terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uma pequena nota econômico-jornalística sobre o craque por vir: o fim do período “pós-crise”



Fernando Marcelino

os negócios surgem sempre
 excessivamente saudáveis
na véspera de um crash
Marx
Com o desenrolar da crise global especialmente os Estados Unidos e a Europa se deparam com uma crise fiscal sem precedentes na história que poderíamos chamar de “estado de emergência fiscal”. O déficit no orçamento do governo estadunidense é o resultado de um longo período de gastos maiores do que a arrecadação que, ainda mais com o desemprego crônico, trás uma queda no faturamento das empresas e do Estado. Nessa tendência, o medo da inadimplência de sua dívida astronômica também se torna crônica já que a capacidade necessária para honrar seus compromissos fiscais no futuro é cada vez menos prováveis.
Em suma, esse déficit orçamentário se divide em três partes:

1) Apesar das conversas sobre a “nova ordem mundial” e os “dividendos da paz” com o fim da guerra fria além do escancaramento da crise em 2008, presenciamos a escala sem precedentes dos Estados capitalistas expandindo o complexo industrial-militar. Em 2008 chegou a alcançar US$ 1,46 trilhão no mundo, 4 % mais do que em 2007 e 45% mais do que 1999. Essa expansão do militarismo é atribuída a “guerra ao terror” disseminada pelo EUA. Em termos mundiais, os EUA lideram a lista de gastos militares com um crescimento de 9,7% em 2008 chegando a US$ 607 bilhões.

2) Salvamento de bancos: financiado pelo Tesouro, os salvamentos estão na quantia de US$ 1,45 trilhão pelos pacotes Bush/Obama. Esse estado de emergência impõe a privatização de serviços públicos, serviços, parques nacionais, rodovias, etc. No programa de resgate estimado no governo Bush, foi estimado em US$ 8,5 trilhões para um salvamento saudável, excluindo a “ajuda” do governo Obama.

3) Juros sobre a dívida pública: as massas astronômicas do endividamento crescente dos EUA são historicamente progressivas. Nos últimos 30 anos, os Estados Unidos elevaram o teto de sua dívida 35 vezes. Segundo relatório sobre finanças públicas divulgado pelo Tesouro, a dívida atinge hoje US$ 14,5807 trilhões e para 2012  se apontar para algo em torno de 16 trilhões já que cresce cerca de 3,93 bilhões de dólares por dia. Esse processo de endividamento acontece em todos os países mais avançados como Japão e Reino Unido e envolve, inevitavelmente, novos desafios geopolíticos pela imbricação entre os financiadores dessas dívidas.  

Em meio a tudo isso no meio de 2009 os apologistas do capital começaram a dizer que “o pior já passou”. O marco simbólico desse momento se dá pelo desempenho econômico da Goldmann Sachs. Após receber US$ 10 bilhões do Tesouro dos EUA em 2008, depois da quebra da concorrente Lehmann Brothers no dia 15 de setembro, a Goldamann Sachs informou ter lucrado US$ 3,4 bilhões entre abril e junho, 65% mais do que o igual período de 2008. Com esse resultado, a Bolsa de Valores de Nova York fechou em alta de 0,33%. Depois desse marco, o mundo começou a ficar mais otimista com a crise e, não poucos, já enfatizam sua passagem para todo o sempre. No dia 24 de julho, a Dow Jones alcança maior nível em oito meses passando de 9 mil pontos. Os lucros líquidos do setor bancário aumentam. Em Londres o índice Financial Times teve alta de 1,46%, o DAX de Frankfurt ganhou 2,45%, a bolsa de Paris, o CAC-40 subiu 2,08%. Desse aumento das ações, até a gigante farmacêutica Roche teve ganhos de 3,2% informando que irá expandir a produção do medicamento Timiflu, utilizado no tratamento da gripe suína. Talvez o mais engraçado e filosófico comentário foi do diretor de vendas de produtos empresariais da Intel, Frank Johnson: “a realidade é que empresas são feitas de pessoas, por isso acredito que tudo é uma questão de atitude, da forma como escolhemos encarar a realidade. Otimismo gera otimismo” (Valor econômico, B3, 24 de julho). No final de julho até o presidente Barack Obama declarou que “podemos estar começando a ver o fim da recessão”. Passado alguns dias esse mesmo espírito chegou ao Brasil. No dia 21 de julho o Índice de Confiança do Empresário Industrial publica que, pela primeira vez no ano, o empresário está confiante na economia do país. Um economista da Confederação Nacional da Indústria disse: “acabou a percepção de crise, em princípio”. Outro da LCA Consultores continuou: “é normal no momento de saída de uma crise, que os indicadores se mostrem contraditórios”. Este seria o início do período intitulado de “pós-crise” que, ao que tudo parece, durante o mês de agosto e setembro de 2011 parece ruir como um castelo de cartas.
 Neste início de agosto as principais Bolsas do mundo caem devido à intensificação dos temores dos investidores com a desaceleração da economia global - puxada pela crise nos EUA - e com a crise do débito em curso na Europa, que agora ronda a Itália e a Espanha. A perda de confiança generalizada transtorna os mercados com o medo que os gigantescos pacotes de salvamento da economia não tenham sido suficientes para retirar os países centrais do capitalismo de uma possível longa depressão. Mesmo com o “resgate da Grécia” e a elevação do teto da dívida nos Estados Unidos o espectro da Depressão parece rondar o mundo, ainda mais com as expressivas resistências políticas em diferentes regiões. O que está ficando claro é que o periodo “pós-crise de 2008” foi apenas uma grande ilusão perto da dimensão gigantesca da crise global. Vivemos agora o temor que a crise não tenha controle e nem possível “regulação”.   
            Lembro que um comentário de Marx sobre o craque no Capital III é interessantíssima. Com o desdobramento da crise financeira, “o processo se complica tanto – com a emissão de meros papagaios, ou com negócios de mercadorias destinados apenas a fabricar letras – que pode subsistir a aparência tranqüila de negócio sólido e de retornos fáceis de dinheiro, quando há muito tempo esses retornos na realidade só se fazem mediante fraude contra prestamistas ou contra produtores. Por isso, sempre às vésperas do craque, os negócios aparentam quase solidez extrema... Os negócios vão muito bem, reina a maior prosperidade, e de repente surge a catástrofe”. Um colapso se avizinha, a nova etapa da crise global, mas ainda sem alternativas sociais e organização internacional a disposição. São tempos interessantes em que as mobilizações populares existentes estão lutando no improviso em condições extremamente complicadas.

Fernando Marcelino é analista internacional formado pelo Centro Universitário Curitiba e mestrando em Ciência Política pela UFPR. E-mail: fernandomarcelinopereira@gmail.com 


Um comentário:

  1. As economias dos USA e da Europa não se recuperaram da crise de 2008 e isto ficou bem claro porque as economias tanto dos USA como as da Europa vieram cambaleando este tempo todo,com os gastos públicos e o endividamento interno até o gargalo,sem um controle atípico anti-crise e isto ficou mais evidente ainda quando o setor industrial destes estados não conseguiu reaver os empregos que este mesmo setor tinha destituído com o efeito da crise de 2008,mas o que o percebemos é que os EUA,não teve a mínima preoculpação com a redução dos seus gastos no setor militar e praticamente investiu boa parte dos recursos do tesouro nacional nesta empreitada da guerra contra o terrorismo,pois em 11 anos de guerra o governo americano gastou em média três trilhões e meio com gastos militares desde armamentos pesados até idenizações as famílias das vítimas da guerra,que não foram poucas,é só imiginar a quantidade de soldados mortos desde janeiro de 2001 quando começou os ataques ao Afeganistão,passando pelo Iraque até os dias atuais,são números assombrosos que só fazem os gastos do governo aumentarem numa guerra sem fim,isto é apenas um dos fatores mais visíveis por todos nós,mas que tem outros trâmites que fez com que esta economia estivesse neste exato momento em um buraco negro. Naquela região do Oriente Médio nunca houve paz e pacificação entre os povos,e que muitos deles são constituídos por vários grupos étnicos,que entre eles nunca se entendem,são várias as ideologias e nunca se chega a um consenso,é um barril de pólvora a ponto de explodir. A Europa tem vários fatores contundentes além de depender constantemente de economias sólidas de outros países fora do seu continente,os gastos dos governso nos últimos anos ficaram sem freios,por muitos fatores que afetam direto e indiretamente as economias locais, envelhecimento da população,redução na arrecadação de impostos por falta de novos contribuintes,migração de empresas do setor industrial para os países dos BRIC'S devido ao fator globalização econômica e os custos de produção inferior,política anti-imigração acirrada contribuindo para a falta de mão-de-obra barata,irresponsabilidade dos governos por gastar mais do que arrecadam entre outros fatores. A dose certa para se ter um efeito a curto prazo seria uma política fiscal responsável e um corte de gastos drástico com aumento da idade para as pessoas terem direito as aposentadorias,e abrir mais as portas do comércio internacional com outros estados,em vez de ficar preso as economiás digamos que"sólidas",que neste momento de crise nem se pode afirmar que as economias do mundo globalizado podem ser chamadas de sólidas.

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