quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

UE e Reino Unido: divórcio ou reconciliação?


Foto: Reuters / Andrew Winning

Em 2012, muito se especulou sobre o que aconteceria com o euro, se a moeda comum iria ou não continuar existindo e como a União Europeia reagiria. Na última semana as apostas mudaram. As dúvidas sobre a permanência do euro parecem dissipadas, mas a UE tem diante de si uma nova questão: o Reino Unido permanece ou não no bloco?
O primeiro-ministro britânico David Cameron falou em Bruxelas sobre a visão mais “flexível” que o Reino Unido tem para a Europa, o que seria do interesse britânico e, segundo ele, deveria ser do interesse europeu. Essa divergência, no entanto, vem há algum tempo ganhando peso e, acontecendo o referendo, pode culminar sim na saída britânica do bloco em alguns anos.
Ainda que seja cedo para ter qualquer posição definitiva, a postura do Reino Unido levanta algumas questões fundamentais para a própria UE, desde o impacto da saída de um membro com o peso do Reino Unido até as reformas propostas. A primeira questão que vem à mente talvez seja: qual seria o impacto econômico para ambos os lados, numa eventual separação? Não existe uma resposta definitiva para essa pergunta. Se por um lado o Reino Unido deixará de investir bilhões de libras na UE, por outro lado também perderá em investimentos e vantagens oferecidas pelo bloco. A questão sobre a geração ou não de empregos também se mantém: por um lado será possível flexibilizar algumas leis trabalhistas, mas por outro corre-se o risco de algumas empresas decidirem instalar-se no continente, dentro dos limites do mercado comum. É evidente que o Reino Unido, se separado da UE, vai manter estreitos laços comerciais e financeiros com o bloco, como fazem hoje países como a Suíça e a Noruega — é muito difícil imaginar um cenário em que a Grã Bretanha dê as costas para a Europa e vice-versa.
A segunda não é de ordem econômica, mas política. Qual será o significado e o impacto político de tal separação? Na semana em que França e Alemanha comemoram 50 anos do tratado que selou a amizade entre ambos e lançou as bases para a UE, o terceiro pé do triângulo de poder europeu dá mostras de que talvez queira mais espaço. Fosse uma questão de relações humanas apenas, seria fácil dizer que o Reino Unido ficou com ciúmes e está “fazendo uma cena”. Não é o caso, e a questão continua: a ambígua mensagem enviada por esse processo de questionamento da unidade europeia fica entre a possibilidade ou o eventual desejo britânico de uma “Europa à la carte” e a crítica pela falta de renovação e flexibilidade do bloco.
Não é a primeira vez que uma autoridade britânica enfatiza as diferenças entre as expectativas do Reino Unido para a UE e a realidade. Os próximos anos prometem muitas mudanças (ou pelo menos discussões) nos rumos da Europa, que vão ajudar a definir a permanência ou não do Reino Unido. Segundo o Ministro britânico para a Europa, David Lidington, os principais desafios europeus são a competitividade, o foco na expansão e na vizinhança europeia, e a responsabilidade democrática (ver detalhes aqui). Essas e outras questões vão fazer parte dos acordos e discussões dos próximos anos, antes da reavaliação sobre o referendo britânico, e pode ser uma boa oportunidade para tratar de temas sensíveis com uma certa pressão em favor de melhorias concretas no lugar de retóricas.
            Não vão faltar reflexões e artigos sobre o assunto nos próximos dias, mas ficam aqui algumas sugestões:


BBC: David Cameron speech: UK and the EU, comparação interessante entre os argumentos de ambos os lados pela saída ou permanência.


Social Europe Journal: Inside out: the EU and the UK





Postado por Gabriela Prado, internacionalista formada pelo Unicuritiba em 2009 e concluiu em 2012 o MSc International Business Negotiation pela École Supérieure du Commerce de Rennes. Atualmente mora em Estocolmo e é membro do Utrikespolitiska Institutet (Swedish Institute of International Affairs). 

Um comentário:

  1. Para o RU, seria uma decisão arbitrária e contrária aos seus próprios interesses no continente europeu. Acredito que o RU quer ter uma parcela maior nas decisões e participações do Bloco, visto que o país está muito afastado da cúpula que toma e decide os novos rumos do Bloco. Mas a questão é o RU, optou desde a criação do Bloco por estes caminhos e agora com a crise da Zona do Euro sofre as consequências das políticas econômicas e até mesmo exteriores, que foram traçadas e postas por governos anteriores. Em se tratando de economias europeias o RU praticamente fica na lanterna em relação aos demais países do bloco, é a 6ª maior economia global, até perdeu o posto para o Brasil e com a desvalorização do real, voltou ao posto de 6ª economia global, no início deste ano. A verdade é que nesta história toda se caso o RU saia do bloco, que a meu ver o país está com uma perna no Bloco e outra fora, quem vai sair perdendo e muito são eles, coisa que jamais eu especulo aqui não vai acontecer de uma saída do próprio. Pois não é vantajoso para os ingleses em hipótese alguma.

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