Artigo de Rodolfo Stancki com entrevista
de George Sturaro, professor do Curso de Relações Internacionais do Centro
Universitário Curitiba.
A
Grécia criou um grande ponto de interrogação no futuro da Zona do Euro (ZE).
Nas últimas semanas, o país foi para o centro dos debates internacionais de
política e economia por causa da crise. Será que a nação, que foi o berço da
civilização ocidental, deixará de usar a moeda única europeia? E se o fizer,
outros governos seguirão o mesmo caminho?
O
professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Curitiba
(UniCuritiba) George Wilson diz que o projeto de ampliação da ZE já foi
prejudicado pela situação da Grécia.
“A
expansão da moeda está comprometida. Que país vai querer entrar num bloco que
não representa mais prosperidade, mas instabilidade econômica e política?”,
questiona.
O
grande problema é que a Grécia dá sinais claros de que não vai mais se submeter
ao pacote de austeridade defendido pelo governo da chanceler alemã Angela
Merkel, que prevê drásticos cortes de gastos do governo no bem estar da
população. “Não podemos pagar, não vamos pagar”, anunciou publicamente o líder
do partido de esquerda radical, Alexis Tsipras, sobre a dívida grega. O partido
do político é o favorito às eleições que ocorrem no dia 17 de junho.
Para
Wilson, é possível que o Banco Central Europeu – autoridade máxima da Eurozona
– tente reabilitar a Grécia dentro do bloco. “Eles precisam evitar o efeito dominó,
em que outros países podem seguir o exemplo e deixar a moeda”, diz.
Reforço
de fiscalização
Outra
consequência direta da saída dos gregos da moeda única europeia é que os
diretores da Eurozona intensificariam a fiscalização para os novos candidatos.
O processo, segundo o professor da UniCuritiba, tende a ficar mais burocrático
e difícil para aceitar países candidatos como a Turquia e a Sérvia, por
exemplo.
Para
adotar o euro em 2001, a Grécia “maquiou” dados sobre sua estabilidade
econômica, minimizando suas dívidas internacionais. Os números, ignorados na
época, fizeram diferença quando a crise estourou em 2008. O país foi um dos
primeiros a quebrar. Atualmente, a taxa de desemprego atinge 21,7% da
população.
“A
Grécia nem deveria ter entrado na Zona do Euro. Isso foi uma decisão política e
não econômica”, explica o professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de São Paulo(USP), Kai Lehmann. Segundo ele, os gregos deveriam
ter deixado o bloco há dois anos, para dar tempo de organizar o calote na
Europa. “Hoje, o continente está em crise. A saída da Grécia do euro, em curto
prazo, só deve piorar muito o problema de toda Europa”, conta.
O
abandono do euro por parte dos gregos não significa que o país também deixará a
União Europeia (veja o mapa ao lado). Apenas 17 nações aderiram ao euro desde
que a moeda foi criada em 1999, enquanto outras 27 fazem parte da União. No
entanto, com a saída do país da ZE, os dois projetos de expansão são colocados
em jogo.
“O
alargamento da União Europeia também é perigoso agora. Primeiro é preciso
discutir os rumos da crise econômica e limpar a casa”, afirma o professor de
direito internacional do Grupo Uninter Eduardo Gomes. Para ele, os impasses
políticos com a Grécia levaram o bloco a perder credibilidade.
Gomes
não acredita que a saída da Grécia da Zona do Euro seja boa para nenhuma das
partes. Para ele, os gregos estariam apenas postergando o problema da dívida e,
em algum momento, seriam forçados a conter gastos em desenvolvimento. O bloco,
por sua vez, “poderia não sofrer impacto econômico nenhum, mas a situação abre
um precedente e por isso não é interessante.”
Para
Kai Lehman, a grande ironia é que os gregos não têm uma maneira legal de
abandonar o euro. “Quando a moeda foi construída, ela não previa como os países
poderiam sair dela. No Tratado de Lisboa, há clausulas específicas sobre a
saída da União Europeia. Essa situação da Grécia é algo novo e sem
precedentes.”
Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo em 27/05/2012.
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