segunda-feira, 28 de maio de 2012

A compreensão de Política Internacional





Rafael Pons Reis

No segundo capítulo do livro “A Política entre as Nações”, Hans Morgenthau constrói uma linha de pensamento quanto à possibilidade de elaborar uma “ciência da política internacional”, todavia, não deixa de apresentar certo ceticismo na possibilidade de fazê-la. A principal dificuldade encontrada por ele está relacionada com as limitações acerca do entendimento dos processos utilizados na política internacional devido à ambiguidade do material com a qual o investigador tem de trabalhar, isto é, ao mesmo tempo que os eventos internacionais são ocorrências únicas, eles são semelhantes uma vez que são manifestações de forças sociais. Nesse contexto, questiona-se Morgenthau: “(...) submetidas a condições similares, essas forças se manifestarão de modo análogo. Contudo, cabe perguntar: onde devemos traçar a linha que separa o similar do único?” (p.32). Morgenthau assevera que comparações entre eventos internacionais podem ajudar o investigador a conhecer os princípios da política internacional, mas ao mesmo tempo adverte acerca do perigo das “falsas analogias”:

A primeira lição a ser aprendida, e jamais esquecida, pelo estudante de política internacional consiste em entender que as complexidades dos assuntos internacionais tornam impossíveis quaisquer profecias simples e fidedignas. É a partir deste ponto que o estudioso se distância do charlatão. O conhecimento das forças que determinam a política entre as nações, e das maneiras pelas quais se desenrolam as relações políticas, revela a ambiguidade dos fatos atinentes à política internacional. Em qualquer situação política, estarão em jogo tendências contraditórias. Em determinadas condições, algumas dessas tendências terão maiores probabilidades de predominar mas, dentre essas várias possibilidades, saber qual delas irá realmente ocorrer constitui área que fica aberta à capacidade de especulação de cada um. O máximo que o especialista poderá fazer, nesse caso, é traçar as diferentes tendências que, como potencialidades, são inerentes a uma determinada situação internacional. Ele poderá também assinalar as diferentes condições que tornam uma tendência mais suscetível de prevalecer sobre as demais e, finalmente, avaliar as distintas probabilidades que as diversas condições e tendências têm de predominar na realidade. (p. 38-9).
           
Diante desse contexto, cita como exemplo o modo como a Agência Central de Inteligência (CIA) foi criticada por não ter prevenido a tempo às autoridades políticas norte americanas sobre as consequências dos distúrbios que acarretaram na expulsão do xá Reza Pahlevi, no Irã, em 1979. Nesse contexto, pergunta-se:

A que devemos atribuir essa falha por parte de pessoas normalmente inteligentes e responsáveis? A resposta reside na natureza do material empírico com o qual aquelas pessoas tinham de trabalhar. O observador é confrontado com uma multidão de fatores que, em sua totalidade, conformam o futuro. Para poder prever o futuro, o nosso observador teria de conhecer todos esses fatores, todas as suas dinâmicas, suas ações e reações mútuas e assim por diante. Mas o que ele sabe, e pode saber, não passa de um pequeno fragmento do quadro total. Ele apenas pode conjecturar e somente o futuro revelará quem soube, entre as muitas opções plausíveis, escolher corretamente. (p. 41).
           
A despeito da defesa de Morgenthau da perspectiva que a formulação de uma teoria da política internacional deve necessariamente apresentar um objetivo ético e prático para contribuir para a paz mundial, o autor menciona que a paz poderá ser mantida por meio do expediente de dois instrumentos: de um mecanismo auto regulador das forças sociais sob a forma de um equilíbrio de poder; e o outro consiste nas limitações normativas referentes à luta em busca de poder no cenário internacional, manifestadas sob o manto do direito internacional público, da opinião pública e da moralidade internacional, solução esta que serviu como origem para a formulação do tema da sociedade internacional da Escola Inglesa, diante da importância da difusão e socialização das normas estabelecidas entre os Estados nacionais.
Na próxima semana discutiremos a visão do autor acerca de um dos mais importantes conceitos na literatura especializada das Relações Internacionais, a questão do poder. Veremos as quatro distinções feitas pelo autor, respectivamente, entre: i) poder e influência; ii) poder e amor; iii) poder utilizável e não utilizável; e iv) poder legítimo e poder ilegítimo.

Rafael Pons Reis é Doutorando em Sociologia Política (UFSC), Mestre em Relações Internacionais (UFRGS), e professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.
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sábado, 26 de maio de 2012

O Programa Nuclear Iraniano



Por Andrew Patrick Traumann*

O programa nuclear iraniano tem sido um dos temas mais debatidos nas Relações Internacionais nos últimos anos. Previsões apocalípticas de como seria o mundo com um Irã nuclear tem pipocado frequentemente na mídia. O problema é que essas notícias não são novas.
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domingo, 20 de maio de 2012

Resenha do livro “Caos e governabilidade no moderno sistema mundial”



                                                                                                          Bruno Hendler[1]

O professor de sociologia da Universidade Johns Hopkins, Giovanni Arrighi, faleceu em 2009 deixando uma vasta literatura em que buscou, em última instância, responder aos atuais questionamentos sobre as transformações da economia política mundial nos últimos quarenta anos. Suas principais obras são, em ordem de publicação: “O Longo Século XX” (1996), “Caos e Governabilidade no Moderno Sistema Mundial” (2001) e “Adam Smith em Pequim” (2008). Junto com Immanuel Wallerstein, seu nome é um ícone da abordagem interdisciplinar da economia política dos sistemas-mundo, dialogando com conceitos da economia clássica, da historiografia da Escola de Annales, ciência política e sociologia.
O livro “Caos e Governabilidade” (CG), fruto da parceria de Arrighi com Beverly J. Silver, é o segundo da trilogia do autor, em que se estabelece uma espécie de ponte entre a densa análise histórico-teórica do “O Longo Século XX” e as perspectivas do século XXI apontadas em “Adam Smith em Pequim”. Por esta razão é importante o debate sobre a obra que condensa, de forma concisa e didática, a perspectiva do sistema-mundo, sendo acessível para os iniciantes e elucidativa para os já familiarizados com a teoria.
Na introdução de CG, Arrighi deixa claro que o sistema internacional oscila entre momentos de caos e governabilidade. Esta deriva de um poder hegemônico que exerce papel central na economia-mundo e é capaz de liderar os demais Estados por meio do consenso. Já o caos decorre da crise hegemônica, em que a típica anarquia internacional dá lugar a “uma escalada da competição e dos conflitos que ultrapassa a capacidade reguladora das estruturas existentes” (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 42), ou seja, as estruturas da ordem vigente são confrontadas por novos modelos desafiantes.
Desde seu surgimento em fins da Idade Média, o sistema-mundo moderno testemunhou a ocorrência de três hegemonias mundiais: a holandesa, no século XVII; a inglesa no século XIX; e a norte-americana no século XX. As transições de uma hegemonia a outra foram marcadas pelo aumento do caos sistêmico e a hipótese do livro é que vivemos, desde a década de 1970, um novo caos, marcado pela crise da hegemonia norte-americana.
Portanto, a proposta do livro é estabelecer analogias, identificar rupturas e continuidades entre as transições do passado e a suposta transição que estaria ocorrendo neste exato momento, da hegemonia dos EUA para um rumo ainda desconhecido (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 13).
O primeiro capítulo foca-se na questão dos Estados nacionais e em como a disputa por poder entre eles levou a escaladas de violência que colapsaram a lógica de governo vigente e reorganizaram o sistema sob o comando de uma hegemonia nova e mais abrangente. Na transição da hegemonia holandesa para a inglesa, Arrighi demonstra como a disputa entre França e Inglaterra no século XVIII provocou a exclusão de Estados “protonacionais” como a Holanda. Já na transição da hegemonia inglesa para a norte-americana foram excluídos os Estados nacionais que não possuíam complexos industriais bélicos em escala continental, sobrevivendo apenas as duas superpotências da Guerra Fria.
O segundo capítulo trata dos agentes empresariais, enfocando o sucesso e fracasso das diferentes alianças entre o capital privado e os Estados. As companhias de comércio holandesas foram verdadeiras “máquinas de acumulação de poder e riqueza” que fizeram de Amsterdã o centro financeiro mundial. Porém, aos poucos foram suplantadas pela lógica industrial das empresas familiares inglesas. De forma homóloga, estas mesmas empresas sofreram concorrência e foram substituídas, um século depois, por grandes corporações cuja lógica de acumulação baseava-se na otimização dos recursos tecnológicos disponíveis e no protecionismo estatal – principalmente nos EUA, Alemanha e Japão.
O terceiro capítulo examina como os pactos sociais, estabelecidos durante períodos hegemônicos, se desfizeram em épocas de caos sistêmico, gerando insatisfação e revoltas tanto no centro quanto na periferia do sistema-mundo. O modelo colonial mercantilista, implantado pelos ibéricos e adotado por holandeses e franceses, sofreu severos golpes no século das luzes e as elites coloniais, bem como as massas das metrópoles monárquicas, sublevaram-se contra seus governos, dando origem a uma série de independências e revoluções de cunho iluminista. De forma homóloga, ao final do século XIX e durante as guerras mundiais, as massas de trabalhadores se organizaram em busca de melhores condições de vida e os soldados, movidos pelo nacionalismo, voltaram para casa armados, assustados com a destruição e dispostos a fazer uma revolução contra o sistema pelo qual lutaram (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 199).
No quarto e último capítulo, os autores colocam as hegemonias ocidentais em perspectiva histórica mundial, afirmando que para o resto do mundo, estes poderes foram apenas dominação sem consentimento culminando, após cerca de cinco séculos, numa revolta contra o Ocidente iniciada no século XX (Arrighi; SILVER, 2001, p. 228). Em contrapartida, os autores percebem a ascensão do Leste da Ásia como “o centro mais dinâmico dos processos de acumulação de capital” em que a China exerce o papel central e pode por fim ao ciclo de supremacia ocidental sobre o resto do mundo.
Na conclusão da obra, Arrighi e Silver enumeram cinco hipóteses (proposições) a serem verificadas à luz do desdobramento dos fatos no século XXI.
1)   A expansão financeira iniciada na década de 1970 é o sinal mais claro de que vivemos uma crise hegemônica que pode acabar em uma catástrofe maior ou menor dependendo do comportamento desta hegemonia.
2)   Ao contrário dos caos sistêmicos do passado, hoje se percebe uma bifurcação entre poder militar e poder financeiro – aquele restando nas mãos dos EUA e este migrando para o Leste da Ásia. Para os autores, este processo reduz a chance de guerra entre as potências mas não reduz a possibilidade de um caos sistêmico prolongado.
3)   Enquanto as ondas de globalização do passado estiveram associadas ao aumento de poder dos Estados nacionais, a globalização do século XX é marcada pela perda de poder estatal frente às empresas transnacionais e outros agentes internacionais.
4)   Tal como nos caos sistêmicos do passado, é esperada uma onda de conflitos sociais que reflitam a crescente proletarização, feminização e mudança geográfica e étnica das forças de trabalho mundiais.
5)   Por fim, segundo os autores, o grande desafio para o futuro não está no choque de civilizações mas na transformação do mundo moderno em uma comunidade de civilizações que reflita a mudança do equilíbrio de poder entre as civilizações ocidentais e não ocidentais.

Referências bibliográficas

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: Editora Unesp, 1996.
______; SILVER, Beverly J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, 2001.
______; Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008.


[1] Egresso da UNICURITIBA, Bruno Hendler atualmente cursa o Mestrado em Relações Internacionais da UNB.
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sábado, 19 de maio de 2012

HIATOS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO: DIMINUIÇÃO DA POBREZA PARA UMA ECONOMIA MAIS FORTE

Por Fernando Henrique Alves e Luiza Mariani



“O desenvolvimento verdadeiro só existe quando a população em seu conjunto é beneficiada” assim Celso Furtado, um dos maiores expoentes da economia brasileira, refere-se à desigualdade social. Ao mesmo tempo em que somos a sexta maior economia do planeta, com altos níveis de crescimento, lidamos com grandes hiatos sociais que nos remetem à falta de políticas públicas eficientes.

Hoje no Brasil há um grande abismo no que concerne à distribuição de renda: 10% da parcela mais rica da população possui 42,77% da renda total e os 10% mais pobres não chegam a um por cento, 0,96%. Mais de 19 milhões de pessoas, ou seja, o estado de Minas Gerais (o segundo mais populoso do Brasil) inteiro na miséria. O Censo 2010 aponta que a renda per capita destas pessoas gira em torno de setenta reais mensais. Além disso, elas não têm acesso à infraestrutura. Segundo dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), aproximadamente 20% da população urbana do país não tem acesso à rede de esgoto, inferior ao das áreas urbanas de países como Jamaica, Filipinas e Angola.

É uma característica dos novos países emergentes a má distribuição de renda. A situação se repete em Estados que encontram dificuldades em solucionar o problema, e em outros que são acusados de usar a má distribuição de renda como“arma econômica”, no caso do dumpingsocial da China. Para Celso Furtado “O processo de desenvolvimento tem seu verso e reverso [...] na forma de distribuição de renda”. No Brasil a diminuição da desigualdade pode ser uma forte ferramenta para o desenvolvimento econômico e uma vantagem em relação a outros emergentes na formação do presente cenário mundial.

Podemos exemplificar este caso com a crise ocorrida em 2008, que impactou fortemente as economias mundiais e que até hoje tem seus efeitos refletidos no sistema internacional, culminando nesta nova crise na Zona do Euro. Vários economistas confirmam que a ascensão das classes sociais, principalmente C e E, fizeram com que o país saísse pouco afetado da crise de 2008. Essas pessoas saíram da faixa da pobreza e passaram a integrar o mercado consumidor, sustentando a indústria e a produção brasileira, enquanto as classes mais ricas diminuíam seu consumo. Marcelo Neri pesquisador da FGV descreve que esta tendência se deu porque“Talvez, as periferias sejam menos conectadas aos mercados externos via exportação ou aos mercados financeiros, que foram os mecanismos de transmissão da crise. O mercado interno gera atividade, emprego e renda. É um ciclo virtuoso no qual, as periferias, em particular, protegem a economia brasileira dos efeitos da recessão mundial”.

A classe média brasileira é composta por cerca de 120 milhões de pessoas, o que faz com que o consumo interno seja muito grande, e a economia brasileira mais influenciada pelo mercado interno em detrimento ao externo. Essa classe demonstra hoje poder de consumo, mesmo não possuindo rendas elevadas, e mostra-se importante para a economia brasileira. Nos últimos 8 anos, segundo dados da Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, os gastos com consumo dessa classe subiram quase 50%. A quantidade de brasileiros ainda com propensão a consumir mais é enorme, e reflete o alto crescimento que tivemos nos últimos anos.

As políticas públicas, como a reforma tributária e os programas de assistência social, devem ser aplicados ainda mais fortemente para que as classes que ainda devem ascender possam participar mais ativamente da economia. Assim, sinalizando preocupação contínua com a inflação e crescimento, o governo destaca medidas de aumento do crédito (por exemplo, a diminuição da taxa SELIC) importantes para a manutenção da indústria nacional e para a manutenção do crescimento.

À medida que avançamos e instrumentalizamos o desenvolvimento social, poderemos enxergar uma economia mais forte, igualitária e capaz de superar problemas internos e externos de ordem econômica. Fatores primordiais para o nosso posicionamento no sistema internacional e na nova ordem emergente de países que precisam transformar suas possibilidades em realidade.

BIBLIOGRAFIA:
FURTADO, Celso. Em busca de novo modelo: reflexões sobre a crise contemporânea. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
______. Teoria e política do desenvolvimento econômico. 10 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Crise passa longe das classes D e E. Disponível em < http://www3.fgv.br/ibrecps/Clippings/lc1710.pdf>. Acesso em 10 mai. 2012
PNUD Brasil. Em esgoto, Brasil rural é pior que Sudão. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/saneamento/reportagens/index.php?id01=3440&lay=san> Acesso em 3 mai. 2012.
SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Nova classe média brasileira assume protagonismo. Disponível em: < http://www.sae.gov.br/site/?p=11401> Acesso em 5 mai. 2012


Fernando Henrique Alves e Luiza Mariani são alunos do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Reforma imigratória será decisiva na eleição presidencial dos EUA





Protesto contra as deportações de imigrantes em Los Angeles, na Califórnia. Fonte: Jason Redmond/Reuters



Artigo de Rodolfo Stancki, com a colaboração de Gisele Barão e entrevista com Andréa Benetti, professora do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.


Obama deixou de cumprir a promessa de rever as leis imigratórias e agora deve retomar o tema durante a disputa com o republicano Romney.

Quando assumiu o posto de presidente dos Estados Unidos, Barack Obama prometeu tirar o país da crise, trabalhar em políticas igualitárias, reformar a saúde e as leis imigratórias. “Sim, nós podemos” era o slogan da campanha. Agora, ele concorre à reeleição carregando consigo algumas pendências.
A economia do país teve um crescimento discreto e o novo sistema de saúde está travado na Suprema Corte. Semana passada, um sinal de mudança nas políticas sociais do presidente veio com seu posicionamento favorável em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. No momento, as dúvidas parecem cair sobre a reforma imigratória: se eleito, Obama vai rever a situação dos 11 milhões de estrangeiros que vivem nos EUA?
Seu oponente, o candidato republicano Mitt Romney, já se manifestou contra a ampliação dos direitos dos imigrantes ilegais no país e disse que vai vetar o Dream Act – projeto que regulariza os estudantes nessas condições.
“Todos os dias em que não temos uma reforma imigratória no país, cerca de duas pessoas morrem. Precisamos arrumar um jeito para essas pessoas entrarem legalmente aqui”, diz Enrique Morones, responsável pela ONG Border Angels, que presta socorro aos imigrantes em San Diego, na Califórnia.
Para a eleição que ocorre no fim do ano, democratas e republicanos buscam o apoio da comunidade latina. Em estados como a Califórnia, ela representa 24% da população. Morones diz que a questão da reforma imigratória será decisiva para o eleitorado latino.
Para o ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Antônio Barbosa, a vitória republicana pode representar uma mudança significativa nas políticas imigratórias no país. “Se ele ganhar, vai haver radicalização interna e a situação dos imigrantes sem visto não será legalizada”, afirma.
Um exemplo da radicalização citada por Barbosa seria a lei do Arizona, proposta pela governadora republicana Jan Brewer em 2010. O projeto, que foi parcialmente vetado, previa a criminalização de todo imigrante ilegal que estivesse no estado. Criticada, a ideia já ganhou versões semelhantes em estados como Utah, Indiana e Alabama.
Diante desse quadro, a professora do curso de Relações Internacionais da UniCuritiba Andrea Benetti defende que a atuação de Obama na questão imigratória foi positiva nos últimos três anos. “[George W.] Bush era bastante fechado para essas discussões. Ele não via os imigrantes com bons olhos. Obama sempre teve uma posição mais social diante do problema”, diz.
Brasileiros
Em março deste ano, o governo americano anunciou o Global Entry, projeto que deve facilitar a entrada de brasileiros nos Estados Unidos. Inicialmente, a proposta quer facilitar a entrada de empresários e profissionais que viajam com frequência ao país.
Na análise de Andrea, essa iniciativa mostra que os norte-americanos deixaram de ver os brasileiros como uma “ameaça imigratória”.
“O crescimento do Brasil nos últimos anos, tanto econômico quanto político, tem mostrado para os EUA que os brasileiros já não estão indo como imigrantes ilegais, mas como turistas. Então, para eles, é vantajoso”, explica.

Publicado no Jornal Gazeta do Povo em 13 de maio de 2012. 
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/conteudo.phtml?tl=1&id=1253981&tit=Reforma-imigratoria-sera-decisiva-na-eleicao-presidencial-dos-EUA

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sábado, 12 de maio de 2012

Relembrando os Princípios Realistas de Hans Morgenthau


Por Rafael Pons Reis


Hans Morgenthau é um dos autores mais conhecidos dentro da área de Relações Internacionais. O autor recupera as críticas de Edward Carr sobre o Idealismo Moderno no sistema internacional, no entanto, seu pensamento se destaca por ter desenvolvido as bases teóricas do Realismo Moderno, que acabou sendo a perspectiva dominante na área das Relações Internacionais dos anos 40 até meados da década de 1970.

Morgenthau, juntamente com Carr, considera como premissas básicas: que o Estado é unitário, ou seja, o Estado é a base de análise da nação sendo a única voz dessa região no sistema internacional; os Estados são os principais atores no sistema internacional; os Estados são racionais, ou seja, agem com base nos seus próprios interesses a fim de maximizar seus benefícios; e o interesse nacional dos Estados tem como base garantir a sobrevivência e a integridade territorial no sistema internacional, assim necessitam enfocar na segurança dos mesmos.
A obra no qual Morgenthau desenvolveu as perspectivas teóricas do realismo foi A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz, publicado originalmente em 1948. O autor começa a obra estabelecendo os seis princípios básicos para a Política Internacional, que são:
1.     A política obedece a leis objetivas que são fruto da natureza humana. “Para estar em condições de melhorar a sociedade, é necessário entender previamente as leis pelas quais a sociedade se governa. Uma vez que a operação dessas leis independe, absolutamente, de nossas preferências, quaisquer homens que tentem desafiá-las terão de incorrer no risco de fracasso”.[1] Este principio retrata que tanto a nossa natureza humana como a política não são mudados de tempos em tempos, mas obedecem a leis objetivas. Assim, não se pode ignorar a natureza humana, que é a busca racional pela sobrevivência.
2.     O interesse dos Estados é sempre configurado em termos de poder. “Uma teoria política, de âmbito internacional ou nacional, desprovida desse conceito, seria inteiramente impossível, uma vez que, sem o mesmo, não poderíamos distinguir entre fatos políticos e não-políticos, nem poderíamos trazer sequer um mínimo de ordem sistêmica para a esfera política”. O interesse definido em termos de poder “permite como que remontar ou antecipar os passos que um político - passado, presente ou futuro - deu ou dará no cenário político”.[2] Este segundo principio quer dizer que os interesses dos Estados não são governados por influências morais, mas condicionados pela busca racional dos ganhos e perdas na política externa. Assim, a política exterior de país não deve estar associada às simpatias pessoais do governante, mas se guiar pelo interesse nacional da nação. Aqui podemos perceber a influência do pensamento de Maquiavel, realista clássico, no qual considerava que o príncipe virtuoso deveria agir em prol da nação e não a partir de suas preferências e gostos particulares.
3.     “O realismo parte do princípio de que seu conceito-chave de interesse definido como poder constitui uma categoria objetiva que é universalmente válida, mas não outorga a esse conceito um significado fixo e permanente”[3]. Este principio ressalta que as relações entre as nações sempre foram definidas em termos de poder. No entanto, o tipo de interesse das ações políticas varia dependendo de determinado contexto histórico cultural e político, sendo assim os interesses, que tem como base maximizar o poder dos Estados, não são fixos e permanentes.
4.     O realismo político conhece o significado moral da ação política e reconhece a inevitável tensão entre os preceitos morais e as exigências para que uma ação política tenha êxito. “O realismo sustenta que os princípios morais universais não podem ser aplicados às ações dos Estados em sua formulação universal abstrata, mas que devem ser filtrados por meio das circunstâncias concretas de tempo e lugar”. “Desse modo, o realismo considera que a prudência - a avaliação das consequências decorrentes de ações políticas alternativas - representa a virtude suprema na política. A ética, em abstrato, julga uma ação segundo a conformidade da mesma com a lei moral; a ética política julga uma ação tendo em vista as suas consequências políticas”.[4] Assim, termos gerais, a influencia da moral e da ética podem ser usados como mecanismos de justificação e legitimação da aça dos Estados, mas não servem para julgar o comportamento destes.
5.     “O realismo político recusa-se a identificar as aspirações morais de uma determinada nação com as leis morais que governam o universo”. “Uma coisa é saber que as nações estão sujeitas à lei moral, e outra, muito diferente, é pretender saber, com certeza, o que é bom ou mau no âmbito das relações entre nações”. [5] Aqui, o autor ressalta que os princípios morais de uma nação, seja os valores do bloco soviético ou da sociedade norte-americana, não devem ser aceitos como universais, pois nenhuma visão é a mais verdadeira ou a mais correta.
6.     “O realista político não ignora a existência nem a relevância de padrões de pensamento que não sejam os ditados pela política. Na qualidade de realista político, contudo, ele tem de subordinar esses padrões aos de caráter político e ele se afasta das outras escolas de pensamento quando estas impõem à esfera política quaisquer padrões de pensamento apropriados a outras esferas”.[6] Para Morgenthau, a esfera política é autônoma, não estando sujeita a nenhuma outra ciência como a economia ou o direito. A política internacional possui suas próprias leis e regras.
À guisa de conclusão, não poderíamos esgotar aqui em tão poucas linhas o pensamento realista de Hans Morgenthau. Sendo assim, nas próximas semanas continuaremos a discutir outras passagens importantes de sua seminal obra.

Rafael Pons Reis é Doutorando em Sociologia Política (UFSC) e Mestre em Relações Internacionais (UFRGS), e professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.


[1] Morgenthau, H. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. Brasília: Ed. Unb/Ipri, 2003. p. 4-5.
[2] Morgenthau, op. cit., p. 6-7.
[3] Morgenthau, op. cit., p. 16.
[4] Morgenthau, op. cit., p. 20-21.
[5] Morgenthau, op. cit., p. 21.
[6] Morgenthau, op. cit., p. 23.
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