O líder do Hezzbollah,Hassan Nasrallah em visita ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad
Por Andrew Traumann *
O líder do Hezzbollah Hassan Nasrallah declarou neste final
de semana que a organização que ele lidera está entrando numa nova fase. O
Hezzbollah que sempre reiterou que seu único objetivo era a defesa contra
Israel e o apoio aos palestinos, agora está combatendo sunitas em território sírio.
Oficialmente o propósito do grupo é proteger minorias xiitas em pequenos vilarejos
no país vizinho, mas o discurso de Nasrallah de “lutar até o fim para proteger
o regime de Bashar Al Assad”,esconde outros objetivos.
Primeiro analisemos o contexto interno: o Líbano é um mosaico
de etnias e religiões que após a Guerra Civil de 1975, só conseguiu relativa
estabilidade política após a divisão do poder entre os três grupos
majoritários: cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas. Ao
cruzar a fronteira e combater sunitas que se opõe ao regime de Assad, o
Hezzbollah pode acabar fazendo com que o Líbano seja tragado para o conflito
que até aqui tem se restringido às fronteiras sírias. Por que o Hezzbollah, autointitulado
movimento de resistência, não tem apoiado a “resistência” contra Assad? E por
que um movimento cujo objetivo principal sempre foi a proteção do sul do Líbano
contra incursões israelenses, está se envolvendo neste conflito?
A resposta está no contexto externo: Nasrallah considera que
a própria sobrevivência do partido/grupo guerrilheiro estaria em xeque, uma vez
que segundo seu raciocínio se o governo de Assad cair nas mãos de um regime árabe
sunita conservador e, portanto pró-EUA o Hezzbollah ficará isolado e não terá
mais forças para resistir caso Israel decida novamente invadir o país.
Lembremos que a invasão israelense ao Líbano em 2006 foi uma
tentativa de destruir o Hezzbollah, aliado do Irã no Líbano e que a batalha
contra Assad,uma luta apoiada pelos EUA,União Europeia e as monarquias
conservadoras do Golfo,é na verdade uma maneira de derrubar o único governo aliado que o Irã possui na região Nada tem a ver com o processo conhecido como “Primavera Árabe”. A guerra na Síria nada mais é do que uma
guerra de procuração contra o regime islâmico de Teerã,cuja queda é o objetivo final dos EUA
e de Israel,na busca do estabelecimento de regimes mais “receptivos” aos
interesses destes dois países na região,ou como declarou em 2006 no auge da incursão israelense ao Líbano a então Secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice: "ao nascimento de um novo Oriente Médio."
O presidente do Líbano Michel Sleiman advertiu o Hezzbollah
dos perigos desta aventura que pode levar o país novamente a uma guerra civil : “Como pode uma nação dar um exemplo de resistência e sacrifício promovendo
lutas sectárias?” Boa pergunta,presidente...
*Andrew Traumann é mestre em História Política,doutorando em História,Cultura e Poder e professor de Relações Internacionais do UNICURITIBA.
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