segunda-feira, 28 de maio de 2012

A compreensão de Política Internacional





Rafael Pons Reis

No segundo capítulo do livro “A Política entre as Nações”, Hans Morgenthau constrói uma linha de pensamento quanto à possibilidade de elaborar uma “ciência da política internacional”, todavia, não deixa de apresentar certo ceticismo na possibilidade de fazê-la. A principal dificuldade encontrada por ele está relacionada com as limitações acerca do entendimento dos processos utilizados na política internacional devido à ambiguidade do material com a qual o investigador tem de trabalhar, isto é, ao mesmo tempo que os eventos internacionais são ocorrências únicas, eles são semelhantes uma vez que são manifestações de forças sociais. Nesse contexto, questiona-se Morgenthau: “(...) submetidas a condições similares, essas forças se manifestarão de modo análogo. Contudo, cabe perguntar: onde devemos traçar a linha que separa o similar do único?” (p.32). Morgenthau assevera que comparações entre eventos internacionais podem ajudar o investigador a conhecer os princípios da política internacional, mas ao mesmo tempo adverte acerca do perigo das “falsas analogias”:

A primeira lição a ser aprendida, e jamais esquecida, pelo estudante de política internacional consiste em entender que as complexidades dos assuntos internacionais tornam impossíveis quaisquer profecias simples e fidedignas. É a partir deste ponto que o estudioso se distância do charlatão. O conhecimento das forças que determinam a política entre as nações, e das maneiras pelas quais se desenrolam as relações políticas, revela a ambiguidade dos fatos atinentes à política internacional. Em qualquer situação política, estarão em jogo tendências contraditórias. Em determinadas condições, algumas dessas tendências terão maiores probabilidades de predominar mas, dentre essas várias possibilidades, saber qual delas irá realmente ocorrer constitui área que fica aberta à capacidade de especulação de cada um. O máximo que o especialista poderá fazer, nesse caso, é traçar as diferentes tendências que, como potencialidades, são inerentes a uma determinada situação internacional. Ele poderá também assinalar as diferentes condições que tornam uma tendência mais suscetível de prevalecer sobre as demais e, finalmente, avaliar as distintas probabilidades que as diversas condições e tendências têm de predominar na realidade. (p. 38-9).
           
Diante desse contexto, cita como exemplo o modo como a Agência Central de Inteligência (CIA) foi criticada por não ter prevenido a tempo às autoridades políticas norte americanas sobre as consequências dos distúrbios que acarretaram na expulsão do xá Reza Pahlevi, no Irã, em 1979. Nesse contexto, pergunta-se:

A que devemos atribuir essa falha por parte de pessoas normalmente inteligentes e responsáveis? A resposta reside na natureza do material empírico com o qual aquelas pessoas tinham de trabalhar. O observador é confrontado com uma multidão de fatores que, em sua totalidade, conformam o futuro. Para poder prever o futuro, o nosso observador teria de conhecer todos esses fatores, todas as suas dinâmicas, suas ações e reações mútuas e assim por diante. Mas o que ele sabe, e pode saber, não passa de um pequeno fragmento do quadro total. Ele apenas pode conjecturar e somente o futuro revelará quem soube, entre as muitas opções plausíveis, escolher corretamente. (p. 41).
           
A despeito da defesa de Morgenthau da perspectiva que a formulação de uma teoria da política internacional deve necessariamente apresentar um objetivo ético e prático para contribuir para a paz mundial, o autor menciona que a paz poderá ser mantida por meio do expediente de dois instrumentos: de um mecanismo auto regulador das forças sociais sob a forma de um equilíbrio de poder; e o outro consiste nas limitações normativas referentes à luta em busca de poder no cenário internacional, manifestadas sob o manto do direito internacional público, da opinião pública e da moralidade internacional, solução esta que serviu como origem para a formulação do tema da sociedade internacional da Escola Inglesa, diante da importância da difusão e socialização das normas estabelecidas entre os Estados nacionais.
Na próxima semana discutiremos a visão do autor acerca de um dos mais importantes conceitos na literatura especializada das Relações Internacionais, a questão do poder. Veremos as quatro distinções feitas pelo autor, respectivamente, entre: i) poder e influência; ii) poder e amor; iii) poder utilizável e não utilizável; e iv) poder legítimo e poder ilegítimo.

Rafael Pons Reis é Doutorando em Sociologia Política (UFSC), Mestre em Relações Internacionais (UFRGS), e professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.

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