Artigo apresentado na disciplina de Análise em Política Externa e Relações Internacionais, ministrada pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais UNICURITIBA.
* Eliana Gabriela Opuchkevich
Segundo o livro The
Globalization of World Politics, dos autores John Baylis, Steve Smith e
Patricia Owens, temos cinco tipos de visões teóricas feministas desde 1980, são
elas a Liberal, socialista/marxista, ponto de vista, pós-moderna e
pós-colonialista. O termo gênero geralmente se refere a construção social de
homem e mulher, algumas das cinco teorias abordam diferenças biológicas outras
não, mas o mais importante é analisar como os conceitos de gênero afetam as
consequências para homens e mulheres no mundo político.
No final dos anos 1980, o feminismo liberal teve
mais força com a questão ‘onde estão as mulheres no mundo político?’. Na
sociedade os indivíduos determinados homens ou mulheres possuem direitos
específicos. Os direitos devem ser concedidos igualmente. A feminista e
escritora Cynthia Enloe começou a premissa de que se nós simplesmente nos
perguntarmos ‘onde estão as mulheres no mundo político?’ veremos a exclusão que
o mundo político faz das mulheres, pela consequência ‘natural’ biológica.
A segunda vertente é o feminismo socialista/marxista,
que diz que a vida da mulher é determinada por forças materiais e
econômicas. Para o feminismo marxista a
desigualdade vem do sistema capitalista e derrubá-lo é necessário para
realização da igualdade. Para o
feminismo marxista o capitalismo é o principal opressor e para o socialista
além do capitalismo é o patriarcado.
Uma terceira vertente é o ponto de vista feminista,
que emergiu do feminismo socialista e da ideia de um sistema de classe
particular. A posição da vertente é identificar a subordinação das mulheres
como uma classe particular em virtude do sexo e não da posição econômica.
O feminismo pós-moderno como quarta vertente, faz
críticas sobre a distinção entre sexo e gênero e os papéis não naturais da
mulher e do homem na política mundial, isso influencia na explicação das
diferentes posições do homem e da mulher no mundo.
A última forma do feminismo é o pós-colonial, com a
visão de classes, raça e gênero em uma escala global, e especialmente a análise
dos efeitos de gênero da cultura transnacional, a desigual divisão do trabalho
na economia política global, e uma crítica ao Ocidente, mostrando a dificuldade
da combinação do patriarcado e o sofrimento do colonialismo.
Segundo
Gilberto Sarfati, não há uma epistemologia única dentro do feminismo. No campo
positivista encontra-se, as liberais, que buscam estender às mulheres os
direitos garantidos aos homens. Há ainda as feministas que se associam ao
Marxismo, socialismo e ao Neoliberalismo. Entretanto, a maior parte das
perspectivas feministas de Relações Internacionais vem do projeto
pós-positivistas, incluindo as visões associadas ao Construtivismo, Teoria
Critica e Pós-modernismo. Segundo Jordan Peterson, o termo feminismo denomina
os estudos e as teorias que são criticas à hierarquia do gênero. Portanto, é
bastante forte dentro da visão feminista das Relações Internacionais a ideia da
necessidade da reconstrução teórica.
As mulheres ao longo da história até os dias de
hoje lutam com dificuldade para adquirir direitos que os homens conquistaram
com muita facilidade, essa luta nos remete as Ondas do Movimento feminista, que
são movimentos diversos, tendo como principal objetivo garantir a participação
igualmente ativa de mulheres e de homens na realidade da sociedade onde vivem.
O termo ondas é usado por Platão, e significam as
dificuldades a serem enfrentadas para construir uma cidade justa. Neste caso e
no feminismo, a ênfase são as dificuldades a serem vencidas, necessárias para
uma sociedade mais justa. A cada onda dos feminismos, assim como a cada onda
da kallípolis (da bela e boa cidade de Platão), os obstáculos se
apresentam, uma nova onda é algo necessário de ser reconhecido e apontam os equívocos
da sociedade falocêntrica e patriarcal.
As mulheres em várias partes do mundo conquistaram
vários desafios, como o poder de voto, poder trabalhar fora de casa, direito ao
divórcio, mas alguns desafios ainda não foram conquistados, ainda temos a
violência de gênero antes chamada de “crimes passionais”, que são hoje
relacionados com as condições históricas e sociais de desigualdade de
gênero que mata diariamente muitas mulheres.
A disparidade nos cargos e
remunerações ainda é um desafio a ser enfrentado no mercado de trabalho. No Brasil de acordo com uma pesquisa do Banco Interamericano
de Desenvolvimento as mulheres brancas ainda ganham em média 30% e as mulheres
pretas 35% menos do que os homens para exercer a mesma atividade e função. No
Brasil a cada 12 segundos uma mulher é violentada, de acordo com uma pesquisa
da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal, a cada 10 minutos,
uma mulher é estuprada, de acordo com o Mapa da Violência, e a cada 90 minutos
uma mulher é assassinada, de acordo com o IPEA. Todas essas violências estão
relacionadas à questão de gênero. Mesmo inseridas no mercado de trabalho, as
mulheres são responsáveis pelo trabalho doméstico, acumulando funções dentro e
fora de casa. Esses debates são importantes para os movimentos feministas e
para a sociedade como um todo, que é composta primariamente
por pessoas que devem ter seus direitos garantidos e respeitados.
Na passagem do século XIX para o século XX, as
sociedades ocidentais eram notadamente influenciadas por correntes liberais,
pautadas em ideais de liberdade individual e igualitarismo. Esse liberalismo
era, no entanto, marcado pelo patriarcalismo. Nessa época, surge a denominada
primeira onda do feminismo, por mulheres brancas, de classe média e
insatisfeitas com a submissão e opressão.
A primeira onda, a partir da Revolução Industrial
até o período entre guerras, reivindicava o direito ao sufrágio, divórcio e
educação para as mulheres. Nesta primeira onda, cujos movimentos já se
revelavam mesmo antes da era iluminista, como na literatura e poesia de
mulheres renascentistas. Em 1791, a francesa Olympe de Gouges redige a
conhecida Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, escrevendo no
preâmbulo que a mulher tanto é o sexo superior em beleza quanto em coragem, nos
sofrimentos da maternidade, além do que, nos dezessete artigos do documento,
escreve os princípios que deveriam reger em direitos e obrigações a vida da
mulher e do homem, correlacionando liberdade, justiça e resistência à opressão,
um modelo explicitamente provocador da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 na França.
A luta por liberdade foi, muitas vezes, recompensada
com a vida, em 1793 Olympe de Gouges foi executada. Numa época onde as leis
eram criadas por homens, as mulheres começam a tomar consciência histórica de
sua cidadania e a enxergar a possibilidade de romper as correntes repressivas
que as deixavam em posição de submissão e inferioridade aos homens.
A inglesa Mary Wollstonecraft, em Vindication of
rights of woman, de 1792, entendia que o simples ato de nascer mulher já
comporta em si inferioridade, opressão e desvantagem, mas apenas aparentam ser
por falta de escolaridade. Para De Gouges e Wollstonecraft, era necessário que,
ao lado do homem, a mulher pudesse ter uma individualidade autônoma,
reconhecida em sua dimensão racional e moral.
A Segunda Onda começa na década de 1950 e vai até
1980, com a busca do direito sobre o próprio corpo. Através do livro "O
segundo sexo", da francesa Simone de Beauvoir, com a frase “Ninguém nasce
mulher: torna-se mulher”, tem início à eclosão da segunda grande onda, o que
influenciou na organização de protestos públicos para garantir a igualdade de
gênero, que envolve o direito à contracepção e ao aborto. Fomentou-se, então,
principalmente na esfera intelectual, a noção de dominação que as mulheres
sempre foram submetidas.
Como interlocutoras de Beauvoir, feministas
norte-americanas como Betty Friedan, Kate Millet e a australiana Germaine Greer,
entre outras, lançam-se a movimentos pela emancipação das mulheres, provocando
novas iniciativas práticas e teóricas para que a violência sobre os corpos
femininos pudesse ser freada. Para Friedan, as mulheres deveriam reivindicar o
poder, destituir-se da mística feminina, abrindo novos espaços para o
questionamento do eixo central da sexualidade fundado no patriarcado.
Durante as duas grandes guerras mundiais, as
mulheres tiveram que trabalhar fora de casa no lugar de seus maridos nas
fábricas, já que eles se encontravam em combate. Com o fim da guerra, e não
precisando mais que as mulheres continuassem na fábrica e desejando que elas
voltassem a cuidar dos afazeres domésticos, as propagandas de eletrodomésticos
reafirmavam o papel de dona de casa das mulheres, para que estas não
deixassem sua maior ´obrigação` e vocação.
Foi na segunda onda que se originou o dia
internacional da mulher, em 25/03/1911, nos Estados Unidos, acontecia um
protesto feito por operárias para diminuição da carga horário no trabalho, elas
protestavam dentro de uma fábrica, que foi incendiada e parte das grevistas foi
trancada no galpão deixando aproximadamente 140 mulheres mortas.
A terceira onda (a partir de 1990 até a presente
data) surge como uma forma de resposta às falhas da segunda onda, se
recusando a perceber o movimento como um projeto único, moldado para a
mulher ocidental, branca, de classe média e instruída e sim pela multiplicidade
de feminismos. Este novo movimento se caracteriza por ser mais relativista,
o que significa dar especial atenção às questões relativas aos diferentes
tipos de mulher, considerando aspectos culturais, sociais e étnicos.
Ainda há países onde as mulheres não têm direito à
educação, ao voto, ao trabalho. No mundo as mulheres ainda recebem menores
salários, e algumas vezes cargas de trabalho maiores além de serem vítimas de
violência doméstica, física e
psicológica. Muitas vezes não tem direito de escolha sobre sua vida ou nem
sobre seu próprio corpo. A luta das mulheres é antiga e se hoje as mulheres têm
direitos como: de voto, de trabalho fora de casa, de divórcio, de educação,
dentre outros, é porque outras mulheres lutaram por isso.
Bibliografia
ALVES, Branca Moreira e PITANGUY, Jacqueline. O que é
feminismo? São Paulo: Ed. Abril Cultural e Brasiliense, 1985.
BAYLIS, SMITH, OWENS. The globalization of World politics – 4ª
Edição.
SARFATI,Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo:
Ed. Saraiva, 2015.
Sítios consultados:
https://ensaiosdegenero.wordpress.com/category/teoria-feminista/
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/12/lei-maria-da-penha-reduziu-em-10-o-numero-de-homicidio-de-mulheres
http://azmina.com.br/2017/03/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/
* Eliana Gabriela Opuchkevich: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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