Por Manuela Paola
A pandemia trouxe muitas privações e uma delas foi o acesso às aulas de português para os não-falantes da língua que residem aqui no Brasil. Levando isso em consideração, o Núcleo de Migrações do Laboratório de Relações Internacionais - coordenado pela professora Michele Hastreiter - desenvolveu um curso para lecionar português para imigrantes e refugiados que querem aprender nossa língua. Quem trouxe a ideia para o LABRI foi a aluna de Relações Internacionais do Unicuritiba, Yara Hamandosh, que veio da Síria. As aulas foram todas baseadas na apostila Pode Entrar, desenvolvida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. O livro é dividido em 12 capítulos, assim como cada classe do curso. Os professores são os alunos de Relações Internacionais que participam do Núcleo de Migrações.
O início das inscrições foi no dia 12 de setembro e até o encerramento, em meados de outubro, recebeu mais de 180 respostas(!) no formulário disponibilizado. Através do formulário, o Núcleo de Migrações ficou sabendo que os alunos do curso de português pertencem a variados países e regiões do mundo: Egito, Venezuela, Iêmen, Haiti, Paraguai, Palestina, Líbia, Síria, Peru, Cuba, México e até mesmo Grécia. Na inscrição, foi perguntado o nível de português e a maioria dos alunos disse que não fala a língua ou possui um nível básico de conhecimento. Pensando nisso, os alunos passaram a ser divididos entre aqueles que falam espanhol e aqueles que falam inglês, mesmo como segunda língua. Dessa forma, a aula é mais proveitosa para os alunos e os professores.
Além das aulas, os integrantes do LABRI criaram uma conta no Instagram com o objetivo de auxiliar ainda mais os alunos de português a aprender a língua. O perfil conta com curiosidades sobre o Brasil, dicas de filmes e explicações sobre detalhes da língua portuguesa. Para encontrar o perfil, é só procurar por @labri_unicuritiba.
O curso se encontra, atualmente, em sua oitava aula. O feedback dos alunos, que é feito através de um formulário disponibilizado ao final de cada classe, conta com muita satisfação e elogios aos professores e professoras que ministram as aulas. Aos sábados de manhã, como forma de reforço, acontecem as mentorias. Nessas aulas, onde não é passado conteúdo, os alunos podem conversar mais com os professores. Nesse momento, a troca de experiência e culturalidade se faz muito presente, além de ser uma excelente forma de praticar o português.
O Internacionalize-se conversou com uma das professoras do projeto e estudante de Relações Internacionais, Maria Eduarda Bortoni. Ela nos contou como é a experiência de ser professora. "Participar do LABRI tem sido uma experiência única. Logo no primeiro semestre, quando montamos a cartilha de informações, vimos que trabalhamos muito bem com a equipe e que podíamos e queríamos ir além. Ainda sem poder realizar os atendimentos presenciais, surgiu a ideia de aulas online de português. A experiência tem sido maravilhosa, todos estamos aprendendo muito com o grupo de alunos. Na primeira aula estávamos todos bem travados, sem saber muito bem como lecionar e como o projeto iria se desenrolar na prática. Ao longo das semanas fomos ficando mais confiantes, entendemos as necessidades em relação ao idioma e nos aproximamos dos alunos. A maior beleza do projeto não é o curso de português em si, e sim o que aprendemos como seres humanos ao longo dele. Acho que falo por todos quando digo que comecei esse projeto como uma aluna perdida mas atrás de um propósito, e vou terminá-lo com o coração quentinho por saber que fizemos a diferença na vida de várias pessoas e que elas também fizeram a diferença na minha."
A idealizadora do curso, Yara, também deu seu depoimento. "Sempre quis ter a oportunidade de apoiar os imigrantes e refugiados de forma a tornarem a sua experiência mais fácil e sem muitos desafios, pois eles já têm uma vida difícil e tiveram muitos obstáculos na sua vida. Para tornar a sua difícil jornada mais fácil, pensei nas aulas de português depois que minha amiga me contou sobre suas dificuldades, e como sou refugiada e tive muitas dificuldades quando cheguei ao Brasil principalmente no idioma (era minha terceira língua a aprender), era tão diferente do árabe e do inglês e isso foi uma barreira para se comunicar com o brasileiro. Pude entender que quando você conhece a língua do país, começa a sentir que está em casa. Para que os imigrantes e refugiados se sintam em casa, nós criamos essas aulas. Essas aulas nunca aconteceriam sem o LABRI, a Professora Michele e cada aluno ajudando na criação de aulas incríveis a cada semana. As aulas são extraordinárias! Eu queria que minha primeira aula de português fosse a mesma quando cheguei ao Brasil. Com a colaboração de cada um, fizemos um jeito simples de ensinar português e temos facilitado tudo com a tradução das aulas para cinco idiomas. Este projeto é a melhor oportunidade e experiência da minha vida onde pude ver que temos potencial para ajudar, temos um novo propósito nesta vida, histórias importantes para ouvir e que as vozes importam, contando com outros sonhos a realizar e que nós estamos fazendo este projeto para impactar e fazer a diferença na vida de outras pessoas."
As aulas deste ano já estão chegando ao fim, mas em 2021 as Aulas de Português do LABRI voltarão! Fique atento às nossas redes sociais!
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