sexta-feira, 31 de março de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: A atual situação curda na Turquia diante da presidência de Tayyip Erdogan


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

A atual situação curda na Turquia diante da presidência de Tayyip Erdogan


Devlin Biezus *


O povo curdo forma o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio, mas não possui um Estado. Dispersos pelas regiões da Turquia, Irã, Iraque, Síria e Armênia, os curdos reivindicam reconhecimento, autonomia ou até mesmo independência desde a queda do Império Otomano. O Tratado de Sèvres, que instaurou a paz entre Império Otomano e o grupo de países aliados após a Primeira Guerra Mundial, foi responsável pelo desmembramento do Império, além de dar direito à independência da Grécia, da Armênia e do Curdistão. Porém, o Curdistão não chegou a ser formado, já que três anos após o Tratado de Sèvres, o Tratado de Lausanne estabeleceu as atuais fronteiras turcas e ignorou a criação de um Curdistão, deixando os curdos como uma minoria dentro dos novos Estados formados a partir do desmantelamento do Império Otomano. Devido ao fato dos curdos estarem divididos entre diversas fronteiras, suas reivindicações políticas não são uniformes. Alguns defendem uma autonomia, outros a independência dentro dos países que vivem e há também quem apenas defenda o direito de exercer sua cultura e ter uma participação na vida política. 


Na Turquia, os curdos formam 19% da população e estão majoritariamente localizados na porção leste e sudeste do país. A fundação da Turquia como um Estado moderno por Mustafá Kemal Paschá (conhecido como Kemal Atatürk) foi pautada sobre a ideologia de uma nacionalidade turca única, assim, prevenindo qualquer perda territorial. Apesar de Atatürk (epíteto de Kemal que, em turco, significa “pai dos turcos”) ter modernizado e laicizado a Turquia, o custo para criar uma identidade nacional única foi a dura repressão das minorias. Curdos passaram a ser chamados de “os turcos das montanhas”, devido às características geográficas da região em que vivem; o idioma e costumes curdos foram proibidos, dando início a uma política de negação à identidade curda.

Como resposta à alta repressão ao povo curdo, no final da década de 1970 foi formado o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O partido possui raízes marxistas-leninistas e é considerado como um grupo terrorista pelos EUA, Turquia e União Europeia. Inicialmente, o PKK defendia a independência de um Estado curdo dentro da Turquia. Em 1984, o grupo passou a utilizar da luta armada para tentar atingir seu objetivo. Assim, iniciou-se o conflito entre o Estado turco e o PKK que ocorre até o presente. Atualmente, as reivindicações do partido mudaram para a obtenção de uma autonomia curda dentro das fronteiras territoriais turcas, além de poder exercer sua cultura livremente. 

Uma trégua foi alcançada entre a Turquia e o PKK em 2013. Ela prolongou-se por dois anos, até a entrada do governo turco na luta contra o autointitulado Estado Islâmico (DAESH, ou ISIS, em sua sigla em inglês). A Turquia passou a bombardear não apenas bases do grupo extremista, mas também as posições do grupo PKK, que estava combatendo o DAESH ao norte do Iraque. Os ataques militares contra o PKK foram considerados pelos grupos curdos um instrumento político do partido governista AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), o qual pretendia alcançar a maioria parlamentar nas eleições no fim de 2015.

Essas eleições parlamentares de fato foram vencidas pelo AKP, partido do atual Presidente turco que recuperou a maioria no parlamento. O Presidente Recep Tayyip Erdogan está no poder desde 2002, foram onze anos como Primeiro-ministro e em 2014 ascendeu à presidência. Umas das principais características do mandato de Erdogan são suas declarações polêmicas e seu crescente autoritarismo. Em 2014, o Presidente afirmou que as famílias muçulmanas não devem usar métodos contraceptivos para controle familiar. Em 2016, Erdogan chegou a declarar que “mulheres que não possuem filhos são incompletas”. O autoritarismo de Erdogan ficou mais evidente depois da dúbia tentativa de golpe no país, em julho de 2016.

A tentativa do golpe de Estado envolveu várias facções do exército e serviu como uma pertinente justificativa para diversos atos autoritários, como a declaração do estado de emergência por três meses, expurgos no exército, prisão de pelo menos 21 mil professores, fechamento de 620 instituições universitárias e de diversos canais de comunicação. Em novembro de 2016, doze parlamentares pró-curdos foram presos, pois haviam se recusado a responder sobre acusações de terrorismo. Todos esses atos culminam na vontade de Erdogan em transformar a Turquia de um regime parlamentar para um presidencialismo, o que permitiria estender seu mandato até 2029

A questão presidencialista será decidida em um referendo popular em 16 de abril. Se o projeto for aprovado, o Presidente conseguirá governar sem consultar o parlamento em relação a assuntos de competência executiva. Ele também poderá nomear os altos escalões militares, chefes de inteligência, reitores universitários e juízes de altas instâncias. Comunidades curdas fora da Turquia já manifestaram seus posicionamentos em relação ao referendo. Nesse mês de março, em Frankfurt, cerca de 30 mil curdos que moram na Alemanha marcharam a favor do “não” ao presidencialismo, justificando que esse regime apenas pioraria a situação curda na Turquia. 

Um regime presidencialista sob comando de Erdogan afetaria negativamente as reivindicações dos grupos curdos. No parlamento, o Partido Democrático dos Povos (HDP) é a terceira maior força política e o principal defensor democrático dos curdos. Com a prisão dos doze de seus parlamentares, fazer uma oposição ao presidente fica cada vez mais difícil, e como consequência, a luta armada do PKK contra o governo turco tende a ser mais intensa.

* Devlin Biezus é internacionalista, egressa do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".
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quarta-feira, 29 de março de 2017

Direito Internacional em Foco: A nova Lei de Migração brasileira



A seção "Direito Internacional em Foco" é produzida por alunos do 3° período do Curso de Relações Internacionais da UNICURITIBA, com a orientação da professora de Direito Internacional Público, Msc. Michele Hastreiter, e a supervisão do monitor da disciplina, Matheus Walger Nascimento. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores e não refletem o posicionamento da instituição.


A nova Lei de Migração brasileira

Beatriz Contesini
Luís Gabriel Duisit
Paula Rocha


                      No dia 06 de dezembro de 2016, foi aprovado pela Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2516/15, que visa criar a Lei de Migração. Se o Senado repetir o veredicto e o projeto for sancionado pelo presidente, o projeto irá substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/80) e revogará a Lei da Nacionalidade (818/49). Levando-se em conta o momento histórico que o Brasil vive como membro da sociedade internacional, com um mundo cada vez mais globalizado e uma grave crise de refugiados, o que isso significa na prática?

                  Primeiro, é preciso que analisemos as leis atuais. O Estatuto do Estrangeiro foi promulgado no ano de 1980, durante o regime militar. Nesse período, a política do governo era bastante nacionalista, chegando a ser discriminatória e punitiva no texto do Estatuto. Logo no início do texto, é estabelecido que a entrada e a permanência de estrangeiros em território brasileiro está submetida aos interesses nacionais:

"TÍTULO I
 Da Aplicação
 Art. 2º Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurança nacional, à organização institucional, aos interesses políticos, socioeconômicos e culturais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional.
Art. 3º A concessão do visto, a sua prorrogação ou transformação ficarão sempre condicionadas aos interesses nacionais."
         
           Não há, em momento algum do título acima, menção aos direitos dos imigrantes, emigrantes ou eventuais refugiados. Já no Projeto de Lei de Migração:

"CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Seção I
Disposições Gerais
Art. 1º
Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:
I – migrante: pessoa que se desloca de país ou região geográfica ao território de outro país ou região geográfica, incluindo o imigrante, o emigrante, o residente fronteiriço e o apátrida;
II – imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil;
III – emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior;
IV – residente fronteiriço: pessoa nacional de outro país ou apátrida que conserva sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho;
V – visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente em território nacional;
VI - apátrida: pessoa não considerada por qualquer Estado, conforme sua  legislação, como seu nacional, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002.
§ 2º São plenamente garantidos os direitos originários dos povos indígenas e das populações tradicionais, em especial o direito à livre circulação em terras tradicionalmente
ocupadas."

                 São notáveis as diferenças nas formas de tratamento dos não nacionais entre o Estatuto e o Projeto. O primeiro é decididamente nacionalista e prioriza a segurança e os interesses nacionais, chegando a ter caráter punitivo em algumas seções. O segundo concentra-se primeiramente na garantia de direitos, tanto aos nacionais quanto aos estrangeiros, e no combate à discriminação. Uma das raízes dessa diferença certamente diz respeito ao contexto histórico da elaboração de cada texto. No momento em que o Projeto 2516/15 foi formulado, eclodia uma crise de refugiados com proporções jamais vistas antes, em que os solicitantes de refúgio têm morrido em massa durante a fuga de seus países de origem e, quando conseguem sobreviver, não têm certeza de que terão um futuro digno, com direitos humanos básicos respeitados. Portanto, faz-se necessário que a sociedade internacional se adapte a esses tempos para oferecer asilo ao máximo número de imigrantes possível, uma vez que refugiados não deixarão de entrar e viver no país se sua entrada e permanência for proibida; apenas entrarão de forma ilegal e isso causará problemas futuros ao país, aos próprios refugiados e aos seus descendentes. A priorização da acolhida aos refugiados é, antes de tudo, uma adaptação humanitária aos tempos em que vivemos.

                 Em 1980, além de não haver uma crise de refugiados, havia uma situação em particular que hoje não existe mais: a censura aos meios de comunicação. O país vivia em uma ditadura e existia uma preocupação por parte do governo que um imigrante pudesse fomentar instabilidade se exercesse atividade midiática ou intelectual:

"Art. 106. É vedado ao estrangeiro:        
II - ser proprietário de empresa jornalística de qualquer espécie, e de empresas de televisão e de radiodifusão, sócio ou acionista de sociedade proprietária dessas empresas;
III - ser responsável, orientador intelectual ou administrativo das empresas mencionadas no item anterior;
(...)
VII - participar da administração ou representação de sindicato ou associação profissional, bem como de entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada;
                                                                   (...)          
IX - possuir, manter ou operar, mesmo como amador, aparelho de radiodifusão, de radiotelegrafia e similar, salvo reciprocidade de tratamento;"

  Tais proibições não têm mais razão de ser fora do contexto da ditadura militar que vigorou até 1985 e, portanto, estão fora do Projeto de Lei Migratória, que assegura direitos iguais aos estrangeiros e nacionais, com exceção da posse de certos cargos públicos. Isso se trata sem dúvida alguma de um avanço, uma vez que esses artigos são obsoletos e sua invalidade consolidará a liberdade de expressão. É absolutamente descabido proibir estrangeiros de exercer profissões que possam estimular a formação de opiniões no contexto de uma democracia.

 Tomando os exemplos acima dados, é possível inferir que, enquanto a prioridade do Estatuto do Estrangeiro de 1980 era garantir a segurança nacional e a estabilidade do regime militar, a natureza do Projeto de Lei Migratória é essencialmente humanitária. Há também um capítulo dedicado aos direitos dos emigrantes – que não são mencionados no Estatuto de 1980. Essa nova seção, criada para facilitar a repatriação e garantir os direitos dos brasileiros fora do Brasil, é mais um reflexo do contexto atual de um mundo cada vez mais globalizado. Há mais de um milhão de brasileiros vivendo fora do país e muitos enfrentam dificuldades no que concerne ao retorno. Em menor escala, não havia muita margem para a garantia de direitos aos emigrantes quando o Estatuto do Estrangeiro foi criado, uma vez que muitos desses emigrantes eram exilados ou auto exilados por perseguição política e corriam risco de vida caso decidissem retornar ao Brasil. Essa situação deixou de existir com o fim da ditadura militar, o que é mais um motivo para dar atenção aos brasileiros expatriados. Há ainda reflexos dessa preocupação nos novos critérios de concessão da nacionalidade brasileira, que exige um tempo de residência ligeiramente menor para a concessão da naturalização ordinária, elimina a necessidade de se abrir mão da nacionalidade de origem e extingue certas exigências para o processo, bem como diminui o número de casos em que haverá perda de nacionalidade, restringindo-os à condenação transitada em julgado nos termos constitucionais. Na Lei da Nacionalidade vigente, a nacionalidade brasileira pode ser cassada se o nacional em questão adquire outra nacionalidade de forma voluntária (art. 22.1) ou "aceita, sem a permissão do Presidente da República, comissão, emprego ou pensão de governo estrangeiro" (art. 22.2).

 Nota-se também uma flexibilização maior dos requisitos para a obtenção de asilo, refúgio e aquisição de nacionalidade. Não há dúvidas de que facilitar a entrada e a permanência legal de refugiados, bem como possibilitar a regularização de imigrantes ilegais – o que não é possível pelo artigo 38 do Estatuto do Estrangeiro - é importante no contexto atual. As regras agora vigentes estão obsoletas e não servem bem à situação atual. Mas há uma ressalva: a crise dos refugiados é acompanhada por um enorme aumento no número de atentados terroristas pelo mundo. Facilitar a entrada de estrangeiros poderia então facilitar a entrada de terroristas no país, uma vez que o próprio grupo autodenominado Estado Islâmico confessa ter infiltrado militantes entre os refugiados saídos da Síria e do Iraque?

 Essa pergunta pode parecer preconceituosa, mas é pertinente, uma vez que muitas pessoas a tem em mente e muitas outras pessoas morreram em atentados ao redor do mundo. Certamente, porém, isso não é motivo suficiente para impedir a entrada de todos os refugiados ou criar condições discriminatórias para indivíduos com certa confissão religiosa ou nacionalidade. É impossível determinar uma regra a ser aplicada para barrar apenas aqueles que vêm com intenções violentas, uma vez que é também impossível diferenciar esses indivíduos dos demais a partir de seus documentos ou sua nacionalidade. Lidando com seres humanos, não é justo que os atos de uma minoria sirvam como precedente para tolher os direitos de uma maioria, especialmente quando esta massa já está sendo oprimida e perseguida em seus países de origem. Isso iria contra tudo o que pregam os Direitos Humanos, que são muito prezados na Constituição vigente e no próprio Projeto 2516/15.

Há meios mais eficazes de prevenir atentados terroristas e o aumento de outros tipos de crimes. Um exemplo deles é dado pela Finlândia. Após o início do acolhimento aos refugiados, o país viu o número de ataques sexuais aumentar e as autoridades governamentais concluíram que isso se devia às diferenças culturais entre os nacionais e os estrangeiros vindos de sociedades mais conservadoras. Então, o Ministério do Interior finlandês passou a financiar aulas de integração aos imigrantes vindos de tais sociedades. Essas aulas referem-se especialmente às formas de tratar as mulheres no país, mas poderiam facilmente ser adaptadas para também reverter a radicalização de militantes e até mesmo ajudar os não-militantes a se integrarem à sociedade brasileira.

          A necessidade de se alterar certas regras imigratórias e criar condições mais adequadas ao contexto que vivemos atualmente é inegável e urgente. O Projeto de Lei Migratória 2516/15 cumpre esse papel - ainda que não o faça de forma perfeita. É, também, mais ajustado aos preceitos humanitários pregados pela Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã do que o retrógrado Estatuto de 1980. É possível então inferir que, mais do que responsabilidade e protagonismo na crise de refugiados, a natureza do projeto é também uma questão de coerência com a Carta Magna. Se efetivamente aprovado, seu  maior desafio será garantir que suas belas palavras serão realmente cumpridas e aplicáveis na prática. E isso só será possível com a vigilância e o zelo constantes das autoridades competentes.



Fontes:

                                            
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terça-feira, 28 de março de 2017

Análise em Política Externa e Relações Internacionais: Análise do discurso e conteúdo dos discursos de Barack Obama e Justin Trudeau at the White House.

Análise de discurso apresentada na disciplina de Análise em Política Externa e Relações Internacionais do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, orientado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon.



*Camila Ersina



Os discursos analisados se deram em Washington e foi a primeira vez em 20 anos que um Primeiro Ministro canadense fez uma visita oficial aos Estados Unidos.
A visita foi feita pelo Primeiro Ministro Justin Trudeau, sua esposa Sophie Grégoire-Trudeau, seus três filhos e todo o restante da delegação canadense que os acompanhava. O discurso em si, de duração equivalente a quinze minutos, foi dividido entre Obama e Trudeau, ambos posicionaram-se de maneira similar, buscaram passar sua mensagem com um tom de leveza, amizade e esperanças de um futuro próspero e compartilhado pelas duas nações.
É sabido que os dois países são os maiores parceiros econômicos em escala mundial, e é também entre eles que existe a fronteira que possui menos conflitos por um maior tempo de duração, ambos dependem muito economicamente um do outro, sendo o Canadá um país exportador (especialmente de petróleo), há diversos acordos de tarifas alfandegárias entre Canadá e os Estados Unidos. Com essa visita, ambos os chefes de Estado reforçaram em seus discursos a necessidade de manter esses laços econômicos e de aprimorá-los cada vez mais, para que ambas as economias cresçam, assim como Barack Obama confirmou dizendo ao fim de sua fala que "...Os países podem se unir para realizar ainda mais parcerias e trocas comerciais, gerando mais trabalhos para as populações de ambos os países e manter a segurança com a qual suas populações contam, para que vivam seguras em liberdade...". E Justin Trudeau também passa uma mensagem coordenando e alinhando-se à mensagem de Obama através do seguinte trecho de seu discurso "...Possuímos também preocupações em relação a tornar o mundo um lugar mais seguro, e sobre questões comerciais, o Canadá possui um plano de continuar expandindo a economia em favor da classe média e para isso temos investido em novas tecnologias, indústrias emergentes e criando novos empregos para aumentar a competitividade mundial, tudo isso para revitalizar a economia...".
Pode-se notar nossas duas falas que há um posicionamento comum e alinhado entre os dois países, mas não é apenas nesse sentido que suas ideologias convergem, na realidade a proximidade dos dois países vai muito além da longa fronteira que eles compartilham, há uma relação amigável entre eles de mais de sois séculos, e durante todo esse período houve apenas algumas divergências, como por exemplo a disputa nas regiões do Canadá no Mar do Norte e pelo direito de navegação no mar, o qual os Estados Unidos alegavam ser uma região de águas internacionais, enquanto o Canadá dizia ser uma região de mar interno. Todavia divergências como essa foram mínimas perto da história que esses países tem no sentido de serem aliados e de compartilharem valores, os quais ficam evidentes nas seguintes falas do discurso de Obama e Trudeau respectivamente "...Somos dois povos que nos identificamos e somos guiados pelos mesmos valores, incluindo o valor dado para a liberdade, cooperação entre os países ao lutarem lado a lado no Afeganistão, a condenação do terrorismo e por fim por acreditar nos direitos dos povos de se autodeterminarem..." e "...Como os Estados Unidos são nossos maiores parceiros comerciais e aliados mais próximos, o relacionamento entre os países sempre foi vital, nos mantendo parceiros, mas principalmente amigos. Apesar da história ser complexa, não há nenhum relacionamento no mundo inteiro como a amizade entre os dois países...".
Durante o discurso, é apresentado um plano comum à eles em relação ao combate às mudanças climáticas, as quais eles pontuam ter grande relevância e preocupação, como apresentado nas falas, novamente de Obama e Trudeau respectivamente "...Como companheiros, líderes e países representantes da ONU, lutamos pelos direitos humanos, pela paz e segurança. Anunciamos um projeto conjunto, discutido em Paris, sobre a mudança climática e o seu combate.." E "...É uma grande honra estar em Washington para discutir questões de relevância para os dois países como por exemplo a mudança climática para que as próximas gerações tenham um planeta mais limpo e saudável...".
As mensagens esperançosas e de certa forma audaciosas e ousadas são, no entanto incoerentes, dado que os dois países não seguem o preceitos do protocolo de Kyoto, diferentemente dos Estados Unidos, o Canadá até chegou a ratificar o protocolo, mas devido a questões internas governamentais, não o coloca em prática, sendo extremamente criticado pela opinião pública internacional.

Após essa análise contextual histórica e econômica, nota-se também que o conteúdo do discurso, como um todo, procura passar uma mensagem marcada pelo otimismo, leveza, descontração e esperança, evidenciado pelo tom de amizade, cordialidade, as piadas sobre o estereótipo canadense (vide a pergunta de Obama "Quem é melhor no hockey?"), o apelo feito pela busca de um mundo melhor e por fim a invocação, para que construam um futuro compartilhado. Nota-se também que os discursos não estavam alinhados apenas em conteúdo e ideologias, mas estavam também em sintonia em sua estrutura, isto é, no modo como foram elaborados, isso fica perceptível quando analisa-se as piadas feitas ao longo do discurso estrategicamente posicionadas para descontrair a população e o estratagema e a sutileza com a qual os representantes ornamentaram suas falas.

* Camila Ersina: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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segunda-feira, 27 de março de 2017

Por Onde Anda: Filipe Pech, bacharel em Relações Internacionais pelo UNICURITIBA, é assessor de Relações Internacionais da Prefeitura Municipal de Curitiba


A seção "Por onde anda" entrevista egressos do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA sobre experiências acadêmicas, profissionais e de vida concretizadas após o término do curso e é coordenada pela Prof. Michele Hastreiter e pela Prof. Angela Moreira.



Nome Completo: FILIPE D. P. C LOPES

Ano de ingresso no curso de Relações Internacionais: 2010

Ano de conclusão do curso de Relações Internacionais: 2013

Ocupação atual: Assessor de Relações Internacionais Gabinete do Prefeito Rafael Greca



     Blog Internacionalize-se: Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional após a formatura no curso de Relações Internacionais. 

Filipe Lopes: Assim que concluí o curso fiz uma viagem para Israel onde fiz uma Extensão em Protocolo e Cerimonial Internacional, me inscrevi num programa de Estágio no Knesset (Parlamento de Israel) e fui escolhido para estagiar no Cerimonial do Parlamento, onde tive a oportunidade de acompanhar diretamente as atividades dos parlamentares e do Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu.Logo após voltar de Israel, trabalhei por alguns meses como Assessor Parlamentar no Senado Federal e então recebi o convite do então pré-candidato à Deputado Federal Rafael Greca para trabalhar na coordenação de sua campanha e desde então integrei sua equipe até a vitória das eleições municipais de 2016.

Blog Internacionalize-se: Como foi o processo para sua nomeação ao cargo de Assessor de Relações Internacionais da Prefeitura de Curitiba?


Filipe Lopes: Após a vitória do prefeito Rafael Greca nas últimas eleições municipais recebi o convite para trabalhar na Prefeitura de Curitiba e fiz questão de exercer um cargo que fosse na minha área de formação.

Blog Internacionalize-se: Qual a importância dada as Relações Internacionais pela Prefeitura Municipal?
 
Filipe Lopes: Embora nos últimos anos a imagem internacional de Curitiba tenha se enfraquecido a cidade é indiscutivelmente uma das boas correspondências do Brasil internacionalmente. A cidade que já ganhou o Prêmio Mundial do Habitat da ONU e é exemplo de modal de transporte quer se reinventar e se tornar novamente vitrine no cenário internacional. Estamos buscando novas parcerias, reestreitando laços com as cidades irmãs e com os organismos internacionais para que em quatro anos sejamos novamente protagonistas de ações de inovação e referência na qualidade dos serviços públicos.

Blog Internacionalize-se: Como é o dia a dia no seu trabalho? Quais as principais atividades realizadas nesta assessoria?

Filipe Lopes: Bastante agitado. Além de acompanhar boa parte das agendas do Prefeito, fico em permanente contato com os demais Secretários Municipais, Corpo Consular, Empresas e delegações. Não falta trabalho!  Além de prestar assessoria pessoal ao Prefeito em âmbito internacional e na relação com o corpo consular, recebemos delegações internacionais que visitam a Cidade de Curitiba, fazemos acompanhamento dos projetos internacionais em Curitiba, cuidamos da relação com organizações internacionais e trabalhamos nas parcerias com cidades irmãs. Cidades irmãs são cidades que estreitam relações entre si com o objetivo de criar ações de parceria econômica e cultural, através das quais as cidades estabeleçam laços de cooperação e intercâmbio de expertise. Curitiba mantém irmandade com as cidades de Akureyri, Assunção, Changzhou, Coimbra, Cracóvia, Durban, Guadalajara, Hangzhou, Himeji, Jacksonville, La Plata, Montevidéu, Orlando, Santa Cruz de la Sierra, Suwon, Treviso. Estamos iniciando um processo de estreitamento de relações para uma nova irmandade com a cidade de Haifa.

 Blog Internacionalize-se: Como é o envolvimento das prefeituras municipais nas relações internacionais contemporâneas? Há algum tipo de influência da prefeitura na definição da política externa brasileira (federal)? 

Filipe Lopes: As prefeituras tem ganhado maior espaço no cenário internacional, principalmente no Brasil e mais ainda as grandes Capitais, como é o caso de Curitiba. Hoje as possibilidades de boas parcerias podem beneficias cidades irmãs com intercâmbio de expertise. Embora tenhamos ótima relação com a representação do Itamaraty no Paraná (EREPAR), a PMC não exerce influência nas decisões diplomáticas.


         Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o ajudam na sua profissão atual.


Filipe Lopes: O aprofundamento histórico que o curso proporciona além da capacidade de pesquisar, ouvir e compreender lados opostos.



      Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança mais marcante do período de faculdade?


Filipe Lopes: Com certeza os acalorados debates sobre os conflitos no Oriente Médio.


     Blog Internacionalize-se: Qual conselho deixaria para os nossos alunos?


Filipe Lopes: Ser insistente e ir sempre atrás do que gosta de fazer mesmo que as oportunidades pareçam distantes pois quando menos esperar elas aparecem.




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