domingo, 27 de novembro de 2011

A novela da crise: até quando discutir?

Cintia Rubim de Souza Netto

Ao lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a presidente Dilma Rousseff conversa com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, durante reunião do G20, em Cannes; encontro foi marcado por discussões sobre a crise na zona do euro. (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)


Mais do que discussão, os países precisam olhar para a crise na Europa como algo não longe da sua janela e com cautela e responsabilidade pensarem em ações concretas urgentes.

Na última reunião do G20, que se realizou no dia quatro de novembro de 2011 em Cannes, na França, o tema central continuou sendo a crise das economias da zona do euro e a discussão sobre a viabilidade da ajuda por parte dos países emergentes. Os dados sobre a economia desses países continuam alarmantes. Conforme relatório da Comissão Europeia, não há perspectiva de melhora no emprego nem nos investimentos das empresas, o consumo continua em queda e os bancos estão reduzindo seus empréstimos, ou seja, recessão à vista no ano que vem. E uma vez que o mundo dificilmente escapará ileso da recessão europeia, resta discutir a ajuda financeira.

A Europa continua pedindo socorro ao mundo. O mundo segue discutindo a ajuda à Europa. Dentre as medidas apontadas como necessárias para o lado dos países desenvolvidos, afirma o economista Nouriel Roubini (famoso por prever a crise mundial de 2008), que a única forma de evitar a catástrofe econômica é o Banco Central Europeu comprar os títulos dos países em dificuldade, reduzir a taxa de juros para 0% na zona do euro e desvalorizar a moeda. Porém o próprio BCE e o governo da Alemanha são contra, pois tal ajuda afetaria os tratados da União Europeia. Aliado às incertezas econômicas, ainda permanecem as questões políticas, com a sucessão dos primeiros-ministros na Grécia e na Itália. Na Grécia, o físico, economista e ex vice-presidente do Banco Central Europeu, Lucas Papademos, que ficará no cargo até as eleições previstas para fevereiro, e na Itália, o também economista e ex-comissário europeu Mario Monti, tem pela frente o desafio de implantar mais medidas de austeridade fiscal, via cortes de salários, aumento de impostos e privatizações em troca de mais empréstimos, porém, com maior descontentamento da população.

Do lado dos emergentes, o Brasil afirmou na reunião que está disposto a contribuir com recursos para o FMI, mas não diretamente para o Fundo de Estabilização Europeu, decepcionando as expectativas de líderes europeus. Como disse a presidente Dilma Roussef “dinheiro brasileiro de reserva é dinheiro que você protege, não pode ser dado assim, de qualquer maneira”. Em contrapartida, fortaleceu-se a reivindicação já apresentada em reuniões anteriores do Grupo de incluir as moedas de economias emergentes, como Brasil e China nos Direitos Especiais de Saque (SDR, sigla em inglês), espécie de moeda do FMI, que pode ser utilizada na ajuda aos países em situação econômica desesperadora. Por enquanto, ficou definido apenas a possibilidade de emissão de mais SDR da forma como hoje está estruturado (dólar americano, iene, libra esterlina e o euro) para injeção no Fundo de Estabilização Europeia, que ainda não alcançou o montante necessário à ajuda dos países em piores condições: um trilhão de euros!

Contudo, muitas perguntas permaneceram sem respostas: quem vai contribuir? Com quanto? Quando efetivamente começarão os aportes ao FMI?  O fato é que a reunião passou e nada de concreto ficou acertado. A própria presidente Dilma Roussef afirmou que não acredita que em uma reunião se resolvam os problemas do mundo. Mas se não se consegue resolvê-los em reuniões, urge que se faça em ações práticas imediatas. Se parte do mundo não tem crescimento econômico, não há consumo, não há demanda por importações e o resto do mundo provavelmente também crescerá menos.

Resta aguardar as cenas dos próximos capítulos que estão prestes a irem ao ar na próxima reunião do G20, marcada para dezembro. Dezembro, mês de Natal, só falta esperar que Papai Noel ajude!

Artigo originalmente publicado no Jornal Gazeta do Povo, Caderno Opinião, em 22/11/2011.


Cintia Rubim de Souza Netto é Doutora em Economia, Professora do curso de Relações Internacionais e Supervisora do Núcleo de Pesquisa e Extensão do UNICURITIBA.

Um comentário:

  1. É interessantíssimo a arrogância dos europeus em não querer ceder as suas particularidades, mesmo em épocas de crises os mesmos não cedem em absolutamente nada. Incrível isto, como que querem que as outras economias os ajudem se na verdade eles só pensam no próprio país deles, é complicado ter acordos e negociações sem que ambas as partes entrem em consenso. Dificilmente os BRICs vão ajudar as economias europeias sem algo em troca, tem que existir interesses comuns, isto é característico do comércio internacional, a Dilma está certíssima em seu posicionamento, não tem que ajudar coisa nenhuma sem ao menos ter garantia de retorno, e outra nem eles mesmo sabem o que vão fazer, são muitas opiniões e poucas soluções em práticas. No meu entender eles nunca foram parceiros comerciais da América do Sul, muito pelo contrário a política protecionista deles sempre foi devastadora contra os nossos produtos, e sempre muito difícil de competir com os produtos deles, as barreiras foram além dos limites do comércio internacional. Mas tudo bem deixamos as divergências de lado e partiremos para os pontos chaves: Então veja bem os europeus tem uma indústria muito forte e com muita tecnologia de ponta, tem técnicos e pessoal capacitados as sobras, foram os inventores do capitalismo e da própria globalização, tem os melhores índices de qualidade de vida e de IDH do mundo. Agora eu pergunto? O que está faltando para os mesmos se reerguerem desta crise? Será que falta um líder? Mais pessoas para consumirem? Baratearem preços de produção para poder competir com os BRICs, principalmente com a China? Expansão dos seus mercados? Mas eles fazem parte do maior bloco econômico do mundo? Bom eu dispenso todos estes questionamentos que fiz aqui com exceção de um: Liderança falta realmente um líder para a Europa, os europeus não tem um líder, por mais que Sarkozy e Ângela Merkel vão para as TVs mundiais exporem seus posicionamentos e medidas econômicas, os mesmos não tem perfil de líder, e para vencer a batalha seja lá qual for ela a presença de um líder é fundamental, até na nossa própria casa um líder tem um papel de relevância de um valor inestimável. Depois que se tem uma liderança, ai fica mais fácil rearranjar todo este quebra-cabeça e montar de volta todas estas alianças, acordos e responsabilidade com os gastos públicos e com as políticas fiscais e monetárias.

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