Bruno Hendler
Para
os interessados nos fundamentos do pensamento latino-americano voltado para as
questões do desenvolvimento, a leitura da obra de Theotônio dos Santos é obrigatória.
O economista, que ajudou a dar corpo à Teoria da Dependência nos anos 1970 e
hoje dialoga com a perspectiva dos Sistemas-Mundo, concedeu uma entrevista ao
Programa Milênio do canal Globo News há cerca de um mês e suas palavras merecem
tanto a atenção dos acadêmicos que convergem quanto a dos que divergem em
relação às teorias críticas das ciências sociais.
Nos
primeiros minutos de entrevista o autor apresenta seu cartão de visitas: “O
livre intercâmbio é parte de uma visão ideológica que cria uma realidade falsa.
O século XIX é conhecido nas Relações Internacionais como a Era do Liberalismo”,
mas, segundo dos Santos, países como Brasil e Argentina eram “livres” apenas para
receber navios (e produtos) ingleses.
Em
seguida o autor dialoga com a perspectiva dos Sistemas-Mundo ao colocar a
divisão internacional do trabalho como condicionante da assimetria de poder entre
os países. Este argumento muito nos lembra a obra de Giovanni Arrighi, “A
ilusão do desenvolvimento”, na qual o autor demonstra que, apesar do processo
de industrialização do Terceiro Mundo a partir dos anos 1950 e 1960, a
diferença de riqueza em relação ao Primeiro Mundo manteve-se praticamente
inalterada, pois as atividades de maior valor agregado permaneceram nos países
centrais. Em outras palavras, países semiperiféricos, especialmente os da
América Latina, que viveram uma industrialização tardia, correram muito para
ficar no mesmo lugar.
Ao
longo da entrevista, Theotônio discorre sobre a importância de um projeto
nacional de desenvolvimento que passe, necessariamente, por investimentos na
área da educação e que esteja voltado para o intercâmbio de igual para igual
com os países da Ásia Oriental. Também aponta para as oportunidades de aproximação
econômica e cultural com a América Latina, em detrimento do espaço
sul-americano valorizado pelo Itamaraty, e com os países da África e da Ásia.
Portanto,
fica a dica do vídeo de cerca de vinte minutos para aqueles que querem conhecer,
estudar ou mesmo criticar as premissas da Teoria da Dependência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário