Mísseis. Atentados. Mortes. Inocentes. Religião. Território. Jerusalém.
Gaza. Judeus. Árabes. Israel. Palestina. São estas algumas das palavras que
tomaram os noticiários nas últimas semanas. O conflito entre Israel e Palestina
tem protagonizado confrontos violentos que foram agravados no começo do
Ramadan, período de jejum sagrado árabe. O combate tem chamado atenção
devido à resposta agressiva da força militar israelense contra protestantes
palestinos. A luta é em parte motivada pela disputa por Jerusalém, cidade
considerada, pelos israelenses e pelos palestinos, a capital de seus respectivos
Estados. Entretanto, o que vemos em 2021 é resultado dos mesmos fatores
nascidos há mais de 100 anos. Então quando, e como, tudo isso começou?
Após a queda do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, a
Grã-Bretanha deteve o controle da região da Palestina. Tensões começaram a
surgir quando os britânicos propuseram um “Lar Nacional” para a comunidade
judaica no território da Palestina. A carta que estabelecia a terra para o povo
judeu tinha 67 palavras e foi assinada em de 2 de novembro de 1917.
Chamada de “Declaração Balfour”, é o ponto inicial do conflito
israelense-palestino.
Antes da declaração, a Palestina possuía maioria árabe, e apenas 15%
da população era judaica. Após a implementação do novo território, entre 1920
e 1940, milhares de judeus migraram para a Palestina escapando das
perseguições e atrocidades do Holocausto, e a violência entre árabes, judeus e
contra os britânicos aumentou expressivamente. Em resposta, A Organização
das Nações Unidas, em 1947, votou pela divisão da Palestina em Estado
Judeu e Estado Árabe, mas Jerusalém, sagrada para ambos, recebeu o título
de cidade internacional.
A divisão proposta pela ONU foi bem aceita pelos líderes judaicos, mas
não satisfez os palestinos. Em 14 de maio de 1948, após a saída dos britânicos
da Palestina, os judeus declararam a criação do Estado de Israel. Por
consequência, Israel foi invadida por forças árabes, que incluíam a Jordânia e o
Egito, o que culminou na Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949). A
guerra foi devastadora para os palestinos. Jerusalém foi dividida em parte
ocidental pertencente a Israel, e a oriental, a Jordânia. A faixa de Gaza foi
ocupada pelo Egito.
Os conflitos continuariam por décadas. Em 5 de junho de 1967 começava a Guerra dos Seis Dias, que após seu término, favoreceu Israel na
conquista de territórios e redesenhou o mapa do Oriente Médio. Agora, Gaza e
Cisjordânia (no mapa como “West Bank”) foram ocupadas por Israel. O
desenho de 67 é similar ao atual, com mudanças geradas por tratados de paz
de Israel com países vizinhos e o aumento da influência israelense nos
territórios palestinos, através da instalação de assentamentos, o que é ilegal
perante o direito internacional.
Voltando para o presente, vamos recapitular Jerusalém, cidade dividida
durante as guerras árabe-israelenses, com israelitas no Oeste e palestinos ao
Leste. Para Israel, a cidade proclamada capital é patrimônio religioso por ser a
“terra prometida” dada por Deus à Abraão. Para os Palestinos, Jerusalém é sua
herança histórica e capital da nação que desejam formar. Diversas tentativas
de instaurar a paz aconteceram, algumas propunham a solução de dois
estados, ou “estado duplo”.
“A chamada solução de dois estados foi a fórmula consagrada na
Resolução 181 para a partilha da Palestina entre um estado judeu e um árabe.
Na verdade, nenhum dos dois povos queria a partilha. Os judeus consideravam
a chamada Terra Prometida como sua, desde a Antiguidade com base na Torá
e os palestinos por sua vez, que já habitavam a região há 1400 anos, não
compreendiam por que tinham que dividir a terra onde viviam há tanto tempo
com grupos de alemães, russos, poloneses e outros povos europeus por causa
de uma perseguição (o Holocausto) com a qual eles não tinham relação
alguma. Ocorre, no entanto, que o movimento sionista se organizou e se
preparou muito melhor do que os árabes, angariando votos para a aprovação
da Resolução 181 na Assembleia Geral, enquanto os árabes aparentemente
não acreditavam que a mesma passaria ou que seria efetivada (lembremos que
a ONU era uma Organização recém-criada e sua antecessora a Liga das
Nações ficou célebre pela não efetividade de suas resoluções).” – Comenta o
Professor Andrew Traumann.
Atualmente presenciamos um dos momentos mais críticos da batalha
herdada de décadas de guerras por território. As áreas de Gaza, Cisjordânia e
Jerusalém são focos da tensão entre palestinos e israelenses. A faixa de Gaza
é comandada pelo grupo militar chamado “Hamas”, que desde 2007, ano de
sua criação, tem enfrentado Israel. Israel e Egito controlam severamente as
fronteiras que dividem com Gaza para impedir a entrega de armas para o
Hamas.
O conflito que vemos hoje agravou-se com a expulsão de famílias
palestinas da região leste de Jerusalém, e com a proibição imposta aos árabes
de celebrarem o Ramadan no tradicional Mosque Al-Aqsa. Os palestinos em
Gaza e Cisjordânia dizem sofrer pelas restrições de Israel, este que justifica
suas ações como um modo de proteção contra a violência palestina. Israel tem
sido alvo de críticas por usar de sua avançada força militar para bombardear as
áreas ocupadas por palestinos, como Gaza, que não possuem condição de
retaliação no mesmo nível.
Até o dia de hoje, aproximadamente 200 pessoas, maioria palestinos,
morreram nos confrontos. A situação deixa uma série de questões sem
concordância entre os dois lados: para onde irão os refugiados palestinos, se
os judeus instalados em territórios palestinos devem ser removidos, se
Jerusalém deve ser dividida e se o Estado da Palestina deve ser criado.
“Acho muito difícil uma vez que desde 1967 Israel vem construindo
assentamentos ilegais nos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias. Segundo a Resolução 242 esses territórios capturados juridicamente
encontram-se sob disputa e oficialmente não pertencem a ninguém. Por isso
Israel é acusado de ocupar a Cisjordânia com judeus para criar o que
chamamos nas Relações Internacionais de fait accompli, ou seja, um fato
consumado e alegar que não pode retirar aquelas famílias que já moram na
região há muitos anos. Não creio que ocorra uma mudança muito grande fora
dessa dinâmica de conflitos esporádicos que tem sido a tônica nos últimos
anos. Não há vontade política na opinião pública israelense, no Mundo Árabe e
tampouco da comunidade internacional para que vejamos mudanças
significativas a curto prazo.” – Andrew Traumann.
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