segunda-feira, 27 de maio de 2013

O conflito na Síria como proxy war contra Teerã



     O líder do Hezzbollah,Hassan Nasrallah em visita ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad


                                                                                      Por Andrew Traumann *

O líder do Hezzbollah Hassan Nasrallah declarou neste final de semana que a organização que ele lidera está entrando numa nova fase. O Hezzbollah que sempre reiterou que seu único objetivo era a defesa contra Israel e o apoio aos palestinos, agora está combatendo sunitas em território sírio. Oficialmente o propósito do grupo é proteger minorias xiitas em pequenos vilarejos no país vizinho, mas o discurso de Nasrallah de “lutar até o fim para proteger o regime de Bashar Al Assad”,esconde outros objetivos.


Primeiro analisemos o contexto interno: o Líbano é um mosaico de etnias e religiões que após a Guerra Civil de 1975, só conseguiu relativa estabilidade política após a divisão do poder entre os três grupos majoritários: cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas. Ao cruzar a fronteira e combater sunitas que se opõe ao regime de Assad, o Hezzbollah pode acabar fazendo com que o Líbano seja tragado para o conflito que até aqui tem se restringido às fronteiras sírias. Por que o Hezzbollah, autointitulado movimento de resistência, não tem apoiado a “resistência” contra Assad? E por que um movimento cujo objetivo principal sempre foi a proteção do sul do Líbano contra incursões israelenses, está se envolvendo neste conflito?

A resposta está no contexto externo: Nasrallah considera que a própria sobrevivência do partido/grupo guerrilheiro estaria em xeque, uma vez que segundo seu raciocínio se o governo de Assad cair nas mãos de um regime árabe sunita conservador e, portanto pró-EUA o Hezzbollah ficará isolado e não terá mais forças para resistir caso Israel decida novamente invadir o país.

Lembremos que a invasão israelense ao Líbano em 2006 foi uma tentativa de destruir o Hezzbollah, aliado do Irã no Líbano e que a batalha contra Assad,uma luta apoiada pelos EUA,União Europeia e as monarquias conservadoras do Golfo,é na verdade uma maneira de derrubar o único governo aliado que o Irã possui na região Nada tem a ver com o processo conhecido como “Primavera Árabe”.  A guerra na Síria nada mais é do que uma guerra de procuração contra o regime islâmico  de Teerã,cuja queda é o objetivo final dos EUA e de Israel,na busca do estabelecimento de regimes mais “receptivos” aos interesses destes dois países na região,ou como declarou em 2006 no auge da incursão israelense ao Líbano a então Secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice: "ao nascimento de um novo Oriente Médio."


O presidente do Líbano Michel Sleiman advertiu o Hezzbollah dos perigos desta aventura que pode levar o país novamente a uma guerra civil : “Como pode uma nação dar um  exemplo de resistência e sacrifício promovendo lutas sectárias?” Boa pergunta,presidente...

*Andrew Traumann é  mestre em História Política,doutorando em História,Cultura e Poder e professor de Relações Internacionais do UNICURITIBA.

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