Por Fernando Henrique Alves e Luiza Mariani
“O
desenvolvimento verdadeiro só existe quando a população em seu conjunto é
beneficiada” assim Celso Furtado, um dos maiores expoentes da economia
brasileira, refere-se à desigualdade social. Ao mesmo tempo em que somos a
sexta maior economia do planeta, com altos níveis de crescimento, lidamos com
grandes hiatos sociais que nos remetem à falta de políticas públicas eficientes.
Hoje no Brasil há um grande abismo no que
concerne à distribuição de renda: 10% da parcela mais rica da população possui
42,77% da renda total e os 10% mais pobres não chegam a um por cento, 0,96%.
Mais de 19 milhões de pessoas, ou seja, o estado de Minas Gerais (o segundo
mais populoso do Brasil) inteiro na miséria. O Censo 2010 aponta que a renda per capita destas pessoas gira em torno
de setenta reais mensais. Além disso, elas não têm acesso à infraestrutura.
Segundo dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
aproximadamente 20% da população urbana do país não tem acesso à rede de
esgoto, inferior ao das áreas urbanas de países como Jamaica, Filipinas e
Angola.
É uma característica dos novos países
emergentes a má distribuição de renda. A situação se repete em Estados que
encontram dificuldades em solucionar o problema, e em outros que são acusados
de usar a má distribuição de renda como“arma econômica”, no caso do dumpingsocial da China. Para Celso
Furtado “O processo de desenvolvimento tem seu verso e reverso [...] na forma
de distribuição de renda”. No Brasil a diminuição da desigualdade pode ser uma
forte ferramenta para o desenvolvimento econômico e uma vantagem em relação a
outros emergentes na formação do presente cenário mundial.
Podemos exemplificar este caso com a crise
ocorrida em 2008, que impactou fortemente as economias mundiais e que até hoje
tem seus efeitos refletidos no sistema internacional, culminando nesta nova
crise na Zona do Euro. Vários economistas confirmam que a ascensão das classes
sociais, principalmente C e E, fizeram com que o país saísse pouco afetado da
crise de 2008. Essas pessoas saíram da faixa da pobreza e passaram a integrar o
mercado consumidor, sustentando a indústria e a produção brasileira, enquanto
as classes mais ricas diminuíam seu consumo. Marcelo Neri pesquisador da FGV
descreve que esta tendência se deu porque“Talvez, as periferias sejam menos
conectadas aos mercados externos via exportação ou aos mercados financeiros,
que foram os mecanismos de transmissão da crise. O mercado interno gera
atividade, emprego e renda. É um ciclo virtuoso no qual, as periferias, em
particular, protegem a economia brasileira dos efeitos da recessão mundial”.
A classe média brasileira é composta por
cerca de 120 milhões de pessoas, o que faz com que o consumo interno seja muito
grande, e a economia brasileira mais influenciada pelo mercado interno em
detrimento ao externo. Essa classe demonstra hoje poder de consumo, mesmo não
possuindo rendas elevadas, e mostra-se importante para a economia brasileira.
Nos últimos 8 anos, segundo dados da Secretária de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, os gastos com consumo dessa classe subiram quase 50%.
A quantidade de brasileiros ainda com propensão a consumir mais é enorme, e
reflete o alto crescimento que tivemos nos últimos anos.
As políticas públicas, como a reforma
tributária e os programas de assistência social, devem ser aplicados ainda mais
fortemente para que as classes que ainda devem ascender possam participar mais
ativamente da economia. Assim, sinalizando preocupação contínua com a inflação
e crescimento, o governo destaca medidas de aumento do crédito (por exemplo, a
diminuição da taxa SELIC) importantes para a manutenção da indústria nacional e
para a manutenção do crescimento.
À medida que avançamos e instrumentalizamos o
desenvolvimento social, poderemos enxergar uma economia mais forte, igualitária
e capaz de superar problemas internos e externos de ordem econômica. Fatores
primordiais para o nosso posicionamento no sistema internacional e na nova
ordem emergente de países que precisam transformar suas possibilidades em
realidade.
BIBLIOGRAFIA:
FURTADO,
Celso. Em busca de novo modelo:
reflexões sobre a crise contemporânea. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.______. Teoria e política do desenvolvimento econômico. 10 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Crise passa longe das classes D e E. Disponível em < http://www3.fgv.br/ibrecps/Clippings/lc1710.pdf>. Acesso em 10 mai. 2012
PNUD Brasil. Em esgoto, Brasil rural é pior que Sudão. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/saneamento/reportagens/index.php?id01=3440&lay=san> Acesso em 3 mai. 2012.
SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Nova classe média brasileira assume protagonismo. Disponível em: < http://www.sae.gov.br/site/?p=11401> Acesso em 5 mai. 2012
Fernando Henrique
Alves e Luiza Mariani são alunos do curso de Relações Internacionais do
Unicuritiba.
Eu diria que a má distribuição de renda é uma característica não só dos países emergentes, mas sim do sistema capitalista também. O sistema capitalista quando está evoluindo, ou seja, em evolução em um novo centro comercial e estratégico, leva a estas condições de muitas desigualdades sociais, é por isto que as políticas sociais têm um efeito muito importante para quebrar uma parte desta desigualdade e pelo menos amenizar a má distribuição da renda entre as populações. As políticas monetárias do governo federal não deixam de ser benéfica, principalmente para a indústria de bens de consumo duráveis. Mas ainda é pouco, não é uma solução eficaz a longo prazo e sim a curto prazo. Talvez o governo esteja imaginando que a crise na Zona do Euro é passageira,que a meu ver não será,vai se prolongar ainda mais,pois não é somente um país que está ruim com as suas contas,mas vários deles,estão desequilibrados. E como são uma “Zona comercial integrada” simplesmente pela lógica afeta todos os outros. Acredito eu que uma solução mais eficaz e com longa duração, seria investimento público na estrutura do país, porque ficar emprestando dinheiro a baixos juros leva ao endividamento da população. E consequentemente pode provocar uma bolha bancária, porque os bancos vão ficar sem receber os empréstimos por causa da inadimplência, provocada pelo desemprego. E estes bancos vão recorrer ao governo para salvá-los, assim como os bancos espanhóis estão fazendo no momento atual.
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