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quinta-feira, 23 de junho de 2022

CÁTEDRA: Como o sentimento anti-imigrantista se manifesta na Europa (ou não) – reflexões sobre a atuação da União Europeia em crises migratórias

Homem exibe cartaz com a frase 'Ajude, Europa' enquanto centenas de imigrantes esperavam permissão para embarcar em trens em Budapeste 

Por Vítor Isac Gomes*

    A chegada de imigrantes ucranianos aos países europeus durante a guerra russo-ucraniana, que se estende desde fevereiro deste ano, nos leva a grandes questionamentos acerca da atuação da aliança europeia em situações de crises humanitárias e migratórias que, não por acaso e especificamente desde 2015, lida com ondas de imigração vindas do Oriente Médio e norte africano, principalmente sírios que há mais de uma década continuam em guerra civil. 
    Vítimas de um conflito há quase 4 meses no leste europeu e levada à frente pelo regime de Putin, milhões de ucranianos deixam suas casas e cruzam a fronteira principalmente em direção à Polônia. A União Europeia, logo após o início do conflito, adotou por unanimidade proteção temporária para pessoas que estão fugindo da Ucrânia e ampliou a decisão tanto aos cidadãos ucranianos bem como aos estrangeiros que estavam no território. Apátridas que tenham proteção internacional na Ucrânia e seus familiares que estivessem no país até 24 de fevereiro de 2022 – primeiro dia da invasão russa – também foram incluídos. É importante lembrar que apátridas são pessoas que não tem sua nacionalidade reconhecida por nenhum país e, portanto, não possuem direitos humanos básicos, e que a partir deste mecanismo, puderam ser reconhecidos no continente europeu com maior flexibilidade. 
    Em contra partida, desde o início dos protestos civis que reivindicavam maiores direitos democráticos ocorridos no mundo árabe e particularmente na Síria num período que ficou conhecido como Primavera Árabe, milhões de refugiados sírios se deslocavam para a Turquia, país que não faz parte da União Europeia, cruzavam o mediterrâneo e tentavam chegar à Europa pela Grécia que, ao contrário dos ucranianos, não foram recebidos de forma amigável, tão pouco com a formalização de mecanismos emergenciais com o objetivo de amparar os árabes fugidos da guerra. Episódio que explicita a escalada das políticas anti-imigração no velho continente se deu no acordo entre Turquia e o bloco europeu em 2016, fazendo com que todos os imigrantes que tentavam chegar à Europa pelas fronteiras com a Grécia, fossem mandados de volta ao território Turco, local que anteriormente em 2015 foi encontrado o corpo de um menino sírio morto na praia, chamando atenção não apenas da mídia ocidental, como também comoveu celebridades, líderes mundiais e o mundo todo. 
    Se de um lado a atual crise no leste europeu é aguda, movida pela comoção ocidental, com fluxo intenso de imigrantes em um curto período de tempo se deslocando para o leste da Europa e principalmente para países fronteiriços, do outro lado a crise árabe é crônica, com milhões de sírios se deslocando dentro e fora de seu território durante mais de uma década, enfrentando altíssima resistência de países europeus quanto ao seu acolhimento repousando em justificativas embasadas no medo do aumento de ataques terroristas, além de demonstrações preconceituosas em relação ao islamismo. Assim, em contraste com os ucranianos, segundo o premier búlgaro, Kiril Petkov, "os refugiados não são como os anteriores. Essas pessoas são europeias. Essas pessoas são inteligentes. São educadas. Não é como nas ondas anteriores. Não sabíamos sobre as suas identidades, dos seus passados. Podiam até ser terroristas". 
    O histórico europeu em crises migratórias é vergonhoso, marcado por declarações xenofóbicas de líderes e governos europeus reforçando o sentimento anti-imigrantista presente na Europa durante os anos de 2015 e 2016, mas que ainda hoje, se manifesta em pequenos grupos ultranacionalistas interessados em manter a identidade europeia tradicional. Há expectativa que a atual crise resultante da guerra entre Rússia e Ucrânia possa vir acompanhada de perspectivas positivas acerca da receptividade europeia caso outra crise maior se manifeste posteriormente. 

*Vítor faz parte da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, membro auxiliar do Centro Acadêmico de Relações Internacionais (CARI), membro do programa de Multiplicadores “Politize!” e escreveu o presente texto através da parceria entre o Internacionalize-se e a CSVM. 

Referências
TORTELLA, Tiago. União Europeia concede proteção temporária a refugiados da Ucrânia. CNN Brasil. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/uniao-europeia-concede-protecao-t emporaria-a-refugiados-da-ucrania>. Acesso em: 15 jun. 2022. 
PINOTTI, Fernanda. Como a Europa trata de forma diferente refugiados da Ucrânia e do Oriente Médio. CNN Brasil. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/como-a-europa-trata-de-forma-difer ente-refugiados-da-ucrania-e-do-oriente-medio/>. Acesso em: 15 jun. 2022. 
Agência da ONU para refugiados. Síria. Disponível em: <https://www.acnur.org/portugues/siria/>. Acesso em: 15 jun. 2022.
Da EFE. Acordo entre UE e Turquia sobre refugiados entra em vigor. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/acordo-entre-ue-e-turquia-sobre-r efugiados-entra-em-vigor.html>. Acesso em: 15 jun. 2022. 
CHACRA, Guga. Qual a diferença entre refugiados sírios, ucranianos e afegãos?. O Globo. Disponível em: <https://blogs.oglobo.globo.com/guga-chacra/post/qual-diferenca-entre-refugiad os-sirios-ucranianos-e-afegaos.html>. Acesso em: 15 de jun. 2022. 




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segunda-feira, 7 de março de 2022

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 28/02 a 06/03

Por Manuela Paola

  • Ucrânia e Rússia
    O conflito entre Rússia e Ucrânia segue sem perspectiva de um fim. As últimas notícias informam que, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a Rússia promoveu ataques contra quatro hospitais na Ucrânia, logo nos primeiros dias do conflito. Os números confirmam que foram feridos, pelo menos, 11 pessoas e seis outras morreram. Desde o começo da invasão, foram fechados 34 hospitais ucranianos, de acordo com o Ministro da Saúde Viktor Lyashko. 
    Na Rússia, as proibições continuam. A rede social Tik Tok passou a proibir publicações de vídeos no país, com o objetivo de proteger os usuários, por conta da nova lei que foi aprovada na última sexta-feira (4), prevendo punições a quem publicar e disseminar o que o governo pode considerar como fake news envolvendo as forças armadas do país. 
    As bandeiras de cartões de crédito, como Visa, Mastercard e American Express também suspenderam as operações na Rússia. Como alternativa, o país passou a utilizar a bandeira chinesa UnionPay, considerada a maior rede de cartões do mundo. Mesmo sendo oficialmente aceita em diversos países, ela não é tão comum na Europa, já que algumas máquinas não aceitam a bandeira. Os cartões Visa emitidos na Rússia não funcionarão mais fora do país - mas funcionarão domesticamente até a data do vencimento - assim como os cartões que foram emitidos em outros locais não podem mais ser utilizados dentro do país. 
  • Brasil
    Apesar da recusa do governo brasileiro em se pronunciar contra o conflito entre Rússia e Ucrânia, um deputado estadual de São Paulo, Arthur do Val, atraiu a atenção da mídia internacional após o vazamento de áudios do político sendo extremamente desrespeitoso com mulheres ucranianas. O deputado foi até à Ucrânia para acompanhar a guerra de perto. Na mensagem de voz do youtuber conhecido como “Mamãe Falei”, ouvimos que “[as ucranianas] são fáceis porque são pobres”, além de outros comentários sobre a aparência física das mulheres que fogem do conflito. Você pode ouvir o aúdio completo nessa matéria da Uol. Diversos veículos de comunicação, além de políticos nacionais e internacionais, comunicaram a sua indignação ao ouvir a mensagem sexista do político. Após o escândalo, Arthur do Val retirou sua candidatura ao governo de São Paulo. 

  • Europa
    Um ataque cibernético contra satélites da Viasat deixou milhares de pessoas sem internet na última sexta-feira (4). De acordo com a operadora francesa Orange, 9.000 pessoas perderam sua conexão após o ocorrido. Outra operadora, com cerca de 50.000 assinantes na Europa, relatou o mesmo problema. 
    O conflito entre Rússia e Ucrânia pode causar um aumento desses ataques, que terão consequências não apenas nos países envolvidos na guerra, mas também no resto do mundo, de acordo com especialistas. 

  • Polônia

    Um gesto emocionante e sensível foi visto em uma estação de trem em Przemysl, na Polônia. Carrinhos de bebês foram deixados na plataforma da estação, para ajudar mães e pais ucranianos que cruzaram a fronteira fugindo da guerra. Os carrinhos continham, também, objetos úteis para as crianças, como cobertores. A mesma atitude foi registrada em uma cidade da Eslováquia. 



Referências
COMENTÁRIOS sexistas de de deputado Arthur do Val têm repercussão internacional. UOL. 06 MAR. 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2022/03/06/comentarios-sexistas-de-de putado-arthur-do-val-tem-repercussao-internacional.htm
O que é UnionPay, bandeira de cartão de crédito chinesa adotada na Rússia após Visa e Mastercard suspenderem operações. G1. 07 mar. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/03/07/o-que-e-unionpay-ban deira-de-cartao-de-credito-chinesa-adotada-na-russia-apos-visa-e-mastercard-suspe nderem-operacoes.ghtml
Tik Tok suspende qualquer publicação de vídeos na Rússia após novas leis. Uol. 06 mar. 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2022/03/06/tiktok-suspende-qualquer-pu blicacao-de-videos-na-russia-para-novas-leis.htm
RÚSSIA atacou hospitais e matou profissionais de saúde e pacientes, diz OMS. G1. 06 mar. 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/03/06/russia-ataca-hos pitais-diz-oms.htm
ATAQUE cibernético deixa milhares sem internet na europa. G1. 04 mar. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/03/04/ataque-cibernetico-deixa-milhare s-sem-internet-na-europa.ghtml
AS Ukraine moms flee to Poland amid war, they're greeted by gifts of baby strollers. FOX NEWS. 07 mar. 2022. Disponível em: https://www.foxnews.com/lifestyle/ukraine-moms-poland-war-baby-strollers.


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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Guerra, paz e saúde: a necessidade do cessar-fogo em meio à pandemia


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia do COVID-19 já atingiu a marca de 2 milhões de pessoas infectadas e o número de mortos, infelizmente, já beira os 170 mil, — expondo a fragilidade de nosso sistema e a necessidade de aperfeiçoamento em diversas áreas da sociedade. A pandemia tem tomado conta dos principais noticiários, que, incansavelmente, reproduzem números e estimativas do novo coronavírus, alertando sobre os perigos da doença e indicando formas de prevenção, o que tem silenciado outros inúmeros problemas no planeta, fazendo-nos esquecer do mundo que há para além do nosso isolamento. Foram apagadas do noticiário questões como o refúgio, a violência doméstica e a guerra, o que acaba nos distanciam da realidade dolorosa de muitas pessoas. 

Esse é o caso da guerra na Síria, cujos acontecimentos foram objeto de reportagens e comoção ao redor do mundo desde o seu início em 2011, mas que em meio a pandemia acabou caindo em esquecimento, quase como se subitamente o país entrasse numa paz duradoura — o que definitivamente não aconteceu. A guerra no país já dura 10 anos e até agora deixou cerca de 384 mil mortos e pelo menos 25 milhões de refugiados, mostrando a imensidão de seus efeitos e a vulnerabilidade em que se encontra a sua população. De acordo com a Médicos Sem Fronteiras, o sistema de saúde sírio está em colapso e as condições de vida e higiene não são capazes de suportar uma emergência como o novo coronavírus. Não é, no entanto, somente a Síria que se encontra em meio ao caos causados pelos conflitos armados: segundo o Uppsala Conflict Data Program, em 2018 os números de conflitos armados estatais e não estatais somavam 130, e os números de mortes totalizaram 72 495 vítimas.

 Da mesma forma, dados do Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), indicam que em 2019 os eventos de violência política chegaram a 91 448, enquanto as mortes em razão desses eventos somaram um total de 126 047 fatalidades no mesmo ano. Ainda conforme o ACLED, os países focos dos conflitos armados em 2019 foram a Síria, a Ucrânia, o Afeganistão, o Iêmen, a Índia, a Nigéria e a Somália, sendo que a Síria teve o maior número de eventos de violência política em 2019, enquanto o Afeganistão registrou o maior número de mortes em razão de conflitos armados. Além disso, conflitos com início mais recente se intensificaram, como é o caso do Myanmar e da República Democrática do Congo, expondo mais uma vez a fragilidade da paz. 

O desafio que a COVID-19 apresenta aos países é imenso, e, se até mesmo nos países desenvolvidos há dificuldade em controlar a pandemia, a ameaça é ainda maior em Estados em guerra. Isto porque os conflitos armados afetam diretamente os sistemas de saúde desses países, e o enfraquecimento do sistema é inevitável nessas situações. Além disso, o escasso acesso a itens básicos de higiene, como a água, dificulta a prevenção de doenças e colocam em risco a saúde de suas populações de maneira significativa.

Assim, urge a necessidade de ações de paz e diplomacia, de modo que as populações não sejam ainda mais expostas ao novo perigo que a pandemia representa. Nesse sentido, no último mês o secretário-geral da ONU, António Guterres, veio a público pedir um cessar-fogo global. Em seu pronunciamento, Guterres ressalta a continuidade de inúmeras as lutas e guerras ao redor do mundo mesmo com a pandemia em plena expansão. O secretário-geral fala ainda sobre as consequências econômicas e políticas da pandemia que intensificam conflitos em curso e colocam em risco a frágil paz de algumas localidades, o que dificultaria a luta contra o novo coronavírus. Num esforço pela paz, juntaram-se ao porta-voz das Nações Unidas figuras de alto escalão, como o Papa Francisco, que durante a celebração de uma Missa, reforçou a necessidade de um cessar-fogo, ressaltando a importância do diálogo na resolução de conflitos. Além do Pontífice, a União Europeia declarou apoio ao cessar-fogo na Síria, assim como o presidente francês Emmanuel Macron. 

É claro que a construção da paz não é simples, e em sua fala, Guterres reconhece as “enormes dificuldades” na implementação de uma trégua para deter conflitos que se deterioram há anos, nos quais “a desconfiança é profunda”. Ainda assim, após o apelo de António Guterres, diferentes atores de países em conflito declaram apoio ao cessar-fogo — mesmo que temporariamente — como foi o caso de grupos rebeldes no Camarões e nas Filipinas, do O Exército de Libertação Nacional na Colômbia, e da coalizão militar liderada pela Arábia Saudita no Iêmen, que também declarou um cessar-fogo temporário. 

Contudo, não bastam discursos para a concretização da paz, uma vez que os efeitos dos conflitos armados são reais e não apenas discursivos. Assim, apesar das dificuldades enfrentadas na execução de ações para a paz, a resolução desses conflitos se faz indispensável na contenção do vírus e na proteção da vida. Dessa forma, os esforços devem ser mútuos e concretos, não se restringindo somente à palavras, mas em ações em prol da sua rápida solução diplomática — sendo o cessar-fogo um primeiro passo para a paz.

Referências
ARTIGO: Apelo a um cessar-fogo mundial. Nações Unidas. 23 de março de 2020. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/artigo-apelo-a-um-cessar-fogo-mundial/>.
Chefe da ONU pede mais esforços diplomáticos para atingir cessar-fogo em meio à pandemia. Nações Unidas. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-pede-mais-esforcos-diplomaticos-para-atingir-cessar-fogo-em-meio-a-pandemia/>.
Coalizão dirigida por Riade no Iêmen anuncia cessar-fogo por coronavírus. Estado de Minas Internacional. 08 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/04/08/interna_internacional,1137085/coalizao-dirigida-por-riade-no-iemen-anuncia-cessar-fogo-por-coronavir.shtml>. 
Covid-19: Bruxelas defende cessar-fogo na Síria. Plataforma Média. 30 de março de 2020. Disponível em: <https://www.plataformamedia.com/pt-pt/noticias/politica/covid-19-bruxelas-defende-cessar-fogo-na-siria-12003461.html>. 
COVID-19: Urgent action needed to counter major threat to life in conflict zones.  International Committee of the Red Cross. Disponível em: <https://www.icrc.org/en/document/covid-19-urgent-action-needed-counter-major-threat-life-conflict-zones>.
Francisco reitera apelo por cessar-fogo global. Vatican News. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-angelus-pede-fim-guerras.html>. 
Guerra na Síria entra no 10° ano com Bashar al-Assad refém de seus aliados. G1. 15 de março de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/03/15/guerra-na-siria-entra-no-10deg-ano-com-bashar-al-assad-refem-de-seus-aliados.ghtml>. 
ONU reporta primeiras respostas positivas a apelos de cessar-fogo. Estado de Minas Internacional. 26 de março de 2020. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/26/interna_internacional,1132822/onu-reporta-primeiras-respostas-positivas-a-apelos-de-cessar-fogo.shtml>.
Por coronavírus, guerrilha colombiana decreta cessar-fogo. G1. 30 de março de 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/03/30/por-coronavirus-guerrilha-colombiana-decreta-cessar-fogo.ghtml>.
Síria: o impacto que a COVID-19 pode ter em Idlib. Médicos Sem Fronteiras. 09 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.msf.org.br/videos/siria-o-impacto-que-covid-19-pode-ter-em-idlib>.
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sábado, 4 de janeiro de 2020

Em pauta: A Crise entre Estados Unidos e Irã, explicada pelo Professor Andrew Traumann








As tensões entre Estados Unidos e Irã não vem de hoje, mas o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani em um bombardeio americano no aeroporto de Bagdá na data de ontem provocou uma onda de reações na comunidade internacional. 

Para melhor explicar a situação e seus possíveis desdobramentos, ninguém melhor do que o Professor de História das Relaçãos Internacionais, Andrew Traumann - grande referência quando o assunto é o  Oriente Médio e, em especial, o Irã. 

Confira o vídeo preparado pelo professor.








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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Me indica um filme: Sob a névoa da Guerra


Por JESSICA DE LIMA WHITTLE e SABRINA HATSCHBACH MACIEL*



Onze lições são comentadas no documentário ‘Sob a névoa da guerra”, e quem as discute é a controversa figura de Robert S. McNamara. Secretário de Defesa do governo dos Estados Unidos entre os anos de 1961 e 1968, sob as administrações de John F. Kennedy e Lyndon Johnson, McNamara foi profundamente envolvido na Guerra no Vietnã, tendo sido descrito como seu “arquiteto”. O documentário relembra a vida, as conquistas e derrotas de McNamara, retomando fatos sobre a segunda guerra mundial, mas especialmente sobre a guerra no Vietnã. Enquanto aos, então, 85 anos de idade, McNmara reflete, no documentário, sobre suas ações - e as ações de seu país - durante os conflitos por ele vivenciados, e, em meio a esta análise, é introduzido estas 11 “lições”, e algumas serão analisadas neste trabalho.
A primeira lição declara “Tenha empatia com seu inimigo”; e a segunda “Racionalidade não nos salvará”, sendo estas mais exploradas aqui devido sua relação com as ideias de Thomas Schelling sobre o Realismo Estratégico.
A primeira lição dita por McNamara foi pormenorizada pela sentença: “Devemos nos colocar na pele deles, e olhar para nós com os olhos deles, para entender a ideia por trás das decisões e dos atos”. McNamara propõe estas conclusões após anos de observação frente as estratégias, as quais ele foi partícipe, durante as guerras. Ao voltar esta dedução aos olhos do Realismo estratégico de Thomas Schelling, é possível assimilar sua compatibilidade. Schelling foi um economista norte americano, era também professor de política externa e estrategista, discutindo sobre a problemática nuclear, sendo muito influenciado pelo seu contexto de vivência, a Guerra Fria.
Entre os estudos de Schelling, este discorre sobre diplomacia/barganha. O que seria uma diplomacia que pode vir a ter uma aspecto de “suja” – podendo se fazer pela ameaça e coerção - na qual não se trate sobre o ideal para as duas partes, mas sim o melhor para ambas. Para ter este poder de barganha, o autor afirma que é preciso conhecer o seu adversário, o que ele aprecia e o que o assusta. A conclusão de McNamara sobre, de fato, a importância do conhecimento do interesse do outro, para que o Estado realize esta diplomacia, é exemplificada com o sucesso do conhecimento que Thompson tinha sobre Krushchev na crise do mísseis. Por outro lado, o antigo secretário de defesa afirma que, durante a Guerra no Vietnã, os americanos não conheciam os Vietnamitas o suficiente para se colocar na pele deles e compreender suas verdadeiras intenções, gerando mal-entendidos que, possivelmente, estenderam a guerra e trouxeram malefícios para ambas nações.
Sob outra perspectiva, frente a crise dos mísseis em Cuba, analisa-se a segunda lição proposta por McNamara: “A racionalidade não nos salvará”. Nesta perspectiva, o Americano discorre sobre como, em realidade, foi sorte que preveniu uma guerra nuclear. Mesmo tendo líderes racionais, que possuíam a consciência que um conflito com ogivas nucleares causaria destruição total de suas sociedades, no contexto de extrema pressão e antagonismo competitivo, a experiência de um conflito não foi prevenido exclusivamente pela racionalidade daqueles que tinham poder de decisão. O realismo estratégico de Schelling não coaduna com esta conclusão de McNamara.
Thomas Scehlling, ao destacar a importância da tomada de decisões na política externa, ensina que as funções diplomáticas tem de ser efetivadas por meio de atividades racionais e instrumentais – estratégia. McNamara afirma a valia da diplomacia feita para evitar a crise dos mísseis, mas conclui que, em realidade, foi a sorte que preveniu um destino que teria sido desastroso para todos. Esta visão está em desacordo com o que conclui-se de Schelling, mas também com a maioria da Teoria Realista das Relações Internacionais, que dispõe sobre o âmago da intenção Estatal é o interesse próprio, o qual deveria ser baseado em uma racionalidade, que pressuporia um cálculo de vantagens e custos. O custo da aniquilação de sociedades não foi considerado quando a racionalidade – quase – não preveniu uma guerra nuclear.
Ademais, entre outras lições de McNamara que intentamos destacar nesta analise está o terceiro ponto, “existe algo além você mesmo”. Nações possuem seus próprios interesses - e neste momento do documentário McNamara cita as visões militares Norte-americanas, que não consideravam perspectivas de outros Estados. Como exemplo, entre estes interesses nacionais estariam, como um dos casos apresentado no documentário, os EUA invadir o Vietnã e entrar em guerra, isso iria se concretizar, mesmo que a atendando contra a soberania do outro, ou atingindo a população, logo que, como citado por Edward Carr (autor de Relações Internacionais que debate o Idealismo moderno), onde não há uma anarquia internacional atuando acima da soberania dos Estados, o que os guia é a busca pelo poder.
          Por fim, vale brevemente citar as demais lições descritas por Robert McNamara. O quarto ponto “maximize a eficiência”, e o quinto, “proporcionalidade dever ser uma orientação da guerra”, McNamara nos remete aos bombardeios, durante a segunda guerra mundial, dos EUA as ilhas japonesas. Pela desnecessária morte de pessoas, tanto civis quanto militares atacando, é importante equilibrar o desejo de eficiência com as necessidades e objetivos. McNamara sugere que os danos causados em uma guerra devem ser proporcionais aos objetivos de cada um, a proporcionalidade é um conceito crítico.
          No sexto ponto, “obtenha os dados”, fica explícito que para tomar boas decisões, não podemos simplesmente depender da racionalidade ou de nossos dons intelectuais. McNamara afirma que, para tomar boas decisões, é necessário obter dados. Afirmando isso, o sétimo argumento, “acreditar e ver, os dois podem falhar”. O incidente do Golfo de Tonkin, apresentado no documentário, em que, os EUA foram para a guerra fundamentado em informações errôneas, deixa claro que é imprescindível um estudo cauteloso sobre o caso.
          O oitavo ponto, “esteja preparado para reanalisar seu pensamento”, surge em complemento ao anterior, alegando que cometemos erros, e consequentemente temos que estar preparados para reanalisar o nosso raciocínio. Não podemos considerar os princípios morais de um Estado princípios universais, pois essa atitude instigaria novos conflitos. Continuamente, “Para fazer o bem, você pode ter que se envolver com o mal”, o nono ponto nos mostra que, McNamara sabia a crueldade que circunda violência, e não nega a existência de crueldade em um contexto de Guerra. Impõe a pergunta, “quanto mal tem de ser feito para que possa ser feito o bem?”. Reconhece ser este um posicionamento extremamente difícil ao ser humanos, e afirma que a violência deveria ser levada ao seu grau mínimo.
O décimo argumento, “nunca diga nunca”, relata que, a névoa da guerra, combinada com a imprevisibilidade humana, pode criar resultados ou apresentar oportunidades que ninguém poderia prever. Se esta lição é útil na guerra, é ainda mais útil para preveni-la. Durante a crise dos mísseis de Cuba, a maior parte do gabinete, incluindo o próprio Presidente Kennedy, não acreditava que a União Soviética removeria seus mísseis sem o uso da força militar. Thompson discordou e, Kennedy confiou em seu julgamento. Como resultado, as superpotências evitaram a guerra nuclear. Seria sábio recordar que a melhor maneira de ganhar uma guerra é evitá-la, buscando uma solução diplomática.
          Por fim, a décima primeira lição, “você não pode mudar a natureza humana”, exprime o pensamento de que, os Estados são guiados pelo darwinismo político, onde o estado de natureza do sistema internacional seria um estado de guerra contra todos e contra tudo, sendo a motivação a busca pelo poder. Seguindo esta linha de pensamento, para garantir a estabilidade no sistema internacional, seria de extrema importância o procedimento de equilíbrio do poder, primordial para corrente realista das relações internacionais.
Robert McNamara ficou conhecido por muitos como o “Arquiteto” da Guerra do Vietnã. Foi estrategista em duas guerras, tendo trabalhado ao lado do General Curtis LeMay, um dos principais dirigentes dos atrozes bombardeios a Tóquio na segunda grande guerra, e tendo sido secretário de defesa dos Estados Unidos durante parte de outro conflito. Ou seja, é possível concluir que McNamara vivenciou inteiramente a realidade estratégica e política do que é uma guerra. Ao analisar suas lições comentadas no documentário, é possível concluir apenas a incerteza da guerra. Sendo uma realidade muito complexa, mesmo com planejamentos, dados e estratégias, as vezes nem mesmo a racionalidade humana pode prevenir as barbáries de um conflito, e uma vez este instaurado, seu direcionamento também pode ser incerto, sempre coberto pelo que McNamara chama de “a névoa da guerra”. 

*Acadêmicas do segundo período de Relações Internacionais, em trabalho orientado pela Professora Janiffer Zarpelon. 








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domingo, 28 de julho de 2019

Me indica um filme: O Pianista e sua importância no tempo presente








Por Manuella Paola




“Se nos espetardes, não sangramos?
Se nos fizerdes cócegas, não rimos?
Se nos derdes veneno, não morremos?
E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos?”

            O trecho da obra O Mercador de Veneza, de Shakespeare, citado por Henryk, o irmão do protagonista, relaciona-se com todo o sofrimento pelo qual a família Spilzsman passou na Polônia da Segunda Guerra Mundial. O filme nos mostra que a intolerância para com os judeus começou de forma não tão sutil: primeiro, cada família só poderia possuir 2.000 zlotys, a moeda local; o que sobrasse deveria ser entregue aos alemães. Depois, eles eram obrigados a usar uma faixa ao redor do braço, com a estrela de Davi costurada. Os que a portavam e não comprimentavam oficiais nazistas nas ruas da Varsóvia, eram espancados abertamente - e ninguém movia um dedo para impedir. Em seguida, as violações contra a vida dessas pessoas foram ficando cada vez mais à vista: os judeus foram forçados a se mudarem para uma área delimitada pelos alemães, que logo após construíram um muro ao redor dos apartamentos, dando início aos guetos. Eles podiam sair dali e andar livremente por sua cidade? De forma alguma. Quem saísse sofreria graves consequências.

            Durante todo o filme, Adrien Brody interpreta o pianista Wladyslaw Szpilman com tanta sinceridade e emoção que é impossível não ficar tocado. Sua solitária jornada é angustiante e deixa o espectador com o coração na mão, esperando que a qualquer momento ele seja capturado e enviado para um dos temidos campos de concentração - que eram vendidos como campos de trabalho, onde as pessoas teriam uma vida melhor. A situação do pianista melhora (aliás, não piora, pois é difícil ver alguma positividade num momento como o dele) pois ainda havia boas pessoas em Varsóvia. Alguns amigos o ajudaram a se esconder, em diferentes localizações, para que os nazistas não o encontrassem. Depois de um tempo, Wladyslaw passou a se esconder em prédios destruídos pela guerra.

            Varsóvia já não era a mesma, e nem o pianista era o mesmo homem alegre de antes da guerra. Sozinho e com fome, a força que Wladyslaw deve ter tido para passar por toda aquela provação é inimaginável e nos faz pensar que nenhum ser humano deveria sofrer dessa maneira. Baseado em fatos reais, a mensagem de O Pianista é clara: não devemos nunca nos esquecer das atrocidades que foram cometidas contra um grupo de pessoas apenas pela escolha da sua religião. Sabe-se que ainda há muito preconceito contra diversos grupos - raça, orientação sexual, nacionalidade. Mas o que deve permanecer em nossas mentes é que não foram apenas monstros que permitiram que o Holocausto acontecesse. Foram, também, pessoas normais, que simplesmente escutaram o que um louco disse e não fizeram nada a respeito. Esse erro não pode se repetir.

            O Pianista é baseado na autobiografia homônima de Wladyslaw Spilzman e dirigido por Roman Polanski, que teve os pais mandados para campos de concentração. É um filme que toca nossos corações, através da música e do sofrimento. É um filme que nos faz perceber a força das pessoas que passaram por essa angustiante e triste situação e deixa uma pergunta em aberto: onde elas encontraram essa determinação para viver? Talvez a centelha de esperança em seus corações de que o mundo melhorasse um dia nunca tenha se apagado. E não deve se apagar nos nossos.

            Bom filme!
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