Artigo realizado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
* Por: Mayara dos Santos
O poder
de um Estado por muitos anos foi caracterizado por um poder bélico, focado no
contexto militar, ou seja, aquele que ameaça, que causa medo. Porém, num mundo
cada vez mais globalizado e interdependente, o poder passou a ser reconhecido
também como poder brando, isto é, o soft
power. Esse uso de poder das ideias e da cultura acaba por influenciar
cooperações e amizade entre os povos de um modo não ameaçador, mas
simpatizante. A educação, desde sempre, foi a ferramenta fundamental para o
desenvolvimento. Atualmente a educação passa a ser um grande fator estrátegico
de diplomacia, sendo caracterizado pela
capacidade de influenciar ou persuadir
sem o uso da força, ou melhor dizendo, é literalmente um meio de soft power. Este artigo tem por
objetivo, mostrar como o poder brando por meio da educação de boa qualidade
influencia não apenas num progresso interno, mas também na prosperidade
internacional.
Introdução
Dentro
da enorme abrangencia do campo das Relações Internacionais, há muitas teorias
desenvolvidas com o intuito de explicar a realidade, no qual a teoria da
interdependência, desenvolvida por Robert Keohane e Joseph Nye, é mais uma
delas. Essa teoria, por sua vez, foi dissertada como uma crítica ao realismo
moderno e trata da dependência mútua entre os Estados no mundo globalizado de
hoje. Os autores expoem que a interdependencia não leva a um estado de paz
mundial, pois os conflitos prosseguem, e o poder passa a ser considerado como a
autosufucuencia em várias áreas no Sistema Internacional, já que a
interdependencia gera uma sensibilidade, no curto prazo, e uma possível
vulnerabilidade, no longo. Dentro do curso de aprofundamento da teoria, Joseph
Nye discorre sobre uma nova modalidade de poder, como já citada acima, que não
envolve força bruta ou bélica e sim cultura, educação e ideias, em outras
palavras, o soft power.
A
expressão de soft power foi
desenvolvida por Joseph Nye, atualmente professor de Harvard, em sua obra Soft Power: The Means to Success in World Politics
(Soft Power: Os Meios para o Sucesso na Politica Mundial), publicada em 2004.
Segundo Nye, a definição de poder começou a perder enfâse no poder militar e
conquista, que havia marcado épocas anteriores. Os fatores de tecnologia,
educação e crescimento econimico começaram a se tornar mais significantes no
poder internacional, enquanto geografia, população e matéria prima tornaram-se
menos importantes. Em suma, o soft
power é definido como a capacidade de uma nação, grupo político ou
instituição representativa de influenciar comportamentos e tendências por meio
do caráter ideológico e cultural, sem o uso da força ou coersão. A ideia,
portanto, é conseguir aumentar a influência e poder, utilizando o patrimônio
intelectual e cultural que se tem em um país, por exemplo.
Análise Crítica
Segundo Joseph Nye (2004), o soft
power de um país se edifica principalmente em três recursos: “a sua cultura (em
lugares onde é atraente para os outros), os seus valores políticos (quando se
vive com eles internamente e no exterior), e suas políticas externas (quando
eles são vistos como legítimos e tem autoridade moral) ”. Estes três pilares
mecionados pelo autor, acabam sendo influenciados pela educação oferecida para
a população que compõe o Estado.
Após logos anos de puros
investimentos bélicos, para o mantimento de posições em conflitos mundias, os
Estados viram-se necessitados de uma industrialização, progresso qual só viria
a se tornar tangível através do desenvolvimento de habilidades, de
conhecimentos. A educação é o melhor meio para qualquer tipo de
desenvolvimento, pois é um fenômeno social e
universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento
de todas as sociedades. Através de especializações, alguns países atingiram o
desenvolvimento, porém alguns ainda estão em curso neste quesito.
A partir dessa alta qualidade de educação
aplicada nos países de primeiro mundo e em alguns de terceiro, os governantes
viram uma oportunidade para disseminar seus ideias e culturas pelo mundo, se
colocando em posições exemplos para o resto dos países.
Atualmente, países
investem cada vez mais em políticas para expanção da diplomacia nacional por
intermédio da educação. O Programa Fulbright – incentivado pelo Departamento de
Estado dos EUA – é um excelente exemplo de diplomacia pública promovida por
meio da educação superior, que consiste em um programa de bolsas de estudo, que
acaba por incentivar a compreensão mutua entre povos e nações e aumenta o soft power norte americano. O programa
britânico para essas oportunidades educacionais e relações culturais é o
British Council que também oferece bolsas de estudos. A Alemanha também possui
seu programa com as mesmas diretrizes, só que menos abrangente, o Serviço
Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Deutscher Akademischer Austausch Dienst,
DAAD). Já a China implantou o Instituto Confúcio como marca para a expanção da
língua e cultura chinesa em outros países.
As nações realizam
tais políticas de intecâmbio com o objetivo de expandir suas influências para o
mundo, porém acabam fazendo mais que isso, elas acabam por dar oportunidades
para os paises sub-desenvolvidos que atingirão resultados num longo prazo, por
meio dos estudantes que poderão aplicar tais conhecimentos adquiridos no
estrangeiro, em seus países natais.
Esse
desenvolvimento de ligações duradouras com indivíduos-chave ao longo de muitos
anos, através de bolsas de estudo, intercâmbios e conferencias é a terceira
dimensão da diplomacia pública de Nye. As outras duas dimensões são as
comunicações diárias e as comunicações estratégicas.
Países que nos dias
atuais possuem uma educação de alto nível comparado ao resto do mundo, como por
exemplo a Finlandia e os Tigres Asiáticos, são vistos como exemplo e acabam
servindo de modelo para todos os outros, elevando seu soft power.
Infelizmente, nem
todos os paises possuem programas parecidos, muito menos possuem uma educação
básica de qualidade para seu povo. A exemplo disso, tomemos um país do
continente mais pobre atualmente, o Quênia, que conseguiu atingir a educação
básica para todos apenas no ano de 2003, devido ao imperialismo que controlava
o continente. Essa conquista queniana é bem retrada no filme “The First Grader”
dirigido por Justin Chadwick em 2010. Além do
Quênia, também é possível observar a má qualidade de ensino numa dimensão bem
próxima. O sistema brasileiro público de educação básica tem muito o que
melhorar, pois se encontra entre um dos piores no sistema mundial. O ensino
fundamental público de má qualidade em contraposição a um ensino privado de
maior qualificação acaba por aumentar o abismo entre os estudantes de ambas as
redes no momento da aplicação de provas para classificá-los para um ensino
superior. Torna-se cada vez mais visivel a carência de investimentos públicos brasileiros
no quesito da educação pública, pois seria muito mais justo a aplicação de
classificações a iguas bases de conhecimento.
Essa falta de estrutura no ensino
básico, acarreta um atraso na abertura de políticas para um ensino superior
atraente diante do internacional. Se um país mal consegue gerir uma educação
básica pública de qualidade, como poderá influenciar positivamente o setor
externo e servir de modelo para outros Estados?
Em busca de diminuir essas
diferenças relacionadas aos níveis educacionais entre os países desenvolvidos e
os de terceiro mundo, ONGs cada vez mais se colocam em cena. E o que tem chamado
a atenção é que muitas não são iniciativas de indivíduos de países de primeiro
mundo, mas sim de pessoas que também provem de países em curso de
desenvolvimento, pessoas que vivem o mesmo drama e buscam melhorá-lo ajudando o
próximo.
Ainda há muitas desigualdades que
assolam a educação no mundo, porém ela está sendo cada vez mais valorizada
devido a sua alta recompensa, que é nada mais, nada menos que o progresso, e um
progresso tanto no campo doméstico, quanto no internacional.
Talvez num futuro próximo, o sistema
internacional seja realmente dominado somente pelo poder brando e que os
governantes de países desenvolvidos parem de almejar apenas uma posição de pretigio
no sistema internacional e busquem ajudar a elevar todos os Estados a uma
igualdade de desenvolvimento.
Referencias:
BRITISH
COUNCIL. BRITISH COUNCIL. Disponível em: <https://www.britishcouncil.org.br/>.
Acesso em: 25 maio 2016.
DAAD. Disponível em:
<http://www.daad.org.br/pt/>. Acesso em: 25 maio 2016.
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<http://fulbright.org.br/>. Acesso em: 25 maio 2016
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Weber da Silva. DIPLOMACIA PÚBLICA PROMOVIDA POR MEIO DA
EDUCAÇÃO:
O USO DO SOFT POWER.Disponível em: <http://conic-semesp.org.br/anais/files/2014/trabalho-1000018572.pdf>.
Acesso em: 02 jun. 2016.
NYE, Joseph. Soft Power: The Means to Success in World Politics –
Joseph S. Nye, Jr. Chapter 4 - Wielding Soft Power. Disponível em:
<http://belfercenter.hks.harvard.edu/files/joe_nye_wielding_soft_power.pdf>.
Acesso em: 30 maio 2016.
NYE, Joseph S. SOFT POWER. Disponível
em: <http://faculty.maxwell.syr.edu/rdenever/PPA-730-27/Nye 1990.pdf>.
Acesso em: 25 maio 2016.
PETERSON,
Patti Mcgill. Ideal para expandir soft power, ensino superior é
nova arma diplomática. Disponível
em:
<https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/international-higher-education/ideal-para-expandir-soft-power-ensino-superior-e-nova-arma-diplomatica>.
Acesso em: 31 maio 2016.
ZULIAN,
Andréia. CULTURA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS SOB O PRISMA DO
CONSTRUTIVISMO. Disponível
em:
<http://www.nucleoprisma.org/wp-content/uploads/2015/03/TCC-Andréia-Zulian.pdf>.
Acesso em: 31 maio 2016.
* Mayara dos Santos: aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
* Mayara dos Santos: aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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