O palestrante André Fran entre o coordenador do curso de Relações Internacionais Rafael Pons Reis e de Marketing Fabiano Pucci do Nascimento
Por Ana Caroline Moreno *
“O
importante aqui são as lições de vida”. Com esse objetivo na cabeça, um
minidocumentário na bagagem e um piloto aprovado pela Multishow, surgiu o “Não
Conta Lá em Casa”. Produzido, escrito e realizado por quatro amigos (André
Fran, Felipe Melo, Bruno Amaral e Leonardo Campos), o programa serve, nas
palavras do diretor, roteirista e social media André Fran como “uma ferramenta
para quebrar preconceitos, derrubar paradigmas e - por que não? - tentar fazer
desse um mundo melhor”.
No último
dia 30/09, o Núcleo de Relações Internacionais do UNICURITIBA em parceria com o Instituto Atuação, realizou uma palestra
com Fran no auditório principal do UNICURITIBA. Os 300 lugares esgotados na
véspera do evento e o auditório lotado em noite de muita chuva refletem a
popularidade do programa e curiosidade dos estudantes, que vêm no NCLC um dos
melhores retratos televisivos do ‘espírito internacionalista’. Desde a
preocupação em mostrar os dois lados da história até a escolha dos destinos,
digamos, incomuns - Ora, quantas séries podem se gabar de terem sido
roteirizadas por George W. Bush? (a primeira temporada da série se passa na
Coréia do Norte, Irã e Iraque. Ou,no conceito do ex-presidente americano,o
“Eixo do Mal”).
O
objetivo do “Não Conta Lá Em Casa”, relata Fran, é se contrapor à versão
oficial das hard News:o formato
homogêneo, protagonizado por repórteres-atores vestidos em coletes de bala,
parados na sacada de um hotel periférico e repetindo informações de outrem.
“Para falar ‘estão dizendo que está acontecendo tal coisa’, completa ele, “é
melhor ficar em casa. Nossa responsabilidade também é social, [de] tentar
acrescentar e queremos fazer isso de uma maneira original”. A mistura de
documentário, hard News e reality show foi o formato escolhido para
desmistificar países cuja imagem chega a nós como perigosa, desestruturada ou
simplesmente oposta em todos aspectos à nossa realidade.
Um
exemplo disso seria a visita ao Irã, país no qual tiveram como cicerones quatro garotas locais. Elas
não apenas os fizeram repensar pré-conceitos sobre a mulher iraniana como também
os apresentaram a um país bonito e seguro - a ponto de recomendá-lo como
destino de férias a qualquer espectador (ou espectadora).A postura das novas
amigas a respeito do véu, sobre a Onda Verde e os diferentes posicionamentos
sobre o governo Ahmadinejad os fizeram ver, mais uma vez, que existem “milhares
de camadas de cinza entre o preto e o branco”.
Nem
todas as experiências foram igualmente positivas ou tranquilizadoras. Fran
reconhece que apesar de evitarem sempre riscos desnecessários, subestimaram o
perigo em Bagdá. “O Iraque pós-invasão norte americana foi demais”. Do hotel
Sheraton completamente sucateado (alvo de explosão dias após o check out do grupo) ao perigo eminente
em todos os pontos (nada) turísticos, apenas uma certeza: “não dava pra fazer
esse programa se a gente não fosse brasileiro”, comenta Fran. “Os passaportes
brasileiros e o Ronaldinho Gaúcho são nossos escudos”, brinca ele,ao relatar
como o soft power brasileiro transformou
uma ida frustrada à Babilônia em um dos passeios mais incríveis da série - o
palácio de Saddam Hussein tomado pelas forças de coalizão.
Desbravar
destinos como a impenetrável Coréia do Norte, o Afeganistão dos talibãs, a
quase extinta Tuvalu e o Japão pós-Tsunami são aventuras incríveis, cerne de um
show que desafia a categoria de “programas de viagem”. Entretanto, Fran frisa
que o NCLC é “mais que um programa, é um projeto de vida” e que é através das
histórias das pessoas que “A gente vai realmente conhecer os lugares.Sempre
[se] encontra uma pessoa especial, com uma história legal e que quer
compartilhar com você”. E que são estas pessoas que fazem o programa ser o que
é:“Não é coincidência, ninguém ali está de passagem. São pessoas que têm um perfil
diferente e nos ajudam a contar a história delas”.
Razão
pela qual Fran se sente dividido quando questionado se conhecer destinos tão
instáveis o torna mais fácil ou mais difícil acreditar em um mundo melhor.
“Acho que as duas coisas [...] É o ser humano, [que] destrói, complica, polui,
guerreia. A maioria dos problemas que a gente acaba vendo com o programa é
culpa do ser humano, seja por defeito de criar uma coisa como Chernobyl ou
guerras, em diferentes lugares e contextos”, pontua. “Mas ao mesmo tempo vejo
pontualmente exemplo de pessoas que tentam à sua maneira fazer a diferença.
Você vê como o ser humano é tão pequeno diante do todo, mas que quando ele
quer, quando se engaja, e resolve fazer a diferença e catalisar uma série de
mudanças, isso te dá motivação para fazer a sua parte”.
*Ana Caroline Moreno é graduanda do sexto período do curso de Relações Internacionais no UNICURITIBA
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