Por Manuella Paola
“Se
nos espetardes, não sangramos?
Se nos
fizerdes cócegas, não rimos?
Se nos
derdes veneno, não morremos?
E se
nos ofenderdes, não devemos vingar-nos?”
O
trecho da obra O Mercador de Veneza,
de Shakespeare, citado por Henryk, o irmão do protagonista, relaciona-se com todo o sofrimento pelo qual a família Spilzsman passou na Polônia
da Segunda Guerra Mundial. O filme nos mostra que a intolerância para com os
judeus começou de forma não tão sutil: primeiro, cada família só poderia
possuir 2.000 zlotys, a moeda local; o que sobrasse deveria ser entregue aos
alemães. Depois, eles eram obrigados a usar uma faixa ao redor do braço, com a
estrela de Davi costurada. Os que a portavam e não comprimentavam oficiais
nazistas nas ruas da Varsóvia, eram espancados abertamente - e ninguém movia um
dedo para impedir. Em seguida, as violações contra a vida dessas pessoas foram
ficando cada vez mais à vista: os judeus foram forçados a se mudarem para uma
área delimitada pelos alemães, que logo após construíram um muro ao redor dos
apartamentos, dando início aos guetos. Eles podiam sair dali
e andar livremente por sua cidade? De forma alguma. Quem saísse sofreria graves
consequências.
Durante
todo o filme, Adrien Brody interpreta o pianista Wladyslaw Szpilman com tanta
sinceridade e emoção que é impossível não ficar tocado. Sua solitária jornada é
angustiante e deixa o espectador com o coração na mão, esperando que a qualquer
momento ele seja capturado e enviado para um dos temidos campos de concentração
- que eram vendidos como campos de trabalho, onde as pessoas teriam uma vida
melhor. A situação do pianista melhora (aliás, não piora, pois é difícil ver
alguma positividade num momento como o dele) pois ainda havia boas pessoas em
Varsóvia. Alguns amigos o ajudaram a se esconder, em diferentes localizações,
para que os nazistas não o encontrassem. Depois de um tempo, Wladyslaw passou a
se esconder em prédios destruídos pela guerra.
Varsóvia
já não era a mesma, e nem o pianista era o mesmo homem alegre de antes da
guerra. Sozinho e com fome, a força que Wladyslaw deve ter tido para passar por
toda aquela provação é inimaginável e nos faz pensar que nenhum ser humano
deveria sofrer dessa maneira. Baseado em fatos reais, a mensagem de O Pianista é clara: não devemos nunca
nos esquecer das atrocidades que foram cometidas contra um grupo de pessoas
apenas pela escolha da sua religião. Sabe-se que ainda há muito preconceito
contra diversos grupos - raça, orientação sexual, nacionalidade. Mas o que deve
permanecer em nossas mentes é que não foram apenas monstros que permitiram que
o Holocausto acontecesse. Foram, também, pessoas normais, que simplesmente
escutaram o que um louco disse e não fizeram nada a respeito. Esse erro não
pode se repetir.
O Pianista é baseado na autobiografia
homônima de Wladyslaw Spilzman e dirigido por Roman Polanski, que teve os pais
mandados para campos de concentração. É um filme que toca nossos corações,
através da música e do sofrimento. É um filme que nos faz perceber a força das
pessoas que passaram por essa angustiante e triste situação e deixa uma
pergunta em aberto: onde elas encontraram essa determinação para viver? Talvez
a centelha de esperança em seus corações de que o mundo melhorasse um dia nunca
tenha se apagado. E não deve se apagar nos nossos.
Bom
filme!