Nome completo:
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior
Qual é a sua formação acadêmica?
Eu tenho minha formação acadêmica basicamente inteira feita na área de história. Então eu tenho a graduação, o mestrado e o doutorado em história. (Todos pela Universidade Federal do Paraná)
Mas nem sempre foi assim. A primeira formação que eu tive foi uma formação técnica na área de eletrotécnica. Sou formado em eletrotécnica pelo CEFET. Antigo CEFET, que hoje é a Universidade Tecnológica do Paraná. Depois eu fiz 3 anos de engenharia elétrica e depois uma grande transformação na minha vida aconteceu. Eu sempre achei que, ao longo da minha formação, até então, eu nunca tinha tido contato com a história, com as ciências humanas. Esses cursos mais de tecnologia, geralmente desprezam essas áreas, e eu sempre achei que que me faltava ter contado com esses conhecimentos, com essas informações. Foi quando eu resolvi dar essa guinada, essa mudança. Não foi muito bem-vindo para minha família, porque é justamente a questão de que o curso de engenharia seria mais promissor no sentido de colocações no mercado de trabalho e tudo mais. Até porque meu pai atuava nessa área da engenharia elétrica. Ele tinha uma empresa que atuava nessa área, mas, naquele momento, falou mais alto essa minha vontade de mergulhar nessa área, de estudar. Então eu fui, fiz o vestibular de história e comecei a fazer [a graduação].
Ocupação atual:
Atualmente sou professor universitário. Trabalho aqui no Unicuritiba já faz mais de 10 anos. Atualmente eu atuo também como professor substituto na Universidade Federal do Paraná no curso de História. E eu também dou alguns módulos de história contemporânea na PUC. Então, são basicamente essas, tenho atuado nessas 3 frentes.
Pensava em se tornar professor no início da faculdade?
Então, essa foi a pergunta que que meu pai me fez quando eu falei pra ele “olha, eu quero mudar de curso, quero fazer história”. Meu pai falou: “você vai ser professor?” Na época, naquele momento, quando ele fez aquela pergunta, é claro que eu não estava, sinceramente, preocupado muito com essa questão do mundo do trabalho, digamos assim. De que tipo de ocupação eu teria ou onde eu poderia trabalhar a partir daquele curso. Naquele momento eu estava muito empolgado mesmo com a ideia de estudar história, de ler mais sobre história, de conhecer mais a história. Mas eu me lembro que eu disse que, se fosse o caso, eu não teria problema. Mas eu não tinha pensado realmente em ser professor naquele momento. Mas depois que eu comecei a fazer o curso, daí a gente começa a perceber, inclusive, que não é só a talvez a principal forma de atuação daquele que tem a graduação na área de história, mas também que é um pouco de uma perspectiva de uma certa missão de você levar aqueles conhecimentos para outras pessoas. Tem um pouco dessa ideia de você poder compartilhar com as outras pessoas, digamos assim, essas leituras, esses conhecimentos.
Há quantos anos atua como professor?
Então, eu estou trabalhando como professor, mais ou menos desde 2002. Já faz uns 21 anos, mais ou menos. E a primeira oportunidade que eu tive para dar aula foi por meio da LBV, Legião da Boa vontade, porque a gente tinha uma certa dificuldade de conseguir um estágio para dar aula nas escolas e tudo mais, e eu precisava ter uma experiência em sala de aula. E daí uma colega minha me disse: “olha, na LBV o pessoal estava procurando professores para trabalhar com educação de adulto”. São pessoas que, de alguma maneira, pararam de estudar e depois voltaram a estudar. Daí eu fui dar aula de história para esse pessoal lá na LBV. A partir dali, depois eu comecei a trabalhar numa escola, que já me existe mais, Colégio Curitibano, que era aqui no Água Verde, eu trabalhei de quinta a oitava série como professor de história. E logo depois eu comecei a ter algumas oportunidades. A primeira oportunidade que eu tive no ensino superior foi dando módulos de pós-graduação em história da educação, em diversas áreas. Daí as oportunidades começam a aparecer. Isso [começar a dar aulas] foi antes do mestrado, antes até mesmo de ter a graduação era um meio que em caráter de estágio, de experimentação.
E no Unicuritiba?
Aqui no Unicuritiba eu comecei a trabalhar em 2010, então são 13 anos.
Como se tornou professora na Unicuritiba?
Minha esposa já trabalhava aqui, ela é formada em direito, era professora aqui do curso de RI e dava aula de direitos humanos. Só que, embora ela seja formada em direito, todo o estudo dela é voltado para os direitos humanos, então ela começou a dar aula exatamente sobre direitos humanos, no curso de relações internacionais, acho que até dava aula no curso de direito também. E até que eles estavam precisando de um professor de história, aqui no curso de RI. De história das relações Internacionais contemporâneas, e me chamaram para fazer uma banca aqui, fazer um teste. Eu vim fazer e fui aprovado, então eu comecei a trabalhar no curso dando aula de história das RIs contemporâneas, que era a disciplina que hoje o Andrew ministra. E eu comecei atuando nessa disciplina.
Qual sua percepção sobre estar ligado ao curso de relações internacionais tendo formação em história?
Eu acho interessante que são poucas áreas do conhecimento hoje que têm essa inserção de outras áreas das humanas. Então, por exemplo, no direito, geralmente, o pessoal estuda filosofia, tem sociologia, tem um pouco dessas áreas. Mas RI, não. RI tem uma base histórica muito importante. Não só histórica, mas também sociológica, da ciência política, tem uma base do direito também. Mas tem esses outros pilares que são pilares humanísticos. Então eu acho que isso é uma coisa muito interessante no curso de relações internacionais, é um curso muito abrangente. E outro aspeto que eu acho legal também é que ele tem uma coisa que a história daí não tem, que é um pouco desse poder de transformar as coisas, agir de uma maneira um pouco mais efetiva. Não é só entender o mundo, não é compreender o mundo, mas é entender o mundo, compreender o mundo e, também, se for possível, atuar, contribuir para influenciar de alguma maneira, para transformar. Não que a gente vá acabar com as guerras, que vá alcançar a paz e tudo, mas que pode, por exemplo, se você trabalhar em alguma instituição como a ONU, você tem uma capacidade de atuação que um professor numa sala de aula não teria. É uma maneira de você realmente levar pra prática, mesmo, em termos de ações, de projetos, com todos os meios que são possíveis para pensar a organização do sistema Internacional.
Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar?
Tem vários momentos. Eu acho que, é claro, tem aqueles momentos difíceis, que causam dificuldades. Às vezes o pessoal está mais agitado, nem todas as turmas colaboram, digamos assim, às vezes o trabalho não rende muito bem em algumas circunstâncias, mas por diversos momentos a gente percebe que quando a gente traz alguma, enfim, alguma ideia, alguma abordagem de algum historiador, algum trabalho mais conceitual, e como isso abre a perspectiva dos alunos. A gente percebe que os alunos estão tendo contato com uma coisa nova, que eles nunca ouviram, que eles nunca haviam estudado e, às vezes, que até muda a visão do mundo desses alunos. E como essa interação e esse momento desse suposto despertar por uma ideia nova por, uma nova visão do mundo, é uma coisa que de fato é muito gratificante. Quando você percebe que você conseguiu mudar a perspectiva, a visão de mundo de uma pessoa, por meio de uma aula, por meio de uma apresentação de um tema. Então isso é uma coisa muito legal. E outro momento que eu acho muito gratificante é quando também a gente consegue debater com os alunos. Quando a gente percebe que os alunos estão interessados, até mesmo para questionar alguma abordagem, alguma ideia. Então quando a gente percebe que os alunos estão engajados também naquela ideia da descoberta, de uma suposta verdade sobre aquela questão e tudo, isso também é muito gratificante, porque isso transcende mesmo o aspecto meramente institucional. Não é uma questão de presença, não é uma questão de nota. Mas é uma questão que vai muito além disso. Então, esses momentos são únicos.
Eu acho que eu, como professor, acabo reproduzindo o que é justamente fazer com que as pessoas experimentem aquilo que eu senti quando, por exemplo, eu li um livro e aquele livro mudou a minha visão sobre a sociedade sobre as coisas. Então eu tento transmitir exatamente essas experiências para os alunos também.
Quando despertou o interesse de ser um profissional da área de história?
Eu acho que eu sempre tive muita curiosidade em relação à história, sempre tive muito interesse. Mas eu nunca tive realmente a oportunidade de aprofundar isso, e foi um momento, que eu acho que todo mundo passa na vida, quando se questiona, exatamente, se pergunta: “o que é que eu quero efetivamente fazer?” Como eu estava numa altura da minha vida que eu já tinha feito um percurso e não tinha me permitido parar e pensar aquilo que eu queria fazer, eu me lembro que, quando eu fiz essa fricção, eu tomei essa decisão e achava que a história poderia me dar as respostas que eu estava buscando, as perguntas que eu queria responder. Eu ia encontrar essas respostas não na engenharia, não em outra área, que seja lá qual for, economia e administração, sei lá, direito. Mas eu iria encontrar isso na história. Poderia até ser na filosofia, poderia ter sido na sociologia, mas eu achei que a história era mais abrangente, a história tinha essa amplitude. E digamos que, basicamente, todas as outras áreas têm história também envolvida. Então é como se a história fosse uma espécie de Coringa.
Existe algum momento ou experiência durante a sua formação que tenha te marcado de forma especial?
Eu acho que quando a gente tem contato com alguns pensadores, com alguns historiadores. Por exemplo, o que vem me agora na cabeça é o primeiro contacto que eu tive com o Marx, por exemplo. Com textos de Marx e Marxismo, foi muito revolucionário na forma como eu, digamos assim, comprei as ideias de Marx e as e as teorias dele. Aquilo para mim foi bastante revelador. E um outro historiador, pensador, filósofo também, que me marcou muito foi Michel Foucault. Michel Foucault para mim também foi uma grande transformação, uma grande revolução quando comecei a ler sobre ele.
Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos em sua vida acadêmica que mais o ajudam na sua profissão atual?
Eu acho que o professor lida com os seres humanos, lida com pessoas que têm os mais diversos tipos de interesse. Muitas vezes você está numa sala e você sabe que aquele aluno não gosta muito daquela disciplina, por exemplo, ou não está muito interessado naquilo. Então a gente tem essa questão também de ser um bom comunicador, no sentido de que, às vezes, uma boa comunicação não pode ser muito agressiva nem violenta, não pode ser impositiva. Então, por exemplo, eu prefiro até que os alunos que não estão muito interessados naquele momento - e às vezes tem dias em que a gente não está realmente com cabeça para acompanhar uma aula –, eu até prefiro que eles não precisem se preocupar com a presença, que eles possam sair da sala. Mas eu acho que eu também fui desenvolvendo um pouco dessa capacidade até mesmo de sustentar uma aula, tentando dar uma aula boa, mesmo sabendo que metade da turma, por exemplo, não está prestando atenção no que eu estou falando. Então essa capacidade de você manter, ser fiel àquele propósito, mesmo sabendo e tendo vários obstáculos. Às vezes você olha para um lado da sala e tem 2 ou 3 pessoas conversando, então eu não me importo mais com. Isso. Eu consigo continuar, digamos assim, o meu trabalho, sem deixar que essas coisas me coloquem para baixo. No começo era um pouco mais difícil para mim, aliás, tive momentos na minha carreira, que eu fui mais combativo. Se tivesse alguém conversando eu já procurava chamar atenção dos alunos, sempre de uma maneira educada, obviamente. Mas eu queria ter mais o controle da turma. Hoje eu já não penso mais assim, penso que quem quiser aproveitar, que aproveite. E que eu consiga, dentro do possível, fazer o meu trabalho sem me deixar levar por esses problemas que eventualmente acontecem. Então essa eu acho que é uma questão importante para se considerar.
Algo que não está na tua pergunta, mas quando você for de aptidões, se você me perguntasse qual eu acho que é a aptidão, competência ou capacidade mais importante que eu tenho que transmitir para os alunos ou que eu tenho que ter como educador, meu papel como educador. O que eu acho que é mais importante que o aluno consiga desenvolver ao longo do curso, afinal de contas, são geralmente 4 anos que o aluno fica em uma universidade e tudo mais. Então, o que que é mais importante? Uma coisa que eu acho fundamental é exatamente, primeiro, o aluno sempre estar questionando a razão de ele estar aqui. Ou seja, o que ele está fazendo aqui. Se de fato aquilo que ele está estudando tem a ver com as vontades, com os desejos e com as com as questões que ele busca na vida dele. Eu acho que isso é mais de 50%. Não precisa ter certeza absoluta, porque certeza absoluta a gente nunca vai ter das coisas, mas que o aluno tenha uma certa clareza e uma certa, até uma autocrítica em relação. “Eu estou fazendo aquilo que eu quero e não estou perdendo o meu tempo.” E também eu acho que o curso, não só do curso RI, mas o curso de humanas, de forma geral, tem a ver com essa questão realmente dessa perspectiva crítica. Dessa maneira de sempre estar questionando, digamos assim, aquilo que supostamente é considerado verdadeiro hegemonicamente, questionar aquilo que supostamente é a única verdade possível, às vezes o próprio senso comum das coisas. Que é um pouco do aluno construir uma visão própria sobre a realidade, que ele também tem a capacidade de, inclusive, identificar, por exemplo, a teoria que ele acha que é mais adequada, que é mais coerente, dentro daquela visão mundo dele. Eu acho que essa é uma questão que eu acho importante. Eu sempre digo para os alunos que o mais importante hoje, que eu vejo que é o papel da universidade no século XXI, é que o aluno tenha autonomia intelectual. Que ele possa, por ele mesmo, depois, caminhar e avançar de acordo com os interesses dele, não os interesses institucionais. Vai ter que estudar isso, vai ter que estudar aquilo, essa atitude. Ele mesmo vai construir uma formação própria, mas para isso ele precisa dessa base que a universidade dá para ele, que é essa capacidade de ler, interpretar, falar, se comunicar, essas coisas.
Que conselhos ou orientações você daria aos alunos que estão atualmente cursando Relações Internacionais?
Exatamente isso que eu falei. É um tempo muito bacana das nossas vidas, é um tempo que a gente tem uma certa liberdade, não tem muita responsabilidade ainda, não tem família, não tem contas para pagar e tudo mais - às vezes alguns têm. Mas aproveitar mesmo esse momento da melhor forma possível. E traduzir e extrair dessa experiência o máximo que vocês conseguirem desse curto período da vida de vocês, porque depois daí vem um trabalho e nem sempre quando a gente está trabalhando, a gente pode escolher, pode às vezes se dedicar mais por um assunto que não vai ter exatamente uma aplicação direta. A universidade não precisa ser útil, necessariamente ser útil. Mas é um tempo em que você também se permite estudar coisas que não necessariamente vão ter um tipo de importância no mercado de trabalho. “Ah, vou estudar isso, isso e aquilo”. Em abrir portas, por exemplo.
Teria algum/alguns livros ou autores para recomendar? Sendo voltado para a área de Relações Internacionais ou algo que tenha te marcado.
Eu posso indicar um livro do Michel Foucault, “Vigiar e punir”, que é um clássico. Clássico do pessoal que estuda ,em Direito, a história da prisão. Eu acho que é um livro muito legal, muito interessante para compreender a sociedade em que nós vivemos, então eu indicaria como um livro importante. Acho que, também, talvez um pouco de literatura, acho que é legal pensar sobre Aldous Huxley, que foi um autor que também me abriu muito a cabeça. Livros como “Admirável mundo novo” e “A ilha” são livros muito fortes, que abrem perspectivas.