segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PARA IR ALÉM DO CAFÉ: AS RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE BRASIL E ALEMANHA (1889-1914)




Por Naiane Ribeiro Cotting


RESUMO

As relações econômicas entre Brasil e Alemanha vão para além do comércio de exportação de café no período de 1889 a 1914, seu estabelecimento envolve interesses de uma Alemanha imperialista que via na emigração chances de dilatar sua área de influência, obter fontes primárias e mercado para seus produtos, por sua vez o Brasil com o advento da República pretendia ampliar seu escopo de parceiros internacionais, tanto para fomentar seu mercado de produtos internacionais como para fornecer mão-de-obra e ocupar vazios demográficos. Nesse quadro a inserção de imigrantes alemães no Brasil é analisada como um fator econômico, já que se tornou uma empresa e trouxe importantes consequências para o desenvolvimento econômico brasileiro.
O presente artigo tem como objetivo mapear e avaliar os interesses e consequências do estabelecimento das relações econômicas entre Brasil e Alemanha, considerando a inserção de imigrantes alemães no Brasil e seus reflexos econômicos. O método utilizado para mapear e avaliar o estabelecimento dessas relações foi a teoria das “forças profundas” desenvolvida por Renouvin e Duroselle que leva em conta tendências e características de longa duração que influenciam ou determinam relações externas de uma determinada unidade estatal considerando interesses econômicos como uma dessas forças, buscou-se então analisar Brasil e Alemanha como dois atores neste quadro de mudanças trazidas pelo capitalismo e industrialização.
Apesar de muitos dos interesses de imperialistas alemães não se consolidarem e dos diversos problemas e divergências de interesses ligados a imigração, muitos imigrantes estabelecidos no Brasil além consolidarem grandes empreendimentos industriais proporcionaram para o Brasil novas possibilidades de comércio com a Alemanha e o êxito alcançado pelas colônias aqui estabelecidas se incorporaram de forma positiva ao comércio e indústria nacionais estimulando a economia brasileira. 
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sábado, 27 de outubro de 2012

A luta por corações e mentes no Paquistão




            
Por Andrew Patrick Traumann *
       

A tentativa de assassinato da estudante paquistanesa  Malala Yousafzai de 15 anos de idade no último dia 9 pode ser considerado um turning point nas relações entre a sociedade paquistanesa e a ideologia Talebã. Há muito não se via tamanha comoção no país.  Malala, que desde os 11 anos de idade já escrevia num blog em urdu para a BBC sob o codinome Gul Makai (Flor de Milho em urdu) e que já foi indicada a diversos prêmios internacionais pela sua luta em nome da educação feminina no Paquistão é um símbolo de uma luta que ocorre não só naquele país,mas também no vizinho Afeganistão: a luta por corações e mentes. Num país onde 25 milhões de crianças estão fora da escola o nome da batalha é educação.
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Da teoria à prática: institutos europeus de relações internacionais são convidados a traçar uma estratégia global para a Europa — e convidam todo mundo a participar



Foto: portal da European Global Strategy, lançado em outubro de 2012.

Por Gabriela Prado

É o sonho de qualquer um que estuda ciências humanas e sociais: ser ouvido pela classe política a ponto de, eventualmente, colocar suas ideias e estudos em prática. E eis que a oportunidade surgiu: institutos de Relações Internacionais e política da externa da Espanha, Itália, Polônia e Suécia foram convidados pelos respectivos Ministros do Exterior para traçar uma Estratégia Global Europeia (EGS). O objetivo do processo, que começou em julho deste ano, é estimular o debate sobre quais devem ser os rumos da Europa nos próximos anos.

Entre julho de 2012 e maio de 2013 os quatro institutos organizadores (Real Instituto Elcano – Espanha; Instuto Affari Internazionali – IAI, Itália; Polish Institute for International Affairs – PISM, Polônia e o Utrikespolitiska Institutet – Ui, Suécia) irão promover seminários e painéis para fomentar as discussões. O documento final, a ser publicado em maio de 2013, será elaborado por um pequeno grupo de autores e vai então ser encaminhado aos Ministros das Relações Exteriores, encarregados de transformar as estratégias traçadas em políticas que serão submetidas à Comissão Europeia. O processo vai passar por discussões sobre o que pressupõe uma estratégia, quais são os desafios para o continente europeu, quais são os valores e fundamentos de uma estratégia global e, finalmente, quais os instrumentos e passos para tal. Além destes eventos “oficiais” organizados pelos institutos-sede, no entanto, será possível às instituições parceiras criarem e promoverem os próprios eventos e contribuir para o debate.

Um dos objetivos, aliás, é ter a contribuição de outros institutos e centros de estudo — na Europa e fora dela. O centro de contato com o projeto é o portal criado (http://www.euglobalstrategy.eu), onde é possível acessar os documentos publicados, ver os eventos, participar dos debates e inclusive enviar contribuições e artigos próprios. Segundo Anna Jardfelt, a diretora do Ui, as contribuições externas serão bastante importantes para que o resultado reflita de fato o “pan-europeísmo”, por assim dizer, que caracteriza o processo. Essa noção provavelmente influenciou a mudança do nome da iniciativa, de “European Security Strategy” para “European Global Strategy”: o foco deve sair das questões de segurança apenas para focar nos “valores europeus” e outros desafios que vão além da segurança internacional.

Um projeto dessa magnitude inevitavelmente divide as opiniões e causa controvérsias. Na reunião de apresentação em 18 de outubro, em Estocolmo, o diretor de pesquisa do Ui, Johan Eriksson, reconheceu o desafio mas lembrou que a oportunidade é extremamente significativa e completou: “a ideia é produzir um documento corajoso e sem medo de ser controverso”, que mostre o que realmente precisa ser feito ou pensado, sem se preocupar se isso é politicamente inconveniente. Os questionamentos, no entanto, são vários: o escopo da iniciativa é bastante amplo (talvez até demais?), o tempo é curto e condensar tantas e tão diversas contribuições será tarefa não menos que hercúlea.

Independentemente dos questionamentos, é preciso reconhecer que a oportunidade de apresentar propostas baseadas em anos de pesquisa para a criação de políticas na prática é imperdível. É curioso imaginar, no entanto, a motivação para um movimento como esse. Após a Segunda Guerra Mundial, os civis e acadêmicos de ciências sociais — como as RI ­— foram convidados a participar das decisões de segurança nacional e internacional, antes um domínio puramente militar, porque percebeu-se que o poder nuclear era algo que não poderia mais ser controlado de forma tradicional. A possibilidade de destruição total tornou a segurança um domínio delicado na época e provavelmente trouxe um certo pânico para os então responsáveis pela questão. Fica a questão: terá sido um desespero análogo o que levou a essa iniciativa, ou apenas a noção de que a academia realmente tem muito a contribuir nessa área? Independentemente da resposta, o importante é não perder a oportunidade — e garantir que as propostas reflitam de fato temas e pontos relevantes e por vezes ignorados pela burocracia.



Gabriela Prado é internacionalista formada pelo Unicuritiba em 2009 e concluiu em 2012 o MSc International Business Negotiation pela École Supérieure du Commerce de Rennes. Atualmente mora em Estocolmo e é membro do Utrikespolitiska Institutet (Swedish Institute of International Affairs). 
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Europa segundo o Reino Unido



Foto: o ministro britânico para a Europa, David Lidington, e a diretora do Utrikespolistika Institutet, Anna Jardfelt, em Estocolmo no dia 02 de outubro de 2012. Fonte: arquivo pessoal.

Por Gabriela Prado 

Em tempos de crise do euro e crise na União Europeia (UE), os contrastes dentro do continente europeu ficam mais visíveis — vide post anterior, sobre a pesquisa Transatlantic Trends 2012, publicado em 03 de outubro — e a ambiguidade do projeto europeu de integrar e respeitar as individualidades ao mesmo tempo fica praticamente palpável. Não se trata aqui de acrescentar uma voz ao coro que prega o fim da UE — até porque como já vimos a maior parte dos europeus de fato acredita no projeto (segundo a Transatlantic Trends 2012, 61% acham que a UE foi positiva para seus países), mas de observar de perto as expectativas para o futuro.

No dia 02 de outubro o ministro britânico para a Europa, David Lidington, esteve no Instituto de Política Externa sueco (Ui) para falar sobre como o Reino Unido vê a Europa. Durante mais de uma hora o ministro falou e respondeu à perguntas sobre os desafios à frente para a UE, o compromisso que o Reino Unido pretende — ou não — assumir e sobre algumas similaridades entre as políticas britânica e sueca em relação à UE. E deixou bem claro: o Reino Unido quer participar ativamente da UE, desde que o bloco respeite as diferenças e particularidades de cada Estado-membro. Participar sim, mas com autonomia.

Os três principais desafios levantados pelo ministro foram: competitividade, comprometer-se a olhar para fora e ter responsabilidade democrática. Segundo Lidington, a Europa vai precisar ser mais competitiva frente às economias emergentes da América Latina e ao gigante chinês se quiser manter o status e os benefícios sociais que tem hoje, por exemplo. Ainda que o mercado comum tenha sido um excelente passo nessa direção, existem poucos avanços em áreas estratégicas como um mercado comum no âmbito digital e energético, setores-chave para melhorar a competitividade do bloco. É preciso também tornar as regras mais “business-friendly” - leia-se flexibilização - e investir em acordos ambiciosos de livre comércio com países-chave, como o acordo com a Coreia do Sul que entrou provisoriamente em vigor em 2011.

Pensando ainda na expansão das relações para fora do que hoje é o bloco europeu, Lindinton foi claro ao defender a inclusão dos países a leste dos Bálcãs e da Turquia — desde que, claro, cumpram com as condições necessárias para a entrada no bloco. É curioso que haja uma defesa tão categórica dessa ampliação em um momento de crise como esse (resultada parcialmente de uma integração muito rápida e pouco monitorada de economias tão diferentes), mas compreensível sob a luz da necessidade de maior dinamismo a determinadas áreas da economia europeia.

No que diz respeito à responsabilidade democrática, o governo britânico considera que a UE precisa aprender a lidar com as demandas democráticas dos países: usar ou não o euro, fazer ou não parte do espaço Shengen e por aí vai. Não é surpresa que essa seja uma demanda do Reino Unido que, por motivos próprios, não participa nem do espaço Shengen e nem adotou o euro. A Europa precisa, assim, “respeitar a diversidade” ao tratar de como os países vão se integrar, e será necessário para isso uma nova arquitetura da UE – diferente desta que está sendo moldada desde os anos 50.

A questão sobre a “nova arquitetura” da Europa, assim, é absolutamente central para a Europa em geral e para o Reino Unido em especial, que quer fazer parte mas não quer abrir mão de sua identidade e autonomia (não era essa uma das condições dos tais blocos econômicos?). O governo britânico busca uma forma de “estar na Europa mas sem ser governado por ela”, o que resume a percepção e objetivo britânicos para o continente. Num âmbito em que as nuances são fundamentais, como declarou a ex-secretária sueca para a Europa, a declaração acima não deixa dúvidas sobre a direção que o Reino Unido defende para a UE. Ficamos esperando os próximos capítulos.


Gabriela Prado é internacionalista formada pelo Unicuritiba em 2009 e concluiu em 2012 o MSc International Business Negotiation pela École Supérieure du Commerce de Rennes. Atualmente mora em Estocolmo e é membro do Utrikespolitiska Institutet (Swedish Institute of International Affairs). 
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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Século XXI: A era das ciberguerras mundiais







Por Michelle Avanci

No dia 4 de outubro de 2006, o site Wikileaks foi fundado na Suécia tendo como seu principal editor e porta voz o australiano Julian Assange. É um site sem fins lucrativos com o objetivo de publicar informações confidenciais vazadas de governos ou empresas. O Wikileaks recebe de seus leitores muitas das informações publicadas. Suas despesas com funcionários, servidores, burocracia e advogados são pagas a partir de doações, principalmente de organizações de mídia.
Algumas publicações chamaram a atenção de grandes potências, principalmente dos Estados Unidos. Em 2010, informações confidenciais sobre a guerra dos EUA contra o Afeganistão e o Iraque, foram divulgadas pelo site. Um vídeo e alguns relatórios mostram como britânicos e norte-americanos ignoraram completamente os direitos humanos nestes países, torturando soldados e matando civis iraquianos e afegãos.[1] Outro grande impacto para o governo dos Estados Unidos foi quando tornaram-se públicos documentos, nos quais Hillary Clinton diz aos diplomatas norte-americanos que conseguissem informações sobre líderes políticos da ONU, principalmente do secretário geral Ban Ki-moon.[2]
        A maior discussão que se tem sobre as divulgações do Wikileaks é se elas são positivas ou negativas para a sociedade internacional e seus atores. A Declaração Universal dos Direitos Humanos traz em seu artigo XIX o seguinte texto: Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.[3] Deste ponto de vista, Assange tem o direito de publicar em seu site informações confidenciais de outros países.
        O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e o Primeiro-Ministro da Federação Russa, Vladmir Putin, declararam apoiar o site Wikileaks no que diz respeito à divulgação de documentos de vários países, considerados secretos. [4] Afinal, ele dá transparência e divulga casos que mostram o desrespeito, por parte de alguns Estados, aos Direitos Humanos. Em contrapartida, os governos atingidos pelas publicações alegam que a divulgação de documentos confidenciais pode gerar complicações entre Estados e até criar conflitos entre países, os quais comprometem a seguridade internacional e a segurança dos seres humanos.
Ou seja, existem dois pontos a serem discutidos, em que cada um escolhe o lado que irá defender a partir de seus interesses próprios. Lula, por exemplo, apóia Assange por se dizer a favor da liberdade de expressão. No fim de seu mandato, contudo, ele quis censurar a imprensa nacional. Quais são, então, seus verdadeiros interesses em apoiar o australiano? E Putin? Ele questiona a prisão de Assange perguntando se esta ação não infringe ideais democráticos. Quais seriam, porém, seus reais motivos para fazer este questionamento?
Já os Estados Unidos não concordaram com a publicação de seus documentos e relatórios, apoiando, é claro, a idéia de que a Wikileaks está contribuindo para a formação de conflitos internacionais. Eles aplicam sua realpolitik inclusive em casos extremos, os quais nem sempre são bem vistos pela sociedade internacional. Por este motivo não revelam tudo o que fazem, pois se o fizessem as relações diplomáticas entre os países se complicariam e guerras poderiam surgir. Defendem que suas ações são um mal necessário para manter a paz e a segurança internacional.
Em 2010, um mês após a divulgação destes importantes documentos sobre as guerras dos Estados Unidos, Julian Assange foi acusado de estupro e agressão sexual por duas suecas. A Suécia expediu dois mandatos de prisão contra ele, mas por causa da pressão da mídia defendendo que a acusação se tratava de uma conspiração, o mandato foi retirado. No fim de 2010, contudo, por pressão, desta vez dos Estados Unidos, a Suécia reabriu o caso, com um pedido de extradição de Assange encaminhado à Inglaterra. Ele se entregou alguns dias depois à polícia de Londres alegando não ter cometido nenhum crime sexual. Houve uma audiência em um tribunal de Londres, na qual ele ganhou direito à liberdade condicional, depois do pagamento da fiança de 200 mil libras (problema resolvido por simpatizantes da causa). Em maio de 2012, a Inglaterra concordou com a extradição de Assange para a Suécia, mas logo em seguida ele refugia-se na embaixada do Equador buscando asilo político.
O presidente do Equador, Rafael Correa, após um longo período de espera decidiu, finalmente, conceder asilo ao australiano. Sua decisão foi tomada, não só por defender a causa de Assange, mas também, com a intenção de provocar os Estados Unidos. Os dois países possuíam boas relações até que, no início de 2011, um embaixador americano foi expulso do território equatoriano por comentários que não agradaram o presidente Rafael Correa. Em resposta, o governo norte-americano declarou o embaixador equatoriano em Washington como persona non grata. [5]
A questão agora é que a viagem de Assange da embaixada até o Equador não está garantida. A Inglaterra ameaçou invadir o prédio para prender o acusado e extraditá-lo para a Suécia, baseando-se na Diplomatic and Consular Premises Act (Lei das Instalações Diplomáticas e Consulares) de 1987, que daria direito ao país inglês de entrar na embaixada, neste caso. Alguns dias depois, a OEA (Organização dos Estados Americanos) reuniu-se para discutir, não sobre o asilo dado pelo Equador, mas sim sobre a questão da invasão inglesa a embaixada equatoriana. Pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, da qual a Inglaterra é signatária, entretanto, só é possível entrar em uma embaixada com a permissão do embaixador.[6] Uma resolução aprovada pela OEA manifestou apoio e solidariedade ao Equador.  A organização não concordou com a possibilidade de invasão da embaixada, fazendo com que o Governo inglês esclarecesse que não usaria esta possiblidade.
Julian Assange se encontra na embaixada há quatro meses sem que seu caso seja solucionado. O problema, porém é muito maior do que as acusações de crimes sexuais. Julian Assange mexeu com potências que possuem grande poder e influência na esfera internacional. O caso poderia ser classificado com uma ciberguerra mundial, e uma vez que esta guerra virtual começou, é impossível fazê-la parar. Por mais que consigam acabar com Julian Assange e a Wikileaks, outros grupos estarão dispostos a recriar este trabalho. Os governos não estão mais seguros, as pessoas que tiveram contato com os documentos considerados secretos vão querer procurar mais, pois certamente há mais a ser descoberto e divulgado aos outros cidadãos do mundo.

Michelle Avanci é estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
 




[3] Disponível em http://www.un.org/es/documents/udhr/ acessado em 01/10/2012
 
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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Transatlantic Trends 2012: o que pensam os dois lados do Atlântico (norte)?



por Grabriela Prado

Na segunda-feira 17 de Setembro, o Instituto de Política Externa sueco (Ui – Utrikespolitiska Institutet) promoveu um seminário para discutir os resultados da pesquisa “Transatlantic Trends 2012”, promovida pelo German Marshall Fund e organizações parceiras. A pesquisa, que está na 11a. edição, entrevistou pessoas nos EUA, Rússia, Turquia  e outros 12 países da União Europeia (UE12) e busca mostrar como os dois lados do Atlântico norte percebem as questões atuais da política internacional como a crise do Euro, a guerra no Oriente Médio e a liderança política mundial.
Alguns dos resultados apresentados estavam dentro do previsto, outros foram particularmente surpreendentes. De modo geral, a pesquisa demonstrou que a Europa e os EUA têm visões congruentes das questões internacionais, mas apontou  grandes divisões dentro do continente europeu. As divisões entre os países se dão principalmente entre os mais e os menos afetados pela crise do euro, e se por um lado a maior parte considera que a União Europeia foi boa para o país (61%), uma fatia semelhante apresenta opinião contrária em relação ao euro (57% dos entrevistados nos 12 países europeus consideram que o euro foi negativo para a economia nacional). Portugal e França apresentaram os maiores índices favoráveis a continuar com o euro, apesar dos efeitos negativos (34% e 33%, respectivamente), enquanto 27% dos espanhois e 26% dos alemães pensem que seria melhor voltar à moeda antiga. Ainda que esses números não constituam a maioria, é significativo pensar que ¼ da população considera que seria positivo abandonar o euro.

UE e gerenciamento da crise

Apesar da relativa satisfação com a UE, a maior parte dos entrevistados em todos os países exceto a Alemanha considera que cada país deve ter autoridade sobre as finanças domésticas (em média, 57%). Os maiores índices foram no Reino Unido e na Suécia (79% e 75%), enquanto na Alemanha 53% defendem que a UE tenha mais autoridade sobre a política econômica e orçamentária dos membros. Isso não é surpreendente considerando que 63% dos alemães aprovam a forma como Angela Merkel tem gerenciado a crise e 68% aprovam sua forma de gerenciar a economia nacional. Um número significativo de europeus, no entanto, se sente particularmente afetado pela crise: 65%, um incremento de 4% em relação ao ano anterior. Os maiores índices estão na Bulgária e Portugal (89%), seguidos pela Romênia (88%), e os menores na Suécia (36%) e Alemanha (45%).

Relações transatlânticas e interesses nacionais

Nas relações transatlânticas, tanto os europeus quanto os americanos desejam uma liderança compartilhada nas questões internacionais (63% dos americanos desejam uma liderança europeia e 52% dos europeus uma liderança americana, principalmente entre os democratas). Segundo a responsável pela pesquisa, Constanze Stelzenmüller, no entanto, essa liderança tem significados diferentes para cada lado do Atlântico: os americanos a percebem a liderança europeia como um “fardo compartilhado”, enquanto os europeus percebem a liderança americana como um “ato imperialista”. A esmagadora maioria também percebe as relações entre as duas regiões como “positivas”ou “mistas”, sendo que apenas 5% dos europeus e 7% dos americanos consideram as relações “ruins”.
Há que se destacar a percepção de ambos sobre os interesses nacionais. À luz da política americana de “pivô para a Ásia”, em 2011 a maior parte dos americanos considerava que a Ásia seria mais importante para os EUA do que a Europa. Essa percepção se inverteu em 2012, e 55% consideram a UE mais importante, contra 34% para a Ásia. Na UE, a maioria em ambos os anos considera os EUA mais importantes, com 61% em 2012. As percepções, no entanto, variam dentro do continente. A esmagadora maioria na Alemanha considera os EUA mais importantes que a Ásia (68% contra 25%), enquanto a Suécia fica em cima do muro com 45% para os EUA e 43% para a Ásia. Rússia e Turquia, como esperado, estão mais voltadas para a Ásia (40% e 46%, respectivamente) do que para os EUA (24% e 29%).

China

A percepção sobre a China apresentou grandes variações entre os países pesquisados. Entre os que mais consideram a China como uma “ameaça econômica”, encabeçam a lista França (65%), EUA (59%), Portugal (54%) e Espanha (51%). Os maiores apoiadores da China como uma “oportunidade” foram Holanda e Suécia (58%), seguidos por Romênia e Reino Unido (56%). Na Rússia a diferença foi pequena (39% oportunidade, 30% ameaça), assim como a média dos UE12 (42% oportunidade, 45% ameaça).

Intervenções militares e Irã

            Perguntados sobre se as intervenções no Iraque, Afeganistão e Líbia foram “a coisa certa a se fazer”, foi possível perceber maior apoio à intervenção na Líbia e menor no caso do Iraque, de forma geral. Entre os países da EU12, 48% consideraram que foi a coisa certa a se fazer no caso da Líbia, mas apenas 38% pensam o mesmo sobre o Iraque. O índice de aprovação das intervenções foi maior na Suécia (68% na Líbia, 62% no Afeganistão e 56% no Iraque, bastante fora da média europeia) e menor entre Rússia e Turquia (bem menos de 25% de aprovação para todas as três intervenções nos dois países).
            Quando perguntados se a guerra é por vezes necessária para obter justiça, 74% dos americanos responderam que sim, enquanto apenas 34% dos europeus (UE12) concordam. Os números nos EUA apresentaram ligeira queda nos últimos anos, estando no pico em 2003, com 84%. Em 2003 48% dos europeus concordavam com a afirmação, número que caiu para menos da metade (23%) em 2009 mas que vem aumentando levemente desde então.

De modo geral, a pesquisa permitiu perceber algumas significativas divisões dentro da UE – tanto em questões internas quanto externas, apesar da visão positiva das relações transatlânticas. Ficou registrada também a influência da instabilidade econômica (na região) e política (nos arredores) sobre as opiniões em relação a intervenção e segurança, um fenômeno bastante significativo. A pesquisa pode ser vista no site www.transatlantictrends.org.

Países europeus participantes em 2012: França, Alemanha, Itália, Holanda, Polônia, Reuni Unido, Portugal, Turquia, Eslováquia, Espanha, Bulgaria, Romênia e Suécia.
Foi usada uma amostra de 1000 pessoas com 18 anos ou mais em cada país, e 1500 na Rússia. A pesquisa foi realizada entre 2 e 27 de Junho de 2012.

Gabriela Prado é internacionalista formada pelo UniCuritiba, Mestre em International Business Negotiation pela ESC Rennes School of Business, França. Atualmente mora e trabalha na Suécia.

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