sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pass the Flame, Unite the World.


Thiago Lopes

O título deste texto remete ao tema do revezamento da tocha olímpica para os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Mas afinal, o fogo olímpico tem este poder?

Em 17 de outubro, o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) liberou, juntamente com o Comitê Olímpico Internacional (COI), uma resolução entitulada “Construindo um mundo melhor através do esporte e do ideal olímpico”. Ela tem como finalidade incentivar os países a se comprometerem com a promoção da paz e do desenvolvimento humano através do esporte. A resolução, também já apelidada de “Trégua Olímpica da Era Moderna” é inspirada no Armistício Sagrado, proposto pela cidade-Estado de Élide, organizadora dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. Na Antiguidade os festivais esportivos eram realizados como forma de se honrar a figura de Zeus, deus máximo da Mitologia Grega, e como a região vivia sob constantes conflitos, era necessário que Élide, considerada cidade-Estado neutra, exercesse a mais poderosa de suas armas, a diplomacia. Eram enviados arautos, figuras semelhantes aos diplomatas dos dias atuais, que percorriam toda a Grécia para discutirem o tempo de duração dos festivais, bem como a “Trégua Sagrada em honra a Zeus”, que compreenderia o tempo no qual as competições seriam disputadas e o deslocamento de atletas e visitantes que desejassem acompanhar os jogos in loco. Como cada cidade-Estado tinha sua preferência, os arautos normalmente estabeleciam um prazo de três meses, que envolvia viagem de ida, disputas e viagem de retorno dos participantes.

É difícil afirmar que uma trégua sugerida e aprovada pelo CS da ONU impedirá as tensões entre os países durante os Jogos Olímpicos que serão realizados no ano que vem, mas já é um sensível avanço para tal. Como disse Mário Pescante, observador do COI na ONU: “A Trégua Olímpica é um pequeno passo para um homem, mas um passo gigantesco para a humanidade”, parafraseando o que foi dito após a chegada do homem à Lua.

Os Jogos Olímpicos representam um momento único, em que, como na Grécia Antiga, inimigos de guerra competiam pacificamente entre si e se cumprimentavam ao final da disputa. Pescante ainda lembra que o esporte tem o poder de aliviar problemas causados pelo cenário internacional, e que já houve outras tréguas nos Jogos da Era Moderna, como a que juntou Coreia do Sul e Coreia do Norte no desfile de abertura de Sydney, em 2000, algo inédito até então.

Em nome do governo do Reino Unido, Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador de Londres 2012, aprovou a resolução imposta pelo Conselho de Segurança, lembrando ainda que ela não se restringirá apenas a atletas, se estendendo também à população em geral, levada às escolas britânicas como forma de ferramenta para ensinar sobre tolerância e harmonia entre os povos. Coe também afirma que a seriedade dada à resolução da ONU mostra que a sociedade herdou os valores deixados por Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, como o respeito e amizade em tempos de desafios globais.

O que pode ser dito é que o esporte, através do Movimento Olímpico, tem muito a ensinar à sociedade internacional através dos seus valores, como por exemplo, a ideia de que “o importante não é vencer, mas participar”, bem como o fato de que todos os países – inclusive alguns casos que não são reconhecidos pela ONU – têm o direito de participar da maior celebração mundial do esporte e da juventude, hasteando sua bandeira na Vila Olímpica. Os Jogos Olímpicos são a única oportunidade do país mais fraco política e economicamente vencer o mais forte.

Com a proposta da Trégua Olímpica, com o slogan “Imagine a Paz”, a resolução tem como finalidade conscientizar a sociedade internacional da capacidade que o Movimento Olímpico tem de promover a cultura da paz através do esporte.
E quem sabe, assim, poderemos aprender com a Grécia, formadora do pensamento e da cultura ocidental, bem mais do que a realização de uma competição esportiva que ocorre de quatro em quatro anos.

Thiago Lopes é acadêmico do 8º período do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.

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