quarta-feira, 4 de abril de 2012

Trinta Anos da Guerra das Malvinas


Afundamento do Cruzador General Belgrano em 2 de maio de 1982 por forças britânicas: o navio pertencera aos EUA (como USS Phoenix) e havia escapado aos ataques japoneses à Pearl Harbour na II Guerra Mundial sendo repassado aos argentinos em 1951.

Por Andrew Patrick Traumann*

Na semana em que a Guerra das Malvinas completa trinta anos,o tema tem voltado à  pauta dos fóruns internacionais,não pela efeméride,mas por seguidas manifestações do governo de Cristina Kirchner acerca da reivindicação da soberania argentina sobre as ilhas. Há um viés ideológico anticolonialista nessa visão a partir do momento em que um dos argumentos utilizados é que o fato de um país possuir uma base militar a mais de doze mil quilometros de distância de sua capital se configura inaceitável no século XXI. O governo argentino apresentou uma queixa formal á ONU e sanções às empresas britânicas que exploram petróleo e gás na região. Aliás, este componente econômico acirrou ainda mais as posições dos dois oponentes desde que o petróleo foi descoberto no litoral das ilhas Malvinas na década de 1990. 

Se a Argentina considera a posse das ilhas como um objetivo “permanente e irrenunciável” de sua política externa,a posição britânica é de aceitar eventuais projetos de cooperação com mas de que a discusão sobre a soberania das ilhas é algo fora de questão. Do mesmo modo os 2748 habitantes das ilhas chamados kelpers se consideram britânicos “há nove gerações”, se comunicam exclusivamente em inglês e rechaçam totalmente qualquer tentativa de domínio sul-americano.

Apesar de existirem discussões intermináveis sobre quem teria chegado primeiro ás ilhas (os argentinos argumentam que foi Fernão de Magalhães a serviço da Espanha em 1520 e os britânicos de que foi John Strong em 1690),o fato é que a instabilidade política causada pelo processo de independência da América Latina no século XVIII abriu uma brecha para novos conflitos quando os espanhóis que ocupavam as Malvinas desde 1767,as abandonaram com a independência argentina em 1816. Os argentinos se sentiram os legítimos herdeiros daquele terrítorio mas acabaram expulsos por uma fragata britânica em 1833.
Mais de cem anos depois o general Leopoldo Galtieri chega ao poder na Argentina após um acordo com a Marinha no qual prometia “resolver a questão” das Malvinas em troca de apoio. E em 2 de abril de 1982 a Argentina invade as Malvinas expulsando o diminuto contingente militar britanico que lá se encontrava numa tentativa de unir o país em torno de uma causa popular e salvar um regime moribundo,afundado numa crise econômica e em acusações de violações dos direitos humanos.

A Argentina,porém cometeu alguns erros primários na execução de seu plano: primeiro não se preparou adequadamente para uma ocupação. Após algum tempo faltavam mantimentos aos soldados. Além disso equipamentos pesados como helicópeteros e blindados foram deixados no continente. E por fim a Argentina subestimou a capacidade de reação britânica (não se acreditava que a Grã-Bretanha pudesse atravessar o oceano por causa das ilhas) e o mais inacreditável : ignorando laços históricos e culturais que unem Grã-Bretanha e EUA os argentinos acreditavam que os EUA não interfiririam no conflito,permancendo neutros ou até alinhados a Argentina devido aos acordos de defesa mútua da OEA (Organização dos Estados Americanos). Os norte-americanos não só apoiaram ostensivamente o governo de Margaret Thatcher como passavam aos britânicos informações sobre as posições militares argentinas facilitando e muito a vitória britânica em pouco mais de dois meses.

A posição oficial do Brasil no conflito foi neutralidade,apesar de uma inclinação ás posições argentinas. O então chanceler Saraiva Guerreiro reiteradamente lembrava que o Brasil apoiava à reivindicação argentina às ilhas desde 1833,e que isso não mudaria. Apesar de fazer o tradicional apelo ao fim das hostilidades e pela negociação entre as partes,o Brasil agiu tanto na OEA,costurando uma resolução que ordenava aos países-membros que não colaborassem com a Grã-Bretanha quanto fornecendo armamentos aos argentinos como aviões de patrulha EMB-111, mísseis balísticos e caças Xavantes.

Os militares brasileiros buscavam consolidar uma tendência de dentro das Forças Armadas que consistia  numa renovação de concepções e orientações doutrinárias e uma aproximação com os países sul-americanos: a conduta diplomática brasileira solidária à Argentina e dirigida à busca de uma solução pacífica do conflito nas Malvinas, ajudou a dissipar antigos receios, esvaziar uma rivalidade histórica e contribuiu decisivamente para incrementar as relações Brasil e Argentina durante os governos civis da década de 1980. O alinhamento do Brasil a favor de uma causa nacional Argentina, mesmo que tímido, criou sólidos vínculos que influenciaram diretamente os acordos de integração regional assinados posteriormente.

* Andrew Patrick Traumann é professor de História das  Relações Internacionais do UNICURITIBA e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR.



2 comentários:

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  2. A névoa da guerra parece que está voltando, ou são apenas restos de fumaça que ainda sobrevoam sobre os céus argentinos. Ou podemos dizer que é um pesadelo que perturba as noites de sono de Cristina Kirchner. Sendo assim ou não é uma inocência por parte de suas estratégias e de seus assuntos políticos e externos. Querer reaver uma ilhota perdida anteriormente por forças militares estrangeiras superiores às suas, é sem dúvida querer mergulhar seu país em um caos, ou até mesmo a região das Américas. Pois bem sabe que não terá apoio algum por parte de seus vizinhos e até mesmo por aqueles estados de expressão significativa da comunidade internacional. Estas atitudes defensivas de angariação de forças políticas e apoios tanto na América Latina como em âmbito internacional, adotadas pela presidenta da Argentina, é um pouco estranha, em se tratando de países democráticos, parece uma onda de chavismo que assola a região. Eu entendo que é um retrocesso aos processos de manutenção da estabilidade política e de paz na região. E que estas disputas sejam elas com interesse pelo petróleo das Ilhas Malvinas e ou pela honra do povo e da pátria Argentina, simplesmente não é do gosto da comunidade internacional e nem tampouco da ONU. Esta reivindicação com relação à soberania das Ilhas Malvinas já foi protocolada junto a ONU, pelo governo argentino. E cá entre nós já meio que sabemos qual será a solução do conselho de segurança da ONU, para esta reivindicatória.

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