domingo, 31 de julho de 2011

Dentre os emergentes, é o Brasil o mais afetado pela “guerra cambial”?

Por Cíntia Rubim



 




Recente pesquisa publicada na Folha de São Paulo em 25 de julho último traz um estudo feito para os setores industriais de um grupo de países emergentes, dentre eles Brasil, México, Argentina, África do Sul, Indonésia, Coréia, Índia, Turquia, China e Rússia. Ao todo essa pesquisa, baseada em entrevistas feitas com executivos dos países, contemplou treze economias emergentes.
Segundo a pesquisa, o Brasil foi o único, dentre os países pesquisados, a apresentar encolhimento do setor industrial no último mês de junho. O estudo busca prever o comportamento da indústria a partir do nível de estoques, ritmo de novas encomendas e contratações. Parece que o efeito da taxa de câmbio tem forte poder de explicação nessa pesquisa, embora não possa ser apontado como o único responsável.
É sabido que a forte valorização do real ao encarecer os produtos brasileiros no exterior compromete a competitividade das exportações do setor industrial. Essa forte valorização – que o governo brasileiro tenta a todo modo inibir através de medidas, das quais se destaca a última com a imposição de cobrança de IOF sobre transações no mercado de derivativos – enfraquece a indústria, sobretudo naqueles setores mais afetados pelo câmbio sobrevalorizado.
Os dados de comércio exterior ilustram essa situação atual: a indústria vem importando mais e exportando menos e embora tenhamos superávit na nossa balança comercial geral (saldo positivo das exportações menos as importações, promovido pelo aumento nos preços internacionais das commodities) ao analisarmos as informações por setores da atividade econômica percebemos um déficit comercial para o setor industrial de cerca de US$ 30 bilhões em 2010.
Não pretendo discutir aqui as causas da chamada “guerra cambial” que tem sido amplamente apresentada pelo nosso ministro da Fazenda como potencial causadora de males presentes e futuros para a economia brasileira – tema que já foi muito bem tratado neste espaço pelo acadêmico de Relações Internacionais, Guilherme Melo no artigo “Guerra Cambial: concorrência, liberalismo e política”, publicado em 15 de maio de 2011; mas ressaltar que a perda da competitividade da indústria brasileira e a piora em seu desempenho frente a outras economias emergentes, pode estar associada (e certamente está) a outros efeitos combinados com o câmbio desfavorável, dentre os quais destacam-se a elevada carga tributária, problemas de infraestrutura e a burocracia.
Se compararmos, por exemplo, a carga tributária brasileira, de cerca de 35% do PIB, com a de alguns dos países emergentes, os dados são realmente surpreendentes. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Brasil lidera o ranking em carga tributária como proporção do PIB dentre os emergentes: Coréia (25,6%), Turquia (24,6%), Rússia (23%), Chile (18%), México (17,5%) e Índia (12,1%).
Ora, será que adiantará o empenho do governo brasileiro em conter a valorização do real para melhorar a nossa competitividade internacional sem atentar para os importantes entraves estruturais da nossa economia? Ou continuaremos a “enxugar gelo”, nos preocupando com o curto prazo, como são os objetivos e a lógica das políticas macroeconômicas, necessárias, mas infelizmente muitas vezes descoladas da atenção às questões estruturais de longo prazo. Com certeza, o câmbio não é o único culpado!


Cíntia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA.

Um comentário:

  1. A verdade é que o governo brasileiro tem ostentado medidas de contenção a valorização forte do real,mas esta ainda não é a medida correta e necessária a ser tomada por parte da equipe econômica do governo,ou seja é uma medida que tem prazo de validade,e a economia brasileira necessita de uma medida eficaz,que resolva de vez este problema crônico,que só tem aumentado a insatisfação da indústria brasileira que reclamam das perdas irreparáveis que vem sofrendo com a super valorização do real frente ao dólar americano. Em tempos de globalização econômica a guerra cambial é um fator que sempre vai existir,as disputas dos mercados financeiros globalizados é uma questão de sobrevivência das economias fortes e cada nação tem que por em prática a sua estratégia econômica com planejamento inteligente e focado na proteção e manutenção do desenvolvimento das economias de suas nações,de forma alguma o governo brasileiro pode queixar-se da guerra cambial como fator prejudicial a economia,pois esta guerra já faz parte da globalização econômica,é uma caracaterística que não vai mudar e o que tem que ser feito é novos estudos com relaçao a isto e ao mesmo tempo traçar planos de proteção a nossa economia,como a redução da carga tributária,taxação mais rigorosa dos produtos importados,incentivos a indústria nacional,apoio a projetos nacionais de pesquisas etc. Se o governo brasileiro não adotar medidas urgentes desta natureza,com certeza estará incentivando a falência da indústria nacional,porque a China está ai vendendo todo tipo de bugingangas aqui no Brasil a preço de banana,que dificilmente a nossa indústria conseguira competir com ela,pois se torna muito mais fácil,barato e viável se produzir na China certos produtos,por várias razões de custos,encargos financeiros e transportes do que aqui no Brsil e é por isto que o governo tem que por em prática medidas protecionistas a sua indústria assim como acontece na Europa,o próprio EUA faz isto para proteger a sua indústria, é uma questão de sobrevivência e salvação se queres que a indústria nacional sobreviva,não tem outra saída a não ser tomar e aplicar estas medidas digamos que nacionalistas,mas com um único objetivo manter as nossas empresas nacionais vivas e em constante desenvolvimento,para que o progresso continue,assim mantendo os empregos e aquecendo a economia doméstica,que anda nos últimos anos,pós crise de 2008,meio que cambalenado e na retaguarda e com poucas esperanças vindas do governo,porque as suas medidas não estão sendo eficazes a curto prazo,e como todos nós sabemos a recuperação da indústria leva muito tempo dependendo do que se produz leva anos para recuperar,se caso neste intervalo de tempo não houver outras crises. Esta semana houve no senado federal uma audiência pública sobre estas questões,do real super valorizado,indústria nacional,a China etc. e os números mostram que a China está vindo com tudo para cima do Brasil,é uma grande ameaça a nossa economia este dragão asiático,e a nossa indústria segundo pesquisas mostrada pelos especialistas no assunto nesta audiência pública do senado,que foi transmitida pela tv senado,são números absurdos que o governo tem que correr atrás e tomar medidas urgentes,para que a coisa não se torne mais prejudicial a nossa economia,é impressionante eu fiquei abismado e preoculpado com aquilo tudo,principalmente quando um dos palestrantes falou a tribuna,que até as vestimentas das forças armadas brasileiras era produto importado da China,até o palestrante tirou sarro da situação e falou assim:que queria muito que no desfile do 7 de setembro chovesse muito para desbotar a tinta da roupa dos militares em pleno desfile... apesar do nosso país tem contratos e acordos comerciais com a China,isto não se justifica,é uma questão de nacionalidade e brasilidade,ACORDA BRASIL A HORA É ESTA!!! PARABÉNS PROFESSORA CÍNTIA,EXCELENTE ARTIGO!!!

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