RESUMO
Este artigo pretende
fazer algumas considerações sobre a Teoria Feminista das Relações
Internacionais e as ações para o empoderamento feminino, de forma a dar mais
visibilidade ao enfrentamento da desigualdade de gênero. Considero assim,
brevemente algumas concepções da Teoria Feminista das Relações Internacionais,
que tem tornado forte a ideia de reconstrução desse campo, para revalorização
da ótica feminina. As ações para igualdade de gênero também se mostram vitais e
nesse contexto, governos e sociedade civil têm assumido compromissos para a
igualdade de gênero, que apesar de estar muito distante vem caminhando graças a
internacionalização da luta feminista, de ações de lideranças globais, como a
iniciativa ONU Mulheres e o trabalho de diversas organizações da sociedade,
entre elas destaque para o trabalho do Social Watch, na fiscalização, coleta de dados
e exercício de pressão sobre os estados para ações que transformem as
realidades desiguais enfrentadas por mulheres em todo o mundo.
Até recentemente a diplomacia era, na prática, composta por
homens negociando uns com os outros para defender os interesses dos próprios
homens, enquanto as mulheres ficavam à mercê dessas decisões. Foi com os
movimentos feministas que ganharam força a partir do século XIX, que as
mulheres contestaram essa ordem e exigiram sua cota de participação e decisão
na vida privada e pública.
Nas Relações Internacionais parece ser bastante complexo
definir a teoria feminista, pois existem várias concepções teóricas, que de
acordo com Sarfati (2005) chamam a atenção para as diferenças sociais baseadas no
sexo ou gênero sexual. Sendo assim, uma das primeiras tarefas do feminismo é
expor a exclusão das mulheres no discurso teórico das Relações Internacionais.
O feminismo ao se perguntar onde estão as mulheres, passou a expor a construção
sexista e androcêntrica das Relações Internacionais, para em seguida buscar
inserir a visão feminina das relações internacionais, reconhecendo assim, que a
experiência feminina faz parte de ao menos 50% da população mundial, logo,
torna-se cada vez mais forte a ideia da necessidade de reconstrução teórica desse
campo, revalorizando a ótica feminina, entendendo que o gênero sexual é
socialmente construído e não deve ficar à margem das Relações Internacionais.
Segundo Griffiths (2002) até a década de 1980, o feminismo
não apresentava muita relevância nas Relações internacionais. Foi nas últimas
décadas que o feminismo adquiriu destaque nesses estudos. As criticas iniciais
do feminismo ao estudo das relações internacionais vieram inicialmente desafiar
as bases fundamentais da disciplina e apontar formas com que as mulheres eram
excluídas das análises dos estados, da política econômica internacional e da
segurança internacional. Hoje, já podemos distinguir entre dois tipos diferentes
de feminismo nos estudos das Relações Internacionais.
A primeira “onda” dos estudos feministas de 1980 é chamado
empiricismo feminista: os estudiosos das relações internacionais vieram
reclamar a voz oculta das mulheres e expor a multiplicidade dos papeis que as
mulheres assumem junto as forças econômicas globais e a interação entre os
estados. A participação e o envolvimento das mulheres na sociedade facilitam
muitas atividades para os estados como, por exemplo, a influência das mulheres
na dominação dos estados menores pelos estados maiores economicamente. “Women’s participation and involvement facilitates
tourism, colonialism, and economic powerful state’s dominations of weak
states”. (Griffiths 2002, p.124).
Griffths (2005, p.125) coloca que esta teoria feminista
expõe o papel das mulheres e demonstra sua importância em uma ampla variedade
de áreas. Alguns podem pensar que o papel da mulher não é tão significativo nos
negócios da economia internacional, mas em muitos casos seu papel pode
representar grande importância para a economia de um país, um exemplo é o caso
das Filipinas:
In
case one might thing that the role of
women is marginal to the real business of the international economy, it should
be noted that Philippine women working
abroad as domestic servants is annually contribute more to the Philippine
economy than the national sugar and mining industries. (GRIFFITHS, 2002, p.125)
Um segundo foco das pesquisas feministas busca desconstruir
o paradigma dos debates de gênero desde 1919. Os estudiosos desse feminismo
argumentam para a criação de um conhecimento baseado nas condições materiais
das experiências das mulheres, o que nos deu uma figura mais completa do mundo,
já que aqueles que são oprimidos e descriminados geralmente tem uma visão e uma
compreensão maior das fontes de sua opressão do que os próprios opressores. A
teoria também vem alertar como o estudo convencional das Relações Internacionais é por si só, taxado por um gênero. (GRIFFITHS, 2002).
De acordo com algumas feministas as tradições dos
pensamentos realistas e liberais representam a masculinidade:
“The
major Western intellectual traditions of realist and liberal thought have drawn
from culturally defined notions of masculinity, emphasizing the value of
economy, independence and power” (GRIFFITHS, 2002,p.125).
Ainda segundo Griffiths (2005) num sentido amplo o feminismo
é um termo guarda-chuva. A teoria engloba uma grande variedade de críticas com
o objetivo de examinar o papel do gênero nas relações internacionais. Podemos
encontrar também algumas outras áreas do feminismo como o feminismo liberal, o
feminismo radical, o feminismo marxista, pós-marxista, o feminismo pós-moderno
entre outros, o que demonstra o comprometimento das feministas pela ética
baseada na igualdade entre homens e mulheres, seus trabalhos são às vezes
acusados de idealismo, sendo criticados por ignorar os homens na tentativa de
promover a emancipação das mulheres.
Segundo Smith et al. (1996) várias autoras
propuseram a desconstrução desses discursos de forma a condicionar o gênero no
estudo e prática das relações internacionais. Jean Elshtain, em oposição ao
realismo e a “masculinidade militar”, propôs a inclusão das mulheres neste
âmbito. A autora demonstra em seu livro “Women and War”, a existência de
mulheres soldados na guerra e a habilidade da mulher nas táticas de guerra, por
terem uma visão mais detalhada e não tão ampla na aplicação de táticas. A
mulher por desempenhar um papel ativo no âmbito doméstico é organizada e tem
espírito de liderança forte. O importante aqui, não é a comparação com os
homens, mas sim que as mulheres possuem habilidades úteis na guerra.
Cynthia Enloe, um dos grandes nomes da teoria feminista
destaca a importância das mulheres e suas experiências, seja como políticas,
mães, trabalhadoras ou consumidoras ao
entendimento das Relações Internacionais. Enloe (1990) revela em seu livro “Bananas,
bases and Beaches: making feminist sense of international politcs”, o papel
crucial das mulheres na política internacional contemporânea desempenhando um
papel fundamental na economia, no reconhecimento do setor informal de trabalho,
e fala da questão da autodeterminação da mulher como um ponto crucial para o funcionamento
do sistema mundial, que segundo ela é frágil e aberto a mudanças muito mais do
que pensamos. Em seu livro Enloe também demonstra como a imagem feminina foi
utilizada para remodelar as relações internacionais, como no caso especifico da
figura de Carmen Miranda:
“ In
the 1930s Hollywood moguls turned brazilian Singer Carmen Miranda into an
american movie star. They were trying to
aid president Franklin Roosevelts efforts to promote friendlier relations between The US and Latin
America. When United fruit
executives then drew on Carmen Miranda
popular Latinized female image to create a logo for their imported bananas, they were trying to construct a new
intimate relationship between American housewives and multinational plantation company, with
her famous fruited hats and vivacious presence, Carmen Miranda was used by
American men to reshape international relations”. (ENLOE, 1990, p.1-2).
Assim, Carmen Miranda se tornou uma peça-chave da política
de “boa-vizinhança” entre os Estados Unidos e a América Latina. Enloe faz ainda
um alerta para que as análises não sejam incompletas e ingênuas, e não se restrinja
a uma investigação da política regional, lembrando também que no caso de Carmem
Miranda existe uma imagem sexualizada.
Sarfati (2005) expõe uma outra visão, a de Jane Jaquette
de que a expansão da democratização que
ocorreu após a Guerra Fria, em muitos lugares produziu um aumento das mulheres
na vida política, especialmente em lugares onde se implementou o sistema de
cotas, assim, as políticas neoliberais continuam em sua opinião a predominar e
as mulheres longe da emancipação. Jaquette se preocupa com o aumento da
participação feminina mas sem a produção de resultados transformacionistas, o que ocorre
em parte porque as mulheres se tornaram adesistas, procurando reformas
mínimas dentro da estrutura existente, ou
radicalistas opositoras dos estados e antiglobalização, para ela a teoria
feminista deve lidar com as crescentes
desigualdades do período pós guerra fria.
Um pouco diferente da visão de Jaquette, podemos observar
que com a interação entre os países que existe hoje, a situação de luta
feminista é altamente internacionalizada, pois as decisões tomadas dentro de um
território também têm repercussão fora dele. Conforme Fraser (2007, p. 303), “As
feministas também percebem a força da opinião pública transnacional, que flui
com supremo desprezo por fronteiras através dos meios de massa globais e da
cibertecnologia”.
Para Mendes (2011) uma maior presença da mulher na política,
seja nacional ou internacional, contribui com uma maior democratização no
acesso as esferas de poder, como também dá voz às suas demandas, contribuindo
com novos pontos de vista e elementos para discussão, o que no mínimo serve
para aprimorar os debates em busca de
soluções mais benéficas a um contingente maior da população.
AÇÕES PARA IGUALDADE DE GÊNERO
E EMPODERAMENTO DAS MULHERES
A ONU Mulheres
A ONU Mulheres é uma entidade para a igualdade de gênero e
empoderamento das mulheres. Criada em julho de 2010 pelas Nações Unidas, tem sido vista como uma nova liderança global para
oportunizar um rápido progresso para as mulheres e sociedades. Tornar as questões de gênero e igualdade reais nas vidas de mulheres e meninas demandava
uma organização com alcance mundial, além de experiência consolidada e recursos
consideráveis.
A ONU Mulheres surgiu pela fusão de quatro organizações da ONU, que incluem a divisão da ONU pelo avanço das mulheres, o Instituto Internacional de Pesquisa e Treinamento pelo avanço das Mulheres, o escritório da assessoria especial para questões de gênero e avanço das mulheres e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres.
A ONU Mulheres surgiu pela fusão de quatro organizações da ONU, que incluem a divisão da ONU pelo avanço das mulheres, o Instituto Internacional de Pesquisa e Treinamento pelo avanço das Mulheres, o escritório da assessoria especial para questões de gênero e avanço das mulheres e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres.
A ONU Mulheres defende a participação equitativa das
mulheres em todos os aspectos da vida e enfoca cinco áreas prioritárias:
1. Aumentar
a liderança e a participação das mulheres.
2. Eliminar
a violência contra mulheres e meninas.
3. Engajar
as mulheres em todos os aspectos dos processos de paz e segurança.
4. Aprimorar
o empoderamento econômico das mulheres.
5. Colocar
igualdade de gênero no centro do planejamento e dos orçamentos de
desenvolvimento nacional.
Estes
objetivos, segundo a ONU Mulheres, contribuirão para o estabelecimento de padrões
globais de forma a alcançar a igualdade de gênero, trabalhando junto aos governos e à
sociedade civil para formular leis, políticas, programas e serviços necessários
à implementação desses padrões. A ex-presidenta chilena Michelle Bachelet é
hoje a subsecretária e diretora executiva da ONU Mulheres.
A autonomia das mulheres e igualdade de gênero
são reconhecidas como um dos grandes objetivos da Declaração do Milênio,
adotada por 191 países membros da ONU para melhorar a vida de todos
os habitantes do planeta até 2015. Nela
é indicada a necessidade de promover a igualdade entre os sexos e a autonomia
da mulher como meios eficazes de combater a pobreza, a fome e as doenças, além
de estimular um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Contudo, apenas
dois anos do fim do prazo para cumprir a mais importante promessa já feita as
populações vulneráveis do mundo, a autonomia da mulher em todos os sentidos e o
respeito aos direitos já assegurados ainda estão muito longe de serem
atingidos.
Em um
recente estudo, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)
afirma que, no atual nível de desenvolvimento econômico, tecnológico e social, é
possível alcançar esses objetivos. Mas, a CEPAL alerta que as condições materiais
existentes não oferecem uma explicação razoável para a desigualdade, para a
morte materna, para a gravidez na adolescência, para o emprego precário ou a
insólita concentração do trabalho doméstico não remunerado na mão das mulheres
e muito menos para a violência de gênero, esse organismo da Nações Unidas afirma ainda que a desigualdade, portanto, a
falta de autonomia é, principalmente, consequência da injustiça, da má
distribuição de poder, de renda e da falta de reconhecimento dos direitos das
mulheres por parte das elites políticas e econômicas.[1]
A
conscientização feminina e o acesso a informação também são importantes para o
enfrentamento de realidades desiguais na vida das mulheres, as ações
governamentais podem e devem ser fiscalizadas, existem hoje um numero significante
de ONGs que se articulam entre si, com os governos e fiscalizam ações que visam
a igualdade de gênero, com serviços, cursos, informações, dados, pesquisas e
estáticas sobre a população principalmente feminina.
O TRABALHO DO SOCIAL WATCH
O Social Watch é uma rede que
conta hoje com membros de 70 países em todo o mundo, foi criado em 1995 como um
ponto de encontro para organizações não governamentais preocupadas com o
desenvolvimento social e a discriminação de gênero, essa rede foi criada em
resposta à necessidade de promover a vontade política para tornar as promessas
das Nações Unidas realidade. A rede esta estruturada em torno de três órgãos
centrais: Assembleia Geral, Comitê coordenador e Secretariado Internacional,
sendo assim, não é uma pessoa jurídica e teve seu inicio com um memorando de
entendimento entre grupos nacionais e a rede. O Social Watch publica relatórios
anuais sobre o progresso e retrocesso na luta contra a pobreza e para igualdade
de gênero, esse relatórios são utilizados como ferramentas de articulação local,
regional e internacionalmente, os relatórios tem objetivo de lembrar os
governos de seus compromissos, tanto país a país, como no nível internacional,
formulado como uma ferramenta para apresentação de informações estatísticas e
informar aspectos qualitativos dos temas abordados através de análises do
trabalho de organizações sociais no âmbito nacional. Os objetivos e
entendimentos entre o Social Watch e grupos nacionais são de que:
1. As
alianças devem ter sede no país e serem ativas em questões de desenvolvimento
social nesse mesmo país. (não exclusivamente como acadêmicos ou consultores).
2. Seu
compromisso básico com a rede internacional é fornecer um relatório
internacional, com suas próprias conclusões e determinação de prioridades, para
serem incluídas na publicação anual.
3. Espera-se
que as alianças usem seu relatório nacional e o relatório mundial em atividades
de articulação (“lobby”) em nível nacional.
4. Elas
devem estar abertas a incorporação de outras organizações, trabalhar ativamente
para a divulgação do Social Watch e encorajar a participação de outras organizações.
5. Elas
são responsáveis por levantar fundos para suas atividades. As alianças
nacionais não dependem financeiramente do secretariado ou qualquer outra
entidade internacional do Social Watch e não tem obrigação de prestar contas
aos mesmos.
6. Cada
aliança determina seu próprio organograma
7. A
afiliação ao Social Watch e o exercício de funções governamentais são
totalmente incompatíveis.
8. A
cooperação com outras plataformas nacionais deve ser encorajada nos níveis
sub-regional, regional e global.
9. Em caso
de conflito entre organizações membro/participante de uma aliança, em questões
relacionadas ao Social Watch, todas as partes envolvidas tem que demonstrar boa
vontade para resolver os problemas em nível nacional. Se, em casos
excepcionais, não se alcançar um acordo, o Comitê Coordenador pode tomar as
decisões necessárias.
10. Para
demonstrar sua filiação à rede, encorajam-se todas as alianças a usarem o logo
do Social Watch para atividades nacionais diretamente relacionadas às metas e
objetivos do Social Watch. Solicita-se que informem o Secretariado
Internacional sobre essas atividades. Em outros casos, devem pedir permissão
com antecedência do secretariado Internacional ou do Comitê Coordenador para
outros usos do nome e do logo do Social Watch.
Os relatórios produzidos pelo Social Watch são publicados em
diversas línguas. É através de métodos de comunicação novos e ferramentas
multimídia via website, newsletter, que o Social Watch dissemina informação
sobre questões de gênero e mantém discussões entre integrantes da sociedade
civil, propagam ideias para políticos, jornalistas, estratégias de articulação,
comunicação e campanha, que complementam-se para alcançar os objetivos. Os
porta-vozes do Social Watch também se dirigem a ONU e outros órgãos
intergovernamentais em nome da rede ou de setores mais amplos da sociedade
civil. Nenhuma estrutura, forma de governo ou conselho foi criado e nenhum
grupo coordenador estável foi estabelecido. As organizações não governamentais
preferiram informar uma a outra e coordenar atividades em espaços horizontais
abertos.
ALGUNS DADOS
O Social Watch avaliou em 2012, 150 países em pesquisa sobre
disparidade entre os sexos, considerando critérios como educação, atividade
econômica e empoderamento da mulher, listados em um ranking de igualdade de
gênero disponível no site da rede www.socialwatch.org.
Na pesquisa, os
países podem receber notas que vão até 100, o que representa igualdade total,
nenhum deles chegou a este patamar e nem ao 90, no ranking dos dez primeiros
estão: Noruega (0,89), Finlândia (0,88), Islândia (0,87), Dinamarca (0,84),
Nova Zelândia (0,82), Espanha (0,81), Mongólia (0,81), Canadá (0,80) e Alemanha
(0,80). Na outra ponta, os países que ocuparam posições precárias foram: Índia
(0,37), Congo (0,36), Mali (0,32), Costa do Marfim (0,32), Paquistão (0,29),
República Democrática do Congo (0,29), Nigéria (0,26), Chade (0,25), Iêmen
(0,24) e Afeganistão (0,15). No que diz respeito aos países da America Latina e
Caribe, Trinidad e Tobago (0,78) e Panamá (0,76) foram os mais bem colocados.
Os três da região em pior situação foram: El Salvador (0,62), Guatemala (0,49)
e Haiti (0,48). Entre os países do Mercosul as notas foram intermediárias,
Uruguai (0,74) Argentina (0,74),
Paraguai (0,73) a ultima posição do bloco foi do Brasil (0,72).
Em avaliação, Silvia Camurça, integrante da Articulação de
Mulheres brasileiras (AMB) reforça o que a própria pesquisa já mostra: que o
problema do Brasil não esta relacionado a educação, mas sim à atividade
econômica e o empoderamento, nestes quesitos as notas do pais foram respectivamente: 0,98, 0,75 e
0,43, de acordo com Silvia a taxa de
escolaridade das mulheres é mais alta, e chegam a ter até dois anos a mais de
estudos do que os homens, mas continuam ganhando menos, a educação não tem
garantido maior renda. A atividade econômica também ajudou a puxar o país para
baixo no ranking, pois apesar de ter enfrentado bem a crise econômica que
surgiu em 2008, o pais gerou prioritariamente
empregos na industria branca, automobilística e nas obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), que empregam os homens. Ao mesmo tempo,
reduziu o orçamento para áreas de educação e saúde, que empregam mais mulheres.
Já o empoderamento, quesito que o país recebeu menos nota, é considerado por
Silvia o mais importante, apesar de termos uma mulher na presidência, temos
poucas mulheres na política, Silvia aponta que depois da violência conta a
mulher, a pior expressão do patriarcalismo é o bloqueio da entrada das mulheres
na política.
Além do trabalho do Social Watch existem hoje várias
organizações Internacionais ligadas aos direitos da mulher com sites na
internet: Articulacíon Feminista Marcosur; Campanã por uma convencíon
Interamericana de los derechos sexuales y los derechos reproductivos; Campanha
28 de Setembro pela discriminação do aborto na América Latina e Caribe; Centro
Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos; Cladem- Comitê de America
Latina y El Caribe para La defensa de los derechos de La mujer; Cotidiano
Mujer; Feminist Approaches to Bioethics; Fempress- Red de comunicación
alternativa de La mujer; Isis International; Repem-red de educación popular
entre mujeres.
De fato as ONGs e suas coletividades podem agir eficazmente
em nível mundial e exercer pressão sob os governos nacionais, pressionar
negociadores na direção de decisões favorecendo também a cooperação
internacional, atingindo suas reivindicações. Com as novas tecnologias, maior
acesso a informação e poder de disseminação as lutas feministas, os trabalhos
das ONGs, houve um fortalecimento no diálogo entre diferentes grupos, o que
contribuiu para uma rede mais sólida de reivindicações, pressões governamentais
e debates na sociedade internacional. Fraser (2007, p. 304):
Diante da produção transnacionalizada,
muitas feministas vão alem das economias nacionais. Na Europa, por exemplo,
feministas miram as políticas e estruturas econômicas da União Européia,
enquanto correntes feministas entre os que protestam conta a OMC desafiam as
estruturas de governança na economia global. De forma análoga, lutas feministas
por reconhecimento cada vez mais olham alem das fronteiras do estado
territorial. Sob o abrangente slogan “direitos das mulheres, direitos humanos”
feministas ao redor do mundo estão conectando as lutas contra práticas
patriarcais locais e campanhas para reformar o direito internacional.
Segundo Mendes (2011) com o aumento do diálogo entre grupos
feministas, abriu-se caminho para a disseminação de sua participação política.
No início do movimento, a pressão feita aos estados era no sentido de
estenderem o direito ao voto Às mulheres. Depois, quando o direito ao voto
tornou-se quase que uma obrigatoriedade para as soberanias nacionais, os
movimentos internacionais de mulheres passaram a demandar por ações positivas
que garantissem uma maior representação política as mulheres. Não basta que se
tenha direito de votar e ser votado se, na prática, o que aconteceu foi que as
mulheres encontravam muito mais dificuldades que os homens em ingressar na
carreira política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos observar que a crescente pressão global para a
inclusão das mulheres tem gerado algumas conquistas importantes nos últimos
anos.
O mundo está cada vez mais conectado por meio de
organizações internacionais. Pesquisas mostram que essa crescente rede de
organismos internacionais tem contribuído para que haja uma maior padronização
de normas, regras e condutas consideradas aceitáveis ou não por parte dos estados.
(PAXTON, 2006).
Segundo Mendes (2011) na carreira diplomática, assim como na
carreira política, pode-se observar que, apesar de as mulheres terem adquirido
direitos formais iguais aos dos homens, ainda sim se encontram sub-representadas, nesse ambiente predominantemente masculino. As discrepâncias vão além do
simples ingresso (que é feita sem nenhuma inclinação de gênero), pois mesmo
entre as diplomatas é difícil que a mulher alcance as posições mais elevadas da
carreira diplomática, quanto mais alto o escalão, menor é a representatividade
de mulheres. A esfera de poder é um reduto culturalmente masculino, mesmo
quando esse poder engloba
características de soft Power,
tradicionalmente atribuídas às mulheres, e não aos homens.
Devemos considerar também que os agentes internacionais,
sozinhos, não são capazes de modificar as discrepâncias de gênero, pois fatores
internos também são responsáveis por tais permanências como: a cultura,
religião, histórico colonial, industrialização, níveis de organização da sociedade
civil, também influem no processo de inserção da mulher em esferas de poder.
Contudo, a teoria feminista das Relações Internacionais vem ganhando mais
visibilidade, e apesar de sua complexidade e ramificações tem contribuído para
enfrentar as desigualdades de gênero, em um esforço conjunto com ONGs, grupos
de mulheres, ações dos governos e estudos que demonstram a importância do papel
feminino tanto nas Relações
Internacionais quanto em nível nacional, temos assistido a importantes
conquistas, novos desafios, e uma crescente necessidade de mudança, que também
é percebida pelos estados, uma mudança real e estrutural nas relações de gênero
dependem desse enfrentamento e conhecimento das lutas sociais e articulações
internacionais.
REFERÊNCIAS
ENLOE,
Cynthia. Bananas, beaches & bases: making feminist sense of
international politics. Berkeley: University of California Press. 1990.
FRASER, Nancy. “Mapeando a imaginação feminista: da
redistribuição ao reconhecimento e à representação”. In: Revista Estudos
Feminstas, vol.15 nº2, 2007.
GRIFFITHS,
Martin. International Relations: The Key
Concepts. (2002)
MENDES, Macêdo Marina. Gênero e Relações Internacionais: a
inserção da mulher na esfera política
e na carreira diplomática brasileira. Brasília. 2011.
PAXTON,
Pamela; HUGHES, Melanie; GREEN, Jeniffer. ”The
International Women’s movement and women´s political representation,
1893-2003”. In: American sociological review, vol.71, N°6 (Dec.,
2006).
SARFATI,Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São
Paulo. Saraiva, 2005.
SMITH,
S; BOOTH, K; ZALEWSKI, M. International
theory: positivism and beyond. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
Naiane Ribeiro Cotting tem Especialização em História
Contemporânea e Relações Internacionais e graduação em História, ambas pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Gostei do artigo, já que não se é discutido profundamente o papel das mulheres, na graduação estudei todas as teorias das RI até mesmo as pós-modernas com exceção do feminismo. Só uma pequena observação: no texto há Relações Internacionais e relações internacionais, sendo que as duas são usadas para se referirem a mesma coisa, RI é a disciplina e ri é o objeto do conhecimento. Excelente.
ResponderExcluirExcelente texto. Parabéns!
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