terça-feira, 26 de julho de 2016

Redes e Poder no Sistema Internacional: A relevância econômica do Mar do Sul da China


A seção Redes e Poder no Sistema Internacional é produzida por integrantes do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”, que desenvolve no ano de 2016 o projeto “Controle, governamentalidade e conflitos em novas territorialidades” no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca promover o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a inter-relação entre redes e poder no SI. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

A relevância econômica do Mar do Sul da China


Alexandre Michel Gavronski*




No século XXI, os seres humanos se vêem rodeados de tecnologias instantâneas, como por exemplo, usar o seu smartphone para se fazer uma compra online em um site chinês, ou usar ferramentas como o PayPal, que realiza transações internacionais instantaneamente. Contudo, ainda assim nos encontramos na obrigação de esperar por nossos produtos chegarem em nosso domicílio, o que muitas vezes, dependendo do tipo do frete e das implicações fiscais dele, dá uma sensação de demora muito maior se compararmos com àquela de instantaneidade que as ferramentas informatizadas nos proporcionam. 

Falando de outra maneira, ainda estamos expostos à limitação física do espaço quando falamos de fretes internacionais e, consequentemente, de linhas de navegação de mercadorias no mundo realizadas por via naval. Por conta disso, é de se esperar que a segunda maior potência econômica global, a China, tenha interesse no controle territorial de uma das rotas de navegação mais famosas da Ásia, tanto hoje em dia quanto na história. 


Não é só na atualidade que o Mar do Sul da China (ou Mar da China Meridional) tem sua relevância econômica, sendo que com o passar da história humana a rota já era muito utilizada. O mar do sul da China era a principal rota para a navegação das grandes potências europeias capitalistas do século XVI e XVII para alcançar os povos do extremo oriente. Ela começa a partir da península ibérica, contorna as costas do continente africano e da península indiana para então passar por dentro do mar do sul da China, passando por dentro da costa de diversos países do sudeste asiático como o Vietnã, Indonésia, Filipinas e Malásia. 

Era uma das rotas mais usadas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, fundada em 1602, mas também era usada pelos portugueses e pelos ingleses. O mapa 1 a seguir mostra as principais rotas marítimas existentes no sudeste asiático nos séculos XVI e XVII, destacando-se principalmente a principal rota comercial de longa distância, em azul claro.



Mapa 1
Fonte: REID, Anthony. Southeast Asia in the Age of Commerce, 2 volumes. (New Haven: Yale University Press, 1988-1993).

Hoje em dia, a rota tem grande relevância estratégica e é usada principalmente pela China tanto para a importação de matéria-prima, quanto para o escoamento de seus próprios produtos industrializados para o resto do mundo. 

Conforme é mostrado no mapa 2, em azul estão as zonas economicamente exclusivas que cada país do sudeste asiático tem direito de acordo com o direito internacional, e em vermelho a linha reivindicada pela China com suas ações no mar do sul da China. Fica claro por este mapa que as razões econômicas da China são fortes o suficiente a ponto de reivindicarem uma região já delimitada territorialmente pela sociedade internacional.

Mapa 2
Reinvindicações territoriais marítimas chinesas e as milhas de zona econômica exclusiva no Mar do Sul da China


As ações chinesas recentes em relação ao mar do sul da China e suas consequências diplomáticas estão dentro do escopo do que aparenta ser um esforço atual de asserção da soberania nacional da China perante os países do mundo. Porém, tal prática se interpola não só com o interesse de seus países vizinhos nesta mesma região geográfica, mas também com legislações internacionais previamente implementadas.

* Alexandre Michel Gavronski é acadêmico do sexto período do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e membro do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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