terça-feira, 17 de maio de 2011

Inside Job: apesar de moribunda, Hollywood ainda respira.

Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos

Por décadas o sistema financeiro americano foi estável e seguro, mas aí algo mudou... a indústria financeira virou-se de costas para a sociedade. Corrompeu nosso sistema político e mergulhou a economia global na crise.

O documentário Inside Job (Trabalho Interno), do norte-americano Charles H. Ferguson, ganhador do Oscar desta categoria em 2011, é uma tentativa bem sucedida de explicar a dinâmica da crise financeira que se iniciou em 2008 nos Estados Unidos, e se propagou, na seqüência, para o resto do mundo, não poupando sequer a pequena economia da Islândia. O filme consegue ser didático ao lidar com temática espinhosa e permite que leigos em economia entendam a natureza kamikaze do capitalismo financeiro hodierno.

O filme aborda de modo apurado a especulação financeira que tomou conta da economia norte-americana e mundial a partir da década de 1980, após a desregulamentação econômica e financeira internacional idealizada por grandes financistas de Wall Street e liderada por Ronald Reagan (presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989) e outros laquais do capital, e coloca-a como causa imediata da crise iniciada em 2008. A argumentação é construída à base de entrevistas e depoimentos de ilustres participantes da farra especulativa que custou trilhões de dólares para poupadores do mundo inteiro.
Entre os muitos depoimentos, destacam-se as declarações esclarecidas do economista chefe do Citigroup, Sr. Willem Buiter: “Porque temos grandes Bancos? Pois os Bancos adoram poder de monopólio. Porque os Bancos gostam de poder global. Porque os Bancos sabem que quando são muito grandes eles serão protegidos”.
O filme tem ainda outros méritos, ao mostrar o íntimo envolvimento dos bancos e das finanças (poder econômico) com o poder político e o poder jurídico, e revelar o estado de degradação moral ao qual são levados os homens que se submetem aos ditames do capital.
No entanto, e sem nenhum interesse em comprometer o brilhantismo da obra de Ferguson, o filme deixa de explicar algumas questões decisivas em relação a crise financeira de 2008:
1º - esta crise representa apenas a dimensão financeira de uma crise muito maior que é a crise estrutural global do capitalismo que se iniciou na década de 1970, com a degringolada das taxas de lucro do setor produtivo da economia e a ruptura do sistema monetário internacional que havia sido fundado em Bretton Woods logo após a 2ª Guerra Mundial;
2º - esta crise não tem nada a ver com uma mudança de rumo equivocada por parte da burguesia internacional, mas faz parte do movimento de expansão (acumulação) irrefreável do capital em escala mundial – é uma lei econômica do capitalismo;
3º - o sistema financeiro desregulamentado que foi construído a partir da década de 1980 é uma necessidade histórica do capitalismo e, por isso, é irreformável; isto significa que, se quisermos verdadeiramente impedir que novas catástrofes financeiras como a de 2008 se repitam, devemos nos preocupar não com o atual sistema financeiro internacional, mas com o modo de produção capitalista que o gerou e sustenta.
Dito isso, penso que aqueles que ainda não assistiram ao filme, façam-no assim que puder. Apesar de moribunda, Hollywood ainda respira.


Carlos-Magno Esteves Vasconcellos é doutor em Economia pela Escola Superior de Economia de Varsóvia e professor titular da disciplina de Economia Política Internacional do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.

Um comentário:

  1. Enquanto as nações economicamente ativas estiverem submissas as outras nações de economia forte,como é muito comum e natural no sistema capitalista global,iremos estar diante da especulação financeira mundial e as crises e nervosismos das finanças principalmente das nações ricas,ira ser quase que cotidianos,lembro muito bem quando a mídia americana começou a noticiar suas primeiras informações e reportagens sobre a crise de 2008,até então era o sistema imobiliário dos USA que estavam em decadência,onde faltavam recursos para os proprietários que adquiriram imóveis,para honrar seus compromissos com o sistema imobiliário americano. Mas como foi citado neste documentário e postado aqui pelo Dr. Carlos,estamos diante de uma outra realidade dos fatos ocorridos,ou seja, foi uma crise que não nasceu de uma hora para outra e sim já tinha raízes fincadas no sistema financeiro americano a um bom tempo e também não foi originada de um único setor(imobiliário),mas foi só a especulação passar dos limites que as coisas extrapolaram ao ponto de expandir mundo afora,atingindo todo o complexo econômico mundial de todos os setores e ramos de atividades. pensando bem o capitalismo até então é volátil,de uma hora para outra pode causar um desequílibrio ao ponto de deixar o mundo em caos,como o que aconteceu em 2008/2009 e que o próprio documentário relata,onde aparece aparecem os efeitos da crise em destaque como:a estagnação econômica,nervosismo,capital parado sem movimento por falta de garantias em meus investimentos,grandes empresas a beira da falência bsucando salvação junto aos governos,os grandes bancos cortam os seus investimentos e financiamentos em países que até então para eles não são seguros. Como um todo vivemos num complexo de nações abastecidos pelo capitalismo especulativo mundial,onde o centro financeiro do mundo(NOVA YORK),dita as regras de funcionamento da economia global e os países envolvidos direto ou indiretamente que ajustem seus cintos pois a a qualquer momento outra crise desta natureza pode desabrochar nas economias das nações envolvidas. outra medida seria a de precaver toda esta enxurrada,que ao meu ver é muito complicado os países precaverem isto com antecedência,pois existem muitos interesses das grandes empresas e dos grandes bancos em jogo,nesta hora ninguém quer perder seus capitais investidos. Mas tomara que isto não aconteça,mas é de se esperar! muito bom artigo Dr Carlos!!! parabéns!!!

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