domingo, 27 de março de 2011

A intervenção militar na Libia: uma reflexão realista

Thais Scharfenberg

Quinta-feira, 17 de março de 2011: O Conselho de Segurança da ONU autoriza a imposição da zona de exclusão aérea na Líbia e a ação militar. Essa medida, aprovada pelos EUA, Grã-Bretanha, Líbano e França assustou muita gente nos últimos dias e provocou a indagação em relação à necessidade de tal decisão.
A intervenção militar não é bem vista em um primeiro momento. Se pararmos para pensar no porquê da intervenção, realmente descobriremos uma série de interesses que ultrapassam a simples defesa dos direitos humanos dos civis da Líbia e a luta contra o ditador Muammar Kaddafi. Mas seria muito utópico pensar que de uma hora para outra os países levariam em conta, em primeiro lugar, o interesse geral em detrimento de seus próprios interesses.


Antes de se criticar o uso da força, que se revela na forma mais pitoresca de resolução de conflitos, deve-se pensar nas conseqüências que a não-intervenção acarretaria.
A Líbia é o quarto país produtor de petróleo da África hoje. Quando Kaddafi chegou ao poder em 1969, as companhias petroleiras, em sua maioria americanas, extraiam mais de 2 milhões de barris diários. No entanto, desde a nacionalização do petróleo, a Líbia possui países europeus, entre eles Itália, Alemanha e França, como principais países importadores. Com a revolta, cidades importantes nesse contexto, como Bengazi, foram atingidas, atrapalhando a exportação do produto. Por mais que os países citados conseguissem administrar a situação do petróleo, a longo prazo uma crise seria inevitável e a alta dos preços atingiria diversos outros países em um efeito dominó. A Líbia também possui grandes reservas de gás natural. A necessidade de intervenção se torna clara quando analisados esses pontos, pois as medidas econômicas e políticas do próximo governo afetariam diretamente a Comunidade Internacional.
No decorrer do conflito, tornou-se nítida a natureza extremista de Kaddafi, mostrando que um acordo da parte do ditador em se retirar do poder está praticamente fora de cogitação, o que justifica mais uma vez a medida tomada pela ONU. A população da Líbia se queixava cada vez mais da pobreza e corrupção que assolava o país, além da indignação com as extravagâncias cometidas por Kaddafi e pelas pessoas de sua confiança.
Por outro lado, não se pode descartar a possibilidade de que, em um futuro próximo, o povo líbio enxergue a intervenção como mais uma invasão ocidental e acabem se unindo para defender o país, não por apoiarem Kaddafi, mas por patriotismo, como aconteceu com os iraquianos na invasão de 2003. A partir daí, as revoltas que estão ocorrendo em todo o Oriente Médio ficarão comprometidas e os inimigos do movimento poderão argumentar que o Ocidente manipulou a oposição às ditaduras.
Os Estados nunca estarão desprovidos do ‘’egoísmo’’ em suas políticas, porém, de acordo com o jornalista Gustavo Chacra, (http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/), seus interesses mudam de acordo com o cenário mundial, como os EUA que hoje estão ao lado do Líbano na decisão do Conselho de Segurança, mas não simpatizam com o atual governo libanês.
Antes de criticar o uso da força com olhos idealistas se faz necessário analisar todas as possíveis conseqüências da intervenção e da não intervenção. Em ambos os casos haveria perdas num amplo sentido. Resta saber em qual delas a perda seria menor e abalaria em menor medida nosso cotidiano, e para a surpresa de muitos, talvez a intervenção não seja tão ruim assim.

* Acadêmica do 5º período de Relações Internacionais do Unicuritiba e aluna de Iniciação Científica do Grupo “Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico” da mesma instituição.

4 comentários:

  1. não sei se esta zona de exclusão aérea vai resolver mesmo o problema da líbia,mas na minha concepção dificilmente resolverá,o mais aconselhável seria uma invasão por terra,mas isto não quer dizer que as forças do kaddafi,sejam realmente exterminadas ou expulsas do seu próprio território,pois estas melícias vão sempre estar em atividades,como é o caso do iraque e do afeganistão,por outro lado é um país sem preparo para estabelecer uma democracia e que dificilmente terá sucesso a curto prazo,terão uma longa caminhada pela frente com mais insatisfação por parte de algumas tribos e porque não dizer com golpes de estado,pois é muito comum naquela região este tipo de ação,é uma pena um país rico em petroléo e minerais viver numa lástima desta ancorados por ditadores sanguinários,que sugam os anseios do povo a troca de promessas milagrosas e sem cunho efeitos.

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  2. OS E.U.A e a U.E não dão pontos sem nós, com certeza há interesses por trás desses ataques. Agora, como vamos defender um regime como o de Muammar Kaddafi? Não tem como.
    Interessante é ver que o conceito de soberania que foi implantado com o Tratado de Westfália não existe mais. Essa é a nova onda do Sistema Internacional, que através das O.Is, se intrometem em assuntos internos dos Estados, sempre com o discurso dos direitos humanos debaixo do braço. Para dar respaldo à sua arbitrariedade.
    Há uma mudança no ar, o Sistema Internacional está mudando, a soberania não existe mais, o que existe é uma ideologia mundial de proteção do meio ambiente em que vivemos, se algum Estado faz algo que vai contra essa Nova Ordem, ai entra os Orgãos Internacionais e interferem.
    A ONU vai dominar o planeta!!! hahaha

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  3. Muito legal o texto, Thais. Parabéns!

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  4. Muito boa a sua análise Thaís.

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