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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Mulheres de Destaque: Dorothy Stang, o “Anjo da Amazônia”.



Figura 1: Dorothy Mae Stang (Fonte: Sisters of Notre Dame de Namur) [1]


Por Igor Vieira Pinto

Dorothy Mae Stang, freira norte-americana que mais tarde naturalizou-se brasileira, era chamada de Irmã Dorothy por conta do ofício, mas o apelido carinhoso de “Anjo da Amazônia” é inegavelmente o mais marcante. Seja por sua bondade destinada a todos, principalmente aos necessitados, ou pela luz de esperança que trouxe ao Brasil de forma geral em sua luta contra a desigualdade social e desmatamento, Dorothy foi e continua sendo personagem a ser destacada quando é discutida a impunidade frequente que dribla a justiça brasileira e a destruição das florestas brasileiras por interesses gananciosos.
Desde muito nova, aproximadamente partir dos 36 anos, iniciou sua atividade missionária no Brasil, com reivindicações em favor de trabalhadores rurais que tiram da terra seu próprio sustento e moradia, para que as propriedades públicas não fossem apossadas por grandes agricultores que usufruíam ilegalmente do espaço – por intermédio de “grilagem”, termo utilizado para descrever a falsificação de documentos de posse de terras - para o estabelecimento de serrarias, gerando grande impacto negativo na estabilidade da preservação ambiental. A Irmã Dorothy carregou essa “bandeira” ao passar dos anos, com predominância na cidade de Anapu, no estado do Pará, ganhando cada vez mais apoio de muitos e desgosto destes grandes empresários e seus funcionários... Fato este que culminou em seu assassinato em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos de idade, com 6 tiros por arma de fogo, sendo cinco ao redor do corpo e um na cabeça – o tiro fatal.
O projeto central que formaliza as atividades de Dorothy, é chamado de PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), criado anos atrás por iniciativa do governo federal, mas que apenas “saiu do papel” pela ação de Dorothy, tendo o reconhecimento do Estado em 2003 e sendo acrescido da palavra Esperança, para fazer alusão a primeira implementação do projeto. A ideia central, seria destinar 20% de dada parte das terras públicas para que agricultores familiares- principalmente os sem-terra- produzissem suficientemente para seu próprio mantimento e os 80% restantes para a preservação da biodiversidade que ali existisse, estabelecendo assim, nas próprias palavras de Dorothy, uma “harmonia com o que já existe na natureza”[2]. Como muitos projetos com caráter social no país, as colaborações governamentais eram precárias, sejam em fundos, como até mesmo em ordem administrativa, uma vez que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), autarquia federal, mostrava-se incapaz de intermediar os conflitos que ocorriam.
Pela extensão geográfica da área florestal de Anapu, esta era dividida em lotes, sendo alguns de propriedade privada e outros propriedades do Estado. O lote 55, era considerado o coração do assentamento do PDS Esperança e foi protagonista do impasse de Dorothy com o latifundiário Regivaldo Pereira Galvão, mais conhecido como "Taradão", que se denominava dono do lote, e com o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, chamado de "Bida", que seria o comprador e, portanto, novo dono desta terra. Como principais suspeitos, foram acusados de encomendar a morte de Irmã Dorothy a pistoleiros conhecidos, sendo ela vista como uma barreira frente a seus delitos. O STF determinou recentemente a prisão de Regivaldo, após longas incertezas de seu destino, e Vitalmiro cumpre, desde 2015, prisão em regime domiciliar. O atirador, Rayfran das Neves Sales, foi condenado e cumpre pena de 27 anos. Já os dois outros cúmplices, cumprem regime domiciliar e liberdade provisória.
Dorothy Stang não representa apenas a força feminina, mas também a força de vontade de uma cidadã que busca mudanças em prol da sociedade em geral, chegando a derrubar seu sangue como ferramenta de suas reinvindicações. Soma-se a isso a situação atual da floresta amazônica que é devastada muitas vezes por queimadas que visam o desenvolvimento ilegal do agronegócio, mas que, principalmente, mostram o poder de ação destes agricultores criminosos. Quando defende-se a natureza, defende-se a nação em que ela está inserida e o mundo. Que a morte/sacrifício da Irmã Dorothy não seja em vão. As pessoas, em especial os brasileiros, precisam “acordar” para a situação inaceitável de desmatamento e, dentre outras coisas, devem cobrar o Estado.
Este texto foi amplamente inspirado e referenciado pelo filme “Mataram Irmã Dorothy” (2008), um filme de Daniel Junge, que retrata com maestria e muitos detalhes a luta de Dorothy Stang. Esta é sem dúvida uma grande opção de filme, fica, também, aqui indicado.

Bibliografia
1. Sisters of Notre Dame de Namur – About Sister Dorothy Stang - https://www.sndohio.org/sister-dorothy/
2. “Mataram Irmã Dorothy” (2008), um filme de Daniel Junge.
- Estadão – Blogs - Fausto Macedo – Repórter – “Polícia prende 'Taradão', mandante do assassinato de Dorothy Stang” - https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/policia-prende-taradao-o-mandante-da-morte-de-dorothy-stang/
- G1 – Rede Liberal (Pará) – “Mandante do assassinato de Dorothy Stang divide cela com seis presos em Altamira” - https://g1.globo.com/pa/para/noticia/mandante-do-assassinato-de-dorothy-stang-divide-cela-com-seis-presos-em-altamira.ghtml
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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Opinião: O descaso com a nossa Amazônia







Eram três horas da tarde e o céu de São Paulo estava escuro, mas não foi apenas a chuva que fez o dia virar noite. Uma frente fria que atingiu São Paulo somada com partículas da fumaça provenientes de incêndios florestais fez com que a capital paulista ficasse na escuridão no meio da tarde. 


Desde o fim de julho, a região amazônica no estado de Rondônia vem sofrendo com incêndios. Especialistas dizem que o clima seco é propício para as queimadas, mas há um agravante: o incêndio intencional. Nos dias 10 e 11 de agosto, fazendeiros no Sudoeste do Pará promoveram o que foi chamado de Dia do Fogo, um ato que consistiu em queimar pastos e áreas em processo de desmate para “mostrar apoio às palavras” do presidente Jair Bolsonaro, que por sua vez, anunciou em julho que não confiava nos dados divulgados sobre o desmatamento da Amazônia pelo Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, um dos órgãos de mais credibilidade do Brasil. Hoje, em 12 de agosto, Bolsonaro comentou sobre os incêndios, alegando que eles foram promovidos por ONGs para “chamar atenção” contra o governo brasileiro. 


            Você deve estar se perguntando: não há nenhum projeto que auxilie e preserve a Amazônia? Ele existe e se chama Fundo Amazônia. Gerido pelo BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, seu objetivo é captar recursos e doações junto aos países desenvolvidos para investimentos em operações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento. Desde o começo, a Noruega era foi a principal doadora, seguida da Alemanha. O atrito com o governo brasileiro e os dois países começou quando foram surgiram desejos de alterar a configuração do COFA, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia que determina as diretrizes e acompanha os resultados obtidos. O COFA é formado pelo governo federal, governos estaduais e sociedade civil. O governo Bolsonaro deseja aumentar a participação de representantes próprios; logicamente, Alemanha e Noruega se opuseram.


            As doações dos dois países europeus são condicionadas ao índice de desmatamento - ou seja, quanto menos Amazônia, menos dinheiro. Foi por isso que, na última semana de agosto, a Alemanha decidiu cortar o apoio financeiro para o Fundo Amazônia, dizendo que tem dúvidas quanto ao empenho em proteger a floresta do desmatamento e preservar o meio ambiente. Em resposta à chanceler alemã Angela Merkel, o presidente do Brasil disse “Pega essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok?”.


            Seguindo o exemplo da Alemanha, a Noruega também cancelou repasses para o Fundo. O ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês Ola Elvestuen afirmou que o Brasil quebrou um acordo com os dois países europeus supracitados, fazendo referência ao fato de que o Brasil suspendeu a diretoria e o comitê técnico do Fundo Amazônia sem concordância da Alemanha e da Noruega. “O que o Brasil fez mostra que eles não querem mais parar o desmatamento.", disse o ministro.


            A Amazônia queima, mas a atenção se volta para ela apenas quando chega nas capitais. Cidades em Rondônia já haviam experienciado a escuridão que os paulistas viram nesta terça-feira, mas isso não foi noticiado. O Brasil vive a maior onda de incêndios dos últimos cinco anos, com quase 72.000 focos, segundo o Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia e o Inpe. O nível de queimadas é tão grande que as fumaças são visíveis pelo satélite da NASA. A Amazônia é de extrema importância para o equilíbrio e estabilidade ambiental do planeta. Apesar de voltar atrás na decisão de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, o governo deixou a pasta ficar praticamente vazia. A decisão de se retirar do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissão de gases estufas, foi também infeliz e cruel. Reservas indígenas e animais estão sofrendo e pouco se fala sobre eles. 


            A Amazônia está morrendo. E nada está sendo feito.



Referências











https://br.sputniknews.com/brasil/2019082014413370-temos-cidades-em-rondonia-cobertas-pela-fumaca-das-queimadas/






*A opinião expressa no artigo pertence à autora - e não necessariamente reflete um posicionamento institucional.
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