terça-feira, 31 de outubro de 2023

Entrevista Patricia Tendolini

Entrevista e transcrição por: Laysa Giovana 


Nome completo: Patrícia Tendolini Oliveira 


Qual é a sua formação acadêmica? 

  

Sou graduada em Economia, pela USP e tenho o meu mestrado em Administração, pela UFPR.  


Ocupação atual: 


Professora e coordenadora dos cursos da área de Gestão e Negócios aqui no Unicuritiba


Pensava em se tornar professora no início da faculdade? 


É claro que não. É uma história bem curiosa, eu entrei para fazer economia e nem passava pela minha cabeça ser professora, e algumas pessoas chegavam a comentar sobre, eu respondi “não, vocês estão loucos”... E fui até trabalhar em banco quando eu estava terminando a faculdade, e ser professora foi bem por acaso, e esse por acaso já faz 23 anos. 


Há quantos anos atua como professora?E no Unicuritiba? 


Eu comecei em 2000 em uma outra faculdade, mas logo no ano seguinte eu já vim para cá, então faz 23 anos que eu sou professora e 22 anos aqui no Unicuritiba.


Como se tornou professora e posteriormente professora no Unicuritiba?


Eu estava fazendo mestrado em Administração na UFPR, e na época eu tinha uma bolsa da Capes, e quem tinha bolsa da Capes não podia trabalhar. Então nos 2 anos que eu fiquei fazendo mestrado eu sobrevivia desse programa de bolsa. Só que a bolsa Capes são 2 anos apenas, então quando eu estava terminando o mestrado, só faltava defender, pensei “preciso arranjar um trabalho, mas que não exija muito, que não seja 8 horas por dia”. E aí eu fui para essa faculdade, ela nem existe mais, fechou faz uns dois anos mais ou menos. Fiz um processo seletivo, passei e comecei a dar aula, foi meio que um "bico", só que eu gostei. E aqui no Unicuritiba, na época tinha um colega do mestrado que começou a dar aula aqui e aí quando abriu uma vaga para dar aula no curso de Administração, ele veio falar comigo, mas eu lembro que na época eu era super nova, tinha acabado de terminar o mestrado. E eu pensei “nossa, Curitiba”. Não era nem Unicuritiba, era Faculdades Integradas Curitiba. "Nossa, mas eles são muito bons, e eu tinha acabado de começar". E eu pensei “vamos fazer uma banca, então”. Eu lembro que, na época, eram 5 professores na banca e eu passei, para  originalmente dar uma matéria, mas aí surgiram mais. Mas no começo só de administração, depois que eu vim pra RI, uns 3 ou 4 anos depois.


Como ocorreu a ligação com o curso de Relações Internacionais tendo formação em economia e qual sua percepção sobre isso?


No começo, minhas aulas eram no curso de administração apenas. E em 2002, logo depois, eu comecei a trabalhar numa instituição do estado, o Tecpar; eu trabalhava o  dia inteiro na empresa, e dava aula aqui e na outra faculdade, à noite, tinha três trabalhos nessa época. E aí eu lembro que vira e mexe surgia o convite para dar aula de RI, da coordenadora na época. Eu falava não, porque eu tinha a empresa e tal, daí chegou um determinado momento que eu falei “não, eu tenho que decidir se eu sou economista que trabalha em empresa ou sou professora”. E aí eu decidi sair da empresa, até porque ela não era concursada, quis ficar com a aula e aí vim dar aula para RI e eu peguei mais aulas. Isso deve ter sido lá por 2004, mais ou menos.


Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar?


Sim… todos. Porque eu falo, hoje eu só tenho uma turminha, que é a de sexta-feira à noite e sinto muita falta disso, de mais aulas. Esse semestre quando veio para mim o horário, sexta à noite eu pensei “ah, não!”. Mas é muito bom estar em sala de aula. E mesmo sendo sexta-feira à noite, ver que o pessoal está lá e que faz pergunta e que fica, é muito bom. Então, eu gosto muito de sala de aula. Quando eu vim para coordenação eu sofri muito com isso, e até foi uma das coisas que eu perguntei na época “mas eu vou poder continuar dando aula, né?” Eu quero continuar dando aula porque é ali que a gente está em contato com vocês, alí que  a gente sente a sala de aula. 

É muito importante que a gente esteja dando aula, até para ver as transformações. Eu falo que, quando a gente dá aula para vocês hoje, é completamente diferente do aluno que a gente dava aula 20 anos atrás, pessoas completamente diferentes, perfis totalmente diferentes, então a gente precisa estar lá para conhecer vocês, pra sentir. Então, estar em sala de aula pra mim é sempre muito bom, mesmo na sexta-feira à noite.  Eu gosto muito de estar em sala de aula. Eu sou muito mais professora do que coordenadora; coordenadora eu estou, professora eu sou. 


Quando despertou o interesse de ser um profissional da área de economia?


Foi tudo por acaso. Eu sempre conto essa história: eu estava para fazer o vestibular - isso sempre acontece com todo mundo - na época do colégio eu gostava das ciências humanas, história, geografia etc. Mas eu gostava das exatas também, adorava matemática. Eu fiquei lá pesquisando que tipo de curso que junta as duas coisas, porque, geralmente, ou é humanas, ou exatas, e aí eu fiquei “meu Deus, o que vai juntar tudo isso numa coisa só?” E eu lembro que quando eu fui preencher o primeiro formulário de vestibular, que foi o da Unicamp - eu sou de São Paulo, então eu fiz todos os vestibulares por lá – e na Unicamp eles não tinham curso de administração, que era uma coisa que passava na minha cabeça. E escolhi economia, então. Fiz 4 vestibulares: da Unicamp, da USP, da Unesp e da PUC de São Paulo, e quando vieram os outros eu nem pensei mais, se eu fosse escolher economia em um, eu faria economia em tudo. Bem, aquela tomada de decisão madura, né rs? Fazer a coisa que junta o que a gente gosta, que é que geralmente todo mundo faz.  


Como você se sente sendo uma mulher no ambiente acadêmico, principalmente se tratando de estar em uma posição de liderança?


Na verdade acho que eu vou contar uma história, só para contextualizar, porque teve uma vez, eu já era coordenadora de RI, em 2017 mais ou menos, que a gente tinha o Congresso de Direitos Humanos, e a professora que organizava o Congresso me chamou para falar sobre as mulheres no ambiente de trabalho. Quando ela me chamou, eu pensei “mas sobre o que que eu vou falar?” Ela queria que eu falasse sobre machismo, assédio… e aquilo despertou em mim o pensar sobre isso, e aí eu fiquei pensando nas duas semanas até o Congresso se eu já tinha sido assediada, se eu já tinha sofrido machismo. E eu nunca tinha percebido isso, porque eu nunca tinha parado pra pensar, e quando eu pensei…  “Caramba, é diário isso!” É que a gente está sempre no automático alí e não percebe, e quando eu parei pra pensar, é claro que você sofre machismo, é claro que você é assediada, e quando eu vejo meninas dizendo que se inspiram na gente, “Ah, a gente se inspira em você,nas outras professoras” a gente fica muito feliz. E eu parei pra refletir nesse congresso, é claro que tem, e é claro que a gente tem que se ajudar, se abraçar, a gente tem que dar as mãos. E aí caiu a ficha, e aí você vê tudo diferente, porque você percebe que de fato acontece, você consegue ver essa diferença de geração para geração e, às vezes, quando vocês falam que nós somos inspiração, isso é muito legal. Claro que tem precursoras muito antes da gente, eu não sou tão velha assim, mas saber que algumas meninas de vocês se inspiram na gente, e não falo só por mim, tenho certeza que tô falando pela Natali, pela  Priscila, por todas nós, isso é muito legal. Saber que, poxa, elas estão olhando para a gente, então temos que fazer cada vez melhor, porque elas têm que olhar para o melhor 


Existe algum momento ou experiência durante a sua formação que tenha te marcado de forma especial?


Eu sempre vou citar um professor que eu tive na época da faculdade, professor João Sayad, maravilhoso. Eu sempre coloco ele, eu estou muito longe de ser o que ele é, mas eu sempre coloco ele como exemplo porque ele era um cara que tinha absolutamente tudo. Tudo assim, ele era dono de um banco, então tinha tudo. E aí ele ia para a faculdade, a aula começava às 7:30 da manhã, e dava a melhor aula do mundo. Quando eu olhava para ele, eu falava assim na época “mas o que esse homem tá fazendo aqui?”, ele não estava ali por dinheiro, não. Ele estava absolutamente fazendo o que ele gostava. Então essa é uma experiência que eu sempre lembro dele. Eu falo “nossa, eu não vou chegar lá” mas esse era um cara incrível porque não era dinheiro, não era nada. Ele estava ali simplesmente porque ele gostava, ele fazia tão bem aquilo que ele virou favorito da turma, todo mundo amava ele de paixão. 


Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso que mais o ajudam na sua profissão atual? 


Na verdade eu acho que não só no curso de economia, porque o curso de economia para mim, de verdade, fica tão longe, lá em mil novecentos e alguma coisa, mas acho que vale para qualquer curso dessa área de sociais aplicadas, economia, administração… na verdade, uma faculdade de uma maneira geral, é o aprender a pensar. Ontem eu estava conversando com um professor, ele parou de dar aula recentemente, ele perguntou como é que tá, agora com ChatGpt, deve estar difícil; e eu falei que mais ou menos, porque o ChatGpt até traz uma resposta mas você consegue imaginar o professor Andrew falando sobre um assunto e o ChatGpt?” São coisas completamente diferentes. Então, a faculdade dá para a gente essa habilidade de pensar, e aí fico muito triste quando vejo alunos que não fazem isso. Pensem que, na verdade, quando você está em contato com o professor ele está abrindo caminhos. Muitos alunos não percebem isso, vai lá fazer prova, tira 7 e fica feliz. Os que percebem, são os que voam depois. E eu percebi que a faculdade abriu caminhos porque, pensa o que você era antes da faculdade e o que você vai ser depois. São 4 anos que transformam completamente o ser humano que está alí, sabe? Porque você vira adulto e você vira uma pessoa que sabe pesquisar, sabe ir atrás, vira uma pessoa pró ativa, vai atrás de emprego, vai atrás disso e daquilo. A faculdade dá isso pra gente, essa capacidade de a gente ir atrás, e não é só a minha, acho que qualquer faculdade tem esse poder de transformar a gente. Eu fico triste quando os alunos não aproveitam isso. Poxa, você está aqui, são 4 anos. Em um dia você era um menino do ensino médio, lembra quem era você no ensino médio, e veja no que você vai se tornar quando você se formar, é uma coisa completamente diferente. São 3, 4 ou 5 anos em que ocorre uma transformação profunda na vida de vocês, e a faculdade ajuda nesse processo.


Que conselhos ou orientações você daria aos alunos que estão atualmente cursando Relações Internacionais? 


Eu sempre falo sobre o curso, e eu  acho que é uma palavrinha, que tem um duplo sentido. Aproveitem. Aproveitem porque vocês estão - não vou dizer nos melhores anos da vida de vocês porque isso é meio clichê e cada momento da vida da gente é especial por alguma razão. Mas vocês estão naquele momento de transição em que vocês tem festa, tem balada, tem amigos, e isso é sensacional. Eu tenho amigas até hoje, lá em São Paulo, elas que fazem parte da minha vida. Então assim, aproveitem esse lado social, a vida não é só a faculdade, mas aproveitem o outro lado também. Aproveitem que vocês estão tendo contato com pessoas incríveis que são os professores de vocês, aproveitem os projetos que são oferecidos. Eu olho para trás, as duas partes, se eu pudesse voltar, eu teria aproveitado mais. Tanto a parte das festas, quanto a parte da faculdade em si. Não que eu não tenha aproveitado, mas aproveitar mais de ir para festas, ir pra balada, ir para isso, ir para aproveitar. E aproveitado mais esses professores… eu era uma pessoa absurdamente tímida, e aí, de repente, “poxa, por que eu não fiz aquela pergunta no final da aula para aquele professor? Por que não participei daquele projeto porque eu achava que eu não ia conseguir estudar direito? Por que eu não fiz aquele estágio que tinha lá dentro para fazer porque era voluntário e eu não quis fazer?” Então eu acho que vocês estão no momento, porque depois começa a trabalhar e fica louco. Esse é o momento que vocês tem para aproveitar as duas coisas plenamente. Na balada, a parte social, mas a faculdade e tudo aquilo que ela oferece para vocês, que é a aula em si, mas também é o professor, é o projeto, é a iniciação científica, é o curso. A faculdade não é só sentar e escutar, a faculdade é todo esse resto, e isso é muito importante também. Então aproveitem.


Teria algum/alguns livros ou autores para recomendar? Sendo voltado para a área de Relações Internacionais ou algo que tenha te marcado. 


A histórica da Riqueza do Homem - Leo Huberman

Fui apresentada a esse livro durante o Ensino Médio e a partir daí, despertou em mim o interesse e paixão pela história, e talvez tenha sido o primeiro livro que li que tratava de economia. Talvez graças a esse livro é que estou aqui hoje.

Capitães de Areia - Jorge Amado

Li esse livro na adolescência e ele me apresentou um mundo real e completamente diferente do mundo em que eu vivia. Já reli umas duas vezes e logo, logo vou reler de novo.






 

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