Com fotografia na mão, apoiadora de Barack Obama assiste a comício do presidente americano em Pueblo, no Colorado.
Por Rafael Pons Reis
Faltam apenas
dois dias para a decisão da eleição presidencial norte-americana, marcada para 06
de novembro, que decidirá qual dos dois partidos terá a maioria nas duas casas do
Congresso.
Mas
afinal, qual seria o significado e a repercussão dessa eleição em nível
internacional? Em tese, a eleição nos Estados Unidos tem sido retratada pelos
meios de comunicação em todo o mundo como um evento global, em que diversos analistas
debatem sobre como a vitória de cada candidato poderia afetar a situação
interna dos Estados Unidos, a política externa e o papel do país nas relações
internacionais. Mesmo apresentando um relativo declínio de sua hegemonia, os
Estados Unidos ainda possuem uma notável capacidade em formular e implementar
respostas sistêmicas no plano internacional. Assim sendo, diante da relevância
e do peso político e econômico projetados pelo país no sistema internacional, o
resultado da eleição passa a ser uma variável importante e ao mesmo tempo preocupante
para todos os países do mundo.
Seja qual
for o resultado da eleição, são muitos os desafios que o vencedor terá pela
frente, e certamente as questões econômicas ocuparão grande parte da agenda dos
problemas emergenciais a serem resolvidos pela Casa Branca e pelo Congresso. O
país apresenta uma situação econômica e financeira fragilizada, com o desemprego
superando a marca de oito por cento, uma crescente dívida pública e um baixo
desenvolvimento econômico.
Além da
economia, emergem outras questões críticas relacionadas ao papel dos
Estados Unidos no mundo e temas estratégicos e de segurança vitais ao país, como:
a continuidade do combate ao terror em escala global; esforços em direção a
não-proliferação, dando ênfase ao desmantelamento do programa nuclear do Irã e da
Coreia do Norte; a delicada relação de aliança e rivalidade com a potência
chinesa; no Oriente Médio, a relação com os países árabes, sobretudo com o
Paquistão, Afeganistão, Palestina e Síria, e atentando-se aos desdobramentos desencadeados pela Primavera Árabe; a tentativa de gerar
confiança na liderança do país na Ásia, de construir uma nova ordem
liberal internacional, compartilhando mais responsabilidades e encargos com outros
países, sobretudo com os países do G20 em uma possível reestruturação – em
marcha lenta – de governança global.
Além
dessas questões é possível suscitar outras, tais como oferecer soluções para a
saúde pública norte-americana, para a mudança climática e para as políticas
energéticas, dentro de um contexto de crise econômica tanto interna, iniciada pela
crise imobiliária de 2008, quanto externa, agravada pela crise da zona do Euro
na União Europeia.
Assim
sendo, quais seriam as possíveis implicações do resultado desta eleição para a
América Latina e, em especial, para o Brasil? Segundo pesquisa internacional
feita pela BBC com mais de 21 mil pessoas em 21 países, cerca de 20 países,
incluindo o Brasil, México, Panamá e Peru, torcem pela reeleição de Obama. Em
relação aos temas relacionados à política externa norte-americana, verificou-se
que foram mínimas as diferenças entre as propostas apresentadas pelos
candidatos, cujos temas gravitaram em questões mais globais, com foco na China,
e as relações complicadas com países como Afeganistão, Irã e Paquistão, portanto,
não atribuindo relevância para a atuação dos Estados Unidos na região hemisférica
nem para a América do Sul em particular.
Seja quem for
o ganhador da eleição, o Brasil dará continuidade na condução de um dos
tradicionais vetores da política externa brasileira, qual seja a de manter um
estável e bom relacionamento com os Estados Unidos - segundo maior partner comercial do Brasil. É
importante para o Brasil não apenas reforçar os laços com este país, desde que
resguardados sob o princípio da defesa do interesse nacional, mas construir
caminhos que possam contribuir para melhorar substancialmente na qualidade
desta relação.
A política
externa do Governo Dilma vem sinalizando nesse sentido ao demonstrar um diálogo
mais construtivo e participativo em relação ao governo anterior, em grande
parte devido à figura de Antônio Patriota, que antes de ser o atual Ministro
das Relações Exteriores, foi embaixador brasileiro em Washington, possuindo,
assim, maior aderência e sensibilidade diplomática no diálogo com Estados
Unidos do que seu antecessor Celso Amorim.
* Parte deste texto foi publicado no Jornal Gazeta do Povo em 04 de novembro de 2012.
Rafael Pons Reis é internacionalista, Mestre em Relações
Internacionais pela UFRGS e doutorando em Sociologia Política pela UFSC. É professor
do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba e Diretor
Acadêmico do Comitê Internacionalista de Curitiba (CINC).
Nenhum comentário:
Postar um comentário