quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Análise crítica do discurso Primeiro Ministro canadense, Justin Trudeau, na Assembleia Geral da ONU em 2016.

Artigo apresentado na disciplina de Análise em Política Externa e Relações Internacionais, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. As opinões retratadas no artigo pertencem aos seus autores, e não representam a posicionamento da instituição. 






* Erlon Murilo da Silva Madeira
 

O discurso do Primeiro Ministro Justin Trudeau na Assembleia Geral da ONU marca um novo rumo de política externa a ser seguido pelo Canada, que não somente deseja ser lembrado como um pioneiro em questões ecológicas e humanitárias, além de sua conhecida hospitalidade para refugiados, e orgulho por seu multiculturalismo, mas também usar esses argumentos como forma de ganhar espaço no tabuleiro internacional. Semelhante ao que acontece com a Alemanha, o Canadá se enquadra num segundo escalão global de influência política, apesar de ter economias e qualidade de vidas em excelentes níveis, visa subir alguns degraus de influência ao mostrar preocupações com problemas que muitos países não se podem dar ao “luxo” de discursar na tribuna, pelo fato de terem preocupações mais pertinentes a serem discutidas. Trudeau usa este tempo focar em crescimento sustentável, questões de gênero que estariam dificultando a experiência feminina no mercado de trabalho, preocupação com o ingresso de jovens no mercado e crescimento sustentável.
Por ter condições sociais e econômicas muito melhores que boa parte dos membros da ONU, o Canadá pode se desenvolver em áreas que requerem certo nível de infraestrutura interna de alta qualidade, e usar o espaço de discurso na ONU como forma de mostrar sua aptidão à desempenhar papéis de maior visibilidade no cenário político internacional, sem deixar a “humildade” de lado, assumindo equívocos que o governo canadense teve ao se relacionar com povos nativos ao longo de sua história. O Primeiro Ministro não hesita em colocar o Canadá abertamente como candidato a liderar missões pela ONU também, mostrando disposição em utilizar expertise militar em prol de ações humanitárias da organização. Ao fim do discurso, o Ministro cita ainda a grande acolhida canadense à onda de imigração Síria, reforçando a importância que seu país dá às diferenças culturais, religiosas e étnicas, colocando a diversidade como motivo de orgulho e força do povo canadense, mais uma vez utilizando um ponto muito forte para atribuir uma boa imagem ao Canadá, sendo interrompido por aplausos dos demais membros.
Fazendo uma análise crítica deste discurso, é claro o descontentamento que o Canadá tem em ainda ser considerado um anão político. O discurso se deu num período que antecedia as eleições norte americanas, e o Primeiro Ministro deixa implícita sua desaprovação quanto aos ideias mais restritivos na questão migratória que tem o atual presidente Trump, mostrando assim a disposição que o Canadá está assumindo em se destacar no cenário internacional. Trudeau é frequentemente associado à uma figura mais liberal e progressista por ser muito jovem para o cargo que ocupa, e por suas ações à frente do poder político canadense, como a nomeação de muitas mulheres e pessoas de diferentes etnias e religiões ao formar seu corpo ministerial. Essa grande diversidade representada oficialmente nos gabinetes oficiais, é trabalhada no discurso como uma grande vantagem e motivo de orgulho aos canadenses, numa tentativa de amenizar os diversos conflitos e grandes desentendimentos que o governo canadense teve ao longo de muito tempo, com os povos nativos indígenas, evidenciado num formal reconhecimento de que nem sempre o Canadá consegue ser exemplar.

Como todos os países fazem em seus discursos, versando mais contundentemente em áreas de domínio, o discurso canadense de “good guy” é usado até como tentativa de piada para quebrar gelo no início do discurso quando o Ministro diz que “canadenses são muito educados, até mesmo para reclamar”. O papel progressista e acolhedor do Canadá não é novidade, esta política esta presente à muito tempo e é uma identidade nacional, mas com a recente onda de refugiados de guerra e a reafirmação de que sim, o Canadá ainda está de braços abertos para receber quaisquer religiões e etnias que necessitem de abrigo, passa a ter maior foco frente à manifestações nacionalistas que vem crescendo na Europa, que não estão tão dispostas a receber refugiados como o Canadá se mostra, fazendo que o discurso seja entendido como um “puxão de orelha” aos demais países que se eximem de receber refugiados, ou pelo menos não são tão adeptos à recebe-los. Ao final do discurso, Trudeau ainda coloca as forças armadas canadenses à disposição da ONU, mostrando pro-atividade em ter seu pessoal militar engajado em operações além de suas fronteiras, de modo que expanda sua influência no cenário internacional.

Erlon Murilo da Silva Madeira: aluno do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

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