sábado, 16 de julho de 2011

Mais discurso para se acostumar?



Thiago de Oliveira Gonçalves


Quando se trata dos mercados financeiros que integram os mais diversos países por meio de fluxos de capital, envolvendo agentes investidores e instituições reguladoras, qualquer mudança nos índices e regimes econômicos referentes ao ganho que se pode ter com os mais diversos tipos de aplicação financeira tem implicações sérias e é tratada de maneira delicada, com muita prudência na gestão das autoridades de política econômica – envolvendo até mesmo a injeção de bilhões de dólares na economia pelo Estado para conter uma crise. Mas quando uma alteração é demandada a um agente financeiro devido a demandas da sociedade moralmente motivada, a situação também é tratada com urgência e delicadeza?

Aparentemente, não. É o que mostra um dos esforços de recolhimento de assinaturas on-line da organização da sociedade civil Avaaz a respeito das exorbitantes taxas cobradas de imigrantes em diversos países para transferir quantias a suas famílias em seus países de origem, que chegam a até 20% do total enviado. O apelo da petição da Avaaz atenta para o fato de serem pessoas necessitadas (pessoas que desempenham as mais diversas tarefa$) que sofrem com o elevado valor do serviço enquanto a Western Union, empresa responsável por quase 20% dos depósitos de trabalhadores imigrantes no mundo, fatura muito alto[1].
A Avaaz informa ao signatário potencial da petição que países chave do G8 já se pronunciaram sobre a necessidade de taxas menores, não ultrapassando 5%, incitando-o a tomar parte nesta campanha, pois a Western Union nunca foi pressionada. Segundo os militantes, quando a petição atingir um número considerável de signatários ela chamará a atenção da empresa, pois esta preza por sua imagem.
Realmente, quem visitar o portal da Western Union verá que a empresa se importa com sua  imagem pública. Há até mesmo uma sessão que trata do conceito de cidadania corporativa, na qual a equipe da WU admite ser “orgulhosa por ajudar migrantes em sua jornada rumo a melhores oportunidades econômicas” (Western Union, 2011) e ter um “compromisso com o enriquecimento de cidadãos globais” (Idem).
Porém, [que fique esta dúvida no ar!] até que ponto os gestores da Western Union se colocarão à disposição da sociedade civil organizada e mesmo das burocracias estatais quando a pauta é a diminuição de seu faturamento?
Certo, aqui cabe reconhecer que os sistemas financeiros não possuem entre suas características a distribuição de renda para a sociedade, mas prestar serviços permitindo que haja a transação de ativos financeiros intra e trans-fronteiras e também que a agente financeiro algum interessa ter uma imagem pública negativa. Entretanto, a Western Union obtém um faturamento abusivo à custa de trabalhadores primários e representa-se como exemplo de responsabilidade social. Isto nos revela um [mais um] discurso corporativo paradoxal, ao qual não se pode acostumar.

Thiago de Oliveira Gonçalves é formado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba).


Referências:
Avaaz. Manifesto contra as taxas exorbitantes da Western Union, ASSINE AQUI: https://secure.avaaz.org/po/make_giving_powerful/?cl=894517718&v=8095
ROBERT, Anne-Cécile; SERVANT, Robert e Jean-Christophe. De olho nas remessas africanas. Le Monde Diplomatique Brasil. Janeiro de 2009. Disponível em: http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=431&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd39468
Western Union. Cidadania Corporativa e migração global. Disponível em :http://corporate.westernunion.com/global_migration.html



[1] Para se  ter uma idéia destes ganhos é interessante consultar um relatório de 2005 do Banco Africano de Desenvolvimento e do governo francês que atesta: €449 milhões teriam sido transferidos para o Senegal (19% do PIB); €295 milhões para o Mali (11% do PIB) e 70 milhões de euros para as Ilhas Comores (24% do PIB) (ROBERT; SERVANT, 2009).

Um comentário:

  1. Realmente um absurdo,esta alta taxa cobrada para o envio de recursos financeiros dos imigrantes para seus países de origem,mas é óbvio que existe uma intervenção dos governos destes países de onde saem estes recursos,talvez uma das hipóteses sejam uma proteção acirrada dos empregos locais,pois muito se lêem artigos e comentários em tablóides publicados nestes países,que os imigrantes só tomam os empregos deles e empobrecem os mesmos,que ao meu ver é uma pura mentira e falsidade por parte das potências desenvolvidas,isto não condiz com a verdade,não passa de um comentário preconceituoso e racista. Outra questão poderemos citar aqui seria uma forma de não deixar os recursos sairem de seus países e ao mesmo tempo os mesmos serem gastos lá,consequentemente renderá impostos e aquece a economia interna,mas o que temos conhecimento é que esta política está em expansão,boa parte dos países do mundo implantam isto como medida de proteção as suas economias domésticas,o que poderá ser feito é um acordo comum,entre as partes envolvidas por um organismo internacional competente,mas para que isto de fato fosse acontecer,deveríamos muito bem pensar nas empresas multicionais,se seria uma ideia boa ou não,para a economia de uma nação,pois como sabemos esta prática é muito comum nestas empresas,enviarem recursos financeiros as suas matrizes,em seus países de origem,apesar que elas compram títulos dos países onde estão instaladas,mas isto não significa tudo.é um caso a ser analisado....

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