Wallerstein:
em países como EUA e Israel, nem governos, nem sociedades enxergam seu declínio
relativo.
Tal cegueira produz erros desastrosos
Por Immanuel
Wallerstein | Tradução: Daniela Frabasile
Blowback [algo como revertério] é um termo criado pela
Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Significava
originalmente significava as consequências negativas não intencionais,
infligidas a um país por suas próprias operações de espionagem. Por exemplo, se
uma operação secreta da CIA levasse a um ataque de represália contra cidadãos
norte-americanos que não estavam cientes da iniciativa, isso era considerado um
blowback. Mas hoje, muitas operações não são secretas (por exemplo o uso
de drones no Paquistão ou no Iêmen). E os ataques de represália muitas
vezes são assumidos publicamente. No entanto, alguns países parecem não deixar
de se envolver em tais operações.
Precisamos
de uma definição mais útil de blowback, para explicar como e por que
eles estão ocorrendo em muitos lugares. Penso que o primeiro elemento é que os
países envolvidos com operações desse tipo são, sim, poderosos – mas menos
poderosos do que acostumaram-se a ser. Quando estavam no ápice de seu poder,
podiam desprezar os blowbacks, por serem desdobramentos limitados e
não-intencionais. Mas agora que são menos poderosos, as consequências não são
tão reduzidas. Ainda assim, parecem sentir necessidade de lançar tais operações
com ainda mais força e ainda mais abertamente.
Vamos
analisar dois casos famosos de blowback. Um deles envolve os Estados
Unidos. Nos anos 80, Washington queria expulsar o exército da União Soviética
do Afeganistão. Para isso, apoiou o mujahidin. Um dos líderes mais
famosos dos grupos que os EUA apoiaram era Osama Bin Laden. Assim que as tropas
soviéticas se retiraram, Osama Bin Laden criou a Al-Qaeda e começou a atacar os
Estados Unidos.
Um segundo
caso diz respeito a Israel. Nos anos 70, Telaviv considerava Yasser Arafat e a
Organização para a Libertação da Palestina (OLP) seus principais oponentes.
Buscando enfraquecer organização, financiou-se um braço palestino da Irmandade
Muçulmana, conhecido como Hamas. O Hamas cresceu, e de fato enfraqueceu a OLP
de alguma forma. Mas em certo ponto, tornou-se um oponente mais efetivo ao
Estado israelense que a própria OLP havia sido.
Hoje, todos
sabem desses acontecimentos. Outros, envolvendo Grã-Bretanha e França, também
poderiam ser citados, e a lista de países que sofreram blowbacks é ainda
maior. Então, pergunta-se:, por que eles continuam agindo de forma que parece
enfraquecer seus próprios objetivos? Fazem isso exatamente porque seu poder
está declinando.
Precisamos
enxergar o tema como uma questão de temporalidade nas políticas de estado. Os blowbacks
ocorrem quando as potências em declínio envolvem-se em ações que, a curto
prazo, alcançam os objetivos imediatos; mas, a médio prazo, apressam ainda mais
o declínio – portanto, a longo prazo, são auto-derrotas. A decisão mais óbvia
das potências declinantes seria não reiniciar o ciclo. As operações secretas já
não funcionam para alcançar os objetivos do país a longo prazo.
Voltando
aos exemplos: será que o presidente Obama e o primeiro-ministro Netanyahu não
entendem as consequências do que fazem? E se entendem, por que continuam essas
operações, até mesmo vangloriando-se delas? Na realidade, penso que os dois
chefes de governo, e também os serviços de inteligência dos dois países
entendem a ineficácia das operações. Mas eles enfrentam dilemas imediatos.
Primeiro,
eles são políticos, interessados em permanecer no poder. Ambos enfrentam, em
seus países, forças políticas para as quais suas políticas não são
suficientemente agressivas. E nenhum confronta-se movimentos políticos fortes
que reivindiquem uma revisão radical das políticas nacionais. Em outras
palavras, a extrema direita é, nos dois países, muito forte; e a esquerda,
mesmo que moderada, é fraca. A razão de fundo para isso é que a opinião pública
não aceita, em nenhum dos dois países, a realidade do declínio relativo de
poder.
O que os
líderes podem fazer é esconder – até certo ponto – que empurram os problemas
com a barriga. Mas como as atividades de inteligência tornaram-se, na
prática, muito mais transparentes, eles só podem fazer isso por algum tempo.
Quando a possibilidade se esgota, eles passam a acreditar, para se manterem no
poder no curto prazo, devem conservar políticas que, conforme sabem, não vão
dar certo a longo prazo.
There is
another reason. Obama hasn’t given up on one impossible dream – restoring the
United States to a position of unquestioned hegemony. And Netanyahu hasn’t
given up on another impossible dream – a Jewish state of Israel in the entire
former British Mandate. And if they won’t renounce these dreams, they certainly
cannot assist their peoples into coming to terms with the new geopolitical
realities of the world-system and to the realities of their country’s decline
in relative power.
Há outra
razão. Obama ainda não desistiu de um sonho impossível – restaurar a posição de
hegemonia inquestionada dos Estados Unidos. E Netanyahu não desistiu de outra
quimera – um Estado judaico-israelense muito ampliado, abrangendo as fronteiras
do antigo Mandado Britânico na Palestina.
E se eles não desistirem desses sonhos, certamente não poderão ajudar os
cidadãos a entenderem as novas realidades geopolíticas do sistema-mundo e a
própria realidade de que o poder de seus países está em declínio.
Artigo publicado em 20/06/12.
Disponível em: http://www.outraspalavras.net/2012/06/20/as-ilusoes-fatais-das-potencias-decadentes/
Realmente não é fácil dar confiança e até mesmo fomentar um grupo que de certa forma no início é taxado como oposição ao governo e que anos depois, que se declara rompimento de suas relações com os países que fortaleceram e criaram o mesmo, como nos exemplos mais conhecidos citados no artigo e demais outros grupos que foram criados desta maneira, sempre com o intuito de enfraquecer os "supostos inimigos" dos países fortes. O fato é que estes grupos que agem com interesses próprios e não por interesse de quem os patrocina,são declarados posteriormente pelos países que ajudaram a derrubar os seus inimigos(governos ditadoriais),como grupos terroristas e inimigos fatais a nação que fomentou este mesmo grupo. O que nota-se é que estes grupos são fracos e necessitam de ajuda externa tanto política como financeira, para se manter e também ter status perante a sociedade como de uma causa ou uma luta, que os mesmos anseiam. Muitas vezes sempre em prol de algo, mas que por trás disto tem sempre um país forte que os patrocina e que depois é vítima do próprio veneno que semeou. Mas por outro lado vemos que há uma necessidade para que um país forte, ou que se diga potência econômica, necessite desta manobra para manter-se hegemônico ou com uma forte influência externa diante dos problemas do mundo, sejam eles políticos ou econômicos. Pois é parte principal das políticas do país Hegemon, o intrometimento exterior, em outras palavras as políticas externas do hegemon são de uma ambição, que se desloca de dentro para fora, são políticas intervencionistas, que se baseiam na maioria das vezes em sua própria Democracia, ou modelo de governança, como se as sociedades dos Estados Nações fossem constituídas da mesma massa cultural, de mesmos costumes e tradições. Há uma enorme discrepância entre os Estados, mas ao final os interessados "Governos”, querem mesmo é construir métodos que possam manter-se no poder por muitos anos, digam-se aqui dois ou mais mandatos.
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