sábado, 7 de maio de 2011

EU NÃO MATEI BARACK OBAMA

Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político

          Não se surpreendam, mas em tempos de comemoração pela morte do homem que encarnou a face do terrorismo, eu não matei Barack Obama e antes que uma caçada, como a que foi empreendida contra Osama Bin Laden seja organizada contra mim, espero ter tempo para explicar minhas razões e contar como não realizei tal façanha.
          Tudo começou no sofá da minha sala, em frente ao aparelho de TV ultrafino de tela de LED, que transmitia em high definition um filme que marcou para sempre minha existência: “A Lagoa Azul”. Ao mesmo tempo em que assistia ao filme, navegava pelo internet e sem intenção, me vi diante de uma página do site de uma revista* brasileira conhecidíssima por suas posições antipetistas, que trazia o seguinte título de reportagem: “EUA já gastaram mais de US$ 1 trilhão com guerras no Afeganistão e Iraque - Só em 2009, a indústria bélica movimentou US$ 1,5 trilhão no mundo todo”.

           A reportagem apresentou números impressionantes dos gastos militares realizados somente no ano de 2009. Os Estados Unidos, por exemplo, gastaram 661 bilhões de dólares, seguidos pela China com o montante de 100 bilhões, a França com astronômicos 63,9 bilhões e cifras próximas a da França vinham Inglaterra, Rússia, Japão, Alemanha, Itália, Arábia Saudita e pasmem, a Índia, país com aproximadamente 700 milhões de pobres.
          Um ano antes, em abril de 2008, na capital lusitana, Jacques Diouf, então Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), afirmou que “faltava vontade politica” para acabar com a fome de quase 1 bilhão de pessoas e já que estou abusando dos números, vou acrescentar mais alguns: segundo estudos realizados por especialistas, para acabar com a fome no mundo seriam necessários investimentos na ordem de 500 bilhões de dólares para serem investidos em educação, pesquisas agrícolas, produção e distribuição de alimentos, construção de obras de infraestrutura como estradas e obras para irrigação dentre outros.
          Os governos dos Estados Unidos e seus aliados se uniram não para combater o terrorismo, mas para matar Osama Bin Laden, que aos olhos da democracia burguesa (expressão marxista que tomei emprestada de um colega economista que fez doutorado na Polônia), foi o responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001. Osama está morto, feito reconhecido pela própria Al Qaeda em seu site no dia 06 de maio de 2011. Mas junto com este reconhecimento veio a ameaça de mais violência, mais mortes e consequentemente mais gastos militares.
          Constantemente me pergunto se ao menos uma vez, as verbas anuais destinadas para gastos militares fossem direcionadas para o combate à pobreza, se além de acabarmos com a pobreza também não poríamos fim ao terrorismo e a muitas guerras. Talvez eu esteja enganado, talvez o que leva os homens à violência seja a sua natureza belicosa como dizia Hobbes, mas talvez não seja por acaso que grupos terroristas, guerras civis, conflitos étnicos genocidas sejam mais comuns em países de população pobre e pouco desenvolvidos econômica e socialmente.
          Em agradecimento ao colega economista acima citado, pelo empréstimo da expressão “democracia burguesa”, cito as palavras do poeta Bertolt Brecht:

NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
Ficarão maiores
As propriedades dos que possuem
E a miséria dos que não possuem
As falas do guia
E o silêncio dos guiados.

          Ah! Já estava me esquecendo. A esta altura devem estar se perguntando sobre a morte de Barack Obama e as razões pelas quais eu não o matei. Na verdade havia dois Obamas. Um é o Obama daqueles que torceram por sua eleição por acreditarem que ele seria diferente, daqueles que acreditaram que ele era merecedor do Nobel da Paz, que conduziria os Estados Unidos por um caminho diferente do seguido por Bush, Reagan e tantos que deram sua contribuição para tornar o mundo um lugar pior para se viver. Este Obama morreu e continua vivo àquele que ainda mantém 100 mil soldados no Afeganistão, que investe bilhões em gastos militares e que se faz de cego para os problemas do mundo em nome do enriquecimento de uns poucos privilegiados.


Marlus Forigo é Professor de Ciência Política, Filosofia e Ética do UNICURITIBA

3 comentários:

  1. O mundo gira e volta sempre ao mesmo lugar... isso nao e so fisico, e assim que tudo funciona... e e assim que Obama vai se reeleger...Valeu Marlus pelo artigo!!!! Muito Bom!!!

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  2. É claro e evidente que jamais as potências mundias vão querer acabar com a fome e a miséria,pelo simples fato de não ser importante para si próprio e tampouco para seu status perante a sociedade local,ou seja não vai existir um prestígio a nível internacional daquele país que teve a iniciativa de acabar com a fome e a miséria no mundo em hipótese alguma,por outro lado existe a questão de que:o que eu vou ganhar em troca? Irei fazer isto porque eu sou uma nação boazinha e estou com pena daqueles que passam fome e vivem abaixo da linha da pobreza? Evidentemente que não,isto não está na mesa de negociações,eu tenho que ajudar,mas quero algo em troca,eu imagino que é isto que passa na mente dos homens que comandam as diretrizes das potências mundiais,historicamente nenhuma nação que invadiu outra pensou nas questões humanitárias e sim só estavam de olhos bem abertos nas riquezas daquele país que poderia ser benéfico para a nação invasora no ponto de vista econômico e estratégico,jamais aconteceu de uma nação invadir outra só pensando na questão de expansão territorial,é evidente que território também tem uma certa importância,mas os recursos naturais e as riquezas vem em primeiro plano.
    As esperanças depositadas nas urnas americanas no Barack Obama,foram as mesmas depositadas aqui no brasil no pleito de 2002 quando o Lula ascendeu ao poder,ou seja todas aquelas promessas socialistas esquerdistas foram de água abaixo,pois estavam totalmente distorcidas com a realidade atual do brasil,mas o Lula estava diante de uma barreira ou mudava o discurso pós pleito ou não governava para todos e sim para uma parcela da população,que ao meu ver não seria a fórmula ideal de governar para um país democrático como o nosso e sendo assim muitos deserdaram o PT e fundaram outras siglas partidárias resgatando seus planos e projetos com cunhos esquerdistas. O Obama fez diversas promessas eleitorais como a retirada das tropas do Afeganistão e Iraque e passando parte do poder militar e totalmente ele para o exército local com o passar dos tempos,o fechamento da prisão de guantánamo,passou a imagem ou impressão que seria um presidente sem status militar,ou seja não seria um novo Bush,e nada disso se concretizou-se,e agora com a morte de Bin Laden onde foram gastos mais de um trilhão de dólares em 10 anos de guerra Iaque/Afegã se torna para seu país um herói,que eu acredito que é um herói sem medalhas,matar apenas um comandante patrocinador de uma rede terrorista, no meio de milhares de terroristas pelo mundo todo. Não chega a ser uma façanha medonha,mas desperta o mundo para uma nova visão crítica e analítica da política externa americana em suas cruzadas pelo planeta,como o próprio artido postado cita,que aquele Obama em campanha no pleito passado pelo poder dos USA,hoje não é mais o mesmo. o índice do anti-americanismo pelo mundo aumentou e muito e as proporções e ações dos fundamentalistas islâmicos também aumentaram no mesmo patamar,pelo menos estão prometendo em videos postados na intenet pós morte do Osama,existe uma política forte dos EUA de extirpação e contravenções contra uma raça e uma religião que tem que ser vista e analisada com mais cautela e com mais respeito aos direitos humanos,não estou aqui para defender os radicais islâmicos,pois sou totalmente contra as suas ações de terror pelo mundo,não posso ser a favor de matanças de pessoas inocentes de forma alguma,nem das ações militares americanas que praticam este tipo de ação matando dezenas de milhares de pessoas inocentes com o pretexto que seriam supostamente terroristas,defendo uma ação conjunta de ambas as nações para o progresso da paz no mundo sem ódios,sem matanças e com respeito e respaldo da comunidade internacional aos direitos humanos dos envolvidos.

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  3. Caro prof. Marlus.

    É mesmo muito alarmante os números mostrado em seu artigo, e revoltante também. Mas, como já disse em artigos de outros professores, não é surpreendente, tendo em vista que não é de hoje que vemos isso acontecer.
    Quanto a morte de Osama Bin Laden, faço minha a frase de Raul Seixas, "Eles matam um e logo vem outro no lugar" (mosca na sopa), se formos considerar que Osama realmente morreu nesse episódio, porque ainda há controvérsias.
    Obama eu diria que só existe um, porém com duas faces, como muitos políticos antes das eleições ele fez o papel (demagogo) de que iria fazer a diferença e trazer de volta os soldados americanos, por exemplo. Após assumir a presidência, mostrou quem realmente é, ou seja, mais um presidente manipulado pelos interesses das elites, que fazem aquilo que nós sempre (eu pelo menos) esperamos que faça, governar para os banqueiros e não se importar com os miseráveis.

    até mais.

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