Festival anual de cerveja em Qingdao, China, onde o uso de máscara é opcional |
Nas últimas semanas, vi repercutir nas redes sociais vídeos de pessoas formando multidões em shows, praças e restaurantes. Mas ao contrário de um #tbt, tão usado por nós durante a quarentena para lembrar dias de aglomeração sem culpa, as imagens são de 2021! Nova Zelândia, Austrália, Singapura, Vietnam, são alguns dos lugares onde a pandemia começa a virar passado, e a vida volta a ser semelhante ao que já foi antes do vírus.
Já nós, brasileiros, vivemos a pior fase da pandemia desde seu começo em
meados de 2020. A sensação - ao ver pessoas livres do medo do Covid
enquanto enfrentamos mais um lockdown - é a mesma da criança que olha o
colega se deliciando com um doce, e do prisioneiro que sonha com o dia da
liberdade. A pergunta é: quais atitudes foram tomadas pelas nações que
superaram o Covid e por que o Brasil não conseguiu chegar nem perto deste
feito?
Os países que foram vitoriosos no combate ao Coronavírus apostaram em uma
estratégia: agilidade! Na Nova Zelândia, a primeira-ministra Jacinda Ardern
declarou fechamento das fronteiras para estrangeiros em menos de 10 dias
após a confirmação do status de pandemia global pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), anunciada em 11 de março de 2020.
Poucos dias depois, em 23 de março, o governo neozelandês dava início a um
lockdown severo em todo o país. “Agir cedo e com apenas alguns milhares de
casos globalmente permitiu à Nova Zelândia zerar novos casos e parar a
transmissão entre a comunidade”, comenta Martin Berka, professor da
Universidade de Massey, em entrevista à BBC (tradução livre). Os esforços do
governo neozelandês no combate à pandemia resultaram em um pouco mais
de 2 mil casos confirmados e apenas 26 mortes. (Dados até 25/03/2021 –
covid19.who.int/region/wpro/country/nz).
Na Austrália, país que tem viralizado nas redes sociais com vídeos que
mostram a volta da rotina livre do Covid, o plano, igual ao da vizinha Nova
Zelândia, não focava em manter baixos os índices de contaminação, mas tinha
como objetivo erradicar o vírus em seu território. Após vitória no enfrentamento
da primeira onda do coronavírus, em julho de 2020, novos casos surgiram no
país dos australianos. Para um novo desafio, novas medidas: trancamento de
ruas, proibição da abertura de qualquer estabelecimento que não fosse
mercado ou hospital, toque de recolher, em alguns lugares era proibido até
mesmo ir além de 5 quilômetros de sua residência. A multa por
descumprimento das regras? Mil e trezentos dólares!
Na Ásia, a tecnologia tem se aliado às medidas preventivas para controlar a
disseminação do vírus. Em Wuhan, primeiro epicentro do Covid-19, aplicativos
com “QR Codes” e um sistema de cores são informados sobre o histórico de
viagens e sintomas recentes de cada usuário, regulando o acesso dos
cidadãos aos estabelecimentos. Um código de barras deve ser escaneado pela
câmera do celular antes de entrar em estações de metrô, lojas, restaurantes e
escritórios. Se o aplicativo indica a cor verde, pode seguir, se a cor vermelha
aparece, não é seguro que este indivíduo circule naquele ambiente. Wuhan,
depois de ter se recuperado dos efeitos da pandemia, hoje ostenta bares e
festas lotados, onde é celebrado um futuro pós-vírus.
Sabemos que ações como comunicação transparente com a população sobre a
importância do seguimento das medidas preventivas, rápida criação de plano
de ação, testes em massa para a detecção do vírus e o fechamento imediato
das fronteiras foram essenciais para superar a pandemia em diversos países.
Mas e o Brasil, o que fez para piorar ao invés de superar o Coronavírus?
Logo no início, não houve um plano de ação, considerado indispensável pela
OMS para o controle da pandemia e fundamental para organizar medidas
preventivas em âmbito nacional. O Centro de Estudos Estratégicos do Exército
Brasileiro até elaborou uma série de estratégias para o enfrentamento do
Covid-19, contudo o governo brasileiro não implementou o estudo a um plano de ação. Além disso, arquivou tal documento que valorizava dados científicos e
conselhos da OMS.
O governo pecou em minimizar a gravidade da pandemia e utilizar do
negacionismo. O Presidente Jair Bolsonaro se referiu ao Coronavírus como
uma “gripezinha” e “resfriadinho”, criticando uma suposta preocupação
excessiva com a doença, quando sua função seria de conscientizar a nação
sobre os perigos da contaminação pelo vírus.
O isolamento social não suficiente é também um dos motivos da atual situação
do Covid no Brasil. Essa medida não foi respeitada – o quanto deveria - pela
população, grande parte pela falta de uma conscientização que precisaria vir,
primeiramente, do governo. É evidente que o isolamento exige comunicação e
engajamento para que funcione e apresente resultados.
Outro equívoco é a falta de embasamento e responsabilidade nas informações
passadas pelo governante do país: críticas ao isolamento social, apoio às
passeatas adversas ao fechamento do comércio, promoção de medicamentos
e tratamentos precoces sem confirmação de eficácia contra o Coronavírus,
propagação de Fake News e politização da pandemia. São essas algumas
medidas que ,de fato, o Presidente do Brasil colocou em prática.
Podemos concluir que o principal erro, de onde os outros derivam, é a falta de
uma liderança estável que guiasse uma gestão preparada para combater a
crise sanitária e econômica que ainda assola o Brasil. De um lado, a demora na
tomada de atitudes para combater os efeitos do avanço do Covid-19, e do
outro, 12 meses de pandemia e mais de 300 mil mortes. Enquanto esperamos
as resoluções do Brasil para acabar com a pandemia, assistimos países como
a Nova Zelândia e Austrália lotarem bares e restaurantes livres de Covid, com
a esperança de que, um dia, seja a nossa vez.
Referências
HOW did New Zealand become Covid-19 free? BBC News. 10 jul. 2020. Disponível em: www.bbc.com/news/world-asia-53274085.
ATUALIZAÇÃO de casos na Nova Zelândia, tempo real. World Health Organization. Disponível em: https://covid19.who.int/.
HOW Digital Contact Tracing Slowed Covid-19 in East Asia. BBC News. 15 abr. 2020. Disponível: em: www.hbr.org/2020/04/how-digital-contact-tracing-slowed-covid-19-in-east-asia.
CORONAVÍRUS: 9 erros que levaram às 100 mil mortes no Brasil. BBC News Brasil. 8 ago. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53703044.
THE Countries Who've Handled Coronavirus the Best – and Worst. MoveHub. 2 mar. 2021. Disponível em: https://www.movehub.com/blog/best-and-worst-covid-responses/.
AUSTRALIA has almost eliminated the coronavirus — by putting faith in science. Washington Post. 5 nov. 2021. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/asia_pacific/australia-coronavirus-cases-melbo
urne-lockdown/2020/11/05/96c198b2-1cb7-11eb-ad53-4c1fda49907d_story.html.
HOW Australia succeeded in lowering COVID-19 cases to near-zero. CBC. 25 nov. 2021. Disponível em: https://www.cbc.ca/news/world/australia-covid-19-pandemic-lockdown-1.5813280.
IN China, Where the Pandemic Began, Life Is Starting to Look ... Normal. New York Times. 23 ago. 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/08/23/world/asia/china-coronavirus-normal-life.html.
PANDEMIA: estranho sumiço do plano do Exército. Outras Mídias. 24 mar. 2021. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/pandemia-estranho-sumico-do-plano-do-exercito
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