Historicamente o sistema
internacional vem passando por mudanças muito significativas. Comumente, tais
mudanças originam-se no cenário nacional devido a transformações sociais e
vão caminhando para a esfera global. Alguns problemas internos, como por
exemplo, os econômicos, podem ser solucionados com a ajuda de um outro agente
internacional, o que gera para o Estado com o problema uma certa dependência em
relação ao Estado que o auxilia. Alguns autores defendem a ideia de que no
sistema internacional, os Estados são egoístas e unicamente buscam ter relações
com os outros se isso for beneficiar-lhes de alguma forma. Seguindo essa
linha de pensamento, um Estado só estaria disposto a ajudar o outro, se este
primeiro também se beneficiasse de alguma forma, criando uma situação que
daria inicio a uma relação de interdependência.
Por uma visão liberal, a
interdependência tende a significar paz e cooperação, porém, a sua definição
vai muito além disso. Mesmo em um cenário onde existem varias relações de
interdependência, as lutas pelo poder continuam. Sob uma visão
analítica, a interdependência acontece em situações em que determinados
acontecimentos em distintas partes do sistema internacional, acabam afetando
outros Estados. A origem de uma interdependência pode dar-se por fenômenos
naturais, como por exemplo, catástrofes naturais, ou por fenômenos sociais,
como os econômicos. A interdependência também pode surgir quando um fenômeno
natural afeta a todo o sistema internacional, este tipo, é denominado de
interdependência ecológica, pois em questões climáticas, todo o globo é
afetado. Por esse motivo, nesta interdependência, entra em debate
questões de segurança climática no cenário global.
Algumas vezes os benefícios
da interdependência são analisados e classificados segundo seus resultados. Uma
dependência mútua será considerada positiva quando ambas as partes obtiverem
benefício. Se ela resultar em uma classificação negativa, significa que não
houve vantagem para nenhuma das partes. Finalmente, quando for de resultado
zero, significa que o ganho de um Estado é a perda do outro.
Alguns analistas liberais
acreditam que futuramente a cooperação substituirá a competição nas relações de
interdependência, pois acreditam que os benefícios obtidos pelas relações
comuns incentivarão os Estados a cooperar. Já outros autores acreditam que
esse fato não seria possível, pois os Estados mais fortes ou desenvolvidos
poderiam usar a interdependência econômica como uma arma para ter certo nível
de controle sobre os Estados mais fracos. Em alguns casos as relações de
interdependência como armas podem ser inclusive mais efetivas que o uso da
força, por ter um resultado mais sutil.
Os custos da
interdependência podem gerar em curto prazo uma sensibilidade referente à
rapidez em que as mudanças em uma determinada região do sistema internacional
afetam a outra. Já em longo prazo, podem criar uma vulnerabilidade referente
aos valores relativos de mudar a estrutura de um sistema internacional. Esta
última depende do grau de rapidez que uma sociedade internacional reage às
mudanças, e também da existência de substitutos.
A interdependência também
pode ser analisada por graus de simetria, que são referentes a dependências
relativamente equilibradas e desequilibradas. Ser menos dependente pode ser uma
fonte de poder, já que o Estado menos dependente poderia ter mais autonomia e
conseguir manipular as assimetrias da interdependência na política
internacional. Porém, nem sempre o maior Estado é o que consegue manipular
(mesmo que seja na interdependência econômica) o outro. Se um Estado mais fraco
tem um nível superior de envolvimento na questão discutida, este pode ter
vantagens sobre os outros.
Os cientistas sociais
estudam um tipo de dependência comum idealista. Esta recebe o nome de
interdependência complexa e conta com uma política mundial diferente. Nela, os
Estados não são os únicos protagonistas importantes no cenário internacional,
pois existem atores transnacionais que atuam além das fronteiras estatais; a
manipulação econômica e o uso de instituições internacionais passam a ser mais
relevantes que o uso da força; e a segurança perde o seu lugar para a guerra,
que passa a ser a nova meta dominante. O atual cenário internacional situa-se
em algum ponto entre os modelos simples de dependência comum e a
interdependência complexa.
O filósofo e cientista
Jean-Jacques Rousseau viu que a interdependência gera certos atritos e
conflitos no cenário internacional, e sua solução para esse problema seria o
isolamento e quebra das relações de dependência. Porém essa saída apontada
por Rousseau seria quase impossível de se concretizar em um mundo globalizado
onde a maior parte dos Estados dependem fortemente de seus laços com outros
agentes internacionais.
O cenário internacional
encontra-se cada vez mais globalizado. Embora ainda não exista uma definição
mundialmente aceita para o termo, ela pode ser definida como um processo no
qual as fronteiras nacionais tornam-se mais permeáveis, devido ao avanço
tecnológico, que possibilita a abundante troca de informações entre as pessoas
ao redor do mundo. A globalização é analisada em todos os aspectos das relações
humanas.
Joseph Nye julga a globalização
como o aumento da interdependência e a considera tão antiga quanto a história,
com a diferença de que atualmente as relações são mais sólidas e complexas.
Mesmo que esta seja considerada o aumento das redes mundiais, esse fato não
implica na sua universalização, pois grande parte da população mundial não tem
acesso a tudo aquilo que é acreditado como efeito da globalização.
Existem duas categorias nas
quais os estudiosos são classificados de acordo com sua visão sobre a
globalização. Por um lado estão os otimistas, que enaltecem as
oportunidades, liberalizações e prosperidade que foram propagadas ao redor do
mundo. Do lado oposto, estão os pessimistas, que veem a globalização como um
processo que fez a divisão entre ricos e pobres mais intensa e
aparente, onde existe uma pequena elite econômica nos Estados mais desenvolvidos,
enquanto a população miserável nos demais Estados aumenta cada vez mais.
Encontram-se diversos tipos
de globalização, entre eles está a ambiental, que é considerada como a mais
antiga por englobar questões sanitárias como a epidemia da varíola ou até mesmo
as mudanças climáticas; a militar, que compreende redes de interdependência que
utilizam a força ou o uso da mesma; a tecnológica, que capta a propagação da
aplicação prática do conhecimento científico; e dentre muitas outras, há também
a globalização social que faz possível a disseminação de pessoas, culturas e
ideais, como por exemplo as ondas feministas que começaram a alastrar-se a
nível internacional.
Com a globalização, o
pensamento feminista conquistou dimensões mundiais, porém como é usual, não há
um único ponto de vista em relação ao feminismo, o que existe, são várias
concepções que ilustram as diferenças sociais baseadas no gênero, que são
fundamentadas em perspectivas positivistas e especificamente as visões
feministas de Relações Internacionais, que vem da pós-positivista. Esta
última busca compreender como o universo patriarcal cria discursos e práticas
violentas nas relações entre os Estados e dentro deles. Todas as visões
compartilham a mesma base, que é a busca do fim da hierarquia de gênero para
atingir a igualdade social entre homens e mulheres. No âmbito das relações
internacionais, a função do feminismo é relatar a exclusão das mulheres da
exposição teórica das relações internacionais, pois acreditam que não seja
possível aceitar que o discurso masculino seja o único capaz de representar
tanto os homens quanto as mulheres.
Uma outra corrente do
feminismo, busca estabelecer uma concepção que reconheça a interdependência
necessária entre ambos os gêneros e a terra, que seja baseada no respeito e na
igualdade para que possa haver uma superação de todas as maneiras de opressão
na sociedade. Os adeptos desta corrente recebem o nome de ecofeministas.
O feminismo conta com três
grandes ondas que foram formando-se e criando força ao longo dos séculos. A
primeira onda teve início no século XIX, e buscava principalmente conquistar os
direitos políticos e especialmente o direito ao sufrágio. A segunda onda teve
lugar entre 1960 e 1980. Ela resgatava vários pontos que já estavam sendo
debatidos anteriormente na primeira onda, mas mantinha um foco maior nas
questões de igualdade, de poder decisório sobre o corpo, como a questão do
aborto, e no fim da discriminação de gênero. Finalmente, a terceira onda
começou em 1990, e também é considerada uma continuação dos temas discutidos
nas fases anteriores. Nesta, predomina uma visão pós-estruturalista do
gênero e da sexualidade, contando também com movimentos das classes excluídas e
minoritárias (não apenas das mulheres) buscando mudar as relações de poder.
A globalização ajudou que
as ondas do feminismo se propaguem mais rápido e com mais força por todo o
cenário internacional, e decorrente dessa disseminação muitas mulheres ficaram
conhecidas por suas obras e contribuições para o movimento. Um exemplo desse
reconhecimento é a Simone de Beauvoir, que foi uma das vozes principais da
segunda onda. Com seu livro "O Segundo Sexo", publicado em 1949,
Beauvoir mostra que a visão da feminilidade é uma criação social para delimitar
a participação das mulheres na sociedade. Sua ideia principal nessa obra era acabar
com a suposta “natureza feminina”, que forçava as mulheres a se verem
mantidas na dependência e no segundo plano.
Atualmente as mulheres
estão ganhando cada vez mais espaço tanto no cenário nacional, quanto no
internacional. Frequentemente vemos mulheres ocupando cargos
que anteriormente eram destinados apenas para os homens, como por
exemplo, a chefia de um Estado. Os direitos reclamados pelas ondas
do feminismo estão sendo progressivamente conquistados a níveis
globais. Por fim, a junção da interdependência com a
globalização está possibilitando um aumento de troca de
informações entre as nações, que permite uma maior cooperação entre
os povos dentro do sistema internacional. Tais avanços no
cenário global deixam perceptíveis as pequenas mudanças que
pouco a pouco vão crescendo e caminhando para construir uma
sociedade internacional livre de preconceitos.
REFERÊNCIAS:
SARFATI,
Gilberto. Teoria das Relações
Internacionais. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 384p.
* Alejandra Alcon Morais: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritba.
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