Por Amanda Victória Souza*
As Olimpíadas de 2020, em Tóquio, marcam a segunda participação da Equipe Olímpica de Refugiados. A primeira, nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, foi composta por 10 atletas provenientes de diversos países. Neste ano, a equipe é composta por 29 atletas de 10 países competindo nos mais diversos esportes.
Anteriormente, esses atletas que não possuem um país para representar podiam participar dos Jogos Olímpicos como atletas independentes, também sem qualquer tipo de representação do seu país de origem. Nesta categoria, porém, enquadram-se pessoas oriundas de países vetados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por diversas questões, e não exclusivamente refugiados.
A delegação de atletas independentes surgiu em 1992 motivada pelo veto à Iugoslávia em relação ao massacre ocorrido na Guerra da Bósnia. Diferentemente, a Equipe Olímpica de Refugiados foi criada em 2015 durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, quando o presidente do COI, Thomas Bach, anunciou a criação em meio a cada vez mais altos números de refugiados pelo mundo inteiro, mas também como uma forma de honrá-los e prover esperança, além de um meio para o combate a xenofobia, afinal, os jogos são uma forma de integração de países e nações para cultivar a paz. Depois disso, diversos eventos esportivos internacionais aderiram a ideia e também criaram uma equipe especialmente para acolher os refugiados.
Para selecionar os atletas, o COI criou um programa de bolsas, que, atualmente, beneficia 56 atletas refugiados no mundo todo e a partir desses, baseado no seu desempenho esportivo e no seu antecedente pessoal, são selecionados para participar das Olimpíadas. Este ano, participam 25 atletas que foram selecionados desta forma e mais 4 outros que foram selecionados através da Federação Internacional de Judô. Depois da adesão e do sucesso nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o COI, com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), criou a Fundação Olímpica para Refugiados que pretende promover o esporte em comunidades de refúgio em diversos países como um meio de inserção de pessoas na comunidade, uma ajuda na criação de identidade, além de claro, incentivo à prática, o que já é feito em muitos campos de refugiados, como o que Anjelina Nadai Lohalith morou, no Quênia e que a incentivou a praticar corrida. Hoje, ela corre em sua segunda olimpíada.
Os atletas, naturalmente, são exemplos de superação. Superação ainda maior é a daqueles que motivados por perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, tiveram que deixar seus países, onde, em alguns casos, já tinham até certo reconhecimento em seu esporte, e migrar para outro país, pelo qual não podiam competir internacionalmente. A paixão pelo esporte, porém, não os deixava parar de treinar. É o caso de Abdullah Sediqi, um atleta olímpico de taekwondo que foi morar na Bélgica em 2017, mas já havia conquistado inúmeros prêmios internacionais competindo pelo Afeganistão; ou, Aker Al Obaidi, lutador de luta livre que pela influência de seu pai, dono de um clube de luta, iniciou seus treinos, mas recebeu proteção na Áustria, em 2016, quando fugiu do Iraque.
Representando os refugiados que vivem no Brasil, está o atleta judoca Popole Misenga, que disputa pela segunda vez um prêmio nos Jogos Olímpicos e que vive em terras latinoamericanas desde que disputou o Campeonato Mundial de Judô no Brasil, em 2013. Ele começou a praticar o esporte em um centro para crianças no Congo que o abrigou após a morte da sua mãe e afirma que o judô o ajudou a ter comprometimento e disciplina quando não tinha uma família para lhe apoiar. Popole mostra que o esporte traz esperança de um futuro melhor a todos, não só para refugiados recomeçarem uma nova vida em um local distinto e distante, mas também a quem precisa de inspiração para continuar. Além disso, em um futuro melhor, é essencial que a comunidade de refugiados do mundo se solidifique através da sua inserção na comunidade internacional como verdadeiros cidadãos apoiados por direitos como, inclusive, o de competir.
Se quiser acompanhar a equipe competindo, a ACNUR preparou um calendário com horários, atletas e modalidades:
Referências
SEDA, Vicente. Após sucesso de iniciativa no Rio, COI cria Fundação Olímpica para Refugiados. Globo Esporte, 2019. Disponível em: <https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/apos-sucesso-de-iniciativa-no-rio-coi-cria-fundacao-olimpica-para-refugiados.ghtml>. Acesso em: 30 de jul de 2021.
GIANOLLA, Giulia. Tóquio 2020: 4 curiosidades sobre a abertura das Olimpíadas. Guia do Estudante, 2021. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/noticia/abertura-das-olimpiadas-de-toquio-2020/>. Acesso em: 30 de jul de 2021.
NETO, Virgílio Francesch. Atleta Olímpico refugiado acolhido pelo Brasil, Popole Misenga dá o recado: é preciso acreditar. Olympics, 2021. Disponível em: <https://olympics.com/pt/noticias/atleta-olimpico-refugiado-acolhido-pelo-brasil-popole-misenga-da-o-recado-e-prec>. Acesso em: 30 de jul de 2021.
Conheça os atletas refugiados que competem nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020. ACNUR, 2021. Disponível em: <https://www.acnur.org/portugues/2021/07/09/conheca-os-atletas-refugiados-que-competem-nos-jogos-olimpicos-e-paralimpicos-de-toquio-2020/>. Acesso em: 30 de jul de 2021.
Página Oficial Time de Refugiados no Site da ACNUR. ACNUR, 2021. Disponível em: <https://www.acnur.org/portugues/timederefugiados/#_ga=2.267201870.1322478843.1627673431-1536856287.1621289205> Acesso em: 30 de jul de 2021.
*Amanda é estudante do curso de Relações Internacionais no UniCuritiba e faz parte da Cátedra Sérgio Vieira de Mello.