Artigo apresentado na disciplina de Análise em Política Externa e Relações Internacionais, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. As opinões retratadas no artigo pertencem aos seus autores, e não representam a posicionamento da instituição.
* Erlon Murilo da Silva Madeira
O discurso do Primeiro Ministro Justin Trudeau na Assembleia Geral da ONU marca um novo rumo de política externa
a ser seguido pelo Canada, que não somente deseja ser lembrado como um pioneiro
em questões ecológicas e humanitárias, além de sua conhecida hospitalidade para
refugiados, e orgulho por seu multiculturalismo, mas também usar esses
argumentos como forma de ganhar espaço no tabuleiro internacional. Semelhante
ao que acontece com a Alemanha, o Canadá se enquadra num segundo escalão global
de influência política, apesar de ter economias e qualidade de vidas em
excelentes níveis, visa subir alguns degraus de influência ao mostrar
preocupações com problemas que muitos países não se podem dar ao “luxo” de
discursar na tribuna, pelo fato de terem preocupações mais pertinentes a serem
discutidas. Trudeau usa este tempo focar em crescimento sustentável, questões
de gênero que estariam dificultando a experiência feminina no mercado de
trabalho, preocupação com o ingresso de jovens no mercado e crescimento
sustentável.
Por ter condições sociais e
econômicas muito melhores que boa parte dos membros da ONU, o Canadá pode se
desenvolver em áreas que requerem certo nível de infraestrutura interna de alta
qualidade, e usar o espaço de discurso na ONU como forma de mostrar sua aptidão
à desempenhar papéis de maior visibilidade no cenário político internacional,
sem deixar a “humildade” de lado, assumindo equívocos que o governo canadense
teve ao se relacionar com povos nativos ao longo de sua história. O Primeiro
Ministro não hesita em colocar o Canadá abertamente como candidato a liderar
missões pela ONU também, mostrando disposição em utilizar expertise militar em prol de ações humanitárias da organização. Ao
fim do discurso, o Ministro cita ainda a grande acolhida canadense à onda de
imigração Síria, reforçando a importância que seu país dá às diferenças
culturais, religiosas e étnicas, colocando a diversidade como motivo de orgulho
e força do povo canadense, mais uma vez utilizando um ponto muito forte para
atribuir uma boa imagem ao Canadá, sendo interrompido por aplausos dos demais
membros.
Fazendo uma análise crítica deste
discurso, é claro o descontentamento que o Canadá tem em ainda ser considerado
um anão político. O discurso se deu num período que antecedia as eleições norte
americanas, e o Primeiro Ministro deixa implícita sua desaprovação quanto aos
ideias mais restritivos na questão migratória que tem o atual presidente Trump,
mostrando assim a disposição que o Canadá está assumindo em se destacar no
cenário internacional. Trudeau é frequentemente associado à uma figura mais
liberal e progressista por ser muito jovem para o cargo que ocupa, e por suas
ações à frente do poder político canadense, como a nomeação de muitas mulheres e
pessoas de diferentes etnias e religiões ao formar seu corpo ministerial. Essa
grande diversidade representada oficialmente nos gabinetes oficiais, é
trabalhada no discurso como uma grande vantagem e motivo de orgulho aos
canadenses, numa tentativa de amenizar os diversos conflitos e grandes
desentendimentos que o governo canadense teve ao longo de muito tempo, com os
povos nativos indígenas, evidenciado num formal reconhecimento de que nem
sempre o Canadá consegue ser exemplar.
Como todos os países fazem em
seus discursos, versando mais contundentemente em áreas de domínio, o discurso
canadense de “good guy” é usado até como tentativa de piada para quebrar gelo
no início do discurso quando o Ministro diz que “canadenses são muito educados,
até mesmo para reclamar”. O papel progressista e acolhedor do Canadá não é
novidade, esta política esta presente à muito tempo e é uma identidade
nacional, mas com a recente onda de refugiados de guerra e a reafirmação de que
sim, o Canadá ainda está de braços abertos para receber quaisquer religiões e
etnias que necessitem de abrigo, passa a ter maior foco frente à manifestações
nacionalistas que vem crescendo na Europa, que não estão tão dispostas a
receber refugiados como o Canadá se mostra, fazendo que o discurso seja entendido
como um “puxão de orelha” aos demais países que se eximem de receber
refugiados, ou pelo menos não são tão adeptos à recebe-los. Ao final do
discurso, Trudeau ainda coloca as forças armadas canadenses à disposição da
ONU, mostrando pro-atividade em ter seu pessoal militar engajado em operações
além de suas fronteiras, de modo que expanda sua influência no cenário
internacional.
* Erlon Murilo da Silva Madeira: aluno do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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