocês, que conseguiu, na década de 1990, realizar a devolução: a instauração de um parlamento que fizesse a regulamentação de assuntos internos à Escócia, garantindo um governo representativo dos habitantes da região. Até então, os escoceses elegiam apenas cerca de 60 parlamentares em Westminster, dos 650 assentos disponíveis para todos os distritos do Reino Unido. Na prática, isso representava uma falta de representatividade dos eleitores, que, dentro da lógica unitária da constituição do Estado britânico, deviam, necessariamente, atender aos comandos de Londres.

Dentro deste espectro, somam-se dois aspectos relevantes: mesmo com um Parlamento escocês instaurado em 1997, alguns aspectos relevantes da governança interna ao país estão concentrados nas mãos do parlamento britânico. Por outro lado, a vitória de David Cameron, líder do mesmo partido de Thatcher e Major, nas eleições de 2010 trouxe de volta a velha oposição entre trabalhismo e conservadorismo. Porém, o trabalhismo perdeu muito da sua força na Escócia em razão do apoio à financeirização da economia na década de 1990, assim como em razão do apoio às guerras perpetradas pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque – Blair foi um dos principais apoiadores, e Brown um daqueles que mais sustentou as ações militares.

Assim, ocorreu uma polarização política. Sem representatividade no Parlamento de Londres, aqueles que querem um governo eleito diretamente pelos constituintes escoceses tenderam à proposta pela Independência. Já aqueles que desejam continuar com a União, são acusados pelos independentistas de não defenderem uma autodeterminação da nação através de um ente político que atenda diretamente às necessidades da população. Os debates televisionados entre os dois líderes, o atual Chefe do Parlamente Escocês Alex Salmond e o antigo Chanceler britânico, o também escocês Alistair Darling, têm tido alta visibilidade, e a discussão tomou conta do país inteiro.

Voltando ao início da discussão, este tema é fonte de debates não apenas na Escócia, mas no mundo inteiro. O movimento de independência da Catalunha, por exemplo, está se mobilizando com mais força desde que uma pesquisa na semana passada indicou que os independentistas teriam ganhado vantagem na corrida.2 Da mesma forma, alguns outros movimentos, buscam, no plebiscito escocês, uma garantia de que, caso realizem processos democráticos, consigam se tornar independentes.

Porém, estamos vivendo num mundo conturbado. Uma das grandes questões colocadas àqueles que desejam a independência é: “e depois?”. Não se sabe como ficará a situação do próprio Reino Unido – afinal, não faria sentido falar em Reino Unido se não houver mais de uma Coroa. Também se questiona o futuro do Ulster, já que a independência escocesa abriria uma brecha jurídica para um plebiscito semelhante na Irlanda do Norte. Há, inclusive, a discussão de implantação de uma constituição para o Reino Unido, que até hoje não tem um direito constitucional positivado, ou a transformação do país em uma federação.3 Mesmo no Brasil, discute-se a possibilidade de criação de uma nova forma de gestão política no Estado, através da instalação de uma Assembleia Constituinte para a Reforma Política.4

Enquanto isso, vislumbramos no Oriente Médio o surgimento de um pós-Estado-Nação, para se utilizar o termo cunhado por meu colega, Prof. Andrew Patrick Traumann, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, em sua sigla em inglês). Ao mesmo tempo em que desrespeitam fronteiras nacionais em razão do seu afã em reconstruir um Califado, forma político-estatal que não tem a ver com a noção de Estado-Nação, usando massivamente instrumentos de comunicação da contemporaneidade, tais como o Twitter e o YouTube para alcançar seus objetivos. Mesmo assim, são movidos por uma nostalgia a uma Era de Ouro passada, que remete a nacionalismos muito ligados ao arraigo territorial e a “imperialismos”. 5

Resta, portanto, um questionamento fundamental a respeito da representatividade dentro do seio daquele que é o ente principal do sistema internacional: o Estado-Nação. Ao se tratar a questão da representatividade, há a necessidade de se questionar o sistema representativo que vivemos, criado e instalado durante o século XX, para que atenda às demandas da democracia do século XXI. Mesmo na eventualidade de um voto contra a independência, os impactos do processo de independência da Escócia terá longos efeitos, tanto para o Reino (até agora) Unido, como para o mundo como um todo.

* Gustavo Glodes Blum é Professor de Geografia Política do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA.

1 Através da coordenação de Andrew Sparrow, o Guardian mantém o “Scottish Independence Blog”, com as principais movimentações políticas, econômicas e sociais da campanha: http://www.theguardian.com/politics/scottish-independence-blog.

2 “Cataluña celebra a su día mirando a Escocia”, Reuters, 10 de setembro de 2014. Disponível em http://lta.reuters.com/article/topNews/idLTAKBN0H51RO20140910.

3 Para o membro do Parlamento Galês David Melding, mesmo caso haja um voto a respeito da permanência da Escócia no Reino Unido, haverá uma forte discussão a respeito da gestão de um Estado multinacional. Disponível em “Yes or no, the Scottish independence referendum will have a lasting impact on the coherence of the multi-national state”, 10 de setembro de 2014, em http://www.democraticaudit.com/?p=1405.

4 O Movimento “Plebiscito Constituinte” desenvolveu, nas últimas semanas, um plebiscito popular a respeito da questão. Suas plataformas estão disponíveis em http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/. Uma análise a respeito de seus efeitos, de autoria dos Professores Egon Bockmann Moreira (UFPR) e Heloisa Fernandes Câmara (UNICURITIBA) está disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1498612&tit=Poder-constituinte-e-reforma-constitucional%3A-ate-onde-se-pode-ir%3F-.


5 O próprio Professor Andrew P. Traumann traça uma análise interessante a respeito do ISIS neste blog, em http://internacionalizese.blogspot.com.br/2014/07/isiso-califado-e-desagregacao-completa.html
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terça-feira, 15 de julho de 2014

A Escalada da Desesperança: O Novo Conflito em Gaza



A manifestação em Tel Aviv é de 2009,mas a imagem vale para hoje: além dos bombardeios,a população civil sofre com as privações do dia a dia....

Por Andrew Patrick Traumann*

Mais uma vez assistimos a uma ofensiva israelense na Faixa de Gaza. É a terceira desde o desmantelamento dos assentamentos israelenses por Ariel Sharon em 2005 e as três têm características semelhantes. O fracasso nas negociações e algum incidente envolvendo civis de ambos os lados deflagra uma nova operação militar que não possui chance alguma de ser bem-sucedida. A mídia, imediatista como é de sua característica, reduz o conflito  atual a uma resposta ao assassinato de três colonos israelenses. Evidentemente este foi o estopim (lembrando que dias depois um jovem palestino foi queimado vivo por um grupo de israelenses) e não a causa da atual ofensiva do governo de Tel Aviv.
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domingo, 6 de julho de 2014

ISIS:o Califado e a Desagregação Completa do Estado Iraquiano




Propaganda do grupo ISIS divulgando a "libertação" da cidade de Mossul das mãos do governo iraquiano

*Por Andrew Patrick Traumann

O califado é uma instituição criada em 632 d C na ocasião da morte do Profeta Maomé. A palavra Khalifa em árabe significa sucessor e portanto o califado foi criado para liderar a comunidade muçulmana na ausência de Maomé. O falecimento de Maomé vai marcar também o primeiro cisma no islamismo,a divisão entre sunitas e xiitas. Os primeiros queriam que o califa fosse escolhido por aclamação entre os membros da comunidade enquanto os segundos os Shi’at Ali (partidários de Ali) queriam que o califado fosse um sistema dinástico,e que Ali,primo e genro de Maomé fosse o novo califa. A ruptura política mais tarde evoluiria para uma série de diferenças teológicas entre os dois grandes ramos do islamismo. Os sunitas consideram apenas os quatro primeiros califas como rashidun ou corretamente guiados espiritualmente falando. O fato é que com a expansão do Império Islâmico os califas se tornaram cada vez mais líderes  políticos e menos espirituais. Esse papel passou a ser exercido por clérigos que exerciam sua autoridade religiosa apenas a nível local. De todo modo o califado enquanto instituição existiu até 1924 quando foi abolido por Kemal Ata Turk, pai da Turquia moderna.
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sábado, 8 de março de 2014

West and Ukraine: Looking at Possible Scenarios

Artigo publicado originalmente no jornal da Strategic Culture Foundation, em 08 de fevereiro de 2014.

Por Irina Lebedeva


The Ukraine 2020 report was published in 2010 by the Center for Global Affairs. The paper presents possible options for Ukraine’s political development. Professor Michael Oppenheimer, Center for Global Affairs, New York University, was the founder of the project. The events in Ukraine appear to unfold at present according to the «three scenarios» described in the paper. James Sherr, Russia and Eurasia Program, Chatham House, writes in the foreword that the Center has participated in the projects conducted for the State Department, the Department of Defense, the National Intelligence Council, the Central Intelligence Agency, the Institute for Peace, the Bookings Institute, the Council on Foreign Relations and Presidential Science Advisor. Almost all known experts on Ukraine from the United States, Great Britain, Germany, Belgium, Poland and other states took part in the project… but there was no representation on the part of Russia. It’ll be no surprise if one day the files found in the Ukraine’s Batkivshchyna Party office during a search will happen to be excerpts from this American what-to-do instruction book. A few years ago the authors of the paper managed to foresee the Svoboda Party leading the «people’s protests», the resignation of Prime Minister Nikolay Azarov and Arseniy Yatsenyuk coming to the fore… As the report says, there will be anti-Semitic attacks against Yatsenyuk because of his nationality, but they are easy to parry as ridiculous. The scenario described in the report envisages Svoboda getting sidestepped giving the way to the militants belonging to Trizub, an organization with reverence for the so called «Organization of Ukrainian Nationalists» led by Stepan Bandera. These people are characterized as «moderate elements» in the Ukraine-2020 report… Then, as the document predicts, the process of deeper «Ukrainization» is to ensue provoking the «Russian elements». It presupposes the privatization of strategic assets, open doors for Western investors, credits granted by the International Monetary Fund and the World Bank, doing away with the «Soviet taboos» on selling land away to foreigners and supervised involvement of China which is an enemy for the European Union and a competitor for Russia, squeezing the Black Sea Fleet out of Sebastopol, changing the Ukraine’s constitution making the country a parliamentary or Parliamentary-presidential republic (who will vote for Yatsenyuk at the presidential election?).
Scenario Two: National Consensus Leading to Reform. This is the best option for Washington and Brussels. Scenario One: Fragmentation from Failed Authoritarianism. The authors believe this option to be disadvantageous for the United States, as well as for the Russian Federation. Scenario three: Scenario Three: Strategic Authoritarianism. It envisions the development of events when President Yanukovych retains power. It’s a back-up option. In this case, President Yanukovych will have to ascertain his legitimacy by getting his shoulder wounded. Besides he will have to make all kinds of concessions to «foreign investors», implement structural and constitutional reforms, agree to credits serving to enslave and softly push Russia away from the sphere of its geopolitical interests. The outside forces have already created chaos in Ukraine, it’s not clear if they will be able to control it. Yanukovych has already been warned about following the fate of Milosevic in Serbia or Gaddafi in Libya. «International community» presumptuously believes the now encouraged Ukrainian nationalists will get tame as time goes by. Money is to go to pro-Western democrats under the condition of implementing the above mentioned «reforms», something the «trusted» opposition activists are already talking about. To the point, Yatsenyuk has recently remembered the Marshall Plan. Looking back at the history of the North Atlantic Alliance, they have often mentioned the Marshall Plan comparing it to «two halves of the same nut». After the second world war America did not grant the ruined Europe a gratuitous loan, there were agreements of semi-colonial nature like deploying «secret NATO weapons». It’s not the local Pravy Sektor (extreme right wing group), but these NATO structures who will play the role of «iron hand» leading Ukraine into transatlantic integration.
Washington is facing the possibility of new diplomatic failures damaging the country’s image abroad. The time is right to ask what $5 billion of America taxpayer’s money have been spent on. This is the sum Assistant Secretary of State Victoria Nuland and Thomas O. Melia, Deputy Assistant Secretary of State in the Bureau of Democracy, Human Rights and Labor (DRL), mentioned during the January hearings in Senate while talking about the Ukrainian successors of those who supported the ideas of Stepan Bandera and Roman Shukhevych. The very same moderate Trezub named in honor of Stepan Bandera has been under constant oversight exercised by Euro Atlantic centers. Open at random any page of the US-based Ukrainian Weekly. You’ll see it expounding the views of Ukrainian collaborationists. The outlet has an office in Kiev. Reading it, you’ll know a lot of interesting things about the past «deeds» of those who go rampant on the streets of Maidan Nezalezhnosti (Independence Square) and Grushevsky Street now. Since Victor Yanukovych was elected President of Ukraine, the Ukrainian Weekly focused on highlighting the activities of Pravy Sektor activists, the stories about prisoners’ tortures in the contemporary Ukraine, the calls for support of the «Ukrainian patriots» who blast Soviet era memorials. It also offers the information on Dmitro Yarosh, leader of the far-right militant group Pravy Sektor, and Pravy Sektor's coordinator (nick name Pilipas) Andrei Tarasenko, who is telling stories about militants training, how youngsters, which have not seen military service, are taught to become real men who know how to use knives and compressed-air guns. It offers exhaustive information on other «brave nationalists» and the ways to counter «Russian intervention». The outlet also contains the recommendations of «Serbian revolutionaries» sharing their experience of toppling «dictators».
The more early Ukrainian Weekly editions were filled with the horror stories making blood run cold about the intrigues of Communists and Moskali, a derogatory Ukrainian term applied to Russians (try to say something to denigrate Jews in America, they’ll get you behind bars for that) or Golodomor- genocide organized by Russians to exterminate Ukrainians.
It’s a shame that, lacking independent information sources, American diplomacy uses such ravings to work out its Ukraine’s policy. The arrogance of ordinary American diplomats and congressmen is nothing to be surprised about. During the January congressional hearing devoted to Ukraine even someone as dry behind the ears as Zbigniew Brzezinski educated senators telling them that before the Ukrainians had been called Rusyns before Russians appeared and their old dream of many centuries to join Europe should be supported. Domino reaction is to be launched and the multi-national Russia will also walk down the same road leading to NATO membership. The both sons of Zbigniew Brzezinski have close relation to NATO. Ian Brzezinski is a Senior Fellow in the International Security Program and is on the Atlantic Council’s Strategic Advisors Group. Mark Brzezinski is a lawyer who served on President Clinton's National Security Council as an expert on Russia and Southeastern Europe and who was a partner in McGuire Woods LLP, he serves as the US ambassador to Sweden. He has had relation to selling military aircraft.
Why should Victoria Nuland, who became a laughing stock of Ukrainian and Russian blogs for distributing buns and cookies on Maidan Square, appear in Kiev again the day before the Olympic Games in Sochi kick off and call on those dissatisfied with the «Yanukovych regime « to get back to the idea of European integration or stepping on the «war path»? That’s when clannish mentality - the scourge of US foreign policy - steps in. The clan Victoria Nuland belongs to is no less influent than the clan of the Brzezinski. Her husband Robert Kagan is a well-known foreign policy scholar, analyst and columnist. He feels right at home when it comes to rubbing shoulders with other researchers in the most important think tanks and has access to the most influential American media outlets. He has pushed for taking part in the Libyan military operation. He was among those who opposed the incumbent President of the United States advising Mitt Romney. It was him who prompted Romney to call Russia number one geopolitical enemy of the United States. His brother Fred Kagan has authored a number of books and reports published by different digests around the world. Victoria Nuland’s career path has been closely intertwined with the collapse of the Soviet Union; she was in Moscow at the time. And she has witnessed the ensuing US foreign policy «tectonic shifts». It was her who honed her skills in finding pretexts for invoking Article 5 of the Washington Treaty in 2001 when the intervention in Afghanistan was launched. Later she served as the representative in the North Atlantic Council. Her NATO experience is not wasted – her heart is calling her to the East again…

O texto original encontra-se em: http://www.strategic-culture.org/news/2014/02/08/west-and-ukraine-looking-at-possible-scenarios.html

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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A Crise Europeia & O Sistema Mundo Moderno sob a perspectiva de Wallerstein

Ana Caroline Moreno*

O Sistema Mundo Moderno é analisado a partir da distribuição internacional do trabalho, produzida pela estrutura capitalista mundial. Essa distribuição divide os Estados em três níveis - centro, periferia e semiperiferia - sendo o centro o grande produtor de bens de alto valor agregado/tecnológico e os periféricos, responsáveis pela produção de commodities. Enquanto isso, os Estados semiperiféricos - por estarem em um ponto intermediário - aliviam o congestionamento de capital do centro e redistribuem os conflitos entre potências e países periféricos (LIMA, 2010). Para Sarfati (2005, p. 140), o mundo foi dominado por Impérios Mundiais até a consolidação da ordem dos Estados, onde cria-se um padrão necessário para o desenvolvimento capitalista. Segundo ele, constata-se que o balanço de poder na Europa pós-Segunda Guerra foi a origem para a criação do Sistema Mundo Moderno tal qual conhecemos.
Voltando-se à Europa, dados do Fundo Monetário Internacional concluem que três dos seis maiores PIBs mundiais são europeus - Alemanha, França e Reino Unido, 4º, 5º e 6º lugar respectivamente - e segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o continente possui um Índice de Desenvolvimento Humano classificado como alto (entre países do leste europeu) ou muito alto (França, Reino Unido, Áustria, Alemanha, entre outros). Juntando isso ao fato de que a economia da União Europeia, medida em PIB é atualmente superior à dos Estados Unidos (totalizando 12.945.402 milhões de euros) e ao fato de que movimenta cerca de 20% do volume de importação e exportação do mundo (embora só possua 7% da população mundial), parece seguro concluir que a União Europeia - senão o continente Europeu - figuraria dentre os países-centro, segundo a análise clássica do SMM.
Entretanto, viu-se que a crise financeira mundial que iniciou-se nos Estados Unidos e atingiu o auge em setembro de 2008, agravou os problemas financeiros de forma especial em alguns países da Europa como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. E que tentando diminuir os impactos desta crise sobre suas economias, a União Europeia passou a ajudar os setores mais prejudicados com pacotes bilionários, que evitariam desemprego e amorteceriam as turbulências no setor financeiro. Porém, com tantos pacotes de ajuda, a arrecadação destes governos diminuiu, deixando-os mais endividados. Então, o que está acontecendo com o atual sistema em que vivemos, onde um dos maiores polos de poder (lembrando que os EUA também não vivem exatamente o auge de seu American Dream) passa pela maior crise em 70 anos? Por que a União Europeia tem dificuldade em manter seu índice - já no vermelho - de desemprego e a crise parece atingir endemicamente a sociedade (PETROFF, 2013)?
Wallerstein (2013) previa, desde a década de 1970, que “nos próximos 50 anos o mundo vai mergulhar em uma turbulência econômica séria e, mais tarde, o capitalismo vai enfrentar uma crise tremenda, como a da Grande Depressão”. Além disso, pondera que o caso dos europeus é especialmente vulnerável pois possuem ao menos nove moedas e 17 países compartilham o euro - mas não têm um governo federal propriamente dito. O que complica ainda mais, pois “os governos não podem intervir em sua própria moeda. Um dos instrumentos que os governos utilizam tradicionalmente para lidar com suas dificuldades [...] Os países da zona do euro não têm essa opção [...] e estão enfrentando os mesmos problemas de todos os outros [países em crise]”. Além disso, Wallestein ressalta que os governos europeus enfrentam exigências crescentes devido ao aumento do desemprego ao mesmo tempo em que observam sua receita minguar, justamente porque não há empregos.
Os analistas financeiros, economistas e credores dos países europeus em crise ressaltam o dever de cortar benefícios sociais para reduzir despesas - quantas vezes não foi dito, por exemplo, que a Grécia se metera aonde está devido aos excessos de seu Wellfare State? Já Wallerstein defende não ser esta a questão-chave, pois o corte de benefícios não só reduziria o poder de compra, como não contemplaria o “efeito de contágio”, este sim grande dano à situação europeia. O efeito seria o seguinte: os países precisam de crédito. As pessoas e empresas emprestam à medida que sentem que serão reembolsadas. As maiores agências de risco (como as norte-americanas Moody´s, Standard&Poor´s e Fitch) não são exatamente imparciais. Quanto mais inseguros os donos do capital se sentem, menos se sentirão tentados a emprestar para determinado país. E mais alto serão os juros – que se fossem menos abusivos, poderiam ser melhor alocados em saúde ou educação, por exemplo.
Além disso, os países europeus que mais gastam com benefícios sociais – os países escandinavos – são justamente aqueles que não se encontram em crise. Embora sejam muito diferentes entre si, até no que tange à adoção do Euro, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Islândia e Suécia estão em situação relativamente confortável. Wallerstein comenta que grande parte do problema fiscal europeu é comum à realidade fiscal e política de grande parte do mundo: resultados da corrupção, que caracteriza como “arma etnocêntrica”. O autor reflete que embora os países do Norte tenham a tendência de atribuir a corrupção apenas aos do Sul, é um fenômeno geral do sistema. E vai mais longe: “É geral porque, se você tem um sistema em que o principal objetivo é a acumulação de capital, a corrupção é simplesmente um aluguel que as pessoas que estão no lugar certo cobram, da acumulação sem fim do capital”.
Em novembro de 2013, a Comissão Europeia anunciou que o continente inicia um “ponto de virada”, afirmando que o segundo semestre de 2013 teria previsões de crescimento de 0,5% (CHADE, 2013). Apesar disso, admitiu que a recuperação será “gradual e lenta”, pois a estabilização dos mercados financeiros e das taxas de juros ainda não se traduziram em ganhos para a economia real. Esta análise vai diametralmente contra a ordem de concepção do SMM, que prega que insuficiência de investimento da economia real (que não acompanha a velocidade da acumulação) é quem gera a expansão da economia financeira-especulativa. Independente dos rumos que a crise irá tomar - e se a economia real irá de fato emergir das cinzas da crise, como prega a Comissão Europeia – analisa-la sob a perspectiva do SMM, dentro de um mundo globalizado, faz cada vez mais sentido já que, citando Braudel (1979, III, p. 35, apud LIMA, 2010): “toda economia-mundo é uma incrustação, uma justaposição de zonas ligadas conjuntamente, mas em níveis diferentes.” Marola ou tsunami, acidente de percurso ou desestabilizador do Status Quo capitalista, deve-se prestar atenção tanto na Crise Europeia como nas reflexões de Wallerstein.


*Ana Caroline Moreno é graduanda do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.


REFERÊNCIAS:
1 - LIMA, Pedro G. C., “Posicionamento no Sistema Mundial e Semiperiferia”, disponível em: http://www.gpepsm.ufsc.br/html/index_arquivos/10.pdf
2 – PETROFF, Alana, “Financial Crisis Caused 5.000 Suicides”, disponível em: http://money.cnn.com/2013/09/18/news/economy/financial-crisis-suicide/
3 - WALLESTEIN, Immanuel, “Nenhum Sistema É Para Sempre” (entrevista concedida à Lee Su-hoon), disponível em: http://outraspalavras.net/posts/wallerstein-nenhum-sistema-e-para-sempre/

Fontes Complementares:
SARFATI, Gilberto, “Teorias de Relações Internacionais”, capítulo 11.
UNIÃO EUROPEIA (Website Oficial), “A Economia”, disponível em: http://europa.eu/about-eu/facts-figures/economy/index_pt.htm


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