sexta-feira, 7 de maio de 2021

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo no mês de Abril


    No mês marcado pelas ainda sucessivas quebras de recordes em número de casos e de mortes na pandemia, o Brasil teve espaço na mídia estrangeira também pelo desastre da política anticorrupção.


    O jornal francês Le Monde destacou, em uma matéria extensa e detalhada, a operação Lava-Jato como uma armadilha orquestrada por um juiz parcial na defesa de interesses políticos. A maior operação anticorrupção do mundo era vista como uma esperança para a salvação do Brasil em um contexto de crise política, econômica, social e ambiental, segundo o jornal. No entanto, a operação tinha métodos contestáveis e ilegais, além de contar com forte apelo midiático e violações de regras processuais. Suas irregularidades foram expostas e uma de suas maiores “conquistas”, a prisão do ex-presidente Lula, foi anulada. Dessa forma, o Brasil aparece mais uma vez nas manchetes com um escândalo político e judiciário para somar ao descrédito da opinião pública internacional.


    A BBC NEWS anuncia o número de mortes atingido pelo Brasil no mês de abril. Foram mais de 400 mil no mesmo mês em que o Brasil chegou a bater o recorde de mais de 4 mil mortes em um só dia e o índice de ocupação nos hospitais permanece em torno de 90% em pelo menos 1 terço dos estados. A matéria aponta os números como consequência de uma política insuficiente de vacinação e cita o inquérito aberto contra o presidente Bolsonaro. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investiga o comportamento do atual presidente perante a crise sanitária, especialmente no que diz respeito à aquisição das vacinas, e poderá resultar em impeachment. O Brasil tem sido frequentemente citado por tais dados e principalmente pelas novas variantes decorrentes da administração desastrosa do país com relação à pandemia.


    O artigo especial do EL País espanhol, além de apontar o número de mortos, é repleto de frases de pesar, destacando os relatos de famílias que perderam entes queridos e que buscam justiça. Através da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico), movimento organizado para denunciar as autoridades brasileiras e responsabilizar o Estado, sobreviventes do COVID e familiares denunciam que vidas poderiam ter sido salvas se o sistema de saúde estivesse mais preparado e bem equipado, bem como se os órgãos competentes tivessem se esforçado em salvar vidas e comprar vacinas ao invés de incentivarem o uso do “Kit Covid” de eficácia contestada. A matéria também cita a CPI do Covid e faz referência às diversas situações em que houve desprezo por parte do Estado como, por exemplo, quando sucedeu a falta de oxigênio no estado de Manaus.


    Na Argentina, a negativa da Anvisa para a vacina russa Sputnik V foi notícia no El Clarín. O país vizinho fechou contrato com o laboratório eslavo ainda em 2020 e vacina a maioria da sua população com doses russas. O jornal portenho traz trechos da declaração oficial do laboratório responsável pela fabricação fármaco recusado pela agência reguladora sanitária brasileira.
    Em nota, representantes da Sputnik alertam que a decisão de vetar a vacina foi meramente política e apontam para uma interferência norte-americana na Anvisa. Apesar disto, lembra Clarín, o imunizante foi revisado e publicado pela prestigiada revista científica “The Lancet”, que lhe aferiu 92% de eficácia contra o coronavírus.


    Ainda em Buenos Aires e na polêmica das vacinas no Brasil, o La Nacion manchetou o áudio vazado do ministro Luiz Eduardo Ramos. Em conversa, o general confessa ter recebido a vacina em segredo. Já com idade e requisitos para ser vacinado dentro das diretrizes do Plano Nacional de Imunização, o ministro preferiu manter segredo para que o presidente Bolsonaro “não soubesse e se irritasse”.
    Na toada do negacionismo crônico do governo federal brasileiro, Nacion relembra as recentes declarações – também vazadas – do ministro da economia Paulo Guedes criticando a CoronaVac e chamando o SarsCov-2 de “vírus chinês”. Assim como Ramos, Guedes não sabia que estava sendo gravado. Ambos vieram a público se retratar, mas o economista recebeu indiretas do embaixador chinês no Brasil.


    O Brasil é posto ao lado de China e índia como adversário da agenda climática do partido democrata estadunidense, grifa o The New York Times. Segundo o jornal, a administração de Joe Biden consegue costurar acordos com Japão, Canadá e Coréia do Sul, mas enfrenta no Brasil o maior oponente para negociações ambientais.
    No contexto da cúpula do clima, o Times noticia críticas que Biden recebe por militantes climáticos por sua tentativa de negociar planos para a Amazônia com o “conservador” Bolsonaro, cuja administração é “lúgubre”.


    O mesmo tom é observado no The Wall Street Journal. O jornal do rentismo internacional ironiza um diálogo de Bolsonaro com Biden, como se o Brasil dissesse “pague-me para não arrasar a Amazônia". “O pedido é provavelmente apenas um dos primeiros de muitos semelhantes a seguir quando os países em desenvolvimento começam a negociar com os países industrializados sobre quem paga por programas caros para lidar com a mudança climática.” 


    Na catari Al-Jazeera, o plano bolsonarista de priorizar a economia sobre saúde em meio à pandemia põe o presidente em “risco político e vidas em jogo”. A maior rede árabe de notícias mostra que, enquanto o sistema de saúde brasileiro colapsa, o governo tem publicações retiradas pelo Twitter por propagar mentiras sobre a covid-19. A campanha “O Brasil não pode parar” também foi proibida de ser veiculda em tevê e rádio pela justiça.
    Ouvindo especialistas na política e na saúde, Al-Jazeera repercute que a intenção de Bolsonaro é “lavar as mãos” e culpar quem pede lockdown pela derrocada econômica brasileira.


    O Jornal da Angola foi contundente ao classificar o Brasil como o pior país do mundo para se estar neste começo de 2021. “Celeiro de novas variantes”, o país enfrenta o aumento no número de casos enquanto sofre para acelerar a vacinação. Tomando números somente deste ano, o jornal mostra que o Brasil era o 24o em números fúnebres relativos na pandemia antes de janeiro. Desde então, o país já galgou 6 posições no ranking do desastre.
    Mês a mês, as aparições brasileiras na mídia internacional só pioram. A CPI instalada no Senado pode, quiçá, achar responsáveis e omissos nas mais de 400 mil vidas que a covid-19 ceifou no Brasil: mas vem com mais de um ano de atraso.

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