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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Teoria das Relações Internacionais em destaque: "Interdependência, Globalização e Feminismo".

 Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais 1, ministrado pela profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.


* Alejandra Alcon Morais


Historicamente o sistema internacional vem passando por mudanças muito significativas. Comumente, tais mudanças originam-se no cenário nacional devido a transformações sociais e vão caminhando para a esfera global. Alguns problemas internos, como por exemplo, os econômicos, podem ser solucionados com a ajuda de um outro agente internacional, o que gera para o Estado com o problema uma certa dependência em relação ao Estado que o auxilia. Alguns autores defendem a ideia de que no sistema internacional, os Estados são egoístas e unicamente buscam ter relações com os outros se isso for beneficiar-lhes de alguma forma. Seguindo essa linha de pensamento, um Estado só estaria disposto a ajudar o outro, se este primeiro também se beneficiasse de alguma forma, criando uma situação que daria inicio a uma relação de interdependência.
Por uma visão liberal, a interdependência tende a significar paz e cooperação, porém, a sua definição vai muito além disso. Mesmo em um cenário onde existem varias relações de interdependência, as lutas pelo poder continuam. Sob uma visão analítica, a interdependência acontece em situações em que determinados acontecimentos em distintas partes do sistema internacional, acabam afetando outros Estados. A origem de uma interdependência pode dar-se por fenômenos naturais, como por exemplo, catástrofes naturais, ou por fenômenos sociais, como os econômicos. A interdependência também pode surgir quando um fenômeno natural afeta a todo o sistema internacional, este tipo, é denominado de interdependência ecológica, pois em questões climáticas, todo o globo é afetado. Por esse motivo, nesta interdependência, entra em debate questões de segurança climática no cenário global.
Algumas vezes os benefícios da interdependência são analisados e classificados segundo seus resultados. Uma dependência mútua será considerada positiva quando ambas as partes obtiverem benefício. Se ela resultar em uma classificação negativa, significa que não houve vantagem para nenhuma das partes. Finalmente, quando for de resultado zero, significa que o ganho de um Estado é a perda do outro. 
Alguns analistas liberais acreditam que futuramente a cooperação substituirá a competição nas relações de interdependência, pois acreditam que os benefícios obtidos pelas relações comuns incentivarão os Estados a cooperar. Já outros autores acreditam que esse fato não seria possível, pois os Estados mais fortes ou desenvolvidos poderiam usar a interdependência econômica como uma arma para ter certo nível de controle sobre os Estados mais fracos. Em alguns casos as relações de interdependência como armas podem ser inclusive mais efetivas que o uso da força, por ter um resultado mais sutil. 
Os custos da interdependência podem gerar em curto prazo uma sensibilidade referente à rapidez em que as mudanças em uma determinada região do sistema internacional afetam a outra. Já em longo prazo, podem criar uma vulnerabilidade referente aos valores relativos de mudar a estrutura de um sistema internacional. Esta última depende do grau de rapidez que uma sociedade internacional reage às mudanças, e também da existência de substitutos. 
A interdependência também pode ser analisada por graus de simetria, que são referentes a dependências relativamente equilibradas e desequilibradas. Ser menos dependente pode ser uma fonte de poder, já que o Estado menos dependente poderia ter mais autonomia e conseguir manipular as assimetrias da interdependência na política internacional. Porém, nem sempre o maior Estado é o que consegue manipular (mesmo que seja na interdependência econômica) o outro. Se um Estado mais fraco tem um nível superior de envolvimento na questão discutida, este pode ter vantagens sobre os outros.
Os cientistas sociais estudam um tipo de dependência comum idealista. Esta recebe o nome de interdependência complexa e conta com uma política mundial diferente. Nela, os Estados não são os únicos protagonistas importantes no cenário internacional, pois existem atores transnacionais que atuam além das fronteiras estatais; a manipulação econômica e o uso de instituições internacionais passam a ser mais relevantes que o uso da força; e a segurança perde o seu lugar para a guerra, que passa a ser a nova meta dominante. O atual cenário internacional situa-se em algum ponto entre os modelos simples de dependência comum e a interdependência complexa. 
O filósofo e cientista Jean-Jacques Rousseau viu que a interdependência gera certos atritos e conflitos no cenário internacional, e sua solução para esse problema seria o isolamento e quebra das relações de dependência. Porém essa saída apontada por Rousseau seria quase impossível de se concretizar em um mundo globalizado onde a maior parte dos Estados dependem fortemente de seus laços com outros agentes internacionais. 
O cenário internacional encontra-se cada vez mais globalizado. Embora ainda não exista uma definição mundialmente aceita para o termo, ela pode ser definida como um processo no qual as fronteiras nacionais tornam-se mais permeáveis, devido ao avanço tecnológico, que possibilita a abundante troca de informações entre as pessoas ao redor do mundo. A globalização é analisada em todos os aspectos das relações humanas.
Joseph Nye julga a globalização como o aumento da interdependência e a considera tão antiga quanto a história, com a diferença de que atualmente as relações são mais sólidas e complexas. Mesmo que esta seja considerada o aumento das redes mundiais, esse fato não implica na sua universalização, pois grande parte da população mundial não tem acesso a tudo aquilo que é acreditado como efeito da globalização.
Existem duas categorias nas quais os estudiosos são classificados de acordo com sua visão sobre a globalização. Por um lado estão os otimistas, que enaltecem as oportunidades, liberalizações e prosperidade que foram propagadas ao redor do mundo. Do lado oposto, estão os pessimistas, que veem a globalização como um processo que fez a divisão entre ricos e pobres mais intensa e aparente, onde existe uma pequena elite econômica nos Estados mais desenvolvidos, enquanto a população miserável nos demais Estados aumenta cada vez mais. 
Encontram-se diversos tipos de globalização, entre eles está a ambiental, que é considerada como a mais antiga por englobar questões sanitárias como a epidemia da varíola ou até mesmo as mudanças climáticas; a militar, que compreende redes de interdependência que utilizam a força ou o uso da mesma; a tecnológica, que capta a propagação da aplicação prática do conhecimento científico; e dentre muitas outras, há também a globalização social que faz possível a disseminação de pessoas, culturas e ideais, como por exemplo as ondas feministas que começaram a alastrar-se a nível internacional. 
Com a globalização, o pensamento feminista conquistou dimensões mundiais, porém como é usual, não há um único ponto de vista em relação ao feminismo, o que existe, são várias concepções que ilustram as diferenças sociais baseadas no gênero, que são fundamentadas em perspectivas positivistas e especificamente as visões feministas de Relações Internacionais, que vem da pós-positivista. Esta última busca compreender como o universo patriarcal cria discursos e práticas violentas nas relações entre os Estados e dentro deles. Todas as visões compartilham a mesma base, que é a busca do fim da hierarquia de gênero para atingir a igualdade social entre homens e mulheres. No âmbito das relações internacionais, a função do feminismo é relatar a exclusão das mulheres da exposição teórica das relações internacionais, pois acreditam que não seja possível aceitar que o discurso masculino seja o único capaz de representar tanto os homens quanto as mulheres. 
Uma outra corrente do feminismo, busca estabelecer uma concepção que reconheça a interdependência necessária entre ambos os gêneros e a terra, que seja baseada no respeito e na igualdade para que possa haver uma superação de todas as maneiras de opressão na sociedade. Os adeptos desta corrente recebem o nome de ecofeministas. 
O feminismo conta com três grandes ondas que foram formando-se e criando força ao longo dos séculos. A primeira onda teve início no século XIX, e buscava principalmente conquistar os direitos políticos e especialmente o direito ao sufrágio. A segunda onda teve lugar entre 1960 e 1980. Ela resgatava vários pontos que já estavam sendo debatidos anteriormente na primeira onda, mas mantinha um foco maior nas questões de igualdade, de poder decisório sobre o corpo, como a questão do aborto, e no fim da discriminação de gênero. Finalmente, a terceira onda começou em 1990, e também é considerada uma continuação dos temas discutidos nas fases anteriores. Nesta, predomina uma visão pós-estruturalista do gênero e da sexualidade, contando também com movimentos das classes excluídas e minoritárias (não apenas das mulheres) buscando mudar as relações de poder. 
A globalização ajudou que as ondas do feminismo se propaguem mais rápido e com mais força por todo o cenário internacional, e decorrente dessa disseminação muitas mulheres ficaram conhecidas por suas obras e contribuições para o movimento. Um exemplo desse reconhecimento é a Simone de Beauvoir, que foi uma das vozes principais da segunda onda. Com seu livro "O Segundo Sexo", publicado em 1949, Beauvoir mostra que a visão da feminilidade é uma criação social para delimitar a participação das mulheres na sociedade. Sua ideia principal nessa obra era acabar com a suposta “natureza feminina”, que forçava as mulheres a se verem mantidas na dependência e no segundo plano.
Atualmente as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço tanto no cenário nacional, quanto no internacional. Frequentemente vemos mulheres ocupando cargos que anteriormente eram destinados apenas para os homens, como por exemplo, a chefia de um Estado. Os direitos reclamados pelas ondas do feminismo estão sendo progressivamente conquistados a níveis globais. Por fim, a junção da interdependência com a globalização está possibilitando um aumento de troca de informações entre as nações, que permite uma maior cooperação entre os povos dentro do sistema internacional. Tais avanços no cenário global deixam perceptíveis as pequenas mudanças que pouco a pouco vão crescendo e caminhando para construir uma sociedade internacional livre de preconceitos. 


REFERÊNCIAS:

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 384p.

* Alejandra Alcon Morais: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritba. 

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