sexta-feira, 8 de julho de 2011

Aculturamento de mão única

 
Uma característica facilmente perceptível no povo brasileiro é o costume de copiar modas e usar expressões estrangeiras. Trata-se praticamente de um aculturamento de mão única: nós nos adaptamos a outra cultura. Diversos costumes já arraigados mostram, inequivocamente, a nossa vocação de imitar, tal e qual papagaios, costumes de outros povos, além de empregar palavras e expressões em línguas estrangeiras.
Lembra-se, para começar, aqueles momentos nos finais de tarde, depois do expediente, que reservamos para jogar conversa fora e bebericar com os amigos; chamamos isto de “happy hour”. Qual é a razão para empregar a expressão em inglês? Porque não chamar tais encontros de conversa fiada, hora do papo, ou coisa semelhante?
Os nossos publicitários, sempre tão brilhantes e criativos, têm apelado com uma freqüência enervante para expressões em língua inglesa. Um cartaz na pizzaria anuncia “deliveri” em vez de entrega em domicílio; o anúncio da loja faz referencia a “50 % off”, em vez de informar que o desconto é de 50 %. A imobiliária coloca um cartaz com a palavra “rent”, na janela do apartamento a ser alugado. Em outro apartamento, que está à venda, o cartaz informa: “for sale”. Isso deixa claro que o emprego de tais expressões facilita ou melhora a procura pelo imóvel. E não se diga que tais expressões são usadas para atrair estrangeiros, porque elas são encontradas até no cafundó do judas. Ou seja: se a pizzaria, o boteco, a imobiliária e outros estabelecimentos comerciais usam tais expressões, o fazem na expectativa de atrair clientes, o que comprova que o costume de empregar palavras em inglês já faz parte da cultura tupiniquim.
Na música a nossa subserviência cultural é devastadora. Em passado recente, nossos artistas, especialmente músicos e compositores, deram um verdadeiro espetáculo de aculturamento. Um tal de Farnésio Dutra e Silva, que embora fosse um pianista de grande talento e um inspirado cantor, achou melhor garantir o cachê com o nome de Dick Farney. Até o grande Cauby Peixoto, certa época, andou se rebatizando de Ron Coby. Tivemos também um tal de Ed Lincoln, tão brasileiro quanto o futebol. Contudo, na música popular o auge ocorreu quando um extraordinário saxofonista, nascido aqui e batizado de Moacyr Silva, para fazer sucesso teve que se rebatizar de Bob Fleming e passar a tocar antigas composições de Cole Porter e de outros autores estrangeiros.
Nas nossas casas noturnas, em vez do velho e bom samba, até poucos anos dançava-se o “rock and rol” e algumas variantes alucinadas. Além de um saracoteio despropositado, aquele ritmo apresentava a desvantagem de se dançar em separado o que, obviamente, não ensejava a deliciosa aproximação de um samba canção. Hoje, está na moda um desvairado batidão, importado sabe-se lá de onde.
Mas a coisa – chamando assim a nossa subserviência – não para por aí; ela entra também pelo campo da economia. Veja-se que, em lugar do velho e bom pano de algodão, produzido em nossas lavouras e transformado em tecido nos nossos próprios teares, na forma de um antigo brim que chamávamos de Coringa, fabricado pela então brasileiríssima São Paulo Alpargatas, já há muito estamos usando o “blue jeans”, um tecido rústico, originário do meio Oeste Americano e que a moda urbana consagrou naquele país. Em vez de tomar o guaraná, produzido com a famosa fruta amazonense, que além do sabor delicioso, dizem possuir também propriedades afrodisíacas, já há muito tempo tomamos a Coca Cola, um refrigerante criado ainda nos Estados Unidos do século dezenove por um boticário chamado Pemberton e em cuja composição original, dizia-se, entravam folhas da mesma plantinha cujo sub-produto – um certo pó – o governo norte americano agora exorciza.
Em certos dias do ano, vestimos máscaras e outros adereços, próprios de um evento carnavalesco, para divertir-nos numa festa chamada “halloween”. Já tradicional nos Estados Unidos, à sua maneira a festa comemora a data em que, há mais de século e meio, a ignorância dos primitivos colonizadores da América do Norte tocou fogo em meia dúzia de incautas, achando que fossem feiticeiras. O episódio aconteceu na cidade de Salém e, de uma ocorrência fanático-religiosa, converteu-se, lá, em uma festa bastante popular. O inusitado disso é que nós, aqui, estejamos festejando aquele evento. Alguém pode explicar o que é que temos a ver com as bruxas de Salém?
Todos sabem que somos um quintal norte americano. Mas entre isso e adotarmos os costumes daquele país e empregarmos palavras da sua língua, desprezando a nossa própria identidade, vai uma distância enorme. Para a subserviência tupiniquim, parece que não basta declarar dependência às ordens externas, mediante uma política liberal, muito boa para os capitalistas de lá. É preciso também que abandonemos os costumes daqui, que deixemos de lado nossas tradições e nossa identidade cultural e adotemos as deles.
Dos séculos XVII ao XIX os colonizadores norte-americanos aculturaram navajos, cheyenes, apaches, sioux e outras tribos e nações indígenas, sob o indiscutível argumento de uma carabina 45. Foi uma conquista de território na base da pólvora e aos poucos peles vermelhas que sobraram, não restou outra alternativa que aculturar-se aos caras-pálidas. Mas e nós? Qual é a razão para imitarmos o Grande Irmão do Norte? Estaremos sendo ameaçados por um míssil nuclear?
Seria bom que, se ao invés desse processo de imitação, copiássemos o bom costume de empregar uma política econômica nacionalista, como aquela preconizada por Alexander Hamilton, ainda no século XVIII e que formou a base da grandeza econômica da nação norte-americana. Contudo, se ainda não temos a competência suficiente para manter a independência econômica, que preservemos pelo menos a nossa identidade cultural, instituindo e comemorando a festa do Boi Tatá, do Saci-Pererê e da Mula Sem Cabeça.

Prof. Dr. Cláudio Luchesa é professor de Administração Financeira do curso de Administração do Unicuritiba

Um comentário:

  1. Excelente artigo,muito bem advertido e empregnado na nossa sociedade,infelizmente a nossa cultura esta sendo desvairada por influências estrangeiras,que na verdade não servem é para nada,a não ser para confundir a mente dos desinformados e carentes culturalmente.
    O que está faltando em nossa nação é uma boa pitada de nacionalismo,mas um nacionalismo geral,ou seja,de canto a canto do brasil e não somente um nacionalismo regional,pois regional só leva ao preconceito e ao racismo,que é péssimo para o nosso país. Para o nosso país crescer e ascender como uma futura potência mundial,tem que existir de fato um nacionalismo exacerbado no país todo,todos os povos juntos com um mesmo fundamento,uma mesma ideologia e um mesmo projeto,defender a nação,ter orgulho de nossa pátria,honrar os compromissos com a população,nacionalizar as nossas riquezas e empresas que exploram as mesmas,defesa das nossas fronteiras terrestres e aquáticas,fortalecer a nossa economia incentivando a produção,a educação como base de tudo,combatendo a corrupção e os desvios de dinheiros públicos sobre as obras superfaturadas. Por outro lado tem que haver uma mudança drástica no ordenamento jurídico brasileiro,as leis deverão ser mais rígidas e eliminar de vez as brechas existentes,configurando assim um ordenamento mais adequado a nossa cultura,pois o que se ver é um conjunto de leis leves que mais advertem do que julgam e quando julgam as penas são muito leves e redutíveis demais,que com o passar do tempo uma pena máxima,se torna menos da metade do tempo que deveria ser cumprida,assegurando assim a volta repentina do elemento ao convívio da sociedade,que muitas vezes volta a praticar os mesmos delitos onde a lei muitas vezes se torna conivente e defensora dos malfeitores a sociedade existente.

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