quinta-feira, 29 de junho de 2017

Por Onde Anda: Felipe Salomão, coordenador de Relações Institucionais do Grupo Boticário


A seção "Por onde anda" entrevista egressos do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA sobre experiências acadêmicas, profissionais e de vida concretizadas após o término do curso e é coordenada pela Prof. Michele Hastreiter e pela Prof. Angela Moreira.


Nome Completo: Felipe Salomão
Ano de ingresso no curso de Relações Internacionais: 2006
Ano de conclusão do curso de Relações Internacionais: 2010
Ocupação atual: Coordenador de Relações Institucionais do Grupo Boticário

Blog Internacionalize-se: Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional após a formatura no curso de Relações Internacionais.

Felipe Salomão:
Fui o primeiro aluno do curso a realizar o intercâmbio na Universidade Técnica de Lisboa. Assim que esse período terminou, voltei determinado a ingressar no mercado de trabalho. Assim, prestei alguns processos de seleção para programas de estágio e trainee e, na época, o que mais me chamou a atenção foi o da Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Na Câmara, tive contato com o que hoje é minha realidade profissional. Pude aprender e trabalhar na carreira de relações governamentais. A experiência foi fantástica pois pude aplicar todos os conceitos da diplomacia corporativa nos primeiros meses de exercício da profissão. Lá, cuidei do departamento de relações institucionais e exerci meu primeiro projeto de integração comercial, desenvolvido junto à Itaipu Binacional. Outro projeto muito bacana também foi o desenvolvimento do primeiro guia de atração de investimentos para o Estado do Paraná. Depois de 4 anos e meio, fui convidado a abrir o departamento de relações institucionais no Grupo Boticário, função que exerço até hoje.


Blog Internacionalize: Qual foi a experiência mais desafiadora que já teve profissionalmente?

Felipe Salomão:
Foram vários, difícil é escolher o maior deles. Acho que os de maior aprendizado sem dúvida foram os adquiridos na Amcham, quando éramos colocados na mesa de CFO’s, CEO’s, Governadores e Ministros no “auge” dos nossos 21 anos. Mostrar que a juventude e a maturidade tem total condição de caminharem juntos era um desafio muito legal. 



Blog Internacionalize-se: Como é o dia a dia do trabalho no Grupo Boticário? Que atividades desempenha?
Felipe Salomão: Sou responsável pela diplomacia corporativa da companhia, ou seja, elaboro estratégias de relacionamento com o governo federal, estadual e municipal que auxiliem nos objetivos da empresa. Meu dia a dia tem eventos, reuniões com tomadores de decisão, orientação estratégica dos discursos dos executivos do Grupo. Procuro desenvolver contatos estratégicos que colaborem para a melhor percepção da nossa marca no Brasil fortalecendo imagem e reputação.




Blog Internacionalize-se: Como avalia a inserção internacional da empresa – que é brasileira – nos últimos tempos? Percebeu algum aumento?

Felipe Salomão:
Sem dúvida. O Grupo Boticário é uma empresa que nasceu na rua Saldanha Marinho em Curitiba, como uma farmácia de manipulação pequena, mas que rapidamente ganhou o Brasil e o mundo como uma das principais marcas de perfumaria. Hoje, são 4.000 lojas no Brasil, além da presença em outros 12 países. Estes números nos colocam como uma das maiores redes de franquias do mundo.


Blog Internacionalize-se: Dentro deste contexto, acredita que deverá haver um aumento de oportunidades para os profissionais de RI em empresas nacionais no futuro?

Felipe Salomão:
Com certeza. A inserção comercial do varejo obrigatoriamente passa por uma criteriosa análise de perfil de consumo, perfil sócio econômico, ambiente regulatório e diversas outras questões. É uma análise tão multifacetada que os profissionais de RI de adaptam de forma mais rápida e respondem às necessidades para tomada de decisão de uma maneira muito mais objetiva.
 



Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança mais marcante do período de faculdade?

Felipe Salomão:
A riqueza de pensamentos com toda a certeza. Debates calorosos sobre o papel do Brasil nos Brics, nas discussões ambientais, nos debates sobre refugiados, todos sempre, temperados com muita opinião e fundamento.


Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o ajudam na sua profissão atual?

Felipe Salomão:
Hoje, utilizo quase todas as ciências aplicadas do nosso curso. Mas sem dúvida, o relativismo cultural (comportamentos, opiniões, visões de mundo) me facilita muito para obter meus resultados. A teoria dos jogos para o ambiente de negociação também me vem à tona todos os dias.


Blog Internacionalize-se:  Que dicas ou conselhos dariam para os alunos de RI que desejam seguir carreira no mundo corporativo?

Felipe Salomão:
Não tenham medo de se arriscar. Nunca vamos nos sentir 100% preparados. O fato é que a faculdade nos dá sim bagagem e repertório para desempenhar muitas funções no mundo corporativo. E principalmente, evitem rotular seu conhecimento especificamente ao departamento internacional das empresas.  A cadeira do internacionalista nunca estará vaga para você. O maior desafio é ser visto até você conseguir sentar nela. Depois disso, sua competência, postura e conteúdo acadêmico vão dar conta do recado rapidamente. Por isso, vá atrás! Não espere a oferta chegar e, principalmente, tire suas próprias conclusões sobre o mercado. Não caia nas verdades dos seus veteranos que não souberam buscar um desafio que lhe coubesse. As oportunidades muitas vezes estão batendo à nossa porta e deixamos de abraça-las por falta de ousadia.



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terça-feira, 27 de junho de 2017

Teoria das Relações Internacionais em destaque: "O Soft Power chinês no Leste Asiático"

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais, orientado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

Por: * Laura Neves da Silva




O crescente poder econômico, político e militar da China é o desenvolvimento mais geopolíticamente significativo deste século. No entanto, ao passo que a magnitude deste poder é amplamente compreendida no âmbito internacional, uma percepção generalizada da dinâmica desse crescimento exige uma avaliação mais sistemática da profundidade do poder da China. Especificamente, as implicações estratégicas, econômicas e políticas dos esforços de Soft Power da China exigem um olhar mais cauteloso. Pretende-se portanto, por meio deste trabalho, ressaltar a adoção desta política estratégica por parte do governo chinês, e suas respectivas consequências, mantendo um foco no Leste Asiatico, área de principal atuação do país.
Na medida que se é discutido as dimensões do Soft Power, e a possibilidade de se seguir caminhos que essencialmente procuram priorizar a ação mediante a persuasão, assim evitando o uso da força como meio de se atingir um objetivo, faz-se necessário a utilização da Teoria da Interdependência como forma de respaldo para as questões futuramente discutidas, á medida que, a mesma aborda o comportamento dos atores internacionais (Estados e Organizações) no cenário internacional. Analisa-se o comportamento desses atores devido a sua abrangência e influência nas Relações Internacionais a partir dos anos 1970, através dos trabalhos desenvolvidos pelos autores Robert Keohane e Joseph Nye.
A interdependência aborda a cooperação recíproca, ou seja, dependência mútua e contempla a interferência de forças externas que influenciam atores em diversos países. A teoria não afirma que a arena internacional seja um ambiente de cooperação apenas, mas que no jogo para obter os resultados propostos é necessário manipular os fatores de interdependência.
Desta forma, é possível elucidar o conceito de Soft Power desenvolvido por Nye, e o modo como o mesmo envolve a habilidade de um ator para definir estratégias e atrair apoio com base em seus valores, cultura, políticas e instituições. Não obstante, e como já observado pelo autor Joshua Kurlantzick, devido a relevância econômica incontestável da China, exige-se uma ampliação desta definição para que inclua qualquer método fora do domínio militar e de segurança, ou seja, incluindo não apenas a cultura popular e a diplomacia pública, como também métodos mais coercitivos nas áreas da economia e da diplomacia  tais como participação em organizações multilaterais e a realização de investimentos estrangeiros.
Tendo isso em mente, a prática do Soft Power vem se tornando uma opção atrativa para uma potência em ascensão como a China, buscando ser utilizada para demonstrar o comprometimento da nação em ter uma ‘’ascensão pacífica’’, procurando dar ênfase a sua potencialidade e contribuição no âmbito internacional, como também sendo utilizada para reprimir os medos externos relacionadas a potenciais ambições revisionistas. Nos últimos anos, o governo chinês vem tentando usar uma série crescente de ferramentas de política externa além do Hard Power em suas interações no Leste Asiático. Essas abordagens não militares incluem assistência estrangeira ao desenvolvimento, atividades comerciais, comércio e intercâmbios culturais, diplomáticos e econômicos, que se enquadram na ampla noção de soft power.
Um dos maiores exemplos dessa recém tendência do governo chinês em seguir essas políticas é o relatório político divulgado em 2002 no 16º Congresso do PCC, o qual afirma que "no mundo de hoje, a cultura se entrelaça com a economia e a política, demonstrando uma posição e um papel mais proeminentes na competição pelo poder nacional abrangente.’’ Posteriormente, em janeiro de 2006, o presidente chinês, Hu Jintao, disse ao Grupo Central de Liderança dos Negócios Estrangeiros que o aumento da reputação e do status internacional da China "terá que ser demonstrado em hard power, como economia, ciência e tecnologia e defesa, bem como em soft power, como a cultura ". Pequim se baseou essencialmente em duas estratégias importantes de diplomacia pública: promoção cultural e envolvimento na mídia.
Conquanto, resta saber se a estratégia de soft power de Pequim, mantendo enfoque na promoção cultural e mídia de massa, é efetiva. Internamente, as elites da política chinesa demonstram-se pouco otimistas sobre o estado atual do soft power chines. Embora reconheçam publicamente o grande potencial no uso desta política, o sentimento que prevalece é de grande carência do Soft Power chinês em comparação com o dos Estados Unidos e de outras potências regionais. Perpetua-se também um sentimento de frustração: apesar do rápido desenvolvimento econômico da RPC e status como a segunda maior economia no mundo, seu soft power ainda encontra-se em um estado muito atrasado em contraposição ao seu hard power.
Tendo, portanto,  discutido como as elites da política chinesa avaliam o Soft Power, é importante também avaliar as reações regionais quanto as atitudes ‘’não-ofensivas’’ tomadas pelo Estado chinês. O quão eficaz é a busca da China pelo status através de abordagens de soft power e quais são as percepções das outras regiões?
Possivelmente, a melhor maneira para se responder as questões abordadas acima seja através dos estudos de Gregory G. Holyk, acerca do poder Chinês e sua influência no leste asiático.  Holyk divide o Soft Power em cinco componentes (economia, cultura, política, diplomacia e capital humano) e mede cada componente por meio de pesquisas realizadas no Japão, Coréia do Sul, China, Indonésia, Vietnã e nos Estados Unidos. Ele chega á conclusão, através de sua análise metodológica, de que o Soft Power Chinês aparenta estar crescendo, contudo ainda é considerado relativamente fraco.
De acordo com Holyk, o crescimento do Soft Power chinês está correlacionado com a força crescente de hard power do país. A influência militar e econômica chinesa no leste asiático cresceu a um ritmo surpreendentemente rápido desde a década de 1980, mas, ao mesmo tempo, a influência do soft power chinês também cresceu, assim evidenciada na tentativa de Pequim em aplicar uma ofensiva diplomática com o objetivo de aumentar sua influência na região e mudar sua imagem. Como parte desta estratégia, a China começou a se retratar como uma nação buscando vínculos positivos e progressivos com outros países, aumentando seus laços diplomáticos no Leste Asiático, especialmente com a Coréia do Sul, Japão, Vietnã, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Proscreveu a diplomacia e as abordagens políticas não ameaçadoras, o aumento do comércio regional, tornou-se um membro ativo em organizações regionais, como a ASEAN e a Cúpula do Leste Asiático, e aumentou fortemente sua ajuda externa incondicional, que tem um apelo especial aos cidadãos dos países em desenvolvimento. Conquanto, deve-se notar que, apesar das ações realizadas, este cenário pode ser alterado a qualquer momento devido a mudanças políticas na China e nos Estados Unidos.
O estudo de Holyk parece ser corroborado por levantamentos recentes da opinião pública internacional. Os resultados de estudos de atitudes sobre o Soft Power da China na Austrália, Japão e Coréia do Sul indicam um declínio na afinidade com a China, apesar da expansão dos negócios, comércio e vínculos econômicos com esses países. Da mesma forma, em 2008, o Chicago Council on Global Affairs liderou um estudo pioneiro sobre as atitudes regionais, comparando os efeitos do soft power da China, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos na Ásia. Este inquérito internacional considera que a China está na posição mais baixa. Curiosamente, a afinidade regional com a China registou um declínio constante desde 2004. Jung-Nam Lee, um especialista regional, observa o seguinte: o soft power da China na região permanece em um nível baixo em comparação com o seu hard power. De fato, o nível de soft power da China na região não é apenas inferior aos dos Estados Unidos e do Japão, como também ao da Coréia do Sul. Por conseguinte, a significante influência da China na região é vista pelas nações vizinhas como desconfortável e até intimidante.
Ao analisar e avaliar a eficácia da promoção de soft power da China nos últimos anos, é válido questionar se, no futuro, a China se parecerá mais com o Leste Asiático, ou o mesmo se parecerá mais com a China. Os dados já elucidados revelam, sem sombra de dúvidas, graves deficiências nas tentativas da China de melhorar sua imagem. Por um lado, os países mais ricos e mais desenvolvidos da Ásia Oriental, particularmente o Japão e a Coréia do Sul, têm visões e percepções negativas sobre a China; enquanto por outro, os países em desenvolvimento da região, com algumas exceções notáveis, têm preocupações, mas mantêm uma visão menos pessimista da China.
Como o soft power chinês é fortemente centrado no estado, qualquer tentativa da China de projetar sua imagem no exterior, inevitavelmente, chama a atenção para o seu sistema político, o seu senso de excepcionalismo e o comportamento altamente imprevisível de sua política externa. Esta é talvez a maior limitação do apelo da China na região.
Enquanto as liberdades políticas e civis estiverem severamente restritas na China, o país não será aceito como um poderoso poder regional e global. As limitações à liberdade de expressão, imprensa e religião continuam profundamente problemáticas em muitos países da região. Dado que essas normas são cada vez mais aceitas como direitos universais, não apenas como valores dos EUA ou ocidentais, será cada vez mais difícil para o governo chinês impedir que seu comportamento doméstico afete a credibilidade e o status quo do país.

Referências:
HUANG, Chin-Hao. China’s Soft Power in East Asia. Seattle e Washington, DC: Janeiro, 2013. Disponível em: http://chinhaohuang.weebly.com/uploads/5/4/6/7/54678237/huang_final_china_soft_power_and_status.pdf
WHITNEY, B. Christopher.;. Soft Power in Asia: Results of a 2008 Multinational Survey of Public Opinion. Chicago, Illinois: 2009. 48 p. Disponível em: https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2012/04/0617_east_asia_report.pdf
HOLYK, G. Gregory.;. Paper Tiger? Chinese Soft Power in East Asia. : Junho, 2011.  223–254 p. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/j.1538-165X.2011.tb00700.x/abstract
BRITO, R. Brigita;. HARD, SOFT OU SMART POWER: DISCUSSÃO CONCEPTUAL OU DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA? : 2010. 118 – 121 p.
RODRIGUES, Noeli;. Teoria da Interdependência: os conceitos de sensibilidade e vulnerabilidade nas Organizações Internacionais  : Junho, 2014.  107-116 p. Disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2015/01/Teoria-da-Interdepend%C3%AAncia-Os-conceitos-de-sensibilidade-e-vulnerabilidade-nas-organiza%C3%A7%C3%B5es-internacionais.pdf


*Laura Neves da Silva: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 
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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: Eufrates - o limiar da tensão russo-americana



A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.



Eufrates - o Limiar da Tensão Russo-Americana

Lucas Andrade Quental Martins *


No dia 18 de Fevereiro de 2017, no espaço aéreo sobre a zona rural ao sul de Raqqa, um caça (F/A-18E Super Hornet) da marinha estadunidense derrubou, sob ordens superiores, um caça (SU-22) do exército sírio. O ato constituiu o primeiro abate ar-ar dos militares dos Estados Unidos da América (EUA) desde 1999, quando a Força Aérea do país participou das ações da OTAN nas guerras de desintegração da ex-Iugoslávia. A justificativa de Washington foi afirmar que o caça havia soltado bombas perto de forças apoiadas pelos estadunidenses. De seu lado, Damasco disse que a aeronave foi abatida enquanto voava em uma missão contra os militantes do Daesh (Estado Islâmico).

Em seguida, na segunda-feira, dia 19 de fevereiro, a Rússia comunicou, através de seu Ministro da Defesa, Sergey Shoygu, que qualquer veículo aéreo, inclusive caças de combate, dos E.U.A. e seus aliados, que ultrapassassem o Rio Eufrates seria considerado um alvo. Shoygu afirmou que 



“Em áreas em que a aviação russa está conduzindo missões de combate no céu sírio, qualquer objeto voador, incluindo jatos e veículos aéreos sem tripulantes da coalizão internacional descobertos a oeste do Rio Eufrates será seguido pelas defesas aéreas e terrestres russas como alvos aéreos.”



Tal posição é justificada pelo ministro como um mecanismo de defesa das aeronaves russas e aliadas, já que o comando das forças da coalizão não usou o canal existente entre o comando aéreo da base aérea Al Udeid, do Catar, e a base aérea russa em Hmeymim, na Síria, para evitar incidentes sobre a Síria. 




“A partir da sua entrada em vigor, (...) garantirá o estabelecimento de linhas de comunicação operacional 24-horas entre os quartéis-generais militares da Rússia e dos Estados Unidos, assim como mecanismos de interação, incluindo a provisão de assistência mútua em caso de emergência. Os EUA se comprometeram a informar a todos os membros da Coalização Anti-ISIS por eles liderada as regras concordadas e os membros das forças aéreas da Coalização [em todas as instâncias] aderirão a esses acordos”. 



Em sequência, após três dias do fatídico incidente, os Estados Unidos ainda não haviam formulado uma resposta pública para lidar com a declaração russa, como expressado pelo Secretário de Estado dos E.U.A. Rex Tillerson afirmou que as partes “estão negociando”, mas não especificou quem estaria participando de tais negociações. 

Mais um elemento que demonstra o agravamento das tensões entre as forças da coalizão e as forças que são favoráveis ao atual presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi a eliminação de um VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado, um drone) iraniano, de modelo Shaheed-129 das forças pró-Regime sírio, por parte de uma aeronave de combate estadunidense. O vice-Chanceler russo, Sergei Ryabkov, condenou o novo incidente, afirmando que “na Síria esse tipo de ataque se assemelha à cumplicidade com o terrorismo”. Além disso, Ryabkov anunciou que cancelara a reunião marcada com o vice-secretário para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Thomas Shannon, marcada para a sexta-feira , dia 23 de Junho, que teria como objetivo a normalização das relações. Além da tensão militar na Síria, outro motivo indicado pelo vice-chanceler russo é a decisão dos E.U.A., anunciada na terça-feira, dia 20 de Junho, de ampliar as sanções contra a Rússia. 

Por fim, no meio da tormenta política-militar, a Austrália – uma das principais aliadas dos Estados Unidos na Síria – anunciou, na terça-feira, dia 20 de Julho, que todas as suas missões aéreas sobre a Síria estão suspensas. O Departamento de Defesa Australiano justificou a decisão afirmando que “como uma medida preventiva, as operações de ataque da Força Aérea Australiana (RAAF) na Síria estão temporariamente cessadas”. 

Todos os acontecimentos aqui citados, certamente, demonstram um nítido escalamento da tensão russo-americana sobre os conflitos atualmente acometidos na Síria, e resultam em uma prospecção pessimista quanto a situação na região, principalmente após a possível – mas tido como certo por muitos especialistas – derrocada do Daesh, vulgo Estado Islâmico. 



* Lucas Andrade Quental Martins é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, e pesquisador do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".

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terça-feira, 20 de junho de 2017

Análise em Relações Internacionais e Política Externa: "Os Investimentos chineses sob análise dos Jogos de Dois Níveis e do Construtivismo"

Artigo apresentado na disciplina de Análise em Relações Internacionais e Política Externa, sob orientação da Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.



Por: * Vinícius Prado Gimenez Corrêa



A construção de um poder não trabalha apenas com forças capazes de destruir povos ou causar terror, ou não apenas por inseminação cultural em outras regiões, mas a estratégia é perceber o que ocorre em sua volta para assim compor a melhor ideia de estratégia, e o trabalho da China na sua expansão demonstra o porquê dos maiores especialistas em relações internacionais e política externa apontarem essa nação sendo a futura detentora do mundo.
O país asiático possui história milenar, escrita a mais de 6 mil anos já passou por diversos governos, tanto dinásticos quanto republicanos, e possui 1/5 do planeta em seu território, possuindo até mesmo um controle sobre a natalidade de sua população mediante ao grande crescimento. Sua economia é a segunda do mundo, com um aumento poderoso dentro dos últimos 25 anos com um recente crescimento (2016) de 6,7% do seu PIB, que, apesar de uma queda com relação aos outros anos, se manteve dentro do esperado pelo seu governo. De forma admirável a China se estabelece pelo mundo a cada ano que passa, muito em voga pelo que prega em sua política externa. Em sua filosofia de política externa a China apresenta os 5 princípios da coexistência pacifica[1] dentro do seu programa de princípios fundamentais de política, que buscam respeitar a soberania dos países, buscar a paz, reconhecimento de igualdade e até de não intervenção de assuntos internos de outros países, o que transforma a China em um país que busca acima de tudo manter o status quo dentro do sistema internacional, não tendo uma atitude agressiva de exploração por territórios e disputas políticas com outros Estados, muito especificado em um de seus pontos que fala “desenvolver a cooperação amistosa com todos os países e promover a prosperidade econômica conjunta.”[2]
A política externa de um país constitui-se de uma união entre a área internacional e doméstica[3], não apenas as relações entre os países em si, mas o que internamente se busca também é muito considerado, pois o interesse nacional é criado de forma complexa[4], com os detalhes internos de uma nação. Por consequente muitas das teorias presentes em política externa apresentam essa leitura de analise, como o jogo de dois níveis. Apresentado inicialmente por Robert Putnam em sua obra “diplomacia e política doméstica” analisa os comportamentos encontrados em negociações e pressões que nelas existem, com duas características, chamadas de níveis (I e II). O nível I é o internacional, realmente os interesses dentro do sistema internacional, suas barganhas sendo feitas entre os países, porém a maior influência se encontra no nível II, o nível doméstico, sendo ele que ratifica os acordos feitos pelo nível internacional. Putnam anuncia que os níveis são iguais, porém o caso Chinês se encaixa na mesma análise, porém feita pela autora Helen Milner e seu livro “Interest, instituition and Information” onde prega que o nível doméstico é o mais importante.
O Estado chinês buscou sempre a cooperação entre os diversos países, com a abertura econômica e a diminuição de barreiras de investimentos proporciona uma maior aceitação do internacional estando de acordo com a política interna do país. Em trabalho conjunto com diversos atores internacionais a China busca reduzir os setores fechados ao investimento externo, demanda do banco central chinês, para que ocorra uma valorização de bancos, seguradoras, bancos de investimentos e empresas de pagamentos, e a troca seria que a China tenha esse mesmo tratamento justo no exterior. Então alinhar os interesses mútuos apresentados pelo país ocasiona um “win-set” maior, um cenário positivo, ou seja, o nível doméstico está de acordo com o nível internacional, podendo ocorrer mais concessões e menos barganhas, diferente de uma rejeição externa, um “win-set” menor, onde a procura pelo alinhamento é maior pelo risco de não ocorrer ratificação interna, barganhando mais, por isso a China busca um tratamento justo no exterior, para que os acordos não venham de forma rápida, mas sim de estrutura fortificada.
            Percebe-se então uma das características apresentadas por Milner, que é o foco triangular, ou seja, grupos de interesse (sendo empresas, sociedade, etc.) pressionando o setor legislativo, que é o principal fornecedor de leis, que por sua vez pressiona o executivo pela motivação de grupos de interesse, gerando esse ciclo, o acordo aqui se encontra positivo pelo governo Chinês buscar sempre essa cooperação com os demais países. O maior desafio do governo chinês seria com a maior potência da atualidade, os Estados Unidos, que, apesar de estarem perdendo a hegemonia para a própria China e ser uma grande dependente do país asiático, sofre pelo governo do presidente Trump, crítico do país e ter duras opiniões sobre o mesmo.
Para um “win-set” coeso decorre alguns fatores que o influenciam, entre eles a distribuição de poder, escolhas políticas e coalizões possíveis do nível doméstico, uma localização de quem são os atores necessários para uma vitória mais concreta, alinhar os temas necessários e saber colocar as necessidades com uma união entre outros atores, pois um país autossuficiente possui um “win-set” muito menor, uma clara vitória aos chineses. Em seus pontos de política externa destaca a busca por cooperação, “promover a prosperidade econômica conjunta.[5] E principalmente uma correlação direta com o terceiro mundo. Pregado como parte desse terceiro mundo a China se mostra a frente para garantir o maior pedaço desse relacionamento, em tempos onde o populismo volta a crescer nos países mais desenvolvidos gera uma oportunidade de crescimento do chamado “sul-sul”, um escape da dependência com o norte os países sulistas podem (e devem) olhar de forma horizontal para novos acordos e serviços.
Do ano de 2015 para cá mais de 21 empresas brasileiras foram compradas por chineses, o indicativo é que a fragilidade político-econômica do país o torna mais barato, o que atrai o investimento da China com o Brasil, em áreas de energia, setor do agronegócio, onde o Brasil é líder de commodities então o investimento é certo, e a área de transportes. Hoje a China coloca suas forças muito em industrias, com crescimento de 6,3% com relação ao último ano, isso só afirma o “win-set” sendo realizado de aceitação do interno para o externo, um aumento da produção interna pode buscar novos setores, exportando as empresas para fora, o que demonstra os 20 bilhões sendo investidos dentro do Brasil, uma força que muito vem a calhar para ambas as regiões. Não somente no maior país da américa latina, mas muitos outros de terceiro mundo, como os outros países de língua portuguesa como a Angola e o Timor-Leste, foram 100 mil milhões de dólares no ano passado. Não menos importante surgiu nos últimos tempos um novo movimento do país oriental em questão, a “nova rota da seda”, um movimento paralelo com o acontecimento do século II a.C. até o século XVI, um eixo comercial que ligava a China até Veneza, sendo não apenas caravanas com iguarias para os diversos povos, mas um meio de comunicação entre o oriente e o ocidente.
Em meio a um crescimento, um superávit de 4 trilhões dentro da China e perceber que esse crescimento pode ser projetado para fora, faz com que o populoso país defina um novo caminho de relações entre países, podendo também reforçar regionalmente a força chinesa. Esse movimento segue da própria China indo desde Moscou, passando por Nairóbi no Quênia até mesmo a Indonésia, e os movimentos devem ser calculados, com o medo do terrorismo em voga a questão de armamento da China tem que ser calculados na equação, apesar da China desde seus princípios não buscar a corrida armamentista, incentivando até mesmo um desarmamento nuclear com os outros países, pois a cooperação e respeito mútuo é de interesse nacional. Outro indicativo de Helen Milner dentro da nova rota vem também do foco triangular e da importância do doméstico em decisões que influenciam o nível internacional, a ideia desse novo caminho ocorreu de escalões menores dentro do ministério de comércio, com o objetivo de enfrentar o grande excesso capacitório encontrado dentro da siderurgia e industrias, surgindo assim um novo plano de exportações.
Ocorre também nesse caminho as três variáveis de Milner, com as preferências dos atores domésticos com suas instituições e a distribuição de informações, que será gerada nessa nova rota por possuir a ideia já antiga do século II a.C. com seus benefícios mútuos. A comunicação é hoje também um investimento encontrado pelas ideias chinesas, uma forma de construir uma identidade, construído menos por coisas materiais e sim por ideias, uma fusão do processo histórico e a produção de discursos, uma análise chamada de construtivismo dentro da política externa. Muito ligado também ao soft power, o construtivismo é uma busca por uma construção social, uma identidade para os países, um novo desafio para a China, que “jamais buscará a hegemonia e opor-se-á firmemente ao hegemonismo[6]. Como as palavras de discurso são importantes essa criação de identidade vale o destaque para o discurso proferido na 71ª Assembleia Geral da ONU em 2016, no tema “Metas do Desenvolvimento Sustentável: Uma Promoção Universal para Transformar o Mundo”, onde o premiê chinês Li Keqiang destacou a urgência de terem sido os primeiros a entregar o relatório da ONU sobre a implementação da “Agenda para o desenvolvimento sustentável 2030”, e ressaltou que para que ocorra os objetivos sustentáveis deve-se manter as atuais normas de relações internacionais, que ocorrem desde a segunda guerra mundial.
Muitas empresas criticaram e ainda criticam o mercado chinês por ele ser restrito, todavia o premiê afirmou que “Alguns setores na economia chinesa ainda não se tornaram “maduros”. O seu processo amadurecimento é também um processo de aprofundamento da abertura”, e um desafio da China como um todo é alinhar todos os crescimentos recorrentes dentro do país com o mercado internacional, dentro das novas políticas implementadas por grandes países, mas o seu lugar de destaque dentro das novas relações, principalmente com o Sul/terceiro mundo, e parcerias com os países emergentes como o caso do BRICS e o seu banco que surge como uma alternativa para o próprio FMI, mostra que a China é um ator de grande relevância mundial pelo que faz e tem capacidade de fazer, pelas introduções em vários setores econômicos, a China avança para se tornar o bastião dentro da economia mundial e das políticas externas.


Referências:
Instituto de Estudos avançados da Universidade de São Paulo – Política Exterior da China - Chen Duqing
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/01/1851500-pib-da-china-avanca-67-em-2016-menor-crescimento-em-26-anos.shtml - Folha de São Paulo, PIB da China avança 6,7% em 2016, menor crescimento em 26 anos
Introdução à Análise de Política Externa - Ariane Roder Figueira - Vol. 1 - Col. Relações Internacionais, Capítulo 2 -  Como se faz política externa
http://exame.abril.com.br/economia/china-vai-se-abrir-mais-para-investimento-estrangeiro-bc-do-pais/ - Exame, China se abrirá mais para investimento estrangeiro, diz BC
http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/03/chineses-querem-investir-us-20-bilhoes-no-brasil.html -     Época, Chineses querem investir US$ 20 bilhões no Brasil
http://exame.abril.com.br/economia/producao-industrial-e-investimento-tem-forte-avanco-na-china/ - Exame, Produção industrial e investimento têm forte avanço na China
http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/investimentos/chineses_investem_milhares_de_milhoes - Jornal de Angola, Chineses investem milhares de milhões
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1695869-politica-externa-chinesa-busca-criar-uma-nova-estrada-da-seda.shtml - Folha de São Paulo, Política externa chinesa busca criar uma nova 'Rota da Seda'
http://universodahistoria.blogspot.com.br/2010/09/rota-da-seda-onde-caravanas.html - O fascinante universo da história, Rota da Seda: Onde caravanas transportavam mercadorias e ideias
http://portuguese.people.com.cn/n3/2016/0922/c309809-9118386.html - Diário do Povo Online, Premiê chinês promete nova rodada de abertura do país



[1] DUQING, CHEN -  Instituto de Estudos avançados da Universidade de São Paulo – Política Exterior da China, p. 4
[2] DUQING. Ibidem p. 3
[3] RODER FIGUEIRA, ARIANE - Introdução À Análise de Política Externa - Vol. 1 - Col. Relações Internacionais, p.25
[4] RODER FIGUEIRA, ARIANE. Ibidem, p.21
[5] DUQING. Ibidem p. 3
[6] DUQING. Ibidem p. 3


Vinícius Prado Gimenez Corrêa: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
 
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