Um soldado acompanha uma criança enquanto refugiados da Ucrânia chegam a uma estação de trem em 27 de fevereiro de 2022, em Przemysl, Polônia. (Czarek Sokolowski/Associated Press) |
Por Vítor Isac Gomes*
Duas das questões mais complexas que vem como consequência de
qualquer conflito é a crise humanitária e imigratória. Entre os anos de 2014 e
2015, o velho continente passou por momentos de elevadas taxas de
imigrantes vindos principalmente da África e Oriente Médio, mas este momento
não se compara ao atual conflito entre Rússia e Ucrânia envolvendo a OTAN.
A comunidade internacional testemunha um momento de alta tensão no
leste europeu com números alarmantes. A Organização das Nações Unidas
calcula que ao todo 5,2 milhões de ucranianos já tiveram de fugir do território
em direção à países fronteiriços, principalmente a Polônia, Hungria e Moldávia.
Ainda segundo a ONU, este ano o número de imigrantes pode chegar até 8,3
milhões. Isso só reforça a importância que a União Europeia terá na gestão
dessas pessoas e como lidará com isso no curto e médio prazo.
Por outro lado, o Brasil vem ganhando destaque no acolhimento desses
imigrantes na América do Sul. Segundo a Polícia Federal, pouco mais de 1.100
ucranianos chegaram ao Brasil, e de acordo com o ministério das relações
exteriores, 141 vistos humanitários já foram concedidos. Grande parte dos
imigrantes recém-chegados são direcionados à cidade de Prudentópolis - PR,
que detém a maior comunidade ucraniana do Brasil, recebendo apoio e
acolhimento de outros ucranianos pré-estabelecidos lá. Organizações
religiosas, filantrópicas e não governamentais, como a ACNUR, também
contribuem arrecadando doações e orientando-os.
É importante destacar três pontos principais de reflexão sobre a chegada
desses imigrantes ao Brasil. O primeiro é a adaptação em relação à cultura e
idioma e como isso se dará ao longo do tempo, visto as grandes diferenças
estruturais no processo de formação da identidade cultural ucraniana. O
segundo é a realocação ao mercado de trabalho, principalmente das mulheres,
já que homens entre 18 e 60 anos foram orientados a ficarem no país para
servirem na guerra, o que leva ao terceiro último ponto que diz respeito aos
familiares que continuam na Ucrânia ou tiveram de se separar lidando com a
distância e o medo de não terem outra oportunidade de reencontro com suas
famílias.
Na atual conjuntura, o conflito ainda não dá sinais de um desfecho. Pelo
contrário, as incursões continuarão severas com a Rússia controlando regiões
separatistas ao leste, e a Ucrânia no controle do restante do território.
Enquanto as tensões persistirem, pessoas continuarão morrendo no campo de
batalha e outras centenas de milhares irão fugir para outros países em busca
de uma vida mais estável. Que o Brasil possa continuar a ser destaque na
América do Sul e atuar como âncora desses imigrantes acolhendo-os nesse
momento crucial.
*Vítor faz parte da Cátedra Sérgio Vieira de Mello - UniCuritiba e escreveu o presente texto através da parceria entre o Internacionalize-se e a CSVM.
Referências
Nações Unidas no Brasil. Brasil concede 74 vistos humanitários e 62
autorizações de residência a ucranianos. 11 abr. 2022. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/177363-brasil-concede-74-vistos-humanitarios-e-62-autorizacoes-de-residencia-ucranianos>.
AFP. Exame. ONU calcula que número de refugiados ucranianos pode alcançar
8,3 milhões. 26 abr. 2022. Disponível em: <https://exame.com/mundo/onu-calcula-que-numero-de-refugiados-ucranianos-pode-alcancar-83-milhoes/>.
SCARPINELLI, Lujan. Uol notícias. Refugiados ucranianos se adaptam ao
Brasil: 'Nos sentimos bem e seguros'. 10 mai. 2022. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2022/05/10/refugiados-ucranianos-no-brasil.htm>.
BBC News Brasil. Brasil concede 74 vistos a ucranianos afetados pela guerra.
11 abr. 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61061309>.
FIGUEIREDO, Carolina. OSORIO, Pedro. TORTELLA, Tiago. CNN, Brasil.
Mais de 1.100 ucranianos desembarcaram no Brasil desde o início da guerra,
diz PF. 22 mar. 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mais-de-1-100-ucranianos-desembarcaram-no-brasil-desde-o-inicio-da-guerra-diz-pf/>.
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