terça-feira, 31 de julho de 2018

Teoria das Relações Internacionais em destaque: O uso do Soft e Hard Power por parte da Coreia do Sul e do Norte.

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relaçoes Internacionais I, do curso de Relações Internacionais, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon. As ideias apresentadas no artigo não representam as visões da instituição, mas dos seus autores. 

Dominique Cubis
 
O poder é descrito por Joseph Nye como a habilidade de influenciar o comportamento de outros para obter os resultados desejados, por consequência, Soft Power é colocado como a habilidade para chegar aos resultados pretendidos por meio da cooptação, ou seja, atraindo e moldando o comportamento de outros atores através de políticas governamentais, mudanças na agenda internacional, entre outros. Ele é apresentado como uma medida oposta ao Hard Power, o qual usufrui da força militar e da coerção para alcançar seus objetivos. Ademais, o termo Soft Power foi cunhado por Joseph Nye, cientista político e co-fundador da teoria da interdependência, no anos 1980.

Esses dois poderes estão intimamente ligados a legitimidade, pois quanto menor grau de legitimidade mais é usado o Hard Power, como em Estados autoritários, sendo exemplo a Coréia do Norte, em que seu ditador Kim Jong Un declarou que há “um botão nuclear em sua mesa” e que todo os Estados Unidos estavam em seu alcance, além disso, o líder norte coreano ainda proclamou que eles já estão com forças nucleares “ completas”.

Já quanto maior o grau de legitimidade mais usufrui-se do soft power, comumente aplicado por Estados democráticos como um método para fazer outros realizarem o que se deseja, é uma combinação de indução e atração que é associada com cultura, valores políticos, instituições, assim como ocorreu nas Olimpíadas de 1988, sediada em Seul, ocasião que foi aproveitada pelo governo Sul Coreano, o qual recém havia saído de uma ditadura militar, para se aproximar do bloco democrático do Ocidente, facilitando a transição democrática do país e ainda mostrando ao mundo o rápido desenvolvimento da nação.

Porém, mesmo uma democracia que tem seu alicerce no Soft Power dispõe do Hard Power, no entanto, como um modo de coibir ações de outros atores contra ele, e não para alcançar um objetivo, assim, a Coréia do Sul mesmo tendo sua atuação em grande parte com o soft power é considerada o 7° Estado com maior potência na área militar.

Contudo Soft Power não é a mesma coisa que influência, pois influência também existe no Hard power, mas ele é uma combinação de persuasão e atração, e é sobre esta característica que pode-se definir os recursos deste tipo de poder, pois seus recursos são os que causam a atração à outro ator. Outra característica importante é que o Soft Power gera uma influência geral, ou seja, não é específica para uma área ou para algum ator internacional.

Nas relações internacionais é classificado como um Estado poderoso o qual tem uma grande população, território, recursos naturais, força militar, e isso porque assim o poder aparenta ser mais concreto e previsível, entretanto, essa classificação encontra-se em contradição quando nem sempre os atores que têm essas características conseguem os resultados pretendidos, como foi o caso em que a Coréia do Norte declarou que iria parar com seus investimentos em armas nucleares, contanto que a Coreia do Sul cancelasse o treinamento de seu exército, este que ocorre anualmente, porém o governo sul coreano anunciou que não iria cancelá-lo. Logo, é importante saber quais recursos devem ser usados em determinado momento.

Pode-se chegar aos resultados por meio de ameaças, sanções econômicas, suborno; ou pode-se empregar um senso de atração e valores compartilhados como de justiça, portanto, o soft power para alcançar a cooperação utiliza de métodos intangíveis, em que Joseph Nye compara com a mão invisível de Adam Smith, uma atração intangível que persuade a colaborar com outros sem nenhuma ameaça ou troca explícita.

Soft e Hard Power estão relacionados, pois os dois tratam de como chegar a certo objetivo afetando as ações e comportamentos de outrem, e estas ações podem mudar por meio da coerção ou da indução. Soft Power é associado a cooptação ligada a cultura e/ou políticas governamentais, já o hard power é associado a coerção por meio de chantagem, barganhas econômicas. Contudo esta relação não é perfeita pois um Estado pode ser atraído por outro pelo poder militar que este mostra exercer, e por outro lado, um poder coercitivo pode criar instituições que se tornarão legítimas.

Com as mudanças tecnológicas os métodos de propagar o Soft Power, mesmo através das fronteiras nacionais, tornou-se mais fácil e rápido. Com isso, há a entrada de atores não estatais como influências do Soft Power dos países, em que muitas vezes independe dos interesses do governo e este não consegue controlá-lo. A onda ‘Hallyu’ é o novo foco da Coréia do Sul, e que vem conquistando milhares de seguidores pelo mundo, ela caracteriza-se pela difusão cultural por meio da música popular coreana “K-Pop” e suas novelas “Dramas” - ambos gerenciados por empresas privadas-, além das comidas típicas como o Kimchi, com isso, as exportações coreanas alcançaram um novo patamar, e esse capital pretende ser usado para a diplomacia sul coreana nos próximos anos. Ademais, o número de turistas tem aumentado significativamente trazendo mais visibilidade ao país.
Contudo, as mudanças tecnológicas e a inclusão de atores não estatais tornaram maior e mais audacioso um antigo problema enfrentado pelos Estados, o terrorismo, que diferente dos séculos passados não é conflito entre Estados ou regiões, mas sim, entre extremistas que usam de violência para forçar suas visões de trabalho, educação, dignidade além de acreditarem que essa é uma missão que lhes é dada por um ser superior, e que com a revolução tecnológica transpuseram barreiras nacionais usando de artifícios do soft power, como propagandas dos grupos, que muitas vezes encontram jovens de bairros periférico e que são atingidos por preconceitos daquela sociedade.
Um século atrás era possível fazer guerra e usar de seu hard power para conseguir seus objetivos e ainda assim o Estado não sofreria de pressões populares ou de outros atores internacionais, mas este cenário mudou e cada vez mais governos levam em conta a visão que outros terão de seus atos, preferindo usar do Soft Power para chegar aos resultados pretendidos, assim como ambicionam torna-se um líder à ser reproduzido em áreas que transformam-se progressivamente em estratégicas.

BIBLIOGRAFIA:

NYE, Joseph. Soft Power: The Means To Success In World Politics. 1° Edição, Public Affairs, 2004.

Análise Global. Soft Power- Definição. Disponível em: https://analiseglobal.wordpress.com/2011/07/26/soft-power-definicao/ . Acesso em: 20/05/2011.

NYE JR. Joseph S. The Benefits of soft power. Disponível em: https://hbswk.hbs.edu/archive/the-benefits-of-soft-power . Acesso em: 20/05/2018

NYE, Joseph. Soft Power and the struggle against terrorism. Disponível em: https://www.project-syndicate.org/commentary/soft-power-and-the-struggle-against-terrorism. Acesso em: 23/05/2018.

Chicago Tribune. North Korean leader Kim Jong Un says he has 'nuclear
button' but won't use unless threatened. Disponível em: http://www.chicagotribune.com/news/nationworld/ct-north-korea-nuclear-weap ons-20171231-story.html. Acesso em: 23/05/2018

Council on Foreign Relations. South Korea’s Olympic Gains. Disponível em: https://www.cfr.org/expert-brief/south-koreas-olympic-gains . Acesso em : 23/05/2018

Global Fire Power. 2018 South Korea Military Strength. Disponível em: https://www.globalfirepower.com/country-military-strength-detail.asp?country_i d=south-korea. Acesso em: 23/05/2018

Vice News. North Korea to US: Stop Your South Korean War Games and
We'll Stop Threatening Nuclear War. Disponível em: https://news.vice.com/article/north-korea-to-the-us-stop-your-south-korean-wa r-games-and-well-stop-threatening-nuclear-war. Acesso em: 27/05/2018

The Diplomat. K-Culture Diplomacy: From São Paulo to Tehran. Disponível em:
https://thediplomat.com/2016/05/k-culture-diplomacy-from-sao-paulo-to-tehran /. Acesso em: 27/05/2018

Dominique Cubis é estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
Leia Mais ››

terça-feira, 24 de julho de 2018

Teoria das Relações Internacionais em destaque: A internacionalização da Slutwalk e a criação do Dia Internacional da Mulher

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, do curso de  Relações Internacionais do Unicuritiba, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon. As opiniões expressas no artigo não representam a visão da instituição, mas sim dos seus autores. 

* Mariana M. L. Camargo


As mulheres, ao longo da história, sofrem desde pequenas com os obstáculos vindos de uma opressão e submissão institucionalizados, que colocam a mulher como inferior ao homem e com menos direitos que os mesmos, simplesmente pelo fato de serem consideradas mulheres pela biologia. Elas encontram - e continuam encontrando - apoio no chamado movimento feminista, que a longo do tempo foi ganhando cada mais força e visibilidade. A historicidade desse movimento se dá de acordo com suas (até então) três ondas, tendo como antecedente principal a Revolução Francesa e Olympe de Gouges.
Em pontos distantes da história, as mulheres tinham direitos de propriedade e participação na esfera pública, como as mulheres espartanas, por exemplo. Elas chegavam a controlar as finanças domésticas e a participar de reuniões públicas que estavam relacionadas a vida política de Esparta (século IX a.C.), mesmo que socialmente sua função como mulher fosse vista como dona de casa e educadora dos filhos que futuramente serviriam o Estado. Porém, com o período Renascentista (de 1300 a 1600), os poucos direitos que antes eram atribuídos as mulheres foram se tornando, progressivamente, exclusividade masculina.
Com o estouro da Revolução Francesa em 1789, as mulheres viram na transição de sistema (do monárquico para o republicano) uma oportunidade de obter voz e direitos na esfera pública. Infelizmente, não foi assim que a situação se procedeu. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, resultado da transição da revolução, não trouxe nenhum direito a mulher, não a citando nem mesmo no título da Declaração. Foi nesse contexto que Olympe de Gouges (1748 – 1793) ganhou espaço como ícone de protesto feminista, já que se manifestou a favor dos direitos femininos e da isonomia entre homens e mulheres. Em 1791, ela lançou seu livro “Declaração dos direitos da Mulher e Cidadã”, visando não só o combate aos privilégios de classe e ao ordenamento político vigente, mas também vendo como necessária a mudança na relação de poder desigual no âmbito privado dos lares, onde a hierarquia entre os sexos estava enraizada. Ela acabou sendo decapitada na Praça da Concórdia, em Paris, no ano de 1893, por se manifestar contra o Estado, mesmo que o mesmo fosse uma República.
Pensando no Brasil e a atuação das mulheres na transição do regime monárquico para o republicano, em 1889, também houve engajamento pensando que conseguiriam assegurar seus direitos, mas o resultado obtido não foi diferente do da luta das mulheres na Revolução Francesa.
A primeira onda
Em relação a primeira onda do movimento feminista, ela ocorreu em meados do século XIX, com a presença de duas vertentes; a vertente das mulheres de classe média-alta, que buscava o direito ao voto (pelo movimento do sufrágio feminino), a herança e a educação, e a vertente das mulheres operárias, através da formação da União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, influenciadas pelos ideais marxistas, querendo a valorização do trabalho e a diminuição da jornada de trabalho, idealizando uma sociedade anarquista. Uma conquista dessa primeira onda foi o direito ao voto feminino, primeiramente na Nova Zelândia, em 1893, seguida pela Finlândia, em 1906.

A segunda onda

Já a segunda onda do movimento feminista ocorreu entre os anos de 1960 e 1980, no período de pós-guerra, junto com o estouro dos movimentos sociais, como os direitos humanos e os relacionados ao meio ambiente. Diferentemente da primeira onda, a segunda buscou focar no que era específico da mulher, almejando o reconhecimento e a proteção do Estado no que se referia as peculiaridades femininas.
Simone Bouvoir, com seu livro “O Segundo sexo”, onde escreveu que “não se nasce mulher, torna-se”, contribuiu para a discussão da ideia de gênero dentro da segunda onda, fazendo com que os comportamentos vistos como típicos da mulher feminina (dona de casa, suave, mãe, submissa) fossem contestados em nome da liberdade feminina de se viver da maneira que bem entendesse, não seguindo um padrão imposto pela sociedade.
Betty Friendnan, por sua vez, ao escrever a obra “A mística feminina”, em 1963, divulgou que as mulheres da época estavam em situação depressiva, não só por conta do baby boom do pós-guerra, mas também por conta dos direitos trabalhistas que as mulheres estavam perdendo progressivamente mais uma vez, já que o crescimento demográfico das populações demandava não só uma maior renda familiar (fazendo com que os homens voltassem ao trabalho), mas também alguém da família em casa para a criação e educação dos filhos, atrelando a esse papel, mais uma vez na história, a mulher.
Essa onda também se caracterizou pelos movimentos pró-aborto, pela busca por métodos contraceptivos (com a conquista que permitia o uso da pílula anticoncepcional em alguns países), possibilidade de divórcio e a discussão sobre a violência doméstica que, como já pontuado por Olympe de Gouges na época da Revolução Francesa, deveria ser abordada em âmbito público pois era no privado que o patriarcado era fortemente estabelecido.
No Brasil, a partir de 1985, como resposta aos movimentos da segunda onda que falavam sobre a violência contra a mulher, foram criadas as Delegacias da Mulher, que tem sob sua responsabilidade os crimes de violência sexual e de lesão corporal contra a mulher. Porém, os feminicídios (homicídios cometidos contra mulheres) continuaram a ser apurados em delegacias comuns.

A terceira onda

A terceira onda do movimento feminista é a mais recente, a partir dos anos 90. Ela critica as duas ondas anteriores por serem excludentes; caracterizadas pelas mulheres brancas, de elite, heterossexuais e de países desenvolvidos.
O foco dos ideais dessa onda encontra-se na diferença dentro da diferença, ou seja, o pluralismo feminino, que contém diferentes culturas e etnias. Além disso, busca fugir da ideologia de que as mulheres são frágeis, colocando principalmente as mulheres negras como um símbolo de resiliência e força ao longo da história, já que sempre foram escravas e empregadas, não podendo se “dar ao luxo” da fragilidade, como as mulheres brancas de classe média alta da primeira e segunda onda.
Há também a crítica ao culto a beleza pelas mulheres ocidentais, que criticam o uso da burca em países orientais, como se as mulheres dessa região fossem presas ao uso do véu, mas elas mesmas encontram-se presas a padrões de moda e beleza impostas pelos países ocidentais.

O surgimento da slutwalk e sua internacionalização      

Com a influência de todas as abordagens trazidas pelas ondas do movimento feminista ao longo da história, mas principalmente com as ideias da segunda onda, referentes as peculiaridades do corpo feminino e a violência e opressão em âmbito privado, em abril de 2011, no Canadá, aconteceu um movimento marcante na história da luta do movimento feminista, a Slutwalk, ou Marcha das Vadias em português.
Esse movimento foi uma resposta a um comentário de um policial que, ao falar sobre a segurança e prevenção ao crime, afirmou “as mulheres deveriam evitar se vestir como vadias, para não serem vítimas de ataque”, como se a culpa pela agressão a mulher (seja verbal ou física) fosse culpa da própria vítima, intitulada “vadia” por usar roupas consideradas provocativas, como saias curtas, salto alto, batom e roupas transparentes, demonstrando o pensamento machista de que as mulheres não podem nem mesmo ter a liberdade de escolha sobre os itens que vestem/usam, já que podem ser culpadas por uma possível violência causada contra elas mesmas.
Tendo como lema a frase “Se ser livre é ser vadia, então somos todas vadias”, a marcha chama atenção para a luta contra o fim da violência de gênero e da culpabilização da vítima, além da busca pelo fim da opressão, visando alcançar a liberdade feminina em âmbito privado, mostrando que todas as mulheres têm tanta liberdade quanto os homens. Nas marchas, reafirma-se que o termo “vadia” virou sinônimo da mulher que luta e não se cala diante da violência.
A marcha, a partir de então, foi ganhando cada vez mais força entre o movimento feminista, resultando na internacionalização da Slutwalk. Após a primeira marcha no Canadá, o movimento aconteceu nos Estados Unidos, na Argentina, na Holanda e em grande parte das capitais brasileiras. Pesquisas e divulgações de números relacionados a violência contra a mulher também ganharam força nos países e na sociedade internacional.

Estatísticas
Tendo como base as estatísticas levantadas em 2016 e 2017 pela Kering Foundation a nível internacional, e pelo Datafolha a nível de Brasil, em 2016, sabemos que:
- A cada dois segundos, uma garota menor de 18 anos é forçada a se casar;
- 15 Milhões de adolescentes de 15 a 19 anos já sofreram abuso sexual;
- 1 em cada 4 garotas nos Estados Unidos sofrem abuso sexual antes de completarem 16 anos;
- 1 em cada 4 adolescentes do Reino Unido sofrem violência física pelos seus próprios namorados;
- 2,2 Milhões de brasileiras já foram beijadas ou agarradas sem consentimento;
- 1 em cada 4 adolescentes francesas são vítimas de assédio pela internet;
- 31,5% das mulheres e garotas italianas são vítimas de violência física ou sexual;
- 43% das mulheres europeias já sofreram de assédio moral ou violência física pelos seus parceiros;
- 200 Milhões de garotas e mulheres já foram obrigadas a passar por mutilação genital;
- 43% das agressões em mulheres brasileiras ocorreram dentro das casas das vítimas.

O Dia Internacional da Mulher 

Por fim, é válido comentar sobre o chamado Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. Celebrado desde o início do século XX, o marco inicial do Dia Internacional da Mulher foi a greve feita por mulheres russas que reivindicavam contra a fome e a 1ª Guerra Mundial (1914 – 1918), sendo uma greve considerada também como ponta pé da Revolução Russa (1917). Depois disso, as mulheres operárias nos Estados Unidos e em alguns países da Europa começaram uma campanha dentro do movimento socialista para reivindicar seus direitos trabalhistas, já que as mesmas se encontravam em condições piores que os homens.
A oficialização da data pela Organização das Nações Unidas (ONU) se deu apenas em 1975, ano que a ONU intitulou de “Ano internacional da Mulher” para lembrar suas conquistas políticas e sociais. Como pontuou Eva Blay, fundadora do Centro de Estudos de Gênero e dos Direitos da Mulher da Universidade de São Paulo: “Esse dia tem uma importância histórica porque levantou um problema que não foi resolvido até hoje. A desigualdade de gênero permanece até hoje. As condições de trabalho ainda são piores para as mulheres”. Porém, cabe a nós pensar, grande parte dos homens que parabenizam, homenageiam e dão flores as mulheres no dia 8 de março, são os mesmos que, no resto do ano, contribuem para as estatísticas citadas acima.
As lutas do movimento feminista ainda têm muito chão pela frente, cabendo a nós, mulheres, termos o conhecimento desse movimento que foi e ainda é responsável pela conquista de muitos direitos femininos, pela luta pelo fim do patriarcado, e pela busca da tão almejada igualdade de gênero.

Referências bibliográficas
BARBOSA SIQUEIRA, Camilla Karla. “As três ondas do movimento feminista e suas repercussões no direito brasileiro”. Disponível em < https://www.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/w8299187/ARu8H4M8AmpZnw1Z.pdf >. Acesso em 9 de junho de 2018.
ISQUIERDO BOZZA, Larissa. “Pensando o gênero nas relações internacionais”. Disponível em < http://www.academia.edu/23459800/Pensando_o_g%C3%AAnero_nas_rela%C3%A7%C3%B5es_internacionais >. Acesso em 9 de junho de 2018.
“Por quê vadias? ”. Disponível em < https://marchadasvadiascwb.wordpress.com/ >. Acesso em 9 de junho de 2018.
REVISTA GLAMOUR, “Violência contra a mulher: no Brasil e no Mundo, dados são assustadores”. Disponível em < https://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/Must-Share/noticia/2017/11/violencia-contra-mulher-no-brasil-e-no-mundo-dados-sao-assustadores.html >. Acesso em 9 de junho de 2018.
POLITIZE, “A conquista do direito ao voto feminino”. Disponível em < http://www.politize.com.br/conquista-do-direito-ao-voto-feminino/ >. Acesso em 9 de junho de 2018.

BBC BRASIL, “A origem operária do 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher”. Disponível em <  https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43324887 >. Acesso em 9 de junho de 2018.

* Mariana M. L. Camargo é estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 
Leia Mais ››

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Redes e Poder no Sistema Internacional: Ciberguerra - um novo campo de conflitos


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.



Ciberguerra - um novo campo de conflitos

Samuel W. S. Pelentrir *

A internet surgiu nos EUA em plena época de Guerra Fria com a União Soviética. Os estadunidenses possuíam sistemas de redes que interligam a ARPA (Advanced Research and Projects Agency) às suas bases militares. Porém, o sistema era extremamente vulnerável a qualquer ataque físico, e com o objetivo de evitar essa vulnerabilidade, foi criada a Arpanet em 1969, criada abaixo da superfície e sem centro definido ou única rota de informação.

Após sua criação, a internet só evoluiu e hoje é uma rede de computadores que compartilham informações em grande velocidade, se tornando indispensável. Sua utilização acontece em diversas área: desde o entretenimento com imagens, vídeos e todo tipo de documentos, até a quase total integração de Estados nesse espaço digital. Com essa integração, os conflitos políticos também marcam presença.

Um dos resultados de toda essa integração digital é a ciberguerra ou guerra cibernética, que vem se tornando mais frequente a cada ano. Seus alvos são, em geral, as infraestruturas críticas dos países, por exemplo. Serviços de energia, água e transporte se tornaram alvos preferidos destes ataques. Além disso, uma das suas principais vantagens, para quem ataca, é a dificuldade do rastreamento dos responsáveis.

Os ataques podem ser efetuado por netizens, ou "cibercidadãos". Ocorrendo a partir da sociedade civil, esses ataques podem acontecer por inúmeras razões, como o patriotismo e o ativismo, por exemplo. Os responsáveis pelo ataque muita das vezes não conseguem causar grandes danos pela falta de sofisticação de seu ataque, que pode se concentrar na negação de serviços ou apagar páginas de sites na web. Porém, eles podem ter, ainda assim, o suporte não formal de seu estado, levando em conta casos como o da Estônia em 2017.

Os países mais propensos a sofrer com ataques e não conseguir se defender rapidamente, são os mais integrados na internet e que não possuem capacidade de desligamento da rede no país inteiro ou limitação do uso para utilizadores não essenciais. Um país com capacidade de defesa elevada é a Coreia do Norte: ela não está integrada totalmente como outros países na rede mundial de computadores, e, por isso, não tem uma dependência cibernética muito alta.

Entre os ataques, os mais sofisticados necessitam de mais tempo para programação, e uma estrutura muito mais avançada para obter impactos mais profundos quando existe objetivos políticos subjacentes, tendo maior utilização na espionagem. Os prováveis fornecedores de todo esse aparato são os Estados. Exemplo disso é o ataque que ocorreu na Ucrânia em 2015 com a interrupção do fornecimento de energia: voltando a acontecer após 2015, os ataques foram atribuídos à Rússia pelo presidente ucraniano. 

Porém, de todos, o mais conhecido é o que sucedeu no Irã, causado pelo vírus "stuxnet" em 2010. Esse vírus infectou pelo menos dois países, e que, segundo o que se suspeita, seu objetivo foi o controverso programa nuclear iraniano. O ataque a esse Estado não tem oficialmente autoria de outro país, mas se costuma atribuir a ação ao cibercidadão ou hackers patrióticos.

Por mais que não houvesse anúncio oficial, o que tem como certo é que o desenvolvimento veio da operação "Olympic Games" (jogos olímpicos), que foi criado no governo George W. Bush e contou com a ajuda de Israel. O vírus causou destruição física nas centrífugas de enriquecimento de urânio atrasando de forma significativa o programa iraniano. Outro Estado afetado foi a Índia, ainda que com danos menores.

A criação de armas não físicas que podem trazer danos reais em pequena ou grande escala podendo ser danos financeiros, materiais e sociais. Tendo como objetivo atingir entidades estatais, pode ser considerado não só uma guerra do futuro, mas uma guerra do presente. Não haverá, provavelmente, uma substituição do espaço geográfico pelo ciberespaço, mas a coexistência e cooperação entre eles, como já existe. A intensificação do desenvolvimento da cibersegurança e a sofisticação dos conhecimentos para criação de armas cibernéticas serão consequências de um maior aprofundamento nesse espaço no futuro.


* Samuel W. S. Pelentrir é acadêmico do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e participou do Grupo de Pesquisa "RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional".
Leia Mais ››

terça-feira, 10 de julho de 2018

Teoria das Relações Internacionais em destaque: Do Brasil à Fora: a fábrica nacional de motores e a Interdependência no processo de industrialização do Brasil.

Artigo realizado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. As ideias contidas no artigo não representam a visão da instituição, mas sim dos seus autores. 

Guilherme Gusso


Sabe-se que até 2014 o Brasil representava parte significativa no mercado consumidor automotivo, sendo o 4° no ranking dos países que mais possuía participação ativa no mercado de compra e venda de automóveis no mundo. Eis que surge então uma pergunta, que vem aquecendo debates entre economistas a respeito do desenvolvimento tecnológico no setor automobilístico brasileiro: “por que não possuímos industrias automotivas genuinamente nacionais para suprir nossas altas demandas? ”
A resposta para esta pergunta pode ser um pouco extensa e necessita que voltemos nossos olhos para o Brasil das décadas de 30 e 40, que é, segundo Carlos Lessa, no documentário “Um Sonho Intenso” (2015), o período chave para entendermos os rumos que a economia, política e cultura brasileira tomaram até os dias de hoje. A problemática em questão não se restringe apenas aos vieses econômicos, mas permeia de maneira muito significante um recorte histórico das Relações Internacionais brasileiras e sua crescente interdependência tecnológica-industrial.
Segundo Joseph Nye, a interdependência é caracterizada por uma rede complexa de dependência entre os atores internacionais, sejam nações, organizações ou empresas, tais redes de dependência geram resultados mútuos para os atores envolvidos em um sistema. Erroneamente, algumas correntes de pensamento liberal acreditam que a única forma para extinguir a velha competição entre as nações seria por intermédio da cooperação, porém, apesar dos benefícios conjuntos, a interdependência não elimina a concorrência no sistema internacional. Por outro lado, a aplicação de sanções, como forma de punição a condutas subversivas, dentro das relações de interdependência, vem a ser uma alternativa a violência.
As origens destas interações provem dos interesses nacionais, e visam pôr em prática acordos e tratados que trabalhem a favor de ganhos conjuntos. Trata-se de classificar a interdependência de várias formas, podendo ela variar entre:  ecológica, militar, política e econômica. É interessante colocarmos em pauta o contraste entre poder e interdependência, pois, no mundo globalizado, o poder soberano mais forte irá emanar do Estado mais autônomo, sendo os investimentos em tecnologia o carro-chefe do progresso.
Buscando interligar o conceito de interdependência com os primeiros passos dados pela industrialização brasileira, avaliaremos através deste artigo a interdependência do Brasil com relação as primeiras tentativas de se criar uma indústria nacional.
Na virada do século XIX para o XX, as indústrias brasileiras ainda eram indústrias leves, ou seja, a carência tecnológica e a ausência de indústrias pesadas (de base) durante este período é de suma importância para estruturar este trabalho e entender a posição do Brasil como um mercado extremamente interdependente na produção e no desenvolvimento de novas tecnologias.
Até a instauração do Estado Novo por Getúlio Vargas na década de 30, as indústrias nacionais eram fadadas ao primitivismo e ao retrocesso se comparadas as grandes potências da época. Caracterizado por industrias de bem de consumo não duráveis, o Brasil dos anos 20 era representado por uma economia agraria, principalmente cafeeira. A indústria têxtil e as demais indústrias brasileiras ainda se limitavam a pequenas fabricas e oficinas que importavam seus bens de produção.
O Brasil de fato só iria dar seus primeiros passos rumo a modernização industrial em meados dos anos trinta. A “Missão Aranha”, atendia a um convite pessoal do próprio Presidente Roosevelt para discutir o posicionamento brasileiro em função da Segunda Guerra Mundial, não foi apenas um marco para a intensificação das relações Brasil-Estados Unidos na época, como também antecedeu o que mais tarde ficaria conhecido como Os Acordos De Washington.
Em 1941, os EUA entram na Segunda Guerra Mundial, surge então a necessidade de uma parceria estratégica com o Brasil. Os Acordos de Washington tinham como principal objetivo a adesão do governo Vargas aos Aliados, quebrando a neutralidade da nação brasileira em relação a guerra. Em troca, seriam concedidos ao Brasil empréstimos de até 100 milhões de dólares para financiamento de projetos industriais que prometeriam nos tirar da posição de primários exportadores e nos colocar nos trilhos da industrialização.
A Fabrica Nacional de Motores, ou popularmente conhecida como “fenemê”, teve sua sede em Duque de Caxias-RJ e foi inaugurada em 1942 durante o governo de Getúlio Vargas. Seu propósito era a construção de motores aeronáuticos destinados a aviões de treinamento militar. Foi um dos frutos dos empréstimos estadunidenses firmados pelos Acordos De Washington. A Curtis-Wright, transnacional norte-americana, na época, considerada uma das maiores fabricantes de aviões do mundo foi quem licenciou a produção e forneceu o maquinário necessário para que o Brasil pudesse começar a desenvolver seus primeiros motores. O maquinário ficaria pronto apenas em 1946, com o fim da guerra, a produção já era considerada obsoleta e o Brasil ficaria novamente para trás, porém, desta vez com um razoável polo industrial em mãos.
Visto que o investimento estrangeiro trouxe para o país um maquinário de produção excelente, a Fabrica Nacional de Motores, em uma tentativa de manter suas maquinas em funcionamento, até 1948 produziu desde peças para trem até geladeiras e bicicletas.
O período do pós-guerra é considerado um momento de reconfiguração mundial, os países europeus haviam sido destruídos pelos violentos conflitos em seu território, e uma nova potência se instaurava no Ocidente. Através do Plano Marshall, os Estados Unidos buscaram investir bilhões de dólares afim de reconstruir alguns países da Europa, cujo o poder de consumo era interessante para reestabelecer o mercado internacional norte-americano. A Itália foi um dos países que mais se beneficiou com a verba do Plano Marshall, e segundo o site oficial do Itamaraty, 1944 foi o ano em que as relações diplomáticas entre Brasil e Itália foram plenamente restabelecidas. Sabendo que a economia italiana voltava aos eixos, o governo brasileiro toma mais uma medida de cooperação industrial, associando a Fabrica Nacional De Motores com a italiana Alfa Romeo no começo dos anos 50, afim de evitar a bancarrota.
Segundo Thomas Skidmore em sua obra: “Brasil, De Getúlio a Castelo” (1979), mais de 70 por cento dos trabalhadores brasileiros, antes dos anos 30 estavam concentrados no campo, pois a economia era de maioria agrícola. Visando o fato de que o interior brasileiro ainda era de difícil acesso, a Alfa Romeo em parceria com a FNM deram início a produção de caminhões e ônibus, que durante a época serviriam para integrar o país de forma bem rudimentar, embora que a verdadeira integração e “expansão para o oeste” brasileira só viriam a se concretizar no governo de JK.
A cooperação industrial abre as portas para um Brasil que produz por intermédio de capital estrangeiro, e que aos poucos perde sua soberania em função da instalação de bases militares norte-americanas no Nordeste brasileiro. Em troca, derramaríamos sangue nazista em solo alemão, tardiamente faríamos parte do progresso e da indústria, o Estado novo se encarregaria da gestão do povo brasileiro, até então esquecido nas lavouras de café e refém da opressão das elites paulistas, mas que no final das contas, nas garras do populismo, tinha apenas o direito de permanecer calado.
 “É importado”; “é coisa boa”, de onde vem a mentalidade brasileira de que a mercadoria que vem de fora é melhor? Se não de um tácito reconhecimento da incapacidade da indústria brasileira de produzir com qualidade, das necessidades populistas de controle de massa, da falta de investimentos em tecnologia e educação, da descarada forma que o governo da época encontrou de admitir essa incompetência, logo refletida na nossa cultura de consumo. Parece que não só as indústrias brasileiras se modernizaram através do bem de capital estrangeiro, mas a mentalidade do brasileiro comum como consumidor também se transforma, se torna até interessante imaginarmos os primeiros operários entrando na nova fábrica de motores, se deslumbrando com toda aquela tecnologia de produção importada, chegando em casa e contando pra família sobre mais um dia de trabalho, consolidando o que viria a ser a mentalidade dos futuros brasileiros e conduzindo a economia insistir nos mesmos erros.
Visualizamos através da história da Fábrica Nacional de Motores, diversas tentativas do governo de modernizar a economia através de estratégias de cooperação industrial, as fabricas estavam produzindo em solo brasileiro, a mão-de-obra era nacional, mas o maquinário de produção (bem de capital) sempre se manteve importado. A carência de desenvolvimento tecnológico industrial, ou seja, o desenvolvimento de tecnologias de produção- maquinário nacional- não era prioridade, o investimento internacional feito em solo brasileiro sempre foi a nível de mercado emergente, por mais moderna que as grandes montadoras pareçam elas não são divisões nacionais, não fornecem nem sua melhor tecnologia, nem seus melhores produtos. O fato é que até mesmo hoje em dia, o que vemos são multinacionais no Brasil e não do Brasil.

Referências:

BAER, Werner. A Economia Brasileira. São Paulo: Nobel, 1996.


KEOHANE, Robert O.; NYE JR., Joseph S. Poder e Interdependencia: La política mundial em transición. Grupo Editor Latinoamericano, 1988.

SKIDMORE, Thomas. Brasil : de Getúlio a Castello (1930-64). São Paulo : Companhia das Letras, 2010.

Documentário:


Um Sonho Intenso. Dirigido por: José Mariani.
Leia Mais ››