quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Práticas ecológicas em festivais de rock


Rafael Pons Reis*

O Brasil poderia aproveitar a ocasião do encontro da Rio+20, em 2012, para criar e adotar práticas ecológicas responsáveis em variados segmentos esportivos de médio e grande porte.

A segunda edição do SWU (Starts With You – Começa Com Você) realizado em novembro passado na cidade de Paulínia (a 117 km de São Paulo) foi um festival de rock que ao longo dos três dias de duração contou com a apresentação de mais de 70 bandas, tanto nacionais como internacionais. Cerca de 150 mil pessoas acompanharam o festival como também o 2.° Fórum Global de Sustentabilidade SWU.
Com o tema “consciência e atitude”, o objetivo do fórum era fomentar debates sobre o tema da sustentabilidade através da troca de experiências de pessoas, de representantes da sociedade civil e da iniciativa privada que já trabalham com a perspectiva de criar um modo de vida mais sustentável, “mostrando que por meio de novas escolhas e práticas todos podemos, sim, fazer a diferença”.
A ideia de inserir o tema sustentabilidade e conscientização ecológica em festivais de rock é bastante interessante e inovadora no Brasil. Segundo o Relatório de Sustentabilidade SWU 2010, no primeiro festival, realizado em 2010, foram recicladas aproximadamente 30 toneladas de recursos sólidos e 700 mil latas de alumínio, além de que 8.233 mudas de árvores foram plantadas para mitigação de dióxido de carbono. Apesar desses números, o que se viu no festival de 2011 foi uma dissonância entre o discurso e a prática na defesa de ações ambientais propostas pela organização. Percebia-se uma grande quantidade de resíduos sólidos dispersos em quase toda a área do evento. As lixeiras, em número insuficiente, estavam mal localizadas e não davam conta, principalmente, do grande número de copos descartáveis. O mote do festival sobre sustentabilidade pareceu não conquistar o público sobre a adoção de novas escolhas e práticas para um mundo ambientalmente equilibrado. As atitudes dos frequentadores do festival pareciam não corresponder com a causa ambiental, à medida que era comum ver um sujeito próximo da lixeira jogar no chão seu copo vazio.
A despeito dos sucessos e críticas do SWU, acreditamos que iniciativas como essa não são isoladas e talvez possam servir de lição e referência para a adoção de práticas sustentáveis em outros tipos de eventos, dentre tantos, em competições esportivas. Tais eventos podem abrigar um grande número de pessoas, como em partidas de futebol e em jogos olímpicos, criando com isso um significativo consumo de energia e recursos, e na geração de uma grande quantidade de resíduos sólidos que poderiam ser reciclados e reaproveitados.
Nesse contexto e em uma dimensão mais ampliada, o Brasil poderia aproveitar a ocasião do encontro da Rio+20, em 2012, para criar e adotar práticas ecológicas responsáveis em variados segmentos esportivos de médio e grande porte, sobretudo, em eventos dos quais será sede, como na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016. O resultado prático disso poderia traduzir-se não apenas em redução de despesas, mas em um acréscimo de visibilidade internacional tanto das cidades brasileiras que sediarão os eventos, como para o país como um todo, ao contribuir com resultados positivos para a diplomacia ambiental brasileira.
Sendo assim, trata-se de uma oportunidade que não deve ser desperdiçada, pois, para um país como o Brasil, em que pese o posto de sexta maior economia mundial, torna-se urgente e necessária prover de eficiência sua capacidade em oferecer soluções e medidas ambientalmente equilibradas para problemas que muitos países ricos já resolveram há décadas.
O Brasil pode sim fazer a diferença, como diz o jargão do festival de rock, e acertar o passo na mitigação e resolução de muitos dos problemas e condições que assolam o país. São problemas que comprometem o desenvolvimento do país e tornam distante a desejada, e cada vez mais necessária, criação de uma matriz econômica tecnológica sustentável, capaz de garantir o crescimento do país aliado com justiça social em um ambiente ecologicamente equilibrado.
Mas, para isso, o país precisa trilhar um caminho que requer não apenas a adoção de políticas públicas efetivas relacionadas às “boas práticas”, mas também o apoio por parte de diversos atores da sociedade brasileira em respeito e defesa de um projeto de mundo capaz de satisfazer as necessidades das gerações presentes, sem comprometer a capacidade de sobrevivência das gerações vindouras.
Rafael Pons Reis é professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).

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