Patricia Tendolini Oliveira de Melo
Recentemente, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) divulgou os resultados de uma pesquisa sobre os impactos dos gastos sociais sobre o PIB (http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110203_comunicadoipea75.pdf).
Trata-se de um estudo de extrema relevância em um país, cujos índices de distribuição de renda e pobreza, apesar dos recentes avanços, ainda nos lembram e nos aproximam do antigo termo subdesenvolvimento.
De acordo com o estudo, a cada R$ 1,00 gasto com educação pública, o PIB aumenta R$ 1,85; esse efeito supera, por exemplo, o das exportações de commodities e construção civil, cujos impactos são de R$ 1,40 e R$ 1,54, respectivamente.
Atualmente, os investimentos brutos em educação no Brasil giram em torno de 10% da renda nacional. O que mais chama a atenção é o destino desses recursos. Em qualquer país do mundo, o gasto per capita na educação superior é maior que aquele despendido com educação básica. Entretanto, enquanto nos países da Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a relação entre o gasto com a educação básica e o da educação superior é de 1 para 3 (respectivamente, R$ 3.637 e R$ 9.823), no Brasil, tal relação é de 1 para 14 (R$ 691 no ensino fundamental e R$ 9.756 na educação superior). Observando-se esses dados pode surgir uma série de argumentos questionáveis como, por exemplo: a de que deveriam ser transferidos gastos da educação superior para a básica, ou de que os gastos com a educação superior no Brasil são muito elevados. Tais argumentos poderiam levar ao desmantelamento e destruição do pouco ensino público de qualidade que nos resta.
Em outro estudo (http://desafios2.ipea.gov.br/pub/td/1997/td_0525.pdf), o IPEA avalia os efeitos que os gastos com educação têm sobre crescimento econômico, crescimento populacional, mortalidade e longevidade, e desempenho educacional. Não desprezando as outras dimensões, mas avaliando apenas a dimensão econômica, “a eliminação do atraso educacional eleva o crescimento da renda per capita dos salários industriais e das exportações em cerca de 15 a 30%”; isso obviamente está diretamente relacionado à qualidade e produtividade da mão-de-obra e, conseqüentemente melhoria na competitividade do país.
Entretanto, o investimento no ensino fundamental contribuiria também para extinguir certo elitismo que predomina nas universidades públicas brasileiras (e aqui caberia outra longa discussão sobre o sistema de cotas) e permitiria um ensino técnico mais direcionado a demandas específicas e não um “tapa buracos” da falta de oportunidade, como muitas vezes acontece.
Finalmente, um dos argumentos mais relevantes é a sonhada melhoria nas escolhas políticas, a democracia vivida no seu sentido mais amplo, de acesso ao conhecimento e conseqüente consciência política. Além do crescimento econômico, maior inserção internacional e qualificação de mão-de-obra, quem sabe um povo mais sabido que rompa o ciclo de ignorância política que se perpetua há décadas e traga reais mudanças estruturais em nossa sociedade. A espera é longa – ao menos uma geração –, o resultado menos ostentoso do ponto de vista do discurso oficial, mas é o que se espera de um governo cuja bandeira é o social. É esperar e, infelizmente, ainda pagar pra ver!
Patricia Tendolini é professora de Economia Brasileira e Introdução à Economia no UNICURITIBA.
terça-feira, 1 de março de 2011
Refexões sobre os impactos dos gastos públicos com Educação
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Patrícia, de fato há distorções que não são de fácil solução na nossa política educacional. Estudos feitos por James Heckman e seus colegas na Universidade de Chicago, entre outros, vêm apontando a enorme importância dos primeiros anos de vida na formação da capacidade cognitiva das crianças -- o que põe em relevo a necessidade de se desenvolver uma boa política de educação infantil (para menores de 6 anos). Essa educação não tem que ser necessariamente formal (dada em uma escola): muitas vezes uma boa interação com pais ou cuidadores, que se esforcem em estimular a criança com conversas e brincadeiras, já permitem um excelente desenvolvimento para a criança. Porém, o fato é que justamente os pais de famílias mais pobres, que têm menos educação e trabalham por vezes em mais de um turno, têm maiores dificuldades de oferecer essa interação em casa -- sendo que muitas vezes sequer têm com quem deixar seus filhos, que acabam sendo criados pelos irmãos apenas um pouco mais velhos (ou até sem ser cuidado por ninguém, tendo por companhia apenas a televisão e o olhar ocasional de um vizinho). Os números que você comenta mostram o quão abandonadas, proporcionalmente, estão justamente as faixas etárias que mais precisam de cuidado. Para corrigir esta distorção, seria necessário que os diferentes níveis de governo se propusessem em fazer um investimento maciço não apenas na oferta de vagas de ensino infantil, mas sobretudo na formação de professores capazes de lidar adequadamente com as necessidades de desenvolvimento das crianças menores. Embora haja promessas de alguns governantes de avançar nesta direção, infelizmente o tamanho da defasagem é tão grande que demorará ainda muito tempo para que ela seja superada. O importante, contudo, é ao menos começar.
ResponderExcluirO grande problema é que muitas vezes vemos o governo divulgando dados sobre investimentos em novas universidades, pesquisas, etc. São importantes? Fundamentais! Mas a grande inserção social e econômica começa pela educação básica, sobre a qual mal ouvimos falar. Como você disse Adriana, é importante começar, mas que esse começo seja pensando na próxima geração e não na próxima eleição.
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