Artigo apresentado no curso de extensão “História, Cultura e Poder", ministrado pelo Prof. Eduardo Teixeira de Carvalho Junior, no Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.
* Por: Raphael Rigoni Rodrigues
Completando
cem anos em outubro deste ano, a Revolução Russa é provavelmente o maior
símbolo histórico do século XX. Em menos de cinquenta anos a Rússia, um feudo
atrasado, se tornaria a segunda maior potencia industrial do mundo, controlando
por sua influencia metade do mundo. Por esses e outros motivos ela merece ser
lembrada e estudada.
A
Revolução Russa foi um movimento além do seu tempo e ficará marcada por toda
historia. A revolução foi comandada por Vladimir Lenin que depôs a família
imperial dos Romanov, líderes do Estado Russo desde o século XVI. A revolta
popular era clara, a Rússia de 1917 era um Estado majoritariamente rural e
atrasado que ainda vivia das glórias do passado, afundado em crises internas,
em meio a uma guerra onde russos eram massacrados, a comida não era suficiente
e o czar mais impopular que nunca. A revolução nos olhares populares
representou mais do que simplesmente uma mudança, mas uma esperança de um povo
desacreditado em seus czares. Ao decorrer dos anos os Romanov adquiriram uma
fortuna dificilmente igualada pelos maiores dos burgueses, porém o povo russo
somente poderia sonhar com o esplendor real da família imperial. Quando Lenin
surge e fala para o trabalhador, a própria teoria Leninista foi moldada de
acordo com as necessidades do povo russo, como a união do trabalhador do campo
e do trabalhador urbano. Pela primeira vez em muito tempo alguém falava para a
população. Dos primeiros passos de uma insatisfação popular até a morte de um
Rei, qualquer semelhança entre as revoluções Russa e Francesa não é mera
coincidência, se olharmos nas mentes dos dois principais nomes da revolução de
outubro, Lenin e Trotsky, vemos o grande impacto deste evento na elaboração das
teorias revolucionarias dos bolcheviques, um revolucionário francês em Moscou
em 1920 teria dito “Eles conhecem a revolução francesa melhor que nós”
(Hobsbawm, 1996, p. 73 e 62).
Ocorrendo
128 anos antes, a Revolução Francesa não foi um fenômeno isolado, mas sim uma
dentre outras revoluções que tomaram forma no final do mesmo século. Entretanto
foi a mais fundamental, sendo muito mais radical que qualquer outro levante, representou
o fim não só de uma dinastia, mas de todo um sistema. Representado a primeira republica moderna
europeia, simboliza o inicio de um novo tempo, e por consequência o fim de
outro. Ela surge primeiramente da insatisfação da população francesa em relação
a sua monarquia. A burguesia, com o apoio das classes mais baixas, acabaria por
degolar o rei, sua esposa, mas não só eles, toda a estrutura de mundo antigo e
seu sistema. A Revolução Francesa representou para o mundo da sua época algo
nunca visto antes. A completa destruição do status
quo, da tomada de Bastilha até os dias finais da revolução, ela só tinha um
objetivo, o povo. Segundo Hobsbawm (2010) ela não foi liderada por um partido
ou movimento organizado, nem ao menos chegou a ter lideres, o que a difere da
maioria dos outros movimentos, geralmente centrados na figura de uma única
pessoa. Foi o consenso geral de ideias de um grupo social coerente que deu ao
movimento uma unidade, esse grupo foi a burguesia. Porém fazendo uma referência
ao livro Revolução dos bichos de
George Orwell “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais
que os outros”.
A
Revolução Francesa, por sua vez, deu o terreno necessário para o
desenvolvimento da burguesia, semelhante à Revolução Russa, grande parte da
massa era constituída por membros das classes mais baixas, os Sans-Coulouttes, entretanto foram os
burgueses, que no controle politico revolucionário, colheram os frutos da
revolução. Pode-se dizer que a Revolução Russa surge como uma consequência
inevitável da Francesa, surgindo como um processo de maturação. Como citado
anteriormente a burguesia foi a força motriz para os franceses e eles fariam o
possível para salvaguardar seus direitos. A Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão em seu primeiro artigo define “Todos os homens
nascem e são livres e iguais em direitos”. Porém neste mesmo artigo reconhece
distinções sociais em utilidade comum e ainda assume a propriedade privada como
um bem natural e inviolável.
Por
outro lado, a Revolução Russa, influenciada pelas ideias marxistas, enxerga na
burguesia um inimigo, a guerra de classes. Ela teria como foco o russo comum, o
trabalhador. Fazendo uma referência a Revolução Francesa, a Revolução Russa foi
uma continuação por outros meios, foi uma
Revolução de Sans-Culottes. O nome vem de um grupo da revolução francesa de
mesmo nome, eram os membros das classes mais baixas ou lideres entre os comuns.
Seu nome vem do Francês “Sem Calções”, vestimenta associada aos membros das
classes superiores. A ausência de uma burguesia russa influenciou muito no
formato da sociedade soviética, uma vez que a população era majoritariamente
dividida entre nobres e ex-servos.
A
Revolução Russa merece ser lembrada, pois como sua antecessora francesa teve um
papel de destaque na formação de uma maneira diferente de se ver o mundo, a
quebra de status quo. Em primeira
vista a União Soviética pode ter acabado em 1989, e sua influencia direta pode
ter também se exaurido com o tempo, mas seus impactos sociais estarão para
sempre presentes no mundo. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de 1917, assim
como 1789. Os lideres de Estados vizinhos, tiveram que lidar com uma situação
nunca vista antes, a justificação de poder que fugia do socialmente aceito. Em
1789 foi quebrada a relação soberano e servo, pela primeira vez a liberdade, igualdade
e fraternidade foi mostrada ao mundo, a França pós-revolucionaria estenderia
seus domínios de Portugal até a Polônia e da Normandia até o sul da Sicília, um
Estado do povo havia subjugado seus inimigos monarcas e espalhado os ideais de
sua revolução pelos quatro cantos da Europa.
Já
em 1917, o individuo quebra as correntes que o aprisionavam em classes, a paz, o
pão e terra foram cobrados de cada nobre e a Rússia czarista de servos e
proletários, tornara-se a primeira republica socialista do mundo. Essa que
vivia uma situação de quase pleno emprego, enquanto em 1930 os países
capitalistas enfrentavam a pior crise da historia. Vale lembrar que em 1945 os
russos colocariam sua bandeira sobre o Reichstag.
Mas mais que isso a Revolução Russa mostrou para o mundo uma coisa ainda maior,
como uma fênix, ela nos mostrou que existe sim uma forma diferente de se
pensar, diferente do status quo.
Afinal, não existe muita diferença entre o pão, a paz e a terra e a liberdade a
igualdade e a fraternidade. Quando colocada em perspectiva, a Revolução Russa
demonstra muito mais para a humanidade do que ela própria: a luta de toda
sociedade pela liberdade. Toda uma luta inerente a qualquer sociedade.
Referencias
Bibliográficas
FLORENZANO, M. A
Revolução Russa Em Perspectiva Histórica e Comparada. São Paulo. 2008.
HOBSBAWM, E. Ecos da Marselhesa: dois séculos reveem a
Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
HOBSBAWM, E. A
Era Das Revoluções. Rio De Janeiro. Paz & Terra, 2010.
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