A seção "Leituras Geopolíticas" é produzida por alunas e alunos do 5° período do Curso de Relações Internacionais da UNICURITIBA, com a orientação do professor de Geografia Política, Me. Gustavo Blum, e a supervisão da monitora da disciplina, Nathalia Valladares. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores e não refletem o posicionamento da instituição.
O lado sombrio das Olimpíadas e os crimes envolvendo delegações
Larissa Ferreira, Luiz Schinzel e Matheus Souza *
Desde seu anúncio, as Olimpíadas no Rio de Janeiro sempre estiveram cercadas de muito pessimismo e desconfiança. O mesmo clima esteve presente, há dois anos, quando o Brasil recebeu a Copa do Mundo. Contudo, assim como foi na competição dois anos atrás, a olimpíada do Rio, pode ser considerada um sucesso. Apesar da situação precária do país em diversas áreas, como saúde e educação, assim como precariedade da Vila Olímpica, pode-se dizer que o Brasil passou ileso de algo que poderia ser mais grave.
O mundo hoje vive a sombra do terrorismo internacional. No dia 14 de julho, a cidade de Nice sofreu um ataque terrorista do grupo Estado Islâmico. No dia 26, um padre foi assassinado por dois terroristas que declararam fidelidade ao grupo terrorista enquanto celebrava uma missa. Com a aproximação do início dos jogos, o Brasil preparou-se para enfrentar uma ameaça. É necessário recordar o momento histórico, em 1972, durante as Olimpíadas de Munique, no qual onze atletas da comitiva israelense foram assassinados por um grupo terrorista palestino conhecido como Setembro Negro. No contexto atual e à luz dos atentados de Munique, é possível acreditar que a ameaça que o Estado Islâmico fizera ao país, como revelou a ABIN em junho, era algo que não podia ser ignorado.
Nada ocorreu. No final de julho, a polícia federal conseguiu prender doze pessoas suspeitas de planejaram um atentando durante os jogos. A polícia confirmou que as doze pessoas presas eram, na verdade, amadoras, não se conheciam e só tinham em comum a simpatia pelo Estado Islâmico. Essa ação da polícia levantou críticas, pois, para muitos aparentou uma espécie de propaganda do governo brasileiro para propagar a ideia de estaríamos preparados para enfrentar qualquer ameaça que comprometesse os jogos.
No dia 1 de julho, quatro dias antes da abertura do evento, dois contêineres contendo equipamento de uma TV alemã que cobriria os jogos foram roubados no Rio de Janeiro, provocando um prejuízo de R$1,3 milhões de reais. Um mês antes, a atleta paraolímpica australiana Liels Tesch afirmou nas redes sociais que fora assaltada enquanto pedalava na orla do Rio. Dois dias antes da abertura dos jogos, filipinos relataram aos jornalistas que tiveram US$ 1,5 mil furtados dos seus alojamentos.
Logo no início dos jogos, a denúncia de estupros contra as camareiras por atletas das delegações internacionais chocou as autoridades do Rio. Na manhã do dia 5 de agosto, o boxeador marroquino Hassan Saada foi preso acusado de ter estuprado duas camareiras. No dia seguinte, o boxeador turco Mehmet Nadir Unal enfrentaria Saada. Como o marroquino estava preso, Unal venceu por W.O. eliminado o marroquino da competição e colocando um fim nos jogos para ele. No dia 8, o boxeador da Namíbia, Jonas Junius, foi preso por beijar uma camareira à força e oferecer dinheiro em troca de sexo. Diferente de Saada, Junius foi solto três dias mais tarde e pôde enfrentar o francês Hassan Anzille. Saada também fora solto nesse mesmo dia, mas ficou proibido de se aproximar da acomodação oficial dos atletas ou deixar o Rio sem autorização.
Embora esses casos chamem a atenção, o protagonismo mesmo ficou com os nadadores dos EUA: na madrugada do dia 14 de agosto, o nadador Ryan Lochte e outros três nadadores teriam sido assaltados ao sair de uma festa. Na terça-feira, dois dias depois a Justiça manda apreender os passaportes de Ryan Lochte e de James Feigen. Ambos teriam dado versões diferentes do ocorrido fazendo com que a Justiça acreditasse que o caso fora inventado. No dia seguinte, os outros dois nadadores, Gunnar Bentz e Jack Conger, foram impedidos de embarcar de volta para os EUA. Mais tarde, reconheceram que mentiram sobre o assalto.
O caso ganhou repercussão internacional. No Brasil, a imagem predominante foi a de que o país conseguira se impor diante de um país estrangeiro e que o que foi feito não ficaria impune. Já a mídia internacional foi um pouco mais contundente. O New York Post afirmou que “Ryan Lochte é tudo que o mundo odeia dos americanos”. Já Alex Cuadros, escrevendo para o “New Yorker” afirmou que os brasileiros estavam obcecados com o caso Lochte por causa do complexo de vira-lata do país, uma vez que a versão contada pelos nadadores “feriria o orgulho da nação e mostraria que país não conseguiria defender seus cidadãos mesmo com 85 mil oficiais nas ruas”.
Podemos questionar com os recentes acontecimentos, a imagem que o Brasil tem no exterior. O fato de terem ocorrido crimes nessas Olimpíadas envolvendo atletas e delegações não é exclusividade brasileira, porém a forma em que é difundida a imagem que se tem acerca da beleza das mulheres brasileiras e a ideia da impunidade que existe no país pode ser um fator determinante para compreender o caso dos americanos por exemplo.
É interessante analisar que quando fala-se de olimpíadas, fala-se também sobre a função e importância dos atletas como formadores de representatividade de suas nações, assim como personificadores do espírito olímpico. Neste papel, têm a imagem de deixar os conflitos internacionais em prol da respeitabilidade entre os povos na construção de relações pacíficas entre as nações por meio do esporte.
A missão do espírito olímpico, conforme o Comitê Olímpico Internacional (COI) em seu programa, é construir um mundo pacífico e melhor que requer entendimento mútuo, em concordância com o espírito de amizade, solidariedade e jogo limpo (fair play). Isso inspira e motiva a juventude do mundo para o que o melhor seja feito por meio da educação e do entretenimento interativo por desafios. O olimpismo busca solidificar valores e ideais naqueles que promovem tolerância e entendimento em tempos de turbulência nos quais vivemos para fazer um mundo mais pacífico e melhor para as próximas gerações.
A representatividade também está presente nos jogos, sendo tão criticada a questão de crimes cometidos por atletas durante as olimpíadas, já que suas ações são consideradas reverberações das ações e intenções de seus países. Quando certos atletas de nações cometem crimes num pais sede das olimpíadas, eles estão ferindo a respeitabilidade a nação que os recebeu e manchando o nome de seus países por serem representantes destes.
* Larissa Ferreira, Luíz Schinzel e Matheus Souza são acadêmicos do 5º Período do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Matheus Souza também é membro do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".